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Não quer se meter com bandidos? Então precisa disso.

Ricardo se aproxima mais de mim, de forma que eu posso sentir o calor de seu corpo e seu cheiro almiscarado misturado a tabaco e sabonete.

Eu ergo meus olhos para ele. Ricardo sorri. Suas feições rudes se transformam de um modo muito atraente. Eu enrubesço e desvio o olhar. Por um instante, fico acovardada em encará-lo como se pressentisse algo.

—O que está fazendo? —Pergunto erguendo meu rosto, quando senti os braços dele na minha cintura me puxando para seu corpo forte. Posso sentir cada músculo daquelas pernas poderosas encostadas as minhas. A camisa ainda está aberta, por isso quando espalmo minhas mãos para afastá-lo toco seu peito musculoso sentindo sua pele quente e seus pelos macios.

Ele se inclina para frente, lambendo seu lábio inferior, enquanto olha para a minha boca. Meu coração explode no meu peito. Prendo o ar quando sinto seu perfume almiscarado. Diversão cintila naqueles olhos negros.

—Se quer mesmo representar, você está com a expressão errada. Você parece uma virgem indefesa. Não quer se meter com bandidos? Então precisa disso. —Seus lábios quentes colam nos meus, me fazendo tremer em seus braços e meu coração disparar. Sinto seu estremecimento quando ele sente a umidade dos meus lábios em sua boca. Isso o faz me apertar mais em seus braços, despertando em mim sensações desconhecidas. Ouço seu gemido quando ele aprofunda o beijo e sinto sua ereção poderosa tocando meu corpo.

Quando ele se afasta de mim, ambos estamos com a respiração entrecortada. Eu posso perceber claramente a confusão em seus olhos negros. Ele parece fora de si. E eu espero que ele apenas saia, estou louca para ficar sozinha e tentar acalmar meus pensamentos.

Ricardo fecha os botões da camisa com as mãos trêmulas e as enfia por dentro da calça de sarja preta que ele usa. Então ele procura meus olhos.

—Te espero lá fora. —Diz seco.

—Está certo. —Eu digo ainda ofegante.

Ricardo se afasta om passadas largas e firmes, quando fecha a porta a bate com certa violência.

Fecho os olhos por um momento. Então me encaro no espelho. Meu rosto está corado, meus lábios manchados de batom, meu coração ainda está disparado, e eu estou ainda ofegante. Sorrio e passo o dedo em meus lábios, ainda sentindo o beijo.

Passo um papel toalha e limpo o manchado. Retoco o batom e depois de um suspiro saio do banheiro. Conforme caminho pelo departamento em direção à saída, meus colegas de trabalho, policiais, investigadores, que estão ainda por ali, assobiam para mim.

Sorrio confiante para eles e reforço meu rebolado, fazendo o papel de uma mulher fatal que não sou. Mas perto da porta quase caio, tropeçando em meus saltos. Rio nervosamente.

Logo que piso na calçada, sinto o ar frio no meu rosto, pernas e braços. Avisto o Sedan de Ricardo me esperando na esquina.

Conforme caminho até lá o avisto de perfil, o semblante parece carregado. Ele então gira a cabeça para mim e quando nossos olhos se encontram é o suficiente para esquentar todo o meu corpo com a lembrança do nosso beijo.

Tão logo ocupo meu lugar ao seu lado, ele arranca com o carro. Ainda parece nervoso. Dirige o tempo todo calado, preso em seus pensamentos. Eu acho bom, ele só vai me deixar mais nervosa. Viro meu rosto para o vidro observando a noite fria da minha janela um pouco embaçada.

Quando estamos quase chegando, ouço ele me dizer.

— Sophia, está em tempo de desistir de tudo.

Eu o encaro, sorrio de leve para ele passando confiança.

—Não vou desistir. Está tudo bem Ricardo.

