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CAPÍTULO 4 (Ariel)

Embora esteja ansiosa para ver minha família novamente, depois de todo

esse tempo, ainda estou morrendo de vergonha pela maneira como tratei

Alex.

Falei com ele como se ele fosse um plebeu quando na verdade é o Rei.

Ele deve pensar que sou uma completa idiota. Mas por que ele não

me corrigiu?

E por que ele estava investigando com os guerreiros da matilha? Ele estava até vestido como um plebeu.

Uma coisa sobre Alex é certa:

ele está longe de ser um Rei comum.

Eu distraidamente brinco com as pétalas dos girassóis que Alex

deixou para mim e não consigo parar de sorrir. — Eles me lembram seus

olhos, — foi o que ele disse.

Não é um Rei comum mesmo...

— Onde ela está? Onde está minha garotinha? — uma voz em pânico

de repente interrompe meus devaneios.

Ah, minha Densa. Lágrimas começam a brotar em meus olhos quando

ouço sua voz.

Meu pai aparece na porta do meu quarto de hospital e para no meio

do caminho.

Suas mãos estão tremendo e parece que anos de emoções reprimidas

estão surgindo ao mesmo tempo.

— Ariel... é você mesmo. Você está viva.

Em segundos, meu pai está ao meu lado, envolvendo os braços em volta de mim o mais forte que pode, e nossos rostos estão encharcados

com as lágrimas.

— Eu orava à Deusa todos os dias por seu retorno seguro, — diz ele, em meio aos soluços. — Eu nunca perdi as esperanças.

— Pai... — Não há palavras para expressar a alegria que estou

sentindo agora. Nunca pensei que sentiria a segurança dos braços de meu pai novamente.

— Ariel, não sei o que dizer. Eu nem sei por onde começar, — diz ele,

enxugando minhas lágrimas, embora as dele ainda estejam escorrendo

pelo seu rosto.

— Pai, você não precisa dizer nada. Estou feliz que você esteja aqui,

—eu digo, dando-lhe um abraço reconfortante.

— Eu prometo que falaremos sobre tudo quando estivermos prontos.

Ele acena com a cabeça e aperta minha mão. — E bom ter você de

volta, pequena guerreira.

— E bom estar de volta, — respondo. — Onde está minha mãe? Ela veio com você? Meu pai evita meu olhar e olha para o chão.

Claro que ela não veio. Por que ela viria? Sua filha está desaparecida há

apenas dois anos.

— Ela... Ela queria estar aqui, — meu pai diz cuidadosamente. — Mas

sua irmã, Natália, está grávida. Ela precisa de muita ajuda e….

— Espere... Natalia está grávida? Quando ela encontrou seu par? — Eu

pergunto, completamente pega de surpresa.

— Bem, o par dela na verdade é….

— ARIEL! — Uma garota estridente grita em alto e bom som. Eu definitivamente conheço essa voz.

Amy entra pulando no quarto e, em seguida, na minha cama, espalhando seu corpo todo no meu.

—Aí, Deusa. Amy! Você sabe que estou em uma cama de hospital,

não sabe? — Eu digo, embora esteja rindo da minha dor.

—Vou deixar vocês, garotas, colocarem o papo em dia, — diz meu

pai. Ele parece aliviado por não ter que falar sobre minha mãe e irmã.

—Vou atrás de Steve e agradecê-lo por me ligar. Dou a ele um sinal de positivo por baixo da pilha de Amy em cima de mim. — Conversamos depois.

Quando Amy me dá espaço para respirar, vejo que ela não mudou

nem um pouco e isso é de alguma forma muito reconfortante.

Ela é mais como uma irmã para mim do que minha irmã real. E por falar na minha irmã...

— Então. Natalia encontrou seu par? — Eu pergunto. — O que mais eu perdi? Amy me lança um olhar nervoso. Algo definitivamente está

acontecendo.

— Muita coisa aconteceu nos últimos dois anos, — diz ela com cautela.

