Capítulo 1 -Foque no nosso objetivo.
Sophia
—Uaul! Nem parece a mesma pessoa. —Eu me viro sorrindo ao ouvir a voz de Janice entrando no vestiário feminino da delegacia de polícia.
É a primeira vez que eu pego um trabalho de verdade. Preciso provar que sou capaz de fazer mais que entrevistar testemunhas em potencial e preencher relatórios dos outros detetives. Fiquei um ano pacientemente nessa função, até que finalmente fui chamada para trabalhar na força tática, é a primeira vez que irei por meu pé para fora da delegacia à trabalho.
Sorrio nervosamente para ela e me avalio no espelho. Caracterizada de uma mulher fatal, vou me infiltrar numa boate e tentar chamar atenção de Ryan Miller para chegar ao seu irmão, Tom Miller, que segundo investigações, ele trafica drogas vindas da Bolívia para Londres. Só que agora ele está hospedado na casa do irmão, na nossa jurisdição, Liverpool.
—Não quero me passar por prostituta. Acha que exagerei? Ryan Miller é conhecido por odiar esse meio. Nós levantamos que a mãe dele era uma mulher da vida. Eu preciso chamar sua atenção, mas não pelo motivo errado.
Ela sorri.
—Não, claro que não! Você está ótima. Se você conseguir chegar perto dele, sua postura dirá que você não é uma mulher da vida.
Assinto para ela e me viro novamente para o espelho. Vestido preto com decote em V, que adere meu corpo, e mostrava parte das minhas pernas. A maquiagem um pouco carregada nos meus olhos verdes, pois o ambiente é um pouco escuro, e eu preciso chamar atenção.
Os meus cabelos loiros soltos, um belo loiro platinado. As madeixas caem em ondas até as minhas costas. Eu fiz um trançado largo quando úmido, e depois de seco desfiz as tranças para obter esse efeito ondulado, o deixando mais bonito.
Tremendo pego uma pequena bolsa. Janice ainda me observava.
—Tem certeza que está preparada para esse serviço? Seu parceiro parece não achar. Desde que soube que você pegou esse caso, está uma fera. Segundo a conversa que eu vi com Roger, ele te acha muito prematura para se expor dessa maneira.
Eu suspiro meneando a cabeça.
— Já tentamos de tudo, e nada. Eu preciso pegar esse desgraçado. E vou tentar me aproximar dele, usando o irmão, Ryan Miller, que não tem nada que o desabone, pelo contrário, ele é educado, e tem prosperado no ramo imobiliário. Ricardo está exagerando. Eu preciso me infiltrar, só assim poderemos descobrir com quem Tom Miller negocia a distribuição das drogas. Espero que eu consiga atrair a atenção de Ryan.
—Você já se olhou no espelho? Claro que irá conseguir.
—Nem tanto assim. Ele é exigente e perspicaz, escorregadio, não se deixa envolver facilmente. E muito desconfiado. Preciso ter cautela.
Janice sorriu.
—Dará tudo certo.
—Espero!
Eu respiro fundo e saio do vestiário, tentando passar segurança. Logo encontro Ricardo que me encara com a expressão raivosa, os olhos duros e hostis. Ele é um homem bonito, embora seu rosto moreno é duro demais, as feições, irregulares, a fisionomia sempre fechada, proibitiva.
Ele corre seus olhos negros pelo meu corpo.
—Não dará certo! É claro que está nervosa. Dará bandeira.
—Ricardo, pare! Desde que você soube que eu iria trabalhar com você tem sido hostil comigo. Somos parceiros e não inimigos.
Ricardo se aproxima de mim e me empurra de volta ao vestiário. Fecha a porta e se vira para mim
—Sabe por que te colocaram nesse trabalho? Por que já tentamos de tudo, e não conseguimos nada. Somente por isso, você está sendo" usada ". — Diz de modo grosseiro, quase violento e frisando bem a última a palavra.
Seus olhos são extremamente duros para mim. Eu engulo em seco. Mas o que mais me doe são suas palavras.
—Eu sei. Mas eu não vejo isso como algo ruim, mas como uma maneira de finalmente poder trabalhar externo. É minha chance de provar para todos que sou capaz. Dentro do departamento fico muito limitada.
Ricardo passa a mão pelos cabelos negros. E começa a tirar a camisa preta que ele usa. Meu coração quase saiu do peito com seu gesto. Ele então começa a revelar um peito moreno cheio de pelos negros. Eu pisco atordoada.
—O que está fazendo?
—Olha!
Ele me dá as costas. Vejo as costas dele marcadas, cheio de cicatrizes fundas com vincos profundos e deformações.
—Meu Deus!
Ele se vira para mim e se aproxima. Eu quase dou um passo para trás. Ele veste a camisa, mas não a abotoa.
—Eu fui descoberto. Estava infiltrado no meio dos chefões do tráfico em Manchester.
—Como... você saiu dessa? Como... conseguiu fugir?
Ele solta o ar e fica a me olhar por um tempo.
—Eu sumi durante três dias. Os mais longos de minha vida. Uma equipe descobriu onde eu estava, com muita investigação. Mas nesse meio tempo, eu fui torturado. Só não morri, pois eles tinham prazer na minha tortura. Eu creio que, se eu não tivesse sido descoberto, morreria amarrado, amordaçado, apanhando.
Eu pouso os olhos desamparados nas linhas de seu rosto duro, na boca bem talhada, imaginando o quanto ele sofreu. Eu me sinto abalada com as palavras dele. Mas não gosto disso.
Justo agora ele vem me por medo?
Mas que droga!
—Eu não sabia...
Mas tento não pensar nisso, e o encaro com renovado interesse, tentando entender o homem com quem trabalhei por meses.
—Ninguém sabe. Eu fui transferido para cá depois de passar três meses fazendo terapia e trabalhando interno. Hoje estou bem, mas ainda sofro com pesadelos, e não quero isso para você. Não vale a pena.
Eu meneio a cabeça num gesto desolador.
— Ricardo, tomarei cuidado. E só aceitei esse trabalho mediante o histórico de Miller. Ele parece ser de bem. Através dele, chegaremos a Tom Miller.
Ricardo se aproxima mais.
—Não sabemos o tipo de gente que estamos nos metendo. E se ele estiver envolvido com os negócios do irmão? E se eles descobrirem tudo? Tenho certeza que não serão cavalheiros ou compassivos. Eu temo por você.
Eu encaro seus olhos negros duros.
—Eu passarei por uma mulher comum e vou sair com um homem. Apenas isso.
O escuro e severo rosto de Ricardo se torna ainda mais tenso. Observo a palma de sua mão se fechar.
—Você não ouviu tudo que eu disse?
—Ouvi. Mas não mudei de ideia.
Ricardo bate com uma das mãos no armário do banheiro e os fazem vibrar. Os olhos dele chispam quando ele se volta para mim.
—Tudo bem, mas já sabe. A finalidade de tudo isso é você me ajudar a me infiltrar. Então você sairá de cena. Nem que você me apresente como seu meio-irmão.
Eu sorrio achando graça nas palavras dele, tentando passar uma segurança que não sinto.
—Ricardo, você não se parece com meu meio-irmão. Você é latino demais para isso.
Ele fecha os olhos, parecia exercitar a paciência comigo.
—Tudo bem. Mas foque no nosso objetivo. Você o abordará para e de alguma maneira me apresentará a ele.
—Ok! —Digo.