Ele me olha impotente por um momento e olha para frente entrando naquela nuvem de mau humor. Percebo pelos nós dos dedos dele que ele aperta o volante com força. Tenso. Nervoso. Quase violento.

Estacionamos em frente à boate e entregamos o carro para um manobrista. Quando eu começo a me mover para a entrada em direção as pessoas que se aglomeram na entrada.

Ricardo me puxa.

—Entraremos juntos, e lá nos separamos. Caso consiga seu objetivo com o nosso alvo, me chame, e me apresente a Ryan, como quem não quer nada. Eu tentarei me infiltrar. E lembre-se, você é Rebeca Gael, uma secretária desempregada. E eu, Rafael Fernandes, um amigo de infância, que mora na sua cidade natal, em York e que está passando uns tempos em Liverpool. Frise que eu estou à procura de emprego. Se ele perguntar como conseguimos o convite, você já sabe, diga que uma amiga desistiu de ir à boate com o namorado e te deu.

Suspiro.

—Está certo. Você tem tanta certeza assim que conseguirei alcançar nosso objetivo?

Ele me observou sério.

—Deus! Você ainda pergunta? Não percebe o quanto é bonita? E mais, você é inteligente o suficiente para despertar a atenção.

—Se sou inteligente como diz, por que teme?

—Por isso mesmo...

Eu assinto e com um suspiro aperto minha pequena bolsa e avanço passando pelo labirinto de pessoas até a entrada. Ricardo logo se coloca ao meu lado, eu sinto então seu leve toque em minhas costas me conduzindo.

Os seguranças checam os nossos convites e autoriza a entrada.

O convite é muito caro e difícil de se conseguir, ele foi fruto de uma mexida de pauzinhos de nossos investigadores, que pressionaram o dono da boate. A All In está sempre cheia com pessoas da alta sociedade. Precisa marcar previamente para conseguir entrar.

Ryan é um magnata no ramo imobiliário. Ele de vez em quando a frequenta, gasta uma grana alta nesse lugar. Segundo informações, ele usa esse lugar para concluir seus negócios, costuma agradar seus clientes para fechar seus negócios milionários.

Dentro da boate escura, estrelas gigantescas e bolas metálicas pendem do teto enquanto garotas com os seios expostos e de biquíni dançam no pole dance. Uma parede de luzes brilhantes ora azul, ora vermelha cintila atrás do DJ. Outras luzes tremeluzem, salpicando de branco e dourado a multidão na pista de dança, os cantos iluminados apenas com lamparinas nas mesas.

Ricardo se afasta de mim. Estremeço, sentindo um leve desamparo, embora eu saiba que ele estará o tempo todo com os olhos postados em mim.

Fico parada por um momento no meio do salão e franzindo a minha testa, examino o lugar a procura de Ryan Miller, rezando para encontrá-lo. Tom, seu irmão, às vezes vem nesse lugar. Mas ele tem entrada livre, não precisa marcar. Nem preciso explicar porquê. Um homem como ele, não é bom dizer onde está. Algum inimigo poderia mata-lo.

Hoje meu foco é Ryan, pois mesmo que Tom estivesse aqui, ele é muito escorregadio, não irei conseguir nada com ele. No máximo, ele me levará para a cama e me dispensará como uma puta. Já com Ryan, poderei infiltrar Ricardo de alguma maneira, ou me infiltrar.

Ouço uma voz masculina ao meu lado direito:

— Olá!

Um jovem loiro, bronzeado, com certeza filhinho de papai, mais ou menos da minha idade de uns 25 anos me olha com interesse.

— Nunca te vi por aqui. É a primeira vez? —Ele pergunta um pouco alto por causa da música. Nikita de Elton John.

Eu o encaro séria, e digo no mesmo tom:

—Sim.

Resolvo me desvencilhar dele, ainda procurando Ryan.

—Você está procurando alguém? —O jovem insiste andando ao meu lado.

Digo, pensando em Ricardo:

—Sim, um amigo.

—Quem?

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