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6

Eu estava deitada, com a bolsa cobrindo o meu rosto e imaginando qual seria a primeira tatuagem de presa que eu faria. Sempre achei interessante, aquelas cobras imensas pelo braço. Mas pensando melhor, uma lagrima embaixo do olho, mostraria a todos que eu realmente sou durona.

Um burburinho vindo lá de fora, chama minha atenção e eu levanto quase que em um salto. Logo que chego à grade, posso ver John rodeado de policiais. Alguns mais novos, até pediam autografo.

Quando ele me vê, vem rapidamente em minha direção e apoia suas mãos sobre as minhas, que agarravam a grade.

— Você veio. — sussurro.

— Claro que vim. Por que ela ainda está aqui dentro? — ele questiona, se virando para trás. — Eu já paguei a fiança.

— Desculpa, senhor Davies.

Um dos policiais abre a cela e eu logo estou abraçada a John.

— Obrigada. Eu vou devolver todo o seu dinheiro, prometo.

— Eu só quero saber o porquê você foi presa.

— Vou te contar tudo.

— Fará isso no caminho para casa. — ergo uma sobrancelha. — Vou te levar. Vai que acaba presa de novo...

Reviro os olhos e rio, concordando com ele.

— Por acaso seus fiéis seguidores, sabem que está aqui?

John ergue um boné e óculos escuros, mostrando seu disfarce. Ou tentativa de um.

— Vou dar uma volta no quarteirão e te pego na frente da loja de flores, do outro lado da rua. Tudo bem?

— Sim.

John então coloca os óculos e boné, e sai. Logo em seguida eu faço o mesmo e atravesso para onde devo esperá-lo.

Puxo uma Margarida Branca e fico sentindo seu cheiro, pensando na noite que tive e em John.

Se Lilian me visse nesse exato momento, ela estaria dando saltos de alegria. Desde quando eu cheiro flores e lembro de encontros, como uma adolescente idiota?

Uma sequência de buzinadas me tiram dos meus pensamentos. A janela do carro desce, revelando um John sorridente. Eu devolvo a flor antes de entrar no carro.

— E então? — ele sorri. — Para onde vamos?

[...]

— É aqui mesmo. — digo, quando John para na frente do meu prédio. — Desculpe por essa precariedade. Eu até te convidaria para subir, mas não é pra alguém do seu nível.

John suspira.

— Eu esperava que não dissesse isso.

— Mas é o que é. Meu apartamento é horrível. Tem infiltração, está com parede descascando. Olha, tem até mofo! Por que eu mostraria isso, a alguém que deve ter um de mil andares e completamente luxuoso?

— Porque não importa o luxo que eu viva, jamais desprezaria o lugar que você mora.

— Isso não me faz ter menos vergonha.

— Nosso próximo encontro será bem aqui. 

— Que? Não.

— Eu não vou avisar e muito menos marcar.  Vou aparecer com comida e quero ver você não abrir.

Gargalho.

— Está ficando tarde. — digo. — Melhor eu subir. Obrigada pela ajuda. Prometo que vou te pagar tudo.

— Não quero que se preocupe com isso. Eu não iria te deixar naquele lugar.

Eu senti vontade de abraçá-lo e assim o fiz. 

— Tchau.

John sorri e eu saio do carro completamente vidrada naquele sorriso.

Fico parada ali, enquanto o carro dele segue a rua e vira no final.

[...]

— ME CONTA TUDO!

— O que ainda faz aqui? — questiono a minha amiga, quando entro em casa e a vejo no sofá.

— Te esperando para saber das novidades.

— Não poderia ter esperado até amanhã? Estou quebrada.

— Pelo visto a noite foi ótima. — murmura.

— Até a hora que fui presa.

— VOCÊ O QUE?

— Lili, as paredes dessa porcaria são finas e todo prédio pode te ouvir gritar. — sorrio para ela e vou para o meu quarto. 

— Emma, para de fugir de mim. Como assim você foi presa?

— Eu passei na loja de...

— AH NÃO ACREDITO. — berra. — Você está proibida de ir naquele lugar! Qual o seu problema?

— O dono não estava lá. Um pirralho esbarrou em mim e me fez quebrar um dos cristais finos... aí o garoto que estava lá me reconheceu e chamou a polícia.

— E você foi presa porque não pagou?

— Desacato ao policial. 

Lilian bate na própria testa e se joga na minha cama.

— Você tem graves problemas. Sabe disso, não é? — assinto, e começo a tirar minha roupa. — Mas e o encontro? Como você saiu da cadeia?

— Tive que pedir a John.

Lilian se senta e me encara através do espelho.

— John?

— Ah é! — exclamo e me viro para ela. — Lembra do carinha do trem? O ator. — ela assente com os olhos arregalados. — É ele.

— Ah, sei.

— É sério, Lilian. Quer uma prova?

— Obvio. 

Usando apenas calcinha e sutiã, caminho pela casa, em busca do meu celular. Assim que o acho, pego o papel com o número de John de dentro da minha bolsa e o salvo. Vou até o seu contato e envio uma mensagem de voz.

— Oi, John... sou eu Emma. Estou mandando esse áudio para te agradecer pela noite e por ter me salvo de dormir na cadeia. Salva meu número. — envio. — Pronto. 

Em questão de segundos, a minha mensagem é visualizada e escutada, e logo a resposta vem. 

— Hey... já disse que não precisa agradecer. E adorei conhecer melhor a garota do trem. Até mais, Emma. Beijo. 

Olho para a minha melhor amiga e sorrio. Ela estava tão petrificada, que eu não sabia se ela estava bem ou não. 

— É ele... meu Deus... Emma, você está saindo com John Davies. 

— Ele é um cara incrível. Certeza que merece todo o amor que sentem por ele.

— Você não entende? — pergunta. — Ele é famoso! Muito.

— E também é um ser humano. Não me importo se ele é ou não famoso. Senti uma sintonia muito grande com ele e não sinto isso há tempos. Agora vamos dormir. 

Depois de vestir o pijama, deito junto com Lilian em minha cama. Estávamos viradas de costas uma para a outra. Estava quase pegando no sono, quando ela fala:

— Amiga, me promete uma coisa?

— O que? — murmuro, sonolenta. 

— Se namorar com John, faça de tudo para me apresentar o Dominic?

— Eu não faço ideia de quem seja Dominic, mas tudo bem. Prometo.

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