Capítulo 9
[Luz]
Eu havia demorado alguns segundos para chegar a uma conclusão que no fim não prejudicasse ninguém, mesmo que tal decisão me colocasse em uma posição um tanto quanto desconfortável nessa situação, entretanto, eu jamais ameaçaria colocar em risco a boa relação entre dois irmãos de sangue por causa de uma confusão desnecessária. Então, eu sabia exatamente o que deveria dizer ao príncipe para dissuadia-lo de um possível desentendimento com o próprio irmão.
-O príncipe Frederick apenas desejou-me as boas-vindas a família real. -digo a maior mentira que me vem a mente e desvio o olhar de seu rosto, sabendo que não poderia proferir tais palavras falsas fitando seus olhos.
-Ah Luz, o que eu faço com você? -príncipe Felipe suspira exausto e eu o olho sem entender. -Eu sei que não está me dizendo a verdade. -ele explica e eu arregalo os olhos. -Mas não se preocupe, não irei pressiona-la por uma resposta por hora. Quando se sentir a vontade você mesma me dirá.
-Eu posso... posso ir agora? -pergunto com certa ansiedade.
-É claro, não a atrasarei mais do que o necessário. -ele responde. -Mas quando estiver de volta ao Castelo daqui a um dia, procure-me imediatamente, Luz. Precisamos conversar sobre alguns assuntos de suma importância e acertar alguns detalhes antes do baile, tudo bem?
-Sim, tudo bem. Quando retornar eu o procurarei. -respondo-lhe.
-Certo. Nos vemos em breve, estimada noiva.
Felipe me sorri e suas mãos que antes seguravam-me pelos ombros, sobem em direção ao meu pescoço com seu rosto aproximando-se do meu, e em um ato totalmente inesperado, seus lábios se colam a minha testa em um beijo suave e carinhoso que me deixa completamente constrangida e alarmada.
Por que ele fez isso? Me pergunto com os nervos já em frangalhos.
-Não faça essa cara, querida noiva.
Ele ri dando um passo para trás ao afastar-se.
-Por mais que eu considere adorável ver as maçãs do seu rosto lindamente coradas, posso me sentir um pouco ofendido ou até mesmo magoado, se toda vez que eu lhe tocar você fizer essa cara de espanto como se eu fosse atacá-la a qualquer instante. -ele comenta de modo divertido enquanto com a mão que segura a lateral do meu rosto, seu polegar acaricia minha bochecha em movimentos circulares.
-Acho que posso tentar melhorar nisso. -mordo os lábios apreensivamente, e disposta a cumprir com a promessa que fiz, contenho a imensa vontade de desviar o olhar e ergo a cabeça para fitar diretamente em seus intensos olhos azuis como o mar.
-Esse já é um bom começo para nós, Luz.
Ele pisca e com o polegar liberta a carne que maltrato entre os dentes, em um ato de puro nervosismo, puxando-a para baixo.
-Estarei aguardando por seu retorno o mais breve possível, querida noiva. Faça uma boa viagem até o caminho de casa e tome cuidado nas estradas. Se quiser, posso pedir para que um dos meus guardas pessoais de confiança a acompanhe no trajeto, o que acha? -príncipe Felipe questiona com evidente preocupação em relação a minha segurança, ao caminharmos pelos extensos corredores do castelo rumo a saída da casa real.
-Agradeço pela generosa oferta, príncipe Felipe.
Paro a sua frente quando chegamos aos robustos portões de bronze junto as muralhas que cercam o Castelo.
-Mas não posso aceitar. Quero aproveitar os últimos minutos de normalidade que restam em minha vida simples como uma pessoa comum, antes de mergulhar nessas coisas de ser rodeada por guardas e figuras da nobreza. -justifico minha recusa ao que ele assente compreensivamente entendendo meus motivos.
-Se esse é o seu desejo eu irei respeita-lo, Luz. Vá com segurança.
-Obrigada, alteza.
Faço uma pequena reverência em sua direção quando os portões são abertos para minha passagem.
-Fique também em segurança. Você e sua família estarão em minhas preces essa noite antes de adormecer. -eu aviso antes de virar-me e sair sob a supervisão de seu olhar atento sobre mim.
