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Capítulo 3 Sarah

Capítulo 3 Sarah

Quando peguei a chave que Noah me entregou, eu apanhei um esmalte na minha bolsa a tiracolo marquei um "S" com esmalte vermelho. Respirei fundo enquanto acenava para o belo rapaz que, distraído, se distanciava caminho à fora pedalando avidamente. Em seguida, entrei e tranquei a porta com a chave, pois eu estava sozinha.

Passei por aquela grande escada e do outro lado ficava a enorme sala de jantar, e pensei que daria para fazer uma festa com muitos convidados, pois espaço tinha. Era maior que a sala de jantar da casa de Nadya. Percebi que havia alguns móveis cobertos. Eu precisava procurar alguma coisa para acender, vela, lanterna ou sei lá, alguma coisa, tentar a sorte, pois era uma casa abandonada, só que não parecia abandonada por dentro.

Atravessei a sala de jantar e cheguei a uma porta que não tinha maçaneta e era uma porta grande. Percebi que era só empurrar que ela abria. Quando entrei, meu queixo caiu, pois, uma cozinha planejada enorme, desfilou diante dos meus olhos surpresos. Tinham muitos armários e gavetas, tinha até um fogão, só que não era novo e a geladeira era bem antiga, tudo embutido e tinha também um balcão enorme que saía da parede, fazendo uma volta no meio da cozinha. Era a cozinha dos sonhos de qualquer mulher, mas acho que nada aqui funciona, nem mesmo o fogão e nem a geladeira.

Nem precisa ser curiosa como eu, para explorar tudo ali, e foi exatamente o que fiz; abri a geladeira, e vi que por dentro ela estava encardida... Mas que estranho, pois quando abri a luz acendeu! Então está ligada! Mas por que estaria ligada? Puxei a gaveta de legumes e levei um susto, já que tinha algumas frutas, uma garrafinha de leite, queijo fresco e uma garrafa de água. Que estranho! Sendo uma casa abandonada como poderia a geladeira estar abastecida? Será que já morou alguém aqui? Bom, pelo que fui informada nunca ninguém morou nessa casa. E essas coisas não me parecem estragadas, mas sim fresquinhas.

Continuei procurando nas gavetas alguma coisa para acender, pois estava escurecendo. E se a geladeira está ligada é porque tem força. Será que alguma luz acende? Então olhei para cima e vi que não tinham lâmpadas no bocal, então eu continuei procurando nos armários e na gaveta do meio. Achei um isqueiro velho e tentei acende-lo, com muito custo ele acendeu. E no último armário para minha surpresa tinha um lampião, só que esse não era velho! Acho que alguém já esteve aqui. Pensei meio arrepiada, mas enfim, foco em acender o lampião. Eu nunca acendi um lampião, mas não devia ser difícil, então fui tentando até conseguir.

Senti um alívio, pois já estava escurecendo. Resolvi ficar ali mesmo na sala e deixar para conhecer o restante da casa amanhã.

Tirei o lençol branco que cobria a mesinha e o sofá, a mesinha era inteirinha de vidro e o sofá era antigo, mas não estava tão velho. Já que eu não sabia como encontraria essa casa, eu vim preparada. Como minha mala era grande, coloquei muita coisa nela: três jogos de lençol, duas toalhas de banho e de rosto e duas toalhas de mesa. Forrei o sofá com meu lençol e a mesinha com a toalha de mesa, e como a mesinha era pequena, a toalha foi até o chão. Eu me sentei no chão mesmo e preparei um lanche com mussarela, pois já estava com fome e comi tomando minha água de coco. Eu só espero não sentir vontade de ir ao banheiro, já que ainda não sei onde é!

Terminei de comer e me deitei no sofá, peguei meu celular para ver se tinha sinal, graças a Deus aqui tem! Então liguei para Nadya, e no terceiro toque minha amiga atendeu.

