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Amanda Lins narrando
Eu me sento em uma cafeteria e abro a pasta que Mustafá tinha me entregado, eu vinha aqui todas as manhãs tomar café. Eu era sozinha aqui no Afeganistão e morava em uma pensão, na verdade em um quarto minúsculo com um banheiro menor ainda, mas eu era feliz porque eu estava aqui lutando pelos meus sonhos e tentando realizar cada um deles, mesmo que no caminho eu encontre vários Zayan e Mustafá.
As vezes eu me perguntava por que eu estava aqui ainda tentando isso? Mas, a resposta era que eu gostava de desafio e acho que eu poderia ajudar muitas mulheres aqui se eu realmente conseguisse publicar as minhas matérias.
- Está concentrada – João que também era Brasileira e trabalhava na cafeteria fala, de longe ele era a pessoa que eu mais me identificava, ele se senta na mesa junto comigo já que o seu chef não estava e só tinha eu dentro da cafeteria – Me diz, está pesquisando sobre uma nova receita? Posso te dar alguma da cafeteria para você publicar – ele diz rindo.
- Deixa de ser bobo – eu olho para ele – pelo ao contrário, você acredita que Mustafá me deu uma reportagem dele?
- Ele deu? – ele pergunta.
- Eu estou fazendo uma matéria sobre líder Amir Ahmad Al-Sabbah – ele me encara.
- Você é louca? – ele pergunta espantado – Ninguém faz uma matéria sobre ele, não sai nada sobre ele, se Mustafá te passou isso é uma emboscada.
- Eu serei a primeira a fazer uma matéria sobre ele – eu falo – e a pasta que ele me deu tem várias dicas sobre ele.
- Para com isso agora mesmo Amanda – João fala – você não pode se arriscar por causa do ego deles.
- Não estou me arriscando por causa do ego de ninguém, eu vou atrás das informações com todo cuidado, coleto todas as informações e público – eu falo – depois de publicar e eu ser reconhecida por isso, nada pode acontecer comigo.
- Amanda pouco se sabe dele, sua identidade é desconhecida, a única coisa que sabemos é dos inúmeros ataques terroristas que o seu grupo faz pelo país - ele fala.
- Fica tranquilo, eu irei tomar cuidado, mas não irei parar aqui agora – eu falo – agora que vou conseguir uma reportagem que irá me levar para o sucesso, eu não vou desistir aqui.
- Então eu vou com você – ele fala – em todas as pistas que estiver aqui, eu vou com você.
- Não precisa, eu tomo cuidado, você tem sua esposa, sua filha e precisa ficar com eles – eu sorrio – obrigada pela preocupação.
Por mais que a mais de um ano eu tivesse uma interação com João, eu não conhecia sua família, mas a gente sabia tudo um pouco sobre o outro, e ele saber sobre a minha reportagem e pesquisa o deixou realmente nervoso.
Eu sempre disse que eu não tinha nada a perder, eu cresci em um orfanato e quando completei 18 anos eu fui expulsa de lá por causa da idade, vivi algumas semanas na casa de colegas de faculdade, até conseguir um emprego, trabalha de dia e estudava a noite, vivia que nem uma morta viva, eu sempre sonhei em morar fora e quando recebi a proposta de vir embora para cá, eu achei que era a grande oportunidade que eu tinha para conquistar o mundo, e agora eu estava tendo essa oportunidade, em ter meu nome estampado pelo mundo todo como a jornalista que conseguiu a identidade do maior terrorista do mundo.
(..)
Eu paro o meu carro na frente de um desmanche, esse era um dos endereços que tinha na pasta que Mustafá me deu, as peças de um carro que foi deixado na frente de uma mesquita com uma bomba dentro para explodir, saíram daqui. Mas, o dono conseguiu provar que não sabia para quem vendia as suas peças que as pessoas simplesmente chegavam, compravam e levava embora e ponto final, passava muita gente por aqui, era o que ele dizia, eu entro com meu carro pelo portão e o lugar está vazio. Ainda dentro do carro, eu abro a minha blusa de botão deixando o meu decote mais aberto.