?
Quando finalmente estou de volta a minha casa no cair da tarde, permaneço por alguns minutos do lado de fora e observo de modo contemplativo a modesta estrutura do lado de fora.
Penso em toda a loucura que me aconteceu até um par de horas atrás, e que eu sequer podia imaginar que aconteceria ao ter deixado meu lar pela manhã do que prometia ser um mais dia comum.
Entretanto, tudo mudou quando um oficial veio ao meu encontro com uma convocação da Casa Real para que eu comparecesse no Castelo em uma audiência privada. Até então eu não tinha ciência do que se tratava o assunto, e muito menos com quem seria discutido.
Somente quando havia chegado naquele lugar é que me dei conta da realidade e da difícil decisão que teria que tomar. Uma que exigira muito mais do que uma simples resposta de sim ou não. Que exigira uma decisão que trará consequências, e que mudará o resto da minha vida para sempre.
Eu selei próprio meu destino quando aceitei fazer parte da trama secreta envolvendo aquela família, tudo em prol do amor e devoção que nutro por meu rei e por nossa nação. E não me arrependo da escolha que fiz, por mais que esteja temerosa quanto ao futuro incerto que me aguarda pela frente.
Sinto-me como se caminhasse por uma densa neblina, como a que paira sobre a terra nas primeiras horas do dia, sem enxergar com certeza o que há na próxima passada adiante de mim.
-Ei, você. Parada aí! -uma mão agarra-me com brusquidão e força pelo braço quando estou prestes a entrar em casa, e eu o puxo de volta em ato de reflexo, assustada com a abordagem abrupta.
-Ai, sua grossa! Olha que fez? Você me derrubou, garota maluca. -a moça que me abordara de modo repentino, resmunga irritada após cair de bunda no chão.
-Você me assustou primeiro! -respondo estendendo a mão para ajudá-la a se levantar, contudo, a mocinha furiosa rejeita a oferta e se coloca de pé agilmente em poucos segundos, batendo a poeira das saias de seu vestido velho e puído.
-Não preciso da ajuda da donzela. -ela desdenha com sarcasmo, portando as duas mãos nas cintura estreita como a de quem não tem se alimentado adequadamente nos últimos tempos, e eu me retraio com tamanha hostilidade e atitude agressiva vindas de alguém que mal conheço.
-Então o que quer comigo e porque me atacou desse jeito em frente a minha casa? -pergunto com a crescente sensação de desconfiança, e estreito os olhos para sua figura tão miúda quanto a minha.
-Eu não a ataquei. -a moça rebate de modo petulante rolando os olhos para minha pergunta. -E também não irei roubar você ou assaltar sua preciosa casinha, se é o que está pensando nesse momento. -ela afirma cruzando os braços e me encara como seriedade como se lesse meus pensamentos.
-Eu não disse isso, senhorita. -me justifico envergonhada por essa possibilidade realmente ter se passado por minha cabeça.
-Não disse, mas pensou que eu sei. -sua risada é irônica. -E corta essa de senhorita para o meu lado. Nós duas sabemos perfeitamente que eu não sou nenhuma dama da sociedade.
-Eu... -balbucio sem saber o que dizer.
-Mas não importa. Não estou aqui para discutirmos minhas terríveis origens de nascimento. -seu semblante se torna duro e sombrio. -Eu vim para confrontar a senhorita sobre outro assunto muito mais importante que nos diz respeito.
-Eu não faço a mínima ideia sobre o que está falando. Eu sequer a conheço, nunca a vida antes em minha vida, não que eu me recorde, e nem sei o seu nome. Então que tipo de assunto em comum eu poderia ter com a senhorita? -eu a questiono confusa.
-Meu nome é Catherine, e você deve ser a tal senhorita Luz, de quem tanto ouvi falar nos últimos dias. -ela aponta convicta. -E o que eu vim hoje aqui saber é, porque você fez aquilo? Com que direito você acha que pode interferir na vida das pessoas assim, as quais você não sabe nada sobre elas? Como ousa tomar uma decisão sem saber como isso afetará os outros? Pode me responder? Você nunca pensa nas consequências de suas atitudes, senhorita Luz?