Capítulo 2 Sarah
Capítulo 2 Sarah
— Chegamos moça. Vem que te ajudo descer! — Então ele pegou minha mala, a bicicleta e me ajudou descer. Notei que a ilha não era muito grande, e de onde eu estava parecia que era enorme.
Observei que tinham muitas casinhas bem pequenas e algumas barracas, onde vendiam artesanato e até barraquinha de comida que são feitas na hora. Andamos pelas barracas, até comprei algumas coisas feitas da casca do coco, pois pelo que percebi é o que mais tem nesta ilha: "coco", nós seguimos ruas afora e vi uma placa que dizia: SEJA BEM VINDO À ILHA DE BOEPEBA, NA VILA DE MORERÉ.
— Obrigada pela ajuda, Noah! Só não sei como chegar nesta mansão.
— De nada! Vamos que eu te levo até lá, pois não tenho nada para fazer agora!
— Se não for te atrapalhar, eu aceito sua companhia sim!
Apesar de ele ser um completo desconhecido para mim, algo me dizia que eu poderia confiar nesse rapaz.
— Mas acho que antes você deveria passar no mercadinho para comprar alguma coisa para você comer mais tarde, já que é uma mansão abandonada, você não vai encontrar nada para comer à noite.
— Verdade Noah, não tinha pensado nisso, não sei nem o que vou encontrar lá!
— Vou te levar em mercadinho que tem aqui pertinho e também é o único!
Então Noah me levou para um lugar muito pequeno, escrito: Mercadinho Moreré, e entrei. Noah me esperou lá fora com as malas e a bicicleta. Lá dentro não tinha muita opção para comprar, pois só tinham apenas quatro prateleiras com mercadorias. Peguei um pacote de pão Puma, geleia de morango, fatias de mussarela, água de coco, um pacotinho de miojo, algumas bolachas, uma garrafinha de água e copos plásticos. Não sabia o que eu encontraria lá, então peguei também alguns talheres que eram vendidos avulsos e uns dois pratos. Passei no caixa e paguei. Tudo coube em três sacolas. Sorte minha que a bolsinha que carrego com meu celular é de plástico por fora, pois eu guardei todo meu dinheiro lá e quando caí na água, não molhou nem o celular e nem o dinheiro.
— Sarah, comprou tudo que precisava?
— Sim comprei!
— Me espera aqui, que eu já volto. Não vou demorar — ele nem me esperou responder e já saiu. Minutos depois, o cara apareceu com uma bicicleta que tinha um cestinho na frente e um grande atrás, então ele ajeitou minha compra no cesto da frente e minha mala atrás.
— Me segue, vamos de bicicleta, pois é mais rápido — disse ele, me ajudando a tirar as embalagens que tinha na minha bicicleta. Depois ele subiu na dele e eu na minha, e nós seguimos em frente.
Eu tinha que prestar atenção no caminho, então eu foquei nos detalhes... Passamos por três casinhas brancas, alguns lotes vagos, um ipê amarelo e, por último; um barzinho pequeno. Aliás, tudo ali era de baixo porte e bem simples. O bar em questão era todo pintado de azul, entretanto a pintura parecia gasta e um tanto desbotada. Aquele local era sem dúvida, um ponto de referência para mim, pois o caminho que nós passamos só tinha as três casas brancas e este bar azul, o restante se dividia em elementos da natureza, como a árvore sem flores, fácil de me confundir. Logo depois do bar havia uma estrada de terra... estreita que só dava para ir a pé, de bicicleta ou de cavalo. Só que eu não sabia andar de cavalo, só de bicicleta mesmo. Quando nós chegamos na estrada, eu olhei no relógio só para saber a distância da vila até a mansão.
— Está tudo bem, Sarah? Parece que já está cansada. Não podemos ir devagar, pois logo vai escurecer, aí não vamos conseguir enxergar nada nesta estrada, eu me esqueci de falar. Você deveria ter comprado uma lanterna, pois pode precisar. Você quer mesmo passar a noite nessa mansão? Tem uma pousada do outro lado da ilha, podemos ir para lá e você passa a noite e a manhã cedo te trago para cá! O que você acha?
— Não obrigada, quero ir para a mansão, afinal eu não tenho medo de escuro e nem de ficar sozinha, e o meu celular é uma lanterna, caso precise de uma.
— Ok, você quem manda! — brincou ele, fazendo continência. Em seguida, comentou meio tímido: — Posso passar essa noite com você, aí amanhã poderemos dar uma ajeitada na casa, caso precise!