— Houve um ataque de selvagens um tempo atrás e o Alfa Xavier...

— Espere, espere. Alfa Xavier? Ele é o Alfa agora? — Eu pergunto em estado de choque.

— Sim, o Alfa Blake foi gravemente ferido no ataque de selvagens e Xavier teve que assumir.

— É difícil governar uma matilha sem uma Luna, — Amy continua,

—e ele se cansou de tentar encontrar seu par destinado, então...

— Espere, você está dizendo... — Uma sensação de pavor invade meu estômago.

— Sim, Xavier assumiu Natalia como seu par, — diz ela, nervosa.

— Não atire no mensageiro.

— Não acredito que nenhum deles esperou por seus pares destinados,

— eu digo, atordoada.

— Até minha mãe costumava dizer que você deve esperar por seu par

destinado, não importa quanto tempo leve.

— Sim, mas o tom dela mudou assim que um Alfa entrou em cena,

—Amy diz, revirando os olhos.

Parece algo que minha mãe faria. Eu realmente esperava que talvez

pudéssemos nos reconectar, dado o que aconteceu, mas está claro onde

estão suas prioridades.

— Ele merece coisa melhor, — eu digo, deixando escapar vestígios de

ciúme em meu tom.

— Natalia é obcecada por status, e minha mãe também. Xavier merece alguém que queira estar com ele pelos motivos certos.

— Pessoalmente, não entendo por que todas as lobas uivam por causa de Xavier, — Amy diz levianamente.

— Acho que são os bíceps salientes e

o tanquinho.

— Ele tem outras qualidades, — eu digo defensivamente.

— Diga uma, — Amy responde, me desafiando. Admito que estou sem palavras porque agora estou imaginando aquele abdômen definido, mas Amy está pedindo o oposto disso.

Tenho certeza de que ele tem outras boas qualidades. Meu pai e Steve aparecem no quarto, e meu pai parece estranhamente

surpreso.

— O Rei pediu que nos juntássemos a ele para jantar, — diz ele com entusiasmo.

Amy se vira para mim tão rápido que juro que seu pescoço poderia quebrar.

— O REI!?

*****

Quando chego ao palácio, fico impressionada com o tamanho e a beleza dele. Eu só posso imaginar viver em um lugar como este em meus sonhos mais loucos.

Então, mais uma vez, eu não sonhava muito com palácios e reis e rainhas quando era pequena...

Sonhava em me tornar uma guerreira. Ainda tenho esse sonho,

mesmo que tenha sido tirado de mim nos últimos dois anos.

Amy praticamente tem que me arrastar enquanto passamos pelo

arsenal a caminho do salão de jantar.

— Não acredito que o Rei nos convidou para jantar, — diz Amy.

dando o braço a mim. — Você não está nem um pouco animada?

O engraçado é que não penso em Alex como um Rei. Ele não é formal

ou chique ou qualquer outra coisa que você esperaria. Ele é apenas ele

mesmo.

— Honestamente, estou mais animada por uma refeição quente. Você não tem ideia de quanto tempo se passou desde que...

Vejo os olhos de Amy se encherem de pena e me dou conta de que isso vai acontecer muito.

— Olha, você não tem que pisar em ovos comigo, — eu digo, forçando um sorriso.

— É, vou dizer várias merdas deprimentes, mas a melhor coisa que

você pode fazer é me tratar como se eu fosse normal.

Normal. Eu sou tudo menos normal.

Depois de todos os experimentos que os caçadores fizeram comigo...

E o que quer que tenha acontecido com a Deusa...

Não sei mais o que é normal. Mas espero poder descobrir. Amy e eu chegamos ao salão de jantar, onde outro homem que reconheço da floresta está esperando por nós.

— Eu sou Dominic, o Beta de Alex,

— diz ele com um sorriso encantador. Eu não sorrio de volta. Lembro-me de como me tratou na floresta.

Dominic parece sentir minha desconfiança e me oferece sua mão.

