Capítulo 5
[Príncipe Frederick]
Observo a mulher de pequena estatura a minha frente com os olhos estreitos cheios de desconfiança. Toda essa áurea de bondade e altruísmo me cheiram a dissimulação e cinismo, e se tem duas coisas as quais mais abomino nessa vida são a mentira e falta de caráter em uma pessoa.
Verdade, honestidade e transparência são virtudes essenciais as quais os homens devem cultivar durante toda a sua vida.
E eu prezo piamente por isso. Pois afinal, como o futuro rei dessa terra, criado desde pequeno no caminho político, tenho plena consciência de como o ser humano pode se tornar cruel, implacável e inconsequente apenas para alcançar seus objetivos, sejam eles na forma de riqueza, poder ou fama.
Até as melhores pessoas em momentos de fraqueza se tornam propícias a mesquinharias e ao egoísmo diante de uma proposta irrecusável. Eu mesmo presenciei ao longo dos anos muitos homens considerados leais e honrados pela maioria, sucumbirem a ganância ao trair alguém ou desfazerem acordos pré-estabelecidos com os seus. Mais duro e amargo que golpes de espada é a traição de um amigo próximo e amado.
Então, por saber melhor do que ninguém por experiência própria, é que eu me preocupo com a pessoa escolhida para trazer a solução dos nossos problemas. Não quero que nenhuma golpista venha a trair futuramente a confiança da minha família e a segurança do Reino por ambição. Tenho todo o direito do mundo de permanecer desconfiado das intenções dessa mulher que pouco sabemos a respeito.
-Não é algo simples ou que pode ser resolvido rapidamente em uma única ação, senhorita Luz. O que está sendo exigido vai muito além do que sua compreensão instantânea pode assimilar. Entretanto, pense bem a respeito antes de dar sua palavra final em uma resposta definitiva. Muitas coisas estão em jogo dependendo do resultado desta conversa. Eu, minha família e o Reino estamos contando com sua colaboração para a manutenção da ordem e o afastamento do caos.
Meu pai diz e faz uma pausa para que garota de grandes olhos verdes possa assimilar suas palavras e se preparar mentalmente para as que ainda estão por vir.
-Compreendo completamente, majestade. Tem a minha palavra de que serei totalmente sincera para com o senhor em minha resposta.
-Certo, isso já é um começo. Agora prosseguindo, o assunto delicado o qual temos de tratar, é o infeliz incidente que ocorreu acerca de alguns meses, acredito que no meado de uns dois meses atrás para ser mais preciso, envolvendo minha filha Francesca.
Fecho os olhos sentindo minha cabeça rodar e minha garganta seca se apertar em uma sensação de sufoco quando meu pai chega nessa parte do assunto. Não gosto nenhum pouco de relembrar, quanto mais de escutar os mesmo fatos sendo repetidos em voz alta outra vez. Sinto-me revoltado, bravo, perdido... magoado.
Por que ela havia feito aquilo? Porque Francesca havia agido daquele modo consigo mesma e com nossa família, sem se importar com as consequências? Será que ela já não nos ama mais? Que não somos suficientes para ela? É o que me pergunto internamente.
Agora só nos resta juntar os cacos de nossa dignidade e colher os frutos de seu erro inconsequente...
-Francesca se envolveu em uma trama terrivelmente escandalosa, senhorita Luz. -ele pigarreia antes de continuar a explicação. -Ela foi desonrada, e pouco tempo depois do fato ocorrido, descobriu as consequências do mesmo ao perceber-se a espera de uma criança, cuja a identidade do pai ela se recusa a revelar.
Pronto, agora está feito. A verdade foi revelada, as cartas estão sendo postas na mesa.
-Como minha filha desajuizada, que Deus tenha piedade de sua alma, não revelou a identidade do pai a tempo hábil para que a situação fosse remediada com um casamento às pressas com o culpado, uma vez que ela está impedida de se casar com um nobre ou qualquer outro homem visto que não é mais intocada. Os dias necessários se esgotaram rapidamente e agora resta pouco tempo até que descubram o segredo que ela esconde.
-Tirar a criança nunca foi uma opção. Meu recuso a escutar tal barbaridade vinda da boca de alguém. -Francesca protesta com veemência do sofá de onde está sentada, e recebe nossos olhares furiosos em sua direção.
-E ninguém aqui jamais pontuou tal sugestão absurda, Francesca. Então baixe o tom de voz ou cale a boca, antes que eu perca a paciência com você. -nosso pai a repreende, enquanto a senhorita Luz assiste o desenrolar da cena com a boca levemente aberta e olhos arregalados como um peixe fora d'água.
-É melhor ir direto ao assunto, meu pai. A mulher ainda não entendeu o objetivo dessa conversa e parece prestes a entrar em colapso a qualquer segundo, então diga de uma vez antes que ela desmaie antes de ouvir a proposta.
-Frederick! -Felipe ralha irritado, mas não me importo.
-Seu irmão está certo, Felipe.
Nosso pai concorda comigo pela primeira vez no dia.
-Senhorita Luz, é totalmente inviável e inconcebível a ideia de que minha filha Francesca, como princesa e uma jovem solteira possa dar a luz a uma criança sem um marido e fora do sagrado matrimônio. A criança nasceria bastarda e seria rejeitada por toda a sociedade, inclusive no meio da nobreza. Francesca seria envergonhada e teria seu nome e reputação manchados para sempre, além é claro, de perder sua posição na corte. O nome de nossa família seria humilhado e o caos se instalaria no meio político, tanto quanto com o povo, como também com os outros reinos que se aproveitariam do momento de fragilidade e ruptura em nossas estruturas para nos atacar. Todos sairiam perdendo caso essa história seja revelada. O segredo precisa ser mantido para a segurança geral do reino.
-E o que posso fazer nessa situação, majestade? Querem que eu realize o parto da princesa sigilosamente? É claro que faço! Será uma honra eu...
-Não, senhorita Luz! Seus serviços são muito úteis sim, mas o que eu como seu rei quero, é mais do que isso.
-E do que senhor precisa?
-Você precisa se casar com meu segundo filho, príncipe Felipe, e assumir a gravidez de Francesca como se fosse sua. Quando a criança nascer dentro do casamento de ambos, ela será de vocês, podendo assim ser aceita em sociedade sem nenhuma rejeição ou preconceito.
Quando ele termina de falar, um silêncio sepulcral se instala no ambiente, e todos os olhares se voltam atentos para Luz, que parece estar em choque com a proposta que acaba de ouvir.
-C-Como? -a voz da mulher não passa de um murmúrio enfraquecido, enquanto ela simplesmente se levanta absorta em seus próprios pensamentos, e caminha em direção a porta.
Aonde ela está indo?