Capítulo 4
[Luz]
-A senhorita deve me acompanhar agora até o gabinete real. -o gentil guarda orienta despertando-me da breve distração em que me encontro, ao admirar deslumbrada os delicados detalhes da parte do castelo em que me encontro.
A verdade é que sinto-me um tanto confusa e extremamente nervosa em estar em um lugar tão luxuoso e distante da minha realidade como este. Visto que nunca, em toda minha vida tinha colocado meus pés no castelo, apenas admirado sua bela e suntuosa fachada de longe ao longo dos anos, então preciso distrair minha mente com qualquer banalidade, seja ela fútil ou não, para conseguir acalmar as batidas erráticas do meu coração e não acabar desmaiando.
O que eu, uma simples parteira da cidade, estou fazendo aqui? O que alguém da realeza poderia querer comigo? Será que as notícias do nascimento do futuro herdeiro do Ducado de Barnes havia chegado até os ouvidos dos nobres, e por essa razão estava sendo solicitada para executar mais um dos meus serviços?
-Senhorita? -o guarda chame-me do mundo das divagações e eu ruborizo envergonhada por tê-lo deixado sem resposta.
-Ah claro, sim senhor. -assinto em concordância seguindo-o pelo caminho indicado, torcendo a ponta das luvas em minhas mãos, receosa a cada passo dado por minhas pernas trêmulas.
-A família real a aguarda, senhorita Luz. -ele diz ao pararmos em frente a enormes portas duplas que não tenho tempo de reparar, devido o choque que a informação que acabo de receber me traz.
-O que? Como assim a família real... -indago desesperada a um palmo do sentimento de desespero.
-Aguarde um momento senhorita, irei anunciar sua presença aos soberanos. -ele interrompe minha demonstração de pânico e bate na porta.
Quase dou um passo a frente e o imploro para não fazer aquilo, entretanto contenho o impulso quando de repente, a porta do local é aberta e praticamente sou empurrada como uma mera expectadora fora do próprio corpo, para dentro do ambiente totalmente surreal e intimidador, pela mão do guarda apoiada em minhas costas, que logo desaparece de vista ao fechar as portas outra vez, predendo-me do lado de dentro.
-É ela? Essa é a moça, Francesca? -Frederick, o príncipe herdeiro, o primeiro na linha de sucessão do trono, dirige a pergunta a princesa Francesca, sua irmã mais nova, que está sentada em um sofá a alguns metros de onde estou parada feito as estátuas de mármore que enfeitam os jardins do castelo.
Então tardiamente percebo o erro crucial que estou cometendo sob a observação dos quatro pares de olhos mais poderosos do Reino, e a falta de modos e etiqueta que eles devem estar nesse instante pensando que possuo, e em como devo carecer de uma educação decente. Por esse motivo apresso-me em consertar o equívoco com rapidez, o que faz com que eu pareça mais desajeitada do que gostaria.
-Majestade, vossas alteza. -flexiono os joelhos em uma rápida e eficiente reverência na direção de cada um deles segundo seus títulos.
-Senhorita, por favor sente-se. O assunto que temos a tratar será um tanto complexo e extenso para que permaneça de pé. -o rei, que está sentado atrás de uma grande mesa de mogno, indica a poltrona ao lado de sua mesa para que eu me sente e eu o faço imediatamente.
-Aceita chá e biscoitos, senhorita Luz? -a própria princesa em pessoa serve-me em uma bandeja de prata, porém sou obrigada a recusar sua generosa oferta.
Meu estômago não está tão forte nesse minuto para aguentar receber qualquer tipo de alimento no estado de espírito em que me encontro. Sou capaz de colocar tudo para fora no carpete caríssimo sobre meus pés em questão de segundos. A melhor opção é não arriscar.
-Não, mas agradeço a gentileza princesa. -respondo com uma pontada de medo de que minha recusa possa ofende-la, entretanto ela não demonstra se abalar.
-Olha, ela fala! -príncipe Frederick comenta ao sentar-se despojadamente ao lado do irmão Felipe, e eu franzo o cenho sem compreentender sua sentença.
-Perdão? -pigarreio nervosa ao perguntar.
-Ignore-o, senhorita. -príncipe Felipe intervém colocando-se a frente do mais velho.
-Vamos direto ao assunto, senhorita Luz.
Rei Ferdinando diz com o semblante sério e eu quase chego a prender a respiração mediante tamanho o clima de tensão que paira no ar.
-Tudo o que for tratado e discutido nesse gabinete é completamente confidencial e sigiloso, não podendo sair do ambiente dessas quatro paredes em hipótese alguma, estou sendo claro?
-Totalmente, senhor. -afirmo balançando a cabeça positivamente para cima e para baixo com os olhos fixados nos seus.
-Certo. Então agora que temos um acordo, posso prosseguir garantido que nenhuma informação será transmitida ou vazada para nenhuma outra pessoa além das que estão presentes aqui nesse momento.
-Plenamente de acordo, majestade. -eu afirmo com segurança.
-Senhorita Luz, o que eu como seu rei e soberano, como pai, e os meus filhos como minha família, temos a lhe propor neste instante, soará aos seus ouvidos jovens e inexperientes como algo ousado, ou até mesmo talvez um tanto absurdo. Mas entenda que todas as alternativas possíveis foram exploradas para a solução deste caso, entretanto nenhuma foi eficiente o suficiente para a contenção de danos. Esta foi a única saída razoável que encontramos para sanar o problema.
Rei Ferdinando diz com dificuldade, cada palavra pensada e articulada cuidadosamente para não expressar como tal conflito, o qual ainda desconheço, o afeta.
-Que grande infortúnio é este, meu rei? E em que uma pessoa de caráter simplório como eu, pode lhes ser útil? -pergunto preocupada disponibilizando-me a ajudar da maneira que for possível.
Se a família real necessita dos meus préstimos, então eu farei qualquer coisa ao meu alcance para ajudá-la, pois poucos povos em nossa terra e nas redondezas, tem o orgulho e o despeito de afirmar o quão bons e justos são seus governantes para com seus súditos como o nosso povo tem.
-Diga-me, majestade! O que posso fazer e eu o farei.