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Capítulo 3

[Príncipe Felipe]

-Você está mesmo disposto a seguir adiante com toda essa loucura, Felipe? Irá se sacrificar por algo que não poderá ser desfeito no futuro?

Frederick pergunta inconformado com minha escolha enquanto caminha furiosamente de um lado para o outro no gabinete do nosso pai.

Mesmo após três dias da calorosa e quase drástica conversa que nossa família teve acerca do grave infortúnio com o qual temos que lidar, antes que as consequências se tornassem públicas e arruinassem a imagem do rei instaurando o caos sobre o Reino, Frederick ainda não se conformou com o arranjo no qual eu era o principal envolvido e que eu havia concordado, que traria a solução parcial para nossos atuais problemas.

No fundo eu entendia seus motivos para agir de modo contrário a decisão tomada. Frederick, como irmão mais velho se preocupa verdadeiramente comigo e com minhas escolhas, por isso teme que futuramente eu possa me arrepender amargamente da escolha que fiz, e que faria novamente se fosse necessário.

-Eu já tomei minha decisão, Frederick. E não há nada que me faça voltar atrás.

Digo tamborilando os dedos sobre a taça de cristal contendo água que tenho nas mãos.

-Além do mais, você não pode se esquecer que Francesca é nossa irmã, e é nosso dever protegê-la com a nossa vida.

-Mas Felipe... -Frederick começa a protestar e eu ergo a mão livre detendo-o.

-Francesca pode até simular essa imagem de mulher madura e inabalável para o mundo exterior, mas nós dois sabemos que ela não passa de apenas uma garota sensível que perdeu a figura materna muito cedo.

Digo calmamente examinando o resto do conteúdo em minha taça, apenas para lhe oferecer o tempo necessário para absorver minhas palavras, então elevo o olhar outra vez em sua direção e prossigo.

-Nossa irmã não sobreviveria a tamanho escândalo, Frederick...

-Causado por ela mesma, Felipe! -ele se exaspera cortando-me.

-E daí, irmão? Que importância isso tem agora? Que diferença faz a quem pertece a culpa ou a quem ela deixa de pertencer?

Dessa vez sou eu é quem me irrito erguendo a voz em alguns tons.

-Não importa se Francesca errou, ela é minha irmã, minha família, sangue do meu sangue. E eu farei tudo o que posso ao meu alcance para protege-la de qualquer eventual dano que o mundo ou outras pessoas possam querer causar a ela.

Afirmo convicto aprontando o dedo indicador em riste para seu peito com o olhar firme.

-Não pensarei duas vezes em fazer qualquer tipo de sacrifício se isso resultar em poupa-la de algumas dores, estando é claro dentro do meu alcance.

Frederick torce o canto dos lábios em desaprovação, entretanto não rebate minha declaração com argumentos contrários.

-E saiba você irmão, que também faria o mesmo por você ou pelo nosso pai. Vocês são minha família, a única coisa que possuo de mais importante na vida e nada pode ser mais valioso do que isso.

-Seu amor e lealdade para com essa família são qualidades e defeitos admiráveis, Felipe.

Ele comenta depois de alguns segundos estranhos de silêncio e cruza os braços na frente do corpo em uma postura incomodada, contudo resignada, visto que já percebera que não pretendo voltar atrás em minha decisão, uma vez que tinha dado a minha palavra de honra.

-Agradeço pelas palavras, irmão. -respondo ao sorver o último gole da taça e deposita-la sobre a extensa mesa de mogno do nosso pai.

-Sinto em desaponta-lo, mas isso não foi um elogio, irmãozinho.

Frederick balança a cabeça em negativa e nós rimos, o clima pesado se desfazendo aos poucos sendo substituído pelo de descontração.

-Eu te amo, irmão. Apenas me preocupo com a sua felicidade, sabe disso não sabe?

-Sei sim, Frederick, e sou muito grato por tê-lo como meu irmão em minha vida. Mas ainda assim você não conseguirá mudar minha decisão com essas declarações de amor fraternal.

Brinco para em seguida ganhar um livro voador, que passa zunindo a centímetros da minha cabeça, quando me abaixo bem a tempo do objeto me acertar.

-Miserável... -gargalho.

-Como não posso fazê-lo mudar de ideia, há sempre a opção mais fácil que é mata-lo com um objeto não letal...

Frederick diz no exato momento em que após duas batidas na porta, um guarda a abre e olha de um irmão para o outro com o semblante alarmado ao escutar a sentença de Frederick.

-Ele está apenas brincando. -o tranquilizo e o homem engole em seco antes de receber permissão para se pronunciar.

-Venho informar a vossas altezas que a convidada acaba de adentrar o castelo, e que aguarda permissão para ser recebida pelos senhores.

-Ótimo. -Frederick revira os olhos sarcasticamente, contudo ignoro seu ato de insolência e volto a atenção para o guarda que espera por uma ordem.

-Informe ao rei e a princesa Francesca da presença da moça no castelo. -digo colocando-me de pé. -E acompanhe nossa convidada até aqui, estaremos aguardando por ela.

-Sim, senhor. O rei já fora informado e está a caminho. Apenas a princesa precisa ser avisada. -ele responde e emenda solícito. -Mais alguma coisa?

-Não, é somente isso. Obrigado, Narcise. -eu o agradeço com educação.

-Às ordens, altezas. -ele faz uma reverência e sai do mesmo modo discreto que havia aparecido fechando a porta logo atrás de si.

-Ainda não concordo com essa loucura, mas irei acatar e respeitar suas escolhas, irmão. -Frederick diz quando estamos sozinhos novamente ao soltar um suspiro cansado.

-Conto com isso, irmão. -assinto com a cabeça desejando de coração que ele esteja falando a verdade e não crie mais atritos desnecessários.

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