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"Milagre"

Lizandra

O mestre Túlio sumiu, estou sozinha.

"Tenta magia ( essa é a Rose, minha loba, falando dentro da minha cabeça)"

Não posso Rose, e se alguém ver?( Respondo também dentro da minha cabeça)

"Não seja medrosa menina, experimente, facilitará nosso trabalho."

Como se fosse você a fazer todo o trabalho.

"Ah, tô te ajudando, vai, não reclama e começa logo."

Tá bom, sua metida!

Mexi os dedos sobre as mudinhas e elas se separaram, ficando enfileiradas sobre a bandeja de madeira. Peguei a bandeja e fui para o canteiro que já estava preparado. Me abaixei e mexi os dedos novamente. As mudas saíram da bandeja e entraram, cada uma, em uma covinha que estava feita. Após todas estarem colocadas, larguei a bandeja no chão e fui apertando a terra em volta de suas raízes. Eu não precisava fazer isso, mas caso mestre Túlio ou qualquer outro chegasse, era melhor ver eu fazendo alguma coisa. 

Dei um leve sorriso ao contemplar o trabalho feito. Peguei a bandeja e voltei para a outra caixa de mudas. Antes finquei a vareta com o nome daquela espécie que estava plantada ali, era preciso, para não haver confusão. Estava acostumada a usar magia no pomar e as frutas estavam cada vez mais bonitas e cresciam bem rápido.

Estava com as novas mudas na bandeja quando mestre Túlio chegou.

- O senhor sumiu! Exclamei.

- Precisei ir dar um recado, mas notei que já terminou um canteiro, você é rápida criança, que bom. Vou deixar você trabalhando com isso e vou montar os tubos de irrigação que faltam, estarei mais adiante, mas dará para você me ver. Qualquer coisa me chame.

- Tá bom mestre - o vi sair com um sorriso no rosto.

Fui em direção ao canteiro, esperei ele pegar alguns tubos e se distanciar, me abaixei com a bandeja, olhei em volta e mexi os dedos, novamente as mudinhas, que foram aos seus lugares, terminei de cobrir as raízes e voltei a pegar mais mudas.

Não sei de onde vem essa magia, mas é ótima com as plantas.

Assim passei a tarde. No final, estavam quase todos os canteiros prontos. Já ia anoitecer e mestre Túlio já estava voltando, olhou com gosto os canteiros, foi até o canto externo da estufa e abriu um registro. Imediatamente começou a esguichar, pequenas quantidades de água, molhando os canteiros sem encharcar.

- Ótimo trabalho criança, já pode ir pra casa, volte amanhã às 8 horas. - Ele falou, satisfeito.

- Mas mestre, minha mãe não vai deixar, ela precisa de mim pra costurar. - Repliquei.

- Não se preocupe criança, descanse e veja se come, você está muito fraquinha e sua loba também precisa comer, não esqueça. - Ele foi incisivo.

Cheguei em casa e não vi minha mãe, tomei banho, coloquei um vestido velho e fui procurar algo pra comer.

Até me admirei, na mesa tinha um prato feito coberto e um recado:

Não sei que horas volto, coma, você precisa se alimentar pro seu novo trabalho. C.

Nossa!!!! 

Minha mãe mandando eu me alimentar?!

Realmente é uma surpresa.

Mais surpreendente ainda é ela saber que agora tenho um trabalho fora de casa, pois dentro, eu já tinha e muito.

Lizandra

Acordei ainda de madrugada, saí pela janela e fui pra floresta. Tirei o vestido, deixei sobre um arbusto e deixei Rose sair, ela precisa se alimentar também, como disse mestre Túlio. Ela correu, correu e senti-nos quase voando. Caçou uma lebre e comeu. Foi ao lago, próximo da cachoeira e bebeu água. Voltei à forma humana e dei um mergulho, me refrescando.

Fiquei boiando olhando a lua, quase cheia, já se afastando, faltava pouco para amanhecer. Saí do lago, voltei a soltar Rose, que estava mais que feliz e fomos embora. Chegamos no arbusto onde deixei minha roupa, voltei a minha forma humana, me vesti e voltei pra casa. Fiz café e por incrível que pareça, tinha pão no armário, ovos, frutas e frios na geladeira. Coloquei a mesa, sentei, comi e saí.

