Então você é filha de fazendeiros?
—Eu adoraria.
—Só que você dormirá no emprego.
Melhor ainda! Penso, mas não respondo por um momento, de repente fico muito ofegante, sentindo uma grande adrenalina correndo através de mim.
— Tudo bem.
Ryan sorri para mim e me puxa mais para perto. Eu viro o rosto e fecho os olhos no embalo da música.
Parece tudo inacreditável. De repente conheço Tom, danço com ele e agora o irmão dele me oferece o emprego. É tudo tão inacreditável que me dá medo.
Um certo pânico na verdade.
Quando acaba a música, Ryan me afasta gentilmente e enfiando a mão no bolso puxa seu cartão.
—Me ligue no escritório e peça para a minha secretária te passar o endereço da minha residência, eu a avisarei que irá ligar. Rebeca Gael. —Ele disse meu nome como se o saboreasse.
—Claro. —Olhei meu relógio. —Vou indo.
Suas sobrancelhas arqueiam enquanto ele me olha com desapontamento. Sua boca se contrai.
—Já? Tão cedo? Fique comigo essa noite.
— Ficar com você?
—Sim. Sente-se comigo.
—E seu cliente?
Suas sobrancelhas se ergueram, e ele me olha com estranheza;
—Como sabe que estou com um cliente?
—Você me disse no início que os traz aqui. —Digo com o coração acelerado.
—Ah, sim. É verdade. Mas não se preocupe com ele. Está vendo aquele senhor? —Ele aponta o homem que eu tinha visto com ele. Agora o senhor estava em frente ao bar com uma jovem em seu colo. —Ele já tem diversão.
Eu assinto levemente.
—Tudo bem. Ficarei apenas um pouco. Hoje passei o dia procurando emprego. Quase desisti de vir a boate. Estou cansada.
Seus lábios esticam lentamente para cima em um sorriso preguiçoso, antes dele pegar minha mão e me conduzir até sua mesa.
Percebi que conforme andávamos, muitas mulheres viram a cabeça para o ver passar.
No meu campo de visão vejo Ricardo, ele está com cara feia, impaciente. Parece contrariado. Com um copo entre as mãos me encara sentado numa das banquetas do bar.
Evito seus olhos duros para mim, meu estômago já revira pela situação, não preciso de mais nada para me deixar mais à flor de pele. Eu me sento ao lado de Ryan num sofá confortável de couro vermelho em forma de meia lua.
—Então você é filha de fazendeiros? — Ele pergunta. E pegando um cigarro, pergunta. —Se incomoda se eu fumar?
—Não, não me incomodo. E sim, sou filha de fazendeiro.
Ele fita a ponta do cigarro aceso e seus lindos olhos azuis procuram os meus.
—O que houve com você e seu pai? Por que tanta animosidade?
Eu fungo e depois o encaro com os lábios apertados. Então me mexo desconfortavelmente no meu lugar. Eu realmente não estou muito animada com essa conversa ou atenção. Eu não gosto muito de falar de mim.
—Ele é uma pessoa difícil, muito turrão. Para ele, mulher molha a barriga no tanque e seca no fogão.
Ryan ri.
—Você é filha única?
—Não, tenho um irmão dois anos mais velho. Vinte cinco anos.
—E com sua partida? Como seu pai reagiu?
—Meu pai ficou contrariado, mas não chegamos a brigar. Ele também confiava em minha tia que é uma ótima pessoa. Ele sabia que eu ficaria em boas mãos.
Ele me estuda por um momento e balança a cabeça ligeiramente
—E sua mãe é viva?
Fecho os olhos, disposta a deixar o pesadelo ir embora. Solto um suspiro profundo. Falar de minha mãe me deixa triste. Eu o encaro e digo:
—Não, morreu quando eu tinha quinze anos.
—Desculpe-me. Isso ainda parece afetar você. Geralmente não sou assim tão curioso.
Como se eu acreditasse nisso!
Se ele realmente estiver envolvido com o irmão, quem sabe lavando dinheiro e tendo a imobiliária como fachada, ele seria sim, muito desconfiado.
Eu sorri de leve para ele.
—Tudo bem. Mas não quero falar mais nisso... E você? Qual é a sua história? —Pergunto me sentindo ousada.
Seus olhos se fecham por alguns breves segundos antes que Ryan olhe para a ponta do cigarro e dando uma tragada, ele me encara através de sua espessa e escura pestana. Os olhos azuis perscrutadores e quietos.
" Está demorando muito para falar. É algo muito ruim, caso contrário, você não estaria me olhando assim."
—Eu e meu irmão Tom, nascemos em um lar desajustado. Fomos unidos até quando adolescente, mas depois tudo mudou. Não sei, nos perdemos. Minha mãe não prestava, e meu pai muito menos. Minha mãe era alcoólatra, meu pai era rude e vivia de falcatruas, negócios ilícitos. —Ele desviou seus lindos olhos azuis de mim. — Quando eles morreram já éramos adultos. Eu tinha vinte e um anos e Tom dezenove. Primeiro foi minha mãe, e depois meu pai.