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CAPÍTULO 5 (Ariel)

Enquanto meu pai estaciona o carro na frente de casa, ouço música alta e

risadas vindo do quintal.

Parece que está rolando uma festa, mas apesar da minha volta para

casa, sei que não é para mim.

- É véspera de Ano Novo, - papai diz, apertando meu ombro. - É

que melhor maneira de começar o novo ano do que com você em casa.

É estranho comemorar um feriado novamente. Nos últimos dois anos, eles nem mesmo existiram para mim.

Eu sorrio e aceno. - É bom estar de volta. Estou tentando parecer forte, mas por dentro estou uma pilha de

nervos.

Já fiquei sem uma festa porque era demais para mim... e se acontecer

de novo?

Sentindo minha ansiedade, Amy envolve seus braços em volta de mim

do banco de trás.

- Vamos entrar juntas, - ela diz, me consolando. - Se ficar desconfortável, apenas diga uma palavra, e eu te cubro enquanto você

foge.

Saímos do carro e damos a volta na casa até o quintal, onde uma

fogueira acesa é o ponto central de uma festa barulhenta ao ar livre.

A matilha inteira está aqui, bebendo e comemorando. Os meninos estão lutando na grama, os filhotes estão à solta e os casais dançam sob a luz do luar.

Por mais que eu estivesse apavorada, me sinto muito melhor ao ver que as coisas não mudaram em nada.

- Senti falta disso, - digo, sentindo-me subitamente sentimental. - Eu... eu nunca pensei que veria este lugar novamente.

- Bem, você está em casa agora. E ninguém nunca mais vai tirar você

de nós. - meu pai diz, me dando um abraço.

- Vou procurar sua mãe e sua irmã. Elas ficarão muito felizes em te

ver. Quando ele desaparece na festa lotada, eu olho para Amy.

- Não sei porquê, mas duvido que elas fiquem tão felizes em me ver,

- digo, começando a ficar nervosa de novo.

- Eu sei que você teve suas diferenças com elas, mas elas são sua

família, - Amy responde, em desaprovação.

- Quando você foi levada, não foi apenas seu pai que ficou arrasado.

Sua mãe também estava um caco.

Eu quero acreditar em Amy, mas se minha mãe estava tão desolada,

por que ela não foi me visitar com meu pai?

Se ela estivesse tão preocupada comigo, por que não estava esperando por mim quando cheguei aqui?

Não, minha mãe sempre me desprezou, no fundo. Ela me teve muito jovem, quando meu pai a engravidou.

Acho que ela me culpa por arruinar suas chances de encontrar seu par

destinado.

Acho que ela culpa meu pai também, mas ele é melhor do que qualquer par destinado.

Claro, quando Natalia nasceu, minha mãe finalmente poderia viver

em função de alguém. Tão popular, bonita e perfeita.

Enquanto isso, não fui nada além de uma decepção. A garota que entrou em brigas. Que brincou na lama.

Que queria ser uma guerreira.

Bem, agora que Nat está com o Alfa, e um filhote a caminho, minha mãe está vivendo seu sonho.

E o que eu fiz? Fui sequestrada.

- Ariel, você está com aquela cara,

- Amy diz firme. - Prometa que

vai, pelo menos, dar uma chance.

- Tudo bem, mas eu só estou fazendo isso pelo meu pai, - eu digo com um suspiro. A verdade é que realmente gostaria de me reconectar com minha mãe e minha irmã. Só não sei se elas vão sentir o mesmo.

- ARIEL, É VOCÊ!?

De repente, sou atacada por um homem gigante. Minha loba começa

a ficar na defensiva até eu ver quem é.

- James, sai de cima de mim, seu cachorrinho enorme, - eu digo,

rindo enquanto ele me joga no chão.

- Eu não acredito que você está realmente aqui, - diz ele, com os

olhos turvos. - Todos nós pensamos que você tinha desaparecido para

sempre.

O resto do meu antigo esquadrão vem correndo e eles se amontoam em cima de mim enquanto Amy sai do caminho.

Estou sentindo o amor de verdade. Como senti falta de todos esses

idiotas.

- O esquadrão está reunido! - James grita, uivando. Ele me ajuda a ficar de pé e, de repente, percebo que algo está diferente.

Dwayne... Adam... Shane...

Todos eles têm marcas de quem encontrou o par destinado.

- Vocês estão todos com seus pares? - Eu pergunto em descrença.

Até que vejo a marca de James.

- Até você?

- Ei, fico ofendido com esse tom,

- ele diz, sorrindo. - Eu sou

completamente capaz de encontrar meu par.

É surreal quantos de meus amigos estão com seus pares agora. Minha

vida pode ter ficado em espera nos últimos dois anos, mas todo mundo

seguiu sem mim.

- Bem, eu ainda estou solteira pra caralho. então não se sinta mal

com isso, - Amy diz, frustrada.

- E, por falar nisso, vejo que estão abrindo outra garrafa de vinho

perto da fogueira, então se me der licença...

James e eu rimos enquanto Amy corre em direção à fogueira.

- Ela definitivamente não mudou. Pode acreditar, - James diz, balançando a cabeça.

- Graças à Deusa, - eu digo em concordância. Embora meu reencontro com James e os outros seja feliz, percebo que há um membro de nosso antigo esquadrão que ainda não vi.

