Capítulo 6
[Luz]
-Senhorita! O que está fazendo? Aonde vai?
Ouço uma voz me perguntar vinda de algum lugar do gabinete, entretanto mal consigo distingui-la das demais, devido o estado de topor em que minha mente se encontra. Meus pés parecem ter vontade própria ao me guiarem inconscientemente em direção a saída. Minha mão trêmula toca a maçaneta da porta e antes que eu possa gira-la para me libertar da crescente sensação de sufocamento, sinto uma mão tocar meu antebraço detendo a ação.
-Senhorita Luz, por favor. Nós precisamos muito da sua ajuda nesse momento.
Viro-me dando de cara com príncipe Felipe muito mais próximo do que eu imaginava.
-Ouça o pedido do seu rei, da família real. Sei que não nos conhece muito bem e que talvez não haja motivos suficientes para convece-la de que é a atitude certa ajudar-nos nessa crise familiar e política, contudo...
-Eu sei exatamente quem vocês são, alteza. -eu interrompo seu discurso sem fundamentos. -São grandes governantes e mui benignos para com o nosso povo. Não tenho do que me queixar ou questionar quanto a qualquer feito durante a administração da vossa família, príncipe Felipe. Mas...
Titubeio por um segundo ponderando quais as palavras certas a serem usadas para elucidar a situação de modo coerente, e para que entendam meu maior receio.
-O que vocês estão me pedindo é um tanto quanto grandioso e surreal demais. Foge da realidade. Não há a mínima garantia ou possibilidade de que minha participação nessa trama dê certo. -digo em um fôlego só com os olhos vidrados.
-E por que não? -ele questiona tentando me prender em sua conversa. -Diga-nos os seus motivos para que possamos entender sua recusa, senhorita Luz. Pois ainda não compreendo.
-E-eu não posso... isso é muito para mim. Eu não consigo... não consigo respirar. Eu preciso de um pouco ar. -balbucio com o coração martelando contra as costelas, uma súbita falta de ar me atinge e eu me inclino para frente com uma mão apoiada sobre o estômago.
-Tudo bem, tente se acalmar um pouco, sim? Não deixarei que tenha uma crise de pânico. Me permite ajuda-la, senhorita? -príncipe Felipe pergunta estendendo a mão em minha direção em uma oferta tentadora.
E eu me pergunto, eu deveria aceitar? Poderia confiar em alguém que por mais que transpareça bondade e confiança através dos límpidos olhos azuis como o céu do meio dia, ainda assim continua sendo um estranho para mim?
-Felipe irmão, talvez eu... -princesa Francesca intervém, porém é interrompida pelo mesmo.
-Deixe comigo, irmã. Tenho plena ciência do que estou fazendo. -ele diz confiante e se volta para mim outra vez. -Você vem comigo?
Perplexa demais para responder a sua pergunta com palavras, apenas me limito a concordar com um aceno afirmativo de cabeça, e aceito sua mão que permanece estendida no ar ao depositar hesitantemente a minha sobre a mesma.
-Voltaremos em breve. -ele anuncia aos demais presentes no local, e como um cavalheiro abre a porta permitindo que eu saia primeiro, ele logo em seguida, contudo sem se desfazer o contato de nossas mãos que estão conectadas.
Será que o príncipe pensa que se me soltar eu poderei sair correndo em disparada a qualquer momento? Bem, pensando melhor, talvez ele tenha razão em partes, pois do modo que minha mente se encontra conflituosa, é realmente provável que eu faça algo do tipo ou coisa semelhante.
-Nada como um pouco de ar puro para refrescar a cabeça. -príncipe Felipe diz ao inspirar fundo quando já estamos do lado de fora no corredor, e deposita minha mão sobre seu antebraço de modo que caminhemos lado a lado durante o percurso o qual desconheço.
-Sim, é realmente um santo remédio para acalmar os nervos, vossa alteza. -respondo sem saber ao certo o que dizer a um homem como ele nessa situação.
-Só Felipe, por favor.
Ele pede descontraído e eu desvio o olhar para longe, evitando assim ter de olha-lo diretamente nos olhos.
-Posso chama-la apenas de Luz? -ele pergunta. -Até porque, você não acha que seria um tanto estranho nos tratarmos de maneira tão formal devido as atuais circunstâncias? Somos quase noivos. -ele diz emitindo uma baixa risadinha e eu franzo o cenho.
Do que é que ele está falando? Será que enlouqueceu nos últimos minutos?
-Como assim quase noivos? Eu não disse que aceitei a proposta.
-Quase porque ainda não lhe fiz o pedido oficialmente.
Príncipe Felipe cessa a caminhada abruptamente, que agora noto estar nos levando para um belo jardim com uma fonte central d'água belíssima, ao se colocar a minha frente impedindo-me de seguir adiante.
-Por favor, olhe para meu rosto quando estivermos conversando, Luz.
Ele ergue meu queixo delicadamente com a ponta dos dedos.
-Quero saber o que está se passando bem aqui enquanto estivermos juntos. -ele diz tocando minha testa com o indicador.
-São tantas coisas. -confesso baixinho piscando os olhos de modo frenético. -Eu temo que...
-O que? Você teme a mim, Luz? Acaso sou um homem terrivelmente feio para que tema arruinar sua imagem ao meu lado?
Por essa eu não esperava, então rimos ao mesmo tempo trazendo certa leveza ao clima anteriormente tenso.
-Não é isso...
Desvio os olhos constrangida e o rosto ruborizado.
-É que... Eu não pertenço a lugar como este, entende? Não descendo de uma linhagem nobre ou importante, não tenho um sobrenome influente ou...
-Isso são somente meros detalhes completamente irrelevantes para nós agora, Luz. Então, invente outras desculpas, porque essas não são bastantes para me demover da proposta inicial. -príncipe Felipe se mantém firme.
-Mas o que?! -arfo estupefata com o modo direto com que falou comigo.
-Além do mais, você está esquecendo-se que aceitando essa proposta, que pode ser custosa em certa parte pois exigirá um compromisso eterno de você, mas, que por outro lado será altamente vantajosa para sua família. Pense em como seus pais se beneficiarão ao estabelecerem laços com a nobreza através da nossa união? Eles podem até adquirir cargos no castelo, se assim o desejarem. Eu estou dando a minha palavra, Luz, você e sua família serão muito bem recompensados financeiramente, eu garanto. E também...
-Eu não tenho família viva, príncipe Felipe.
Digo cortando-lhe de prosseguir com as dezenas de vantagens a serem oferecidas, que qualquer pessoa em sã consciência jamais recusaria.
-Meus pais morreram há alguns anos atrás, então nada dessas coisas tem importância, já que não tenho família que usufrua de tais benefícios. -digo dando um passo para trás, pronta vê-lo desistir de uma nova tentativa.
-Então permita que minha família seja a sua a partir desse momento. Que meu pai seja seu pai, e que meus irmãos sejam os seus também. Aceite ser minha esposa. Case-se comigo, Luz.
Príncipe Felipe surpreende-me ao dar um passo em minha direção dizimando a pouca distância que há entre nós, e entrelaça nossos dedos.
-Você me concede a honra de se tornar minha esposa, Luz? -seus intensos olhos azuis sondam até o fundo da minha alma roubando-me o fôlego e a racionalidade com tal pergunta.
E agora? O que eu faço? Centenas de vidas dependem dessa resposta. Como lidar com tamanha responsabilidade sob pressão? Entretanto, nada mais importa se minha consciência sabe o que é o certo a se fazer. Então mesmo receosa pelo futuro incerto que tenho a frente eu o respondo.
-S-sim. Eu aceito.