Capítulo 5
Alan não estava no meu quarto quando acordei naquela manhã, a noite foi incrível, ele quase foi carinhoso comigo. Isso me fez pensar que ele é mais que um velho ranzinza, talvez tenha uma razão para essa atitude fechada e séria dele, claro que eu ia descobrir.
Não que eu tivesse me esquecido das coisas que ele me disse em sua sala mas para ser sincera até eu mesma me sinto perdida, desde que saí da escola a poucos anos tenho feito diversas coisas, pulando de um emprego para outro: atendente em uma taverna, cantora em um bar clandestino, cartomante em um circo itinerante.
Esse último que abriu as portas para que conseguisse ser professora em Socerty Academy, não que eu tivesse aptidão para ensinar mas a teoria bastava, meu objetivo não é criar alunos perfeitos, ao contrário, acredito que o conhecimento do tema é fundamental para derrubar práticas antiquadas, com a teoria eles podem criar a própria magia.
E com o terror recente que temos lidado, essas crianças precisam de alguém que possam confiar, alguém que abra os braços e o coração para acolhê-los.
- Sonhando acordada Angie? - fui tirada dos meus pensamentos por Collins que parara na minha frente bloqueando toda a vista das salas dos professores - acredito que comigo.
- Professor? Bom dia. - me levantei da poltrona, forçando o homem a recuar um pouco - Sinto muito mas tenho que buscar meus alunos.
Estava um pouco adiantada mas era melhor que ficar ali com Jhon, não tinha humor para aturá-lo de manhã.
Apanhei primeiro os alunos do quinto ano e em seguida os do sexto ano , no geral eles se davam bem, me seguiram até a sala de aula, eu costumava usar saias abaixo dos joelhos ou na altura dos tornozelos mesmo assim os alunos viviam tentando espiar por debaixo enquanto eu subia as escadas, era cômico.
A aula correu como de costume, eu fiquei observando os alunos enquanto, os dois capitães esportivos faziam a minha aula, Bill Storm e Forest Mentle o último porém era o que mais fazia sucesso com as meninas, ele era confiante, bonito, sorridente, popular. Era engraçado pensar que anos antes eu também me apaixonava por meninos assim e hoje estou caidinha por Alan Wright.
Me encontrava com Alan algumas vezes, mas era sempre igual, ele batia a minha porta, transavamos e ele ficava um pouco as conversas se resumiam às notícias que ele lera mais cedo ou viagens que eu tinha feito, quando eu decidia fazer perguntas sobre ele, Alan decidia que era hora de voltar para seu quarto.
O Natal chegou sem nenhum clima para festas, os alunos embarcaram apressados para casa a fim de se livrar da presença demoníaca, quase nenhum aluno ficou na escola, nem mesmo os do último ano que precisavam estudar para os exames, eu e Linda aproveitamos o tempo livre para cuidar com mais afinco da Salvia, assim que estivesse prontas, Alan usaria para uma poção que traria os alunos possuídos de volta.
O banquete de Natal foi servido e o salão enfeitado mesmo sem a alegria habitual, fui dispensada no dia seguinte, eram tão poucos alunos na escola que apenas os diretores da casa dariam conta, além do mais, o Diretor achava mais seguro que todos se distanciasse da escola o máximo de tempo possível.
Eu não tinha para onde ir, nenhum plano em mente, então acabei me hospedando novamente em Spring’s Ville, não fazia sentido ir muito longe.
Fiz algumas compras, andei pela neve e já estava entediada. Entrei no bar clandestino, nada de alegria natalina. Andarilhos bebendo solitários, um pequeno grupo de caçadores rindo alto e fazendo baderna.
Me sentei no balcão, fui atendida por uma bruxa velha e gordinha com as bochechas rosadas e os seios saltando pelo decote.
- Você não combina muito com esse lugar, não é querida? - a bruxa me olhava curiosa.
- Você ficaria surpresa - pisquei para ela virando o copo de whisky que ela servira.
- E o que a trás aqui no Natal?
- Estou de folga - ela me olhou curiosa - sou professora... na Academia.
- Ah sim, recebemos muitos alunos e professoras aqui mas eu raramente os vejo, eles vem durante o dia e eu só trabalho a noite - a mulher parecia muito animada em conversar com alguém mais civilizado que aqueles brutamontes - tem um professor em particular, muito atraente e simpático - ela pensou por um momento - Mas como é mesmo o nome dele...
- Alan Wright - respondi sem hesitar.
- Ah não, não - ela fez uma cara engraçada de nojo - Eu conheço esse.
- Alan Wright - a voz vinha do meu lado, um homem grande de braços cruzados sobre a mesa, sujo e suado falou o nome do professor de forma áspera - me surpreende que uma escola tão conceituada contrate um necromante como professor.
- O senhor deve estar enganado.
- Ah não, todos sabem a verdade - a bruxa gorducha falou de forma banal - ele deve ter feito algum acordo com a catedral, caso contrário estaria morto, queimado na fogueira.
Eu não morava a muito tempo na Inglaterra, mas os feitos e a crueldade dos necromantes correram por toda França quando eu ainda era uma menina. E agora eu podia estar apaixonada por um deles.
Eu não podia acreditar, uma coisa era usar o poder da morte para a magia obscura mas trazer os mortos á vida e comandá-los como servos era um crime sem perdão.
A regra era simples, os mortos devem continuar mortos