— Poxa Sarah, por que demorou tanto para me ligar? Já estava ficando preocupada, pois você saiu às dez e meia daqui, e só foi me ligar agora às sete horas da noite!

— Me desculpa Nadya! Você nem imagina a dificuldade para se chegar até aqui. Só consegui te ligar agora.

— Nossa Sarah, por quê? Conta tudo... De como foi sua viagem de avião e o caminho até aí?

— No avião não vi nada e nem senti, pois fechei os olhos e coloquei o fone no ouvido e acabei dormindo. Quando acordei o avião já estava pousando e no caminho para cá, o motorista do taxi me disse que nesta ilha não circulam carros. Tive que parar em uma loja e comprar uma bicicleta, pois só bicicleta, jumentinho e cavalo circulam por aqui, depois ele me deixou no porto para pegar uma lancha e ir para ilha. No entanto você acredita que quando fui subir na lancha, não vi o que tinha no chão, a mala estava na minha frente, enrosquei meu pé e caí dentro do mar.

— Não acredito que você caiu no mar!

— Sou desastrada, você me conhece, mas me deixa terminar de contar.

— Conte logo, fiquei curiosa para saber o que aconteceu.

— Como eu estava dizendo, um rapaz muito bonito chamado Noah, que estava na lancha, pulou na água e me ajudou a ir para lancha. Depois que chegamos à ilha tive que ir comprar algumas coisas para comer na casa! Já que é uma casa abandonada não deveria ter nada. Na ilha tem muitas casinhas brancas fofas, e o povo vive de artesanato que é vendido em barracas. E tem também barracas de comidas típicas da ilha, mas ainda não conheço. Não sei o que é.

— Nossa Sarah! Esse lugar parece ser lindo, mas continue amiga!

— É lindo sim. Então Noah me acompanhou até aqui, ele até se ofereceu para me fazer companhia, só que eu não conheço ele direito ainda, então achei melhor ele ir embora, só que ele volta amanhã.

— Hummm, parece que tem alguém se interessando por esse Noah! Mas me conta como é a casa?

— Bom Noah é um rapaz interessante e diferente dos outros que já conheci! A casa é linda, precisa de reformas por fora, mas por dentro, onde estou agora, está perfeita, o resto ainda não conheci, só conheci a sala, a sala de jantar e a cozinha. A cozinha é perfeita, acho que esta casa é maior que a sua. Você precisa vir para cá para conhecer.

— Podemos combinar em um final de semana.

— Seria legal Nadya, vamos combinar sim.

— Quantos dias acha que vai ter que ficar aí, Sarah?

— Bom, se eu for vendê-la, as papeladas demoram mais ou menos um mês para ficar pronta e vou ter que reformar por fora, então eu acho que vai mais ou menos de dois a três meses, se correr tudo bem.

— Nossa, é bastante tempo, vou sentir sua falta aqui! Mas nós vamos combinar, quando estiver quase tudo organizado na casa, eu passo um fim de semana com você.

— Então combinado assim, amiga! Eu te deixo informada de tudo aqui!

— Sarah, eu vou ter que desligar ok? Amanhã nós conversamos mais, pois tenho uma balada para ir com a Fer e eu ainda não me arrumei.

— Vai lá amiga. Amanhã conversamos, boa noite e se divirta por mim! Dá um beijo na Fer por mim — após se despedir, Nadya desligou. Fer é a prima da Nadya, e sempre que dá, ela sai com a gente, pois além de ter a mesma idade que eu, nós nos damos muito bem.

Fiquei ali no meio do nada, sozinha na sala de uma casa abandonada. Coloquei o lampião em cima da lareira, pois como era alto iluminaria toda sala e fui em direção ao barzinho, eu queria olhar de que ano eram as garrafas de vinho. A primeira que peguei era de 1999, não era tão antiga como pensei, a segunda era de 2002. Nossa é mais nova ainda! Comecei a ficar curiosa, então olhei as próximas... 2005, 2008, 2011.