— Eu sei que tivemos um começo difícil na floresta, — diz ele, — mas

esta noite, você é nossa convidada de honra. Podemos começar de novo?

Guerreiro para guerreira?

Eu agarro seu antebraço, do jeito que os guerreiros fazem, e aceno em

concordância. — Você estava apenas protegendo sua matilha e seu Alfa.

Entendo.

Sorrindo, Dominic abre as portas do salão de jantar. — Então aproveite o seu banquete!

Amy fica de boca aberta enquanto um grande banquete é colocado diante de nós. Uma orquestra toca música clássica animada e garçons circulam

servindo bebidas e aperitivos aos convidados.

Os convidados.

Este não é o jantar íntimo que eu esperava. Parece que muitos dos membros proeminentes da matilha estão aqui e todos estão olhando para mim com o mesmo olhar que Amy me deu no corredor.

Pena.

Enquanto meus olhos se arregalam, posso ouvir os murmúrios de, Pobre garota, e Ela está bem?

— Vindo da multidão.

Alex se aproxima de mim com um sorriso genuíno. — Gostou? Achei

que uma festa poderia fazer você se sentir melhor. Eu sei que disse que estava bem, mas não estou.

— Eu... eu sinto muito. Não posso fazer isso, — eu digo, virando-me e

correndo pelo corredor, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Não estou pronta para isso.

Eu preciso de ar. Eu não consigo respirar. Eu não consigo respirar, porra. Bruscamente, passo pelas portas que davam para o jardim e desço correndo os degraus, sentando no fim da escada e colocando minha

cabeça entre as pernas.

Respiro fundo, mas meu coração está disparado. O que há de errado comigo? Por que estou agindo assim?

Nunca achei que fosse ficar tão sobrecarregada, mas agora percebi

que voltar à vida normal é mais fácil na teoria do que na prática.

De repente, sinto uma mão nas minhas costas quando alguém se

senta ao meu lado.

— Eu deveria ter percebido que seria demais. Sinto muito, — Alex diz,

esfregando minhas costas.

— Não, não é sua culpa. Não tinha como você saber, — eu digo, tentando tranquilizá-lo.

— Tinha sim, — ele diz, firme. — Quer dar uma volta? Eu aceno, e ele me ajuda a levantar, me levando para o jardim.

— Recentemente, perdi alguém importante para mim, — diz Alex.

enquanto caminhamos entre fileiras de lindas árvores e flores.

— É eu deveria saber que você não pode simplesmente fingir que aquela perda não aconteceu.

— Nenhuma distração vai fazer você esquecer. Ainda estou lidando com isso. E provavelmente lidarei com isso para sempre.

Eu aceno silenciosamente. É exatamente assim que me sinto. Não

será fácil me adaptar, mas mesmo se o fizer, as coisas nunca serão

exatamente como eram. Nunca vou esquecer o que aconteceu comigo.

— Se não se importar em responder, quem você perdeu? — Eu digo

enquanto paramos em frente a uma fonte de pedra.

— Eu perdi... perdi meu par destinado, — ele responde, com tristeza.

— O nome dela era Olivia. Ela morreu há seis meses. Sentindo uma conexão com Alex, pego sua mão e aperto com força.

Se alguém consegue entender o que eu passei, é ele. Nós dois perdemos uma parte de nós mesmos...

Alex se afasta depois de um momento, mas seus olhos me dizem que ele aprecia o gesto. Seu olhar permanece no meu. É como se nós dois

compartilhássemos a tristeza um do outro.

— O que você vai fazer agora? — ele pergunta.

— Acho que vou para casa,

— respondo, me perguntando se ainda é minha casa.

Ele acena e começa a caminhar de volta para o palácio, lutando contra

a dor que nossa conversa fez voltar à tona.

— Boa viagem, Ariel.

Enquanto ele se afasta, eu me pergunto...

Será que algum dia nos cruzaremos de novo?

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