- Onde está Xavier? - Eu pergunto, esticando o pescoço para olhar ao redor da festa. Dizer seu nome me dá um frio na barriga por algum motivo.

- Tenho certeza de que ele está por aqui em algum lugar. Provavelmente com sua irmã, - diz James.

- Ele pode ser o Alfa agora, mas ela o mantém na linha, - ele acrescenta, colocando as mãos em volta do pescoço como uma coleira e fingindo se sufocar.

O frio na barriga desapareceu em um instante. Quase esqueci que Natalia está com Xavier. Talvez eu precise me juntar a Amy para aquela garrafa de vinho.

- De qualquer forma, tenho certeza de que ele ficará emocionado em

vê-la, - James diz.

- Você foi a única que conseguiu acompanhá-lo durante o treinamento. Tenho certeza de que se você falar com ele, ele vai deixar você se juntar ao esquadrão e se tornar uma guerreira da matilha.

Tornar-se uma guerreira da matilha...

Pela primeira vez desde que cheguei em casa, estou realmente pensando sobre o que o futuro reserva para mim, e é emocionante.

Eu perdi muito, mas talvez não tenha perdido isso - meu sonho de me

tornar uma guerreira da matilha.

Enquanto olho para as chamas da fogueira dançante e penso em voltar a treinar, algo frio corta o calor que estou sentindo - minha mãe,

caminhando em minha direção com meu pai.

Ela fica rígida e reservada quando se aproxima de mim. Sem abraço. Sem lágrimas. Sem emoção. Este é o encontro que eu esperava, mas não o que desejava.

- Você está linda, - mamãe diz, sem um pingo de sentimento. - Estou feliz que a Deusa trouxe você de volta para nós em segurança.

Minha loba começa a andar dentro de mim enquanto minha ansiedade entra em ação.

Por que eu sempre deixo minha mãe ter esse efeito sobre mim? Papai também parece nervoso, coçando as costas da mão enquanto espera para ver como vou responder.

- Eu não estaria aqui se não fosse pela Deusa. Sinceramente, era pra

eu estar morta, - eu digo, olhando-a diretamente nos olhos.

- Rezava pela morte todos os dias que os caçadores me mantinham

no cativeiro. A morte teria sido uma doce libertação. Mas acho que a

Deusa tem outros planos para mim.

Minhas palavras contundentes sacodem minha mãe de sua postura

rígida.

- Devemos falar sobre isso na festa? - ela pergunta desconfortavelmente.

- Imagina, não quero que meu sequestro incomode você, - eu digo

amargamente.

- Você nem se deu ao trabalho de me visitar com o papai quando descobriu que eu estava viva.

- Ariel, por favor... - meu pai diz, tentando intervir, mas é tarde demais.

Muita coisa mudou em dois anos, mas a barreira entre minha mãe e eu é exatamente a mesma.

- Isso não é justo, Ariel, - minha mãe responde, seu tom mudando

defensivamente. - Sua irmã precisa de mim. Eu não poderia simplesmente deixá-la aqui sozinha.

- Nat tem um par, mãe. Eu precisava de você. Não apenas ontem. Não apenas hoje.

- Eu sempre precisei de você, mas você só esteve lá para ela. Por que?

- Eu digo, acalorada.

Anos de sentimentos não resolvidos estão vindo à tona e não consigo

evitar. Outros membros da matilha estão começando a se reunir para assistir o show enquanto confronto minha mãe.

- Por que você é sempre tão fria comigo? - Eu grito.

- Então eu sou uma mãe ruim agora? E isso? - ela grita de volta. -

Eu desisti de tudo por você, e você não é nada além de uma ingrata!

Pronto. Essa é a verdadeira razão pela qual ela não me suporta.

- Ariel, eu ordeno que você pare com isso! - Uma Natalia bem grávida empurra a multidão e fica ao lado de nossa mãe. - Você não vai falar com nossa mãe desse jeito!

Minha irmã não me vê há dois anos. Ela nem sabia se eu ainda estava

viva. E, mesmo assim, essas são as primeiras palavras dela para mim...

- Você ordena? - Nat sempre achou que o mundo girasse em torno dela, mas quem diabos ela pensa que é?

- Sim, como sua Luna, eu ordeno que você pare de fazer cena, - ela diz presunçosamente.

- Eu sou sua irmã, não sua subordinada, - eu digo em descrença.

- O que está acontecendo aqui? - pergunta uma voz rouca.

Meu corpo enrijece quando o cheiro de Xavier me atinge. Lenha e trevo. É estranhamente inebriante.

Enquanto a multidão se abre para o Alfa, encontro-me olhando

diretamente em seus olhos e ele nos meus.

- Meu par. - A palavra escapa dos meus lábios antes mesmo que eu

possa processá-la.

Ah, minha Deusa. Não pode ser. Isso não está acontecendo.

Minha loba de repente começa a arranhar minha mente, rasgando-a

em pedaços - ela quer sair.

NÃO! NÃO QUERO ME TRANSFORMAR.

Não é apenas minha loba que está assumindo... é outra coisa. Fúria

pura. Eu seguro minha cabeça em minhas mãos, ofegando fortemente.

Quero gritar. Quero explodir de raiva.

O que está acontecendo comigo?

Meu olhar se volta para Natalia e seus olhos se arregalam.

Tudo o que vejo é vermelho.

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