Capítulo 5
5: o jogo
O PONTO DE VISTA DE Nathaniel
Ainda me lembrava daquele olhar que ela me lançou na festa de gala. Meio surpreso, meio desafiador. Camille... Ela tinha essa estranha mistura de confiança e fragilidade que a tornava única. Desde aquele dia, ela ocupou meus pensamentos, mais do que eu queria admitir.
Sentado na minha sala, folheei distraidamente um arquivo importante. Mas, sejamos honestos, eu não estava focado. Meus pensamentos voltavam repetidamente para essa costureira intrigante.
—Então, irmão mais velho, o que está te incomodando?
A voz travessa de Noémie me tirou dos meus pensamentos. Minha irmã mais nova entrou na sala com um prato de frutas na mão e sentou-se à minha frente.
Eu mal olhei para cima.
— Absolutamente nada.
Ela começou a rir, uma risada zombeteira e alta.
“Nathaniel, não me considere um idiota. Eu conheço você. Seu olhar distraído e aquele jeito de franzir levemente a testa... grita “problema cardíaco”.
Suspirei, fechando meu arquivo.
— Quando você se tornou especialista em análise psicológica?
Ela ignorou meu comentário e fixou seu olhar no meu.
—Você tem estado estranho esses últimos dias. Diga-me, é por causa dessa Camille, não é?
Eu não pude deixar de sorrir levemente. Noémie sempre teve o dom de apontar o que eu preferia evitar.
- Talvez.
Seu rosto se iluminou.
— Eu sabia que era ela! Você está completamente viciado, Nathaniel.
“Não sou viciado”, respondi calmamente.
Ela revirou os olhos e cruzou os braços.
—Então por que você mandou essa máquina de costura que custou uma pequena fortuna para a oficina dele?
Sentei-me, surpreso.
—Como você sabe disso?
—Sua assistente me contou. Ele estava muito orgulhoso da sua “grande ideia”.
“Lembre-me de demiti-lo”, murmurei, tomando um gole de café.
Noémie começou a rir, inclinando-se ligeiramente para mim.
“Pare, Natanael. Por que você está fazendo tudo isso por ela?
Coloquei minha xícara na mesa, pensando na pergunta dele. Por que, de fato?
“Porque ela é diferente”, respondi simplesmente.
— Diferente como?
Respirei fundo, procurando por palavras.
— Ela não se impressiona com dinheiro. Ela não tenta me agradar, mas... ela me cativa.
Noémie olhou para mim, parecendo surpresa.
- Uau. Acho que é a primeira vez que ouço você falar sobre uma mulher assim.
Dei de ombros, tentando minimizar isso.
- Não é nada.
- Nada ? ela repetiu, rindo. Nathaniel, você literalmente anunciou na gala que queria que ela fosse sua esposa.
Desviei o olhar, um pouco envergonhado.
— Ela me pegou de surpresa. Eu não pensei sobre isso.
“Não, você foi honesto”, ela corrigiu. E isso é raro vindo de você.
Ela fez uma pausa, mordendo uma uva, antes de continuar com um sorriso travesso.
— Mas diga-me, senhor bilionário, qual é o próximo passo do seu plano?
Eu não pude deixar de sorrir. Noémie tinha o dom de tornar cada conversa leve e divertida.
— Vou deixar ela vir até mim.
— Ah, então você está jogando a carta misteriosa? ela perguntou com um olhar falsamente impressionado.
“Não é um jogo, Noémie”, eu disse sério.
Seu sorriso se suavizou e ela olhou para mim com rara sinceridade.
— Nathaniel, você sabe que eu só quero que você seja feliz, certo?
Balancei a cabeça, tocado por suas palavras.
- Eu sei isso.
Ela se levantou, espreguiçando-se graciosamente.
— Bom, nesse caso, meu conselho: seja paciente, mas não muito. Mulheres como Camille merecem que mostrem que são importantes, e não que tenham que esperar para sempre.
Eu a observei sair da sala, sua risada ainda ecoando no ar. Ela estava certa. Camille era especial e eu não podia me dar ao luxo de deixá-la ir.
Tentei me concentrar em um relatório, mas meus pensamentos me levavam de volta a Camille. Imaginei a reação dele ao descobrir a máquina de costura de última geração que lhe enviei. Ela tinha aceitado? Ela estava furiosa com minha audácia?
Uma batida na porta me tirou dos meus pensamentos. Meu assistente enfiou a cabeça, visivelmente hesitante.