Até me senti feliz, nesta manhã tão diferente das outras.

Não vi minha mãe, por isso achei melhor guardar os perecíveis na geladeira e deixei o resto sobre a mesa para ela.

Cheguei no trabalho ainda eram sete e meia, mas mestre Túlio já estava lá, admirando os canteiros. Quando me viu, deu um sorriso largo, quase uma risada.

- Veja criança, aconteceu um milagre!!!

Olhei os canteiros e todas as mudas tinham crescido, os canteiros que já haviam sido plantados antes de mim, já podiam ser colhidos, eram verduras.

- Que maravilha mestre, deve ter sido a água ou foi mesmo um milagre!

Eu estava eufórica, levantei meus braços e comecei a pular e dançar, segurei as mãos do mestre e o fiz dançar também, estávamos rindo e rodopiando como numa valsa. Até que ouvimos:

-Posso saber o que está acontecendo aqui? Porque tanta felicidade?

Tinha que ser ele, o grosso do alfa Derick.

O mestre respondeu:

- Olhe com seus próprios olhos - falou, mostrando os canteiros, com o braço estendido.

- Uau! Com as mãos na cintura, os olhos arregalados e a boca aberta, ele olhava, parecendo não acreditar no que via. - Como se deu isso? O que vocês fizeram para isso acontecer? Tá parecendo um milagre?

- É isso que estávamos comemorando, meu alfa, é um milagre - o mestre falou, todo empolgado, enquanto eu, devagarinho fui chegando pra trás, me afastando deles em direção a porta da estufa.

- Onde você vai, esquisita? Quero saber como vai seu trabalho, venha cá. - Esse alfa não larga do meu pé, o que ele vai me arrumar agora?

- Sim alfa Derick, o que posso fazer pelo senhor? - Perguntei com falsa solicitude e com minha loba agitada dentro de mim.

- Você? Nada. O que pode vir de bom de você? Basta fazer o que te mandarem e já tá de bom tamanho - virou-se para o mestre Túlio e perguntou - O que ela fez ontem, mestre?

Mestre Túlio riu e chegando perto de mim, passou o braço sobre meus ombros num leve abraço, me olhou sorrindo e disse:

-Foi ela, ela que plantou todos esses canteiros novos, merece toda a nossa gratidão - olhou pra cara do alfa sorrindo, feliz, enquanto eu baixei a cabeça me encolhendo mais ainda. Estava vestindo um short remendado e uma blusa grande de malha, encardida pelo tempo.

-Quer dizer que fiz bem em trazê-la?! Ótimo, pelo menos agora, ela presta pra alguma coisa - falou o alfa todo poderoso e grosso, sem dar o braço a torcer.

Tinha que tomar para si, a responsabilidade do bom trabalho, como faz todo homem machista. Ainda bem que falou e saiu logo, dizendo que ia chamar o Jimi para ajudar a colher o que já estava no ponto e ligaria pros comerciantes, para confirmar a entrega.

Olhei pro mestre, que me abraçou e me tranquilizou.

- Não ligue para toda aquela braveza querida, quando ele encontrar sua companheira, ele acalma.

- Tomara que seja logo, ou qualquer hora dessa eu taco a enxada na cabeça dele. 

O Mestre Túlio deu uma bela gargalhada.

- Eu bem que gostaria de ver isso. - Disse ele.

-ÁÁÁi! 

Ouvimos o gritinho e olhamos para ver o que aconteceu. Era o Alfa Derick com a mão na cabeça e fazendo uma careta.

-Está tudo bem, Alfa? - Perguntou mestre Túlio.

-Sim, mestre, foi só uma pedra, que veio não sei de onde e bateu em minha cabeça. Não foi nada, estou indo. 

Mestre Túlio olhou para minha cara desconfiado.

-Eu não fiz nada, o senhor viu.

"Sua mentirosa." Falou Rose.

Cala a boca Rose, ele bem que mereceu.

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