Meu Deus, que estranho! A última é de 2013! E se já estamos em março de 2014, agora tenho quase certeza que alguém esteve aqui, pois se essas garrafas fossem do pai do meu avô, seriam bem velhas!

— TUM! TUM! TUM! ...

Ai meu Deus, tem alguém andando no andar de cima! Pensei quando meu coração quase saltava pela boca. Mal respirava de nervoso. E agora? O que eu faço?

—TUM! TUM! TUM! ...

Ai meu Deus de novo, não sei o que fazer sozinha nesse lugar! Comecei a andar de um lado para o outro, só que eu estava com tanto medo, que me sentei no sofá e fiquei quietinha sem me mexer, mal respirando, pois tinha medo que me ouvisse.

— TUM! TUM! TUM! PLAM!

De novo e dessa vez bateu a porta! Coloquei a mão no rosto e comecei a chorar baixinho. Bom eu queria chorar, mas as lágrimas não desceram, pois eu tinha medo que me ouvisse. O jeito foi rezar para que essa noite passasse logo.

EU ESTAVA COM TANTO MEDO, por me encontrar sozinha na casa e, para completar; a noite não passava. O barulho no andar de cima estava me agoniando. Apesar de tudo, resolvi levantar do sofá e parar de ser covarde, afinal eu tinha que enfrentar o medo e ver que barulho é esse. Quem sabe seria apenas uma janela batendo? Pensei, tentando me acalmar. Percebi que o tempo mudou, aumentando o vento lá fora. E pelo barulho estava começando a chover, e eu? Perdida aqui neste fim de mundo, sem luz na casa, sem nada, apenas eu, o celular e um lampião que encontrei na cozinha. Então, tremendo muito de medo, peguei o lampião e subi a escada, indo em direção ao barulho. Quando finalmente, ganhei o topo da escada, avistei um corredor enorme, com várias portas fechadas.

—TUM! TUM! ...

Ouvi o barulho novamente, só que dessa vez não tão alto, pois parecia que vinha do fundo do corredor. Decidida e com o medo sob controle, continuei andando por aquele corredor escuro, apenas o lampião clareava ao meu redor e não dava para ver o fundo do lugar. Sempre andando devagar e em frente, ouvi um barulho que vinha da parede. Na mesma hora, meu corpo tremeu todo, e quando finalmente cheguei ao fim do corredor, ouvi mais um barulho, só que esse era bem fraquinho e vinha de uma porta que ficava no fim do mesmo.

Eu tinha que fazer alguma coisa. Tudo bem que eu não sabia de onde vinha aquilo, só sabia que não era do vento lá fora. E para piorar a tempestade aumentou. Mas o fato é que eu tinha que mostrar que a dona da casa sou eu pelo menos por enquanto, então eu reuni forças, segurei o medo e gritei. Apesar de que não era certo gritar sozinha numa casa abandonada, mas mesmo assim, eu gritei:

— Se tiver alguém aí, por favor, saia, pois essa casa tem dona e eu estou armada! — Blefei, tentando abrir a porta, só que estava fechada. Eu não podia demonstrar medo, só que não teve como me controlar quando alguém deu um murro, tão forte, do lado de dentro na porta que de susto, acabei caindo sentada no chão com o lampião na mão. Ainda com o coração aos saltos, me levantei o mais rápido que pude e saí correndo dali. Nem sei como desci as escadas de tão apavorada, porém quando eu cheguei ao último degrau, algo inédito ocorreu: um clarão iluminou a vidraça da janela e vi alguém me olhando. Quem seria? Pois a cortina só me permitiu visualizar sua sombra, tão negra quanto o medo sem fim. De súbito, ouvi a fechadura da sala rangendo. Estavam tentando abrir a porta. Prendi a respiração por alguns segundos, que mais pareciam horas, mas graças a Deus se encontrava muito bem trancada, pois tinham várias trancas do lado de dentro.

