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7

No dia seguinte a minha saída com John, eu tinha muita coisa a contar, para a minha amiga curiosa. 

Nós pegaríamos o turno da tarde e noite. Resumindo, iríamos ficar de duas da tarde até uma da manhã, gemendo e fazendo com que homens ou mulheres gozassem.

— Isso meu gostoso. — gemo, enquanto lixo minhas unhas. — Goza pra mim. Ohhh... 

— Aí... gostosa. — o homem do outro lado da linha geme e eu posso escutar umas ultimas batidas de punheta. — Uau... sua voz é tão maravilhosa... gostaria de poder...

— Foi ótimo passar esse tempo com você. Se quiser de novo, sabe para onde ligar. Time for sex, agradece seu orgasmo. 

Aperto o botão para desligar a ligação e jogo os fones de ouvido no balcão. Olho para o lado e rio, ao ver Lilian fazer umas caretas. Era como se ela realmente estivesse tendo um orgasmo. 

— Uau... — ela murmura. — Isso foi tão bom... minhas pernas estão bambas, meu bem. — ela então nota que estou observando e se recompõe. — Ér... adorei esse tempinho com você. Qualquer coisa, é só ligar e procurar a lilizinha. Beijo, meu amor. 

— O que foi isso? — questiono, assim que ela desliga a ligação.

— Eu preciso ir ao banheiro. Vem. 

Eu nem questiono. Estava curiosa para saber quem era o prodígio que fez minha melhor amiga gozar em pleno expediente.

— Ele tem uma voz... — ela diz, do outro lado da cabine do banheiro. — E a língua... faz uns movimentos loucos.

— Que movimentos, Lilian? Ele estava do outro lado da linha. Provavelmente da cidade também. 

— Não é a primeira vez que ele liga. E ele sempre pede para... ter orgasmos comigo. — ela sai da cabine e vai lavar as mãos. — Nós sempre criamos uma fantasia. Dessa última vez, ele falou que era ator e que em seu próximo filme, teria um nude frontal. Eu pensei em algumas pessoas, mas não faz muito sentido.

— Espera. — ergo minha mão, pois Lilian falava sem parar. — Quantas vezes você já falou com esse cara?

Lili observa sua imagem no espelho e faz caretas.

— Umas dez? Eu acho que mais. 

— Você está se apaixonando! — exclamo. — Lilian você sabe que isso não pode acontecer. 

— Eu não estou me apaixonando. Posso terminar a história? — faço um sinal com a mão, para que ela continue. — Aí eu era uma menina que ele conhecia em um café, que nos apaixonávamos à primeira vista e tínhamos uma tórrida noite de amor. 

— Depois de se conhecerem em um café?

— Sim.

— Aí logo depois, tem uma noite de amor tórrida? — ela assente. — Isso não combina com você.

— É tudo falso. Ele não é um ator e eu não sou fácil assim. Fim de papo.

— Não. Começo de papo. Para de atender as ligações dele.

— É o cara que mais me rende dinheiro. Não vou. 

Lilian sai batendo a porta do banheiro e eu apenas reviro os olhos.

Meu celular vibra em meu bolso e me pego sorrindo, imaginando que poderia ser John. Desde o áudio da noite passada, ainda não tínhamos nos falado e eu estava ansiosa para que isso acontecesse. Meu sorriso morre, ao perceber que era uma chamada de número desconhecido. 

— Alô. — atendo, sem paciência. 

— Senhorita, Emma Clark?

— Sim. Quem deseja?

— Nós somos da funerária, Bom Descanso... — a voz dele fica baixa. — Ér... 

— Sem enrolação.

— O cheque que a senhorita fez, para pagar o caixão do seu pai, voltou. 

— O que? 

— E se a senhora não pagar o valor que estava no cheque, nós seremos obrigados a... tirar o caixão do...

— Então se eu não pagar, vocês vão tirar o corpo do meu pai de dentro do caixão e jogar em uma vala? É isso? — me altero. 

— Claro que não queremos que isso aconteça, mas são procedimentos da empresa. 

— Eu não tenho dinheiro. — estava sentindo um bolo na minha garganta.

Eu odiava chorar e aquilo estava prestes a acontecer. 

— Me desculpe, mas são normas. A senhorita tem até amanhã para resolver isso.

A ligação é finalizada ao mesmo tempo que minhas lágrimas escorrem. Sento no chão e abraço minhas pernas, desesperada por não saber o que fazer. 

Meu celular toca e eu o atendo sem ao menos ver quem é.

— Alô? 

— Emma? — ergo a cabeça rapidamente, ao reconhecer a voz. — Está tudo bem?

— John... oi. — fungo e limpo os olhos com as costas da mão. — Sim e você?

— Você não está bem. Está chorando. O que aconteceu?

Aquela vontade que parecia ter passado, retorna e me faz chorar em dobro. Aos soluços, tento dizer que não é nada demais, mas John não se sente convencido.

— Você não está assim atoa e pelo visto não consegue se controlar. Onde está?

— No trabalho.

— Estou indo te buscar.

— O que? — levanto rapidamente. — Tenho que cumprir horário.

— Você não está em condições. Avise que precisa ir. Eu estou por perto, chego em dez minutos.

— Como sabe onde é?

— GPS. Me espere na saída ou irei te procurar aí dentro. Beijo.  

— O que? John?

Como era de se esperar, ele desligou a ligação e eu fiquei ainda mais desesperada. 

Corri até a pia e joguei um pouco de água no rosto, tentando amenizar minha cara de choro e saio do banheiro. Vou até a sala do gerente, que me olha insatisfeito, por me ver fora do meu lugar.

— Eu preciso ir. — digo. — Tenho um problema muito sério para resolver.

— Ainda faltam duas horas para o fim do seu turno.

— Eu sei, senhor. Sabe que não gosto de perder trabalho, mas eu realmente preciso ir. 

Ele me olha sobre os óculos e assente.

— Vá, Emma. Quero você aqui amanhã, na hora.

— Pode deixar. Obrigada. 

Passo rapidamente pela minha mesa e começo desligar tudo, enquanto Lilian me observa de lado.

— Isso... vai... Onde pensa que vai? — olho-a e vejo que está cobrindo o microfone com a mão.

— Embora. 

— Foi pelo o que eu disse? Porque...

— Não, não foi. Depois nos falamos. John está vindo me buscar.

Corro para fora do departamento e aperto o botão do elevador rapidamente. John já devia estar para chegar e ele não poderia entrar.

Assim que saio do prédio, estou ofegante. Só deu tempo de olhar para o relógio, quando escutei uma buzinada. Ando até o carro dele e entro, querendo matá-lo por ter me rastreado. 

— Eu sei. Foi errado. — ele diz. — Você estava chorando e ia fazer de tudo para não me contar, então eu tinha que dar um jeito. E então? O que aconteceu?

Ao lembrar da recente ligação do homem da funerária, eu volto a chorar copiosamente. John me abraça rapidamente e passa a mão no meu cabelo.

— Calma... respira. Eu vou te levar pra casa e lá conversamos. Pode ser?

Eu apenas assinto. Não tinha forças e muito menos ideia de como contar tudo para ele. 

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