— Não precisa! Você já fez muito por mim hoje! Eu vou ficar bem — respondi amavelmente. Então, nós pedalamos mais um pouco, e eu logo avistei vários coqueiros e no meio deles um portão enorme. Nós dois nos aproximamos do portão, e Noah abriu, pois só estava encostado. Entramos em um caminho de pedras brancas, o qual fazia uma curva que ia parar no pé de uma escada. Não teve como não notar as estilosas luminárias margeando o caminho, apesar de estarem sem lâmpadas. Minutos depois, nós chegamos ao pé da escada e subimos sete degraus. A frente da casa era branca, mas estava bem encardida, enquanto as portas e janelas eram azuis. Certamente a parte de fora precisava de uma boa reforma! Foquei então no jardim, em frente à casa, mas só tinha mato e coqueiros altos, então lembrei de olhar no relógio para saber a distância daqui até na vila e vi que só levou meia hora, então deduzi que nem é tão longe assim.
Calados, nós chegamos em frente da porta da casa, e Noah tentou abri-la, mas estava trancada. Foi então que pensei: se a papelada da residência já está no meu nome e está lá dentro, é porque eles tinham certeza que eu viria, então a chave da casa deve estar escondida em algum lugar aqui na entrada. Sem pensar, eu me abaixei para olhar embaixo do tapete velho que tinha na porta, mas como não tinha nada lá, me levantei e dei de cara com Noah me olhando sem entender nada.
— Noah, me ajuda procurar a chave? Aposto que deve estar escondido em algum lugar! — Ele, ainda calado, sorriu concordando, então nós — começamos a procurar. Eu já tinha olhado debaixo do tapete, mas não tinha nada, além de poeira. Olhei os vários vasos de flor, mas as florezinhas, coitadinhas já tinham morrido. Remexi no interior dos vasinhos, em meio aos ramos secos, junto ao Noah até que ouvi:
— Sarah, eu achei, está aqui! — exclamou, mostrando-me um molho de chave meio enferrujada. Reparei ainda que havia várias chaves! Para que serviam? Pensei com meus botões, olhando a casa toda, imaginando quantas portas trancadas ali existia.
— Onde você achou Noah?
— Neste vaso do lado da porta!
— Que estranho, pois foi o primeiro vaso que olhei e não achei nada!
–—Deve ser por que a chave estava quase caindo do vaso, pois quando olhei na primeira vez não vi nada, mas olhando de novo, vi bem no cantinho um metal e quando coloquei a mão, senti que era a chave na beirada quase caindo.
— Deve ser por isso que não achei! — respondi, aliviada e ansiosa ao mesmo tempo. Peguei a chave que estava na mão dele e fui tentar abrir a porta, mas tive que tentar uma por uma.
Tentei uma e nada, tentei outra ainda; nada, quando ia tentar mais uma, Noah pegou o molho da minha mão.
— Me deixa tentar um pouco?
— Pode sim, vamos ver se o senhor tem sorte — brinquei entregando a chave para ele, que sorrindo escolheu uma e colocou na fechadura. Nossa que sortudo! A chave virou na hora.
— Acho que sou um cara de sorte — disse ele, sorrindo para mim. Que sorriso mais lindo, céus! Deixou-me de pernas bambas.
— Meu Deus! Que casa linda!
Até parece que alguém andou pintando-a por dentro, já que a parede parecia que tinha acabado de ser pintada, com um tom de erva doce, pois estavam limpinhas. A sala era enorme e tinha uma linda lareira no meio da parede da sala, só que acho que é só de enfeite, já que nessa região faz muito calor. Em um canto da sala tinha um barzinho enorme com taça e bebidas, o qual estava bem empoeirado, logo as bebidas devem estar envelhecidas. Pensei, checando os rótulos das garrafas de Balantine’s e vinhos escoceses. Na parede tinha vários quadros de paisagem e notei também que tinha um sofá coberto com lençol e uma mesinha no centro da sala também coberta. No outro canto da sala tinha uma escada enorme, acho que deve ter mais de vinte degraus.
— Noah, obrigada por me trazer até aqui! Só que daqui uma hora vai escurecer então acho melhor você ir! E se, não for abuso, gostaria de ver você amanhã cedo para a gente conversar, afinal você é o único que conheci aqui. Porém, só se não for te atrapalhar!
— Imagina Sarah! Será um prazer! Assim que eu entregar umas encomendas, eu volto, mas acho que até às dez horas estarei de volta, aí venho aqui, pode ser neste horário?
— Pode sim! — respondi agradecendo o carinho e a companhia dele. Antes de partir, Noah colocou minha mala e a compra na mesinha da sala e minha bicicleta num canto.
— Sarah, então já que não precisa de minha companhia, já vou indo, a casa é linda, tchau até amanhã.
Noah abriu a porta e saiu fechando em seguida. Não seria nada mal um gato como ele ficar aqui comigo, só que eu não o conhecia muito bem ainda, então preferi ficar sozinha.