Já que eu não tenho muita coisa a fazer aqui sozinha peguei meu celular a fim de checar as horas, já eram duas horas da manhã. O barulho finalmente tinha parado, mas o medo continuava a me assaltar, então fui me sentar na sala, e de tão apática, nem vi o tempo passar. Os passos lá fora continuavam competindo com os pingos da chuva, agora enfraquecida, mas eu me sinto protegida aqui dentro.

Peguei meu celular novamente para colocar uma música a fim de me distrair e esquecer tudo isso, mas quando estava procurando a minha preferida, ouvi alguém gritando do lado de fora da casa, e parecia que estavam brigando. Ouvi vozes masculinas abafadas. Seriam dois homens?

Deitei a cabeça no sofá e tampei meus ouvidos com as mãos e fiquei esperando que tudo isso acabasse e que amanhecesse logo.

No entanto com todo o barulho que ouvi nessa casa e lá fora, eu tinha medo de dormir. E se algo acontecer comigo neste lugar estranho?

Um tempo depois, retirei os fones de ouvido e não ouvi mais nada. Apenas ouvia a chuva caindo. Eu não conseguia dormir de jeito nenhum, afinal eu estava muito assustada com tudo isso.

Amanhã quando Noah chegar, eu vou pedir para ele me ajudar a abrir todas as portas que tiver na casa e vou comprar todas as lâmpadas que estão faltando, principalmente lá de fora. Assim quem se aproximar, saberá que tem gente aqui. E vou pedir também para verificar a força, mas acho que está funcionado, já que a geladeira está ligada. Preciso dar uma boa limpada na casa e comprar o que tiver faltando aqui. Afinal, eu não sei quanto tempo vou ficar nesse lugar, pois casas velhas têm sempre problemas com o encanamento.

Aí meu Deus! Estou com vontade de ir ao banheiro, só que não faço ideia onde fica, acho que vou ter que procurar! Graças a Deus não tinha mais nem um barulho, apenas o vento e a chuva caiam lá fora.

Levantei do sofá, levando o lampião e fui iluminando o caminho, casa afora, mas não subi a escada, afinal, uma casa tão grande tem que ter um banheiro pelo menos aqui embaixo. Notei que embaixo da escada tinha uma porta, então tentei abri-la, só que estava fechada, então fui para sala de jantar e vi duas portas no fundo da sala, me aproximei e abri uma porta, para minha surpresa ela se abriu, quando fui entrar levei um susto, pois quando clareei o interior do recinto, um morcego passou por minha cabeça, fazendo-me gritar e me espernear. Foi então que percebi que eu estava em um banheiro muito grande com duas janelas que estavam abertas. Graças a Deus havia grades do lado de dentro das mesmas. Resolvi olhar as condições do vaso sanitário; estava imundo de sujeira, mas por sorte eu trouxe meu papel higiênico na bolsa, pois onde vou sempre carrego comigo, então eu forrei e usei o sanitário.

Amanhã dou um jeito nesse banheiro. Pensei, testando a descarga, mas nem ela estava funcionando. E a torneira não saiu água quando tentei lavar minhas mãos, pelo visto nada estava funcionando aqui.

Saí do banheiro e fui direto para a sala, me deitei no sofá e coloquei o fone de ouvido, só que notei que a bateria do celular tinha só dois pontinhos, então achei melhor não ouvir música, já que poderia descarregar mais rápido e posso precisar do celular.

Fiquei ali naquele silêncio todo, o qual nem estava acostumada. Minutos depois, olhei no relógio e vi que já eram quase quatro horas da manhã. Eu jurava que a hora não passava aqui. Que raiva!

— BLAC! BLAC!

Nossa, começou de novo! Só que esse barulho é de algo caindo e vem da cozinha, acho que vou ter que me acostumar com tantos barulhos estranhos! Afinal, o que esperar de uma casa tão velha e abandonada? Assustada, eu me levantei mais uma vez e, com o lampião na mão, segui rumo à cozinha para ver que barulho era esse.

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