Deus! Filha de Tom! Minha oportunidade é essa!
Minha mão começa a tremer de leve quando seus olhos azuis se fixam na minha boca. Eu devo estar muito provocante mesmo nesse vestido e com essa maquiagem. Ryan agora parece um diabo extremamente sedutor, mas não tem o magnetismo do irmão, o bandidão.
—Está sozinha?
— Não com um amigo.
—Aquele que você dançava?
Eu senti meu coração dar um pulo no peito. Ele me notou também.
— Não, eu o conheci aqui, nem sei o nome dele.
Sinto seus olhos em mim, me estudando. Desvio meus olhos dele.
—Qual é a sua história?
Eu sorrio.
—Por que quer saber?
Ele abre mais o sorriso, os lábios formando uma linha sombria.
—Você não combina com esse ambiente. É como colocar um quadro retratando a natureza ao lado de vários abstratos.
Eu me sinto corar. Resolvo usar de sinceridade com ele, não vou esconder minhas origens. Fica mais fácil usar a verdade, mesmo que eu esteja usando um disfarce.
—Eu não gosto de ambientes assim. Vim por insistência de um amigo de infância, que acabou me deixando sozinha. —Dou um suspiro exagerado. —Até tentei me divertir, dançar um pouco. Não estou acostumada a sair, sou muito caseira. —Seus olhos azuis faíscam com interesse.
Minha respiração acelera com pura adrenalina. Ele sorri para mim, correndo seus olhos por cada pedacinho de meu rosto.
—Verdade? Eu também não gosto de ambientes assim, mas aqui já fechei muitos negócios, eu o uso para agradar meus clientes.
—Então vem pouco aqui?
Seu rosto vai se tornando sério e ele suspira.
—Mais do que eu gostaria. —Ele então sorri de leve e estende sua grande mão para mim. —Ryan Miller.
Eu a aperto.
— Rebeca Gael. — Digo sentindo o calor da mão dele e o polegar que me acaricia por um momento.
Puxo minha mão.
Droga! Não deveria ter puxado minha mão tão rápida. E eu queria ser confiante. Queria ser sedutora e sexy. Queria ser capaz de estalar os dedos ao bandido sexy e trazê-lo de joelhos aos meus pés.
Sinto alguém do meu lado. E viro o rosto. Ricardo.
—Ah, esse é o amigo que te falei. Rafael Fernandes. Rafael, esse é Ryan Miller.
Ryan faz um leve movimento de cabeça para Ricardo. E me observando diz:
— Darei uma festa no sábado, por que vocês não vão? Tenho certeza que irão gostar.
Ai meu Deus!
Eu tinha feito uma grande jornada para estar ali. Nenhum ponto em voltar atrás agora só porque eu estou com medo de me arriscar mais.
—Por que não? —Sorrio.
Meus olhos demonstram triunfo de ter conseguido cumprir minha missão de me aproximar dessa família. Só espero que Ricardo não estrague tudo.
Ricardo sorri, mostrando seus dentes perfeitos.
—Sim, claro.
Ryan me olha e dá um sorriso.
—Então está marcado. Na portaria diga "chaleira".
Eu ergo minhas sobrancelhas.
—Chaleira?
—A senha para entrar.
—Ah, claro. —Lhe dou um sorriso.
O clima da boate muda, a música que está tocando é bem lenta. Ryan ignorando Ricardo me olha de forma intensa.
—Quer dançar?
—Sim, claro! —Digo confiante, embora o medo de estar entrando em terreno perigoso irradia no meu corpo inteiro.
Ryan então volta sua atenção para Ricardo:
— Até Sábado. —Ele disse de um jeito seco, como se dissesse “agora cai fora”.
Esses irmãos “Metralhas”, são bem possessivos.
Ryan pega a minha mão e me leva para o meio do salão. Ele então me puxa mais ao seu encontro. O perfume dele é bom, mas meio enjoativo para o meu gosto.
—Relaxa. —Ele diz nos meus cabelos.
— Estou relaxada. —Eu asseguro a ele.
— Você parece um pouco dura.
Ele se afasta um pouco para me ver.
—Por acaso tem medo de mim? Pois do jeito que você está tensa, é o que parece.
Eu encaro aquele rosto bonito me fitando sem perder nenhum detalhe.
Sim, eles são perigosos. Tanto nos negócios e com certeza com as mulheres. Extremamente sedutores.
Eu respondo com naturalidade:
—Medo não, mas quanto a estar meio dura, é natural, eu não te conheço.
Ele sorri.
—Você parecia bem à vontade com meu irmão.
Eu tento controlar minha respiração quando me lembro do irmão dele. As lembranças são fortes. Aquela sensação boa de estar nos braços daquele urso.
—Eh? Impressão sua.
Ele sorri de canto de lábios enquanto dançamos.
—Bem, se você está dizendo...
Seus olhos são tão intensos sobre os meus, que eu não consigo encará-lo por muito tempo. Em vez disso, olho para a massa de pelos negros aparentes que escapam da abertura de camisa branca. Os polegares de Ryan começam a acariciar minhas costas, me causando arrepios.
Ele então coloca a ponta do indicador no meu queixo e o ergue, me forçando a olhar para ele e o solta.
— Me fale de você.
Eu suspiro. Não posso mentir tudo. Preciso me apegar em algumas verdades para eu não me contradizer. Vou falar da minha vida, daquela que eu evito falar no local que eu trabalho, lá eu não queria me sentir uma garota caipira. Mas agora, eu tenho a intuição que me ajudará, que Ryan ficará mais atraído a mim se eu for diferente das mulheres que ele costuma sair.
Consciente de seu olhar, eu lhe atiro um sorriso vacilante.
— Eu sou filha de fazendeiros. Saí da fazenda, pois sempre tive o desejo de viajar, conhecer pessoas diferentes. Queria desbravar o mundo. Tudo ali me sufocava. Fiquei com uma tia, até pouco tempo. Hoje moro em um apartamento alugado, modesto no centro. Atualmente estou desempregada.
—Aventureira? Saiu só por isso mesmo?
Eu respiro fundo.
—Na verdade, saí por causa do meu pai. Ele colaborou muito para isso.
Ele inclina a cabeça para o lado, pensativo.
— Então, está à procura de emprego?
Eu enfrento seu olhar.
— Sim. — Minto.
—O que sabe fazer?
—Eu me formei em secretariado. —Nova mentira.
Ryan olha para mim por vários momentos, e eu não consigo ler sua expressão. Fico desconfortável a cada segundo que passa. Ele balança a cabeça lentamente, seus olhos parecendo pensativos.
—Eu posso te ajudar. Tenho uma vaga para você. Se você aceitar, é claro.
Eu me sinto quente por dentro. Minhas bochechas aquecem e o encaro com surpresa.
—Verdade?
Ele sorri.
—Sim. Mas antes quero saber se você tem experiência com crianças?
—Sim, quando era mais jovem, eu ficava com uma garotinha de três anos quando meus vizinhos saíam. Dava almoço, fazia dormir, dava banho...
Ele me corta:
—Ótimo. Você trabalharia para mim como babá?
Eu sorrio, surpresa. Babá? Pelo que eu saiba ele não tem filhos. Ambos os irmãos são solteiros. Deve ser pai solteiro.
Balanço a cabeça, lutando para manter meus olhos fixos nos dele:
—Babá? Sério?
Ele ri ironicamente.
—Sim. Tenho uma sobrinha de cinco anos, ela perdeu a mãe há pouco tempo. Minha governanta não tem dado conta do recado. E meu irmão é um pai ausente.
Deus! Filha de Tom!
Minha oportunidade é essa!