Tinha muitos carros e caixas dentro desses carros, eu coloco um gravador no meu casaco e desço do carro. Eu mexo na maçaneta de dentro do carro quebrando-a.
- Olá? – eu pergunto andando por aqueles corredores em céu aberto de carros – olá tem alguém aqui? – eu levo um susto quando escuto a voz de alguém atrás de mim, era uma voz grossa.
- A senhorita está perdida? – me viro rapidamente, era um homem de 1,70 de altura, com o corpo todo tatuado, um cigarro na mão, seu cabelo preto com um corte baixo, os seus olhos verdes e seu corpo todo definido, o homem era uma escultura. – Acredito que esse não é o lugar que uma moça tão bonita deve frequentar.
- Olá, meu nome é Amanda Lins – eu falo.
- Olá Amanda Lins – ele fala – meu nome é Omar Bazzi , não vou estender a mão por que estou com as mãos sujas, mas você ainda não me disse o que procura.
- Estou com a maçaneta que abre a porta do meu carro por dentro estragada, me disseram que eu poderia encontrar uma mais em conta aqui – ele me encara e depois olha para o meu carro – será que você conseguiria uma para mim?
- Claro – ele fala – eu tenho um carro com um modelo parecido com o seu – ele anda até o carro desmanchado, pega uma ferramenta no chão, se abaixa na frente da porta e começa a desmontar ela.
- Você é o dono daqui? – eu pergunto.
- Sócio – ele fala. – Mas sou eu que tomo conta daqui.
- O lugar é bem grande, deve caber bastante carro aqui e deve ser bastante movimentado – eu falo.
- É sim – ele fala. – Agora está mais tranquilo -ele começa a tirar maçaneta.
- Costuma vir muitas pessoas estranhas aqui? Você tem cadastro de quem tira e sai? – eu pergunto e ele se levanta tão rápido me colocando contra o carro com a ferramenta na mão.
- Quem é você? – ele pergunta – eu vi quando você quebrou a sua própria maçaneta, me diz o que você é? O que você quer aqui – eu tento me mexer, mas seu corpo pressionava o meu contra o carro.
- Eu sou jornalista da revista Ecos meu nome é Amanda Lins – eu falo.
- E o que você quer comigo? – eu pergunto.
- Fazer algumas perguntas apenas, por favor não me faça mal – eu olho em seus olhos – eu só gostaria de fazer algumas perguntas, estou fazendo uma reportagem sobre Amir Ahmad Al-Sabbah.
- Vai embora – ele fala se afastando.
- Por favor, eu só gostaria de fazer algumas perguntas – eu falo.
- Esquece esse assunto, esquece essa reportagem. você vai mexer a onde você não vai gostar do que vai encontrar – ele fala.
- Então você sabe de algo que possa me ajudar? – eu falo.
- Vá embora, se você continuar aqui você vai se arrepender – ele fala – nunca mais mencione o nome dele ou diga a alguém que está fazendo uma reportagem sobre ele.
- Omar Bazzi é esse seu nome, não? – eu pergunto – por favor, serão apenas algumas perguntas.
- Eu mandei você ir embora – ele bate a ferramenta contra o carro me fazendo levar um susto e vejo que um carro entra pelo portão e um homem aparece por trás. – Agora – ele fala nervoso.
E eu saio andando e entrando dentro do meu carro, eu paro o carro em algumas ruas depois e desço andando e fico de longe observando o desmanche em um lugar que eles não conseguem me ver.
Eles discutiam sobre algo, um dos homens que chegou depois estava exaltado e acredito que o motivo foi a minha visita. Mas algo me intriga quando um deles vai mexer em uma caixa de dentro do carro, abre ela e abre um sorriso, eu pego meu celular para gravar, mas vejo que está com pouca bateria e logo ele se desliga.
O cara tira armas de dentro da caixa, armas pesadas coisas que a gente só ver em uma guerra!