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Capítulo 1
Amanda Lins narrando
Eu encho a minha xicara de café e vou em direção a minha mesa, eu trabalho a um ano na revista Ecos, eu era a única mulher aqui, o resto da equipe era toda formada por homens, eu ficava sempre com as matérias sobre culinária, moda, família e maternidade, a maioria das vezes matérias que não agregavam nada na sociedade e o meu chef só mantinha essas pautas para deixar a sociedade feminina feliz, porque aqui o que vencia era a sociedade machista que olhava para mulheres como se elas fosse um objeto. Eu convivia com o machismo da cultura todos os dias e era horrível, quando eu resolvi vir para o Afeganistão foi para trabalhar em um canal de televisão, quando eu cheguei aqui eu vi que a proposta era completamente outra, anos trabalhando como atendente, eu descobri que a Ecos precisava de uma jornalista para os assuntos femininos e que estava difícil de achar já que as mulheres dessa sociedade e dessa cultura não tinha tanta formação por não ter acesso fácil a escolas, faculdades etc. Zayan que era o dono da revista Ecos, procurava uma mulher estrangeira para ocupar o cargo porque os jornalistas machistas e tão preparados, inteligentes e formados se recusavam a escrever sobre assuntos femininos.
- O que é isso que você deixou na minha mesa? – Zayan pergunta colocando os documentos que tinha deixado na mesa dele.
- Uma reportagem – eu falo para ele que abre um sorriso cínico.
- Amanda Lins você é paga para escrever sobre receitas de pão, sobre como cuidar dos filhos quando eles estão gripados, sobre a tendencia para casamentos – eu o encaro – e não, sobre mortes e condenação de mulheres por causa de adultérios que pode ser que nunca existiram.
- Por favor Zayan, me dê um voto de confiança, eu fui atrás de cada detalhe dessa reportagem e realmente tudo isso acontece – eu me levanto – essa reportagem é a melhor que você já teve para publicar, se você juntar todos os jornalistas homem nenhum vai trazer uma reportagem tão importante e cheia de conteúdo como a minha, eles não se dão nem o trabalho de ir pesquisar, falar com as pessoas.
- Amanda Lins – ele repete o meu nome e isso me deixa nervosa – Você tem algumas horas para me entregar as reportagens que eu preciso que você faça – ele rasga os documentos que eu entreguei para ele.
- Não faça isso! – eu digo exaltada – isso me deu um trabalho enorme – ele joga em cima da minha mesa os papeis rasgados – Por favor Zayan, eu não posso ficar o resto da vida escrevendo receita de pão de queijo ou mentindo em como a vida das mulheres afegãs são perfeitas tendo maridos como você! – ele estreita os olhos e eu vejo que eu estava realmente exaltada.
- Amanda, cuide as suas palavras para que você não seja demitida, se é tão ruim assim você trabalhar na minha revista, você pode pedir a sua demissão e voltar para o seu país perfeito – ele fala.
- Ela quer publicar o que? – Mustafá pergunta. Ele era o queridinho de Zayan, o editor chef da revista que escrevia as piores reportagens do mundo.
- Sobre a vida das mulheres que são condenadas por adultérios e que elas podem ter sido condenadas injustamente – ele fala rindo – você acredita nisso?
- E você foi atrás da história de cada uma delas? – Mustafá pergunta
- Ao contrário de você e dos meus colegas, eu trabalho e gosto do meu trabalho – eu falo para ele. – Você faz o que Mustafá? Faz algumas ligações e escreve a porcaria de uma reportagem. Essa revista só faz sucesso porque quem ler são homens machistas que nem vocês.
- Dê para ela a reportagem do ano – Mustafá fala
- Mustafá – Zayan fala – não fale besteira.
- Ela não diz que ela tem capacidade e a gente não? – Mustafá me olha – eu renuncio a ela e entrego para a minha colega, quem sabe não é a sua chance de pegar o meu lugar? – Ele diz com um sorriso cínico no rosto.
- Eu não sei se isso é certo, Amanda é inexperiente – Zayan fala.
- Eu não sou inexperiente, eu sei muito bem o que eu faço – eu falo – você que nunca me deu uma única chance para mostrar a minha capacidade e digo de passagem que você está perdendo a um ano reportagens que poderiam te levar ao sucesso.
- Você não entende Amanda – Zayan fala – é muito perigoso – eu o encaro e depois Mustafá.
- É por isso que Mustafá não quer fazer porque está com medo – eu falo – me diz o que é e eu te entrego essa bendita reportagem com todos os detalhes, amas se isso acontecer – eu o encaro – eu tomo o lugar dele – Mustafá começa a rir – estou falando sério.
- É sério? – ele começa a rir – você não vai querer.
- E posso saber por quê? – eu pergunto.
- É sobre a identidade de Amir Ahmad Al-Sabbah – Zayan fala e eu o encaro paralisada.
- O terrorista? – eu pergunto.
- Então Amanda Lins – Mustafá se aproxima – Acordo fechado? Se você conseguir a reportagem, descobrir a identidade dele, a gente troca de cargo e eu viro seu subordinado?
Eu o encaro e ele me encara com um olhar desafiador e principalmente com o olhar que eu não era capaz de conseguir isso. Vejo por trás dele que os outros homens que trabalham ali estão rindo daquele acordo, porque estão achando que eu não sou capaz de descobrir a identidade de Amir Ahmad Al-Sabbah e sobre a sua vida.
Zayan me encara esperando uma resposta que eu acredito que era um não, eu estendo a minha mão para Mustafá.
- Aproveite os seus últimos dias como editor chef – eu abro um sorriso para a gente, e afirmamos o acordo na frente de todos com um aperto de mão, sobre o sorriso de deboche dele e de todos os outros homens naquele local.
Ele se aproxima de mim e pega uma pasta que ele tinha deixado em cima da minha mesa.
- Aqui está tudo que você precisa, até mesmo pistas por onde você deve procurar – eu pego a pasta e encaro ela – está com medo Amanda Lins?
- Eu não tenho Mustafá de nada – ele me olha – você que deve ter medo do que as pessoas vão dizer quando souber que você perdeu o emprego para mim – ele começa a rir.
- Eu aceito o acordo, mas se você não conseguir essa reportagem, você sai do jornal – ele fala.
- Tudo o que você quer não é mesmo? Você nunca foi a favor da minha contratação – eu falo.
- Acordo fechado? – ele pergunta.
- Fechado – eu falo para ele erguendo minha cabeça.