— Sr. Nathaniel, uma certa... Camille está aqui. Ela diz que quer ver você.
Meu coração pulou uma batida. Camila? Aqui ? Tentei não parecer muito surpreso.
—Traga-a para dentro.
Alguns momentos depois, ela apareceu na porta. Ela usava um vestido simples, mas que mostrava suas curvas com elegância natural. Seu cabelo emoldurava seu rosto com uma suavidade quase hipnótica, e seu olhar, embora um pouco perturbado, tinha um brilho determinado.
“Olá, Nathaniel,” ela disse suavemente.
Levantei-me, fingindo surpresa.
— Camila. Que surpresa agradável.
Ela entrou na sala, parando a poucos metros de mim.
— Vim agradecer por... pela máquina. Foi um… presente inesperado.
Eu sorrio levemente, cruzando os braços.
—Inesperado, mas não desnecessário, espero?
Ela sorriu, um pouco envergonhada, mas adorável.
— Não, nada inútil. Mas é demais... Quer dizer, não entendo por que você fez isso.
Aproximei-me dela, diminuindo um pouco a distância entre nós.
— Eu só queria ajudar você a realizar seus sonhos. Você tem um talento incrível, Camille. Uma máquina como essa pode fazer a diferença, certo?
Ela olhou para baixo por um momento, como se estivesse considerando minha resposta, depois levantou a cabeça, seu olhar encontrando o meu.
- Talvez. Mas você sabe, eu não sou do tipo que aceita as coisas facilmente... principalmente quando elas vêm sem explicação.
Seu tom era firme e leve, e eu não pude deixar de gostar da mistura. Camille tinha um jeito único de questionar tudo o que eu fazia, mas mesmo assim não me ofendi.
“Então, o que posso fazer para ganhar sua aceitação?” Eu perguntei, sorrindo, meu tom levemente provocador.
Ela ri baixinho, e aquele som... aquele som poderia parar o mundo. Ela deu mais um passo à frente, diminuindo quase toda a distância entre nós. Desta vez, era ela quem parecia estar testando os limites.
“Talvez você pudesse começar parando de me desequilibrar”, disse ela, com a voz levemente tingida de diversão.
Levantei uma sobrancelha, intrigado.
— Desestabilizar você?
Ela olhou para mim, com um brilho provocativo em seus olhos.
- Sim. Com seus dons imprevisíveis, sua aparência... e a maneira como você sempre permanece tão... seguro de si.
Sua observação me fez sorrir apesar de tudo. Isso foi uma tentativa de me testar? Camille era um enigma.
—E se eu te dissesse que não tenho tanta certeza de mim quanto você pensa?
Ela pareceu um pouco surpresa, mas rapidamente recuperou a confiança.
—Então eu diria que você esconde bem o seu jogo.
Uma tensão suave, quase elétrica, instalou-se entre nós. Senti que ela estava tão perturbada quanto eu, mas ela se recusou a demonstrar isso abertamente. Seus gestos sutis – um leve movimento de sua mão, um olhar que demorou um pouco demais – a traíram.
Obriguei-me a recuar um pouco, apoiando-me na mesa para manter alguma distância.
“Camille, não quero que você sinta que precisa aceitar qualquer coisa de mim.
Ela franziu a testa ligeiramente, como se minha contenção a intrigasse.
—E se eu te dissesse que não sou tão difícil quanto você pensa?
Eu não pude deixar de rir baixinho. Ela estava jogando um jogo perigoso e sabia disso. Mas desta vez tive que me conter. Eu não tinha certeza de suas intenções e respeitava demais sua personalidade para correr riscos desnecessários.
“Então, acho que precisaremos de mais tempo para descobrir quem é mais difícil entre nós dois”, eu disse, sorrindo.
Ela recuou um pouco, seu olhar ainda fixo em mim.
- Talvez.
Acompanhei-a até a porta, tentando não me preocupar muito com o cheiro sutil que ela deixou em seu rastro. Antes de sair, ela se virou, com um sorriso suave, mas enigmático.
—Obrigado mais uma vez, Natanael.
– Obrigado, Camilo.
Quando a porta se fechou atrás dela, fiquei parado por um momento, tentando acalmar meu coração acelerado. Esta mulher era uma força da natureza. Ela me atraiu irresistivelmente, mas ainda assim me manteve afastado, apenas o suficiente para me deixar louco.
Eu sabia que esse jogo era apenas o começo.
