Lua Azul
Quando cheguei em casa, vi arrumado sobre a cama, um conjunto de blusa e saia. A blusa era sem mangas com decote em V e a saia era justa, com sobrepor de tule pregueada em camadas. Era verde clara, quase da cor dos meus olhos.
Fiquei olhando aquela roupa linda, surpresa, não esperava usar algo tão bonito. Onde estaria minha mãe? Ela deve ter feito essa roupa, mas como sabe minhas medidas e será que vai tampar os calombos de minhas costas?
"Sua mãe arrasou heim!? - Disse Rose."
Pois é, não esperava.
"Agora que já tem a roupa, vá tomar banho e lavar bem esse cabelo. Fique bem cheirosa."
Tá boooooommmm! Mas não sei para que tudo isso.
Tomei banho e tinha sabonete, shampoo e condicionador com perfume de hortelã. Minha mãe pensou em tudo.
Saí do banheiro enrolada na toalha, cheguei no quarto e minha mãe estava lá, sentada sobre a cama, de cabeça baixa, me esperando.
Ao entrar, ela levantou a cabeça e me olhou, tinha lágrimas nos olhos.
- Desculpa filha, você não tem culpa da rejeição de seu pai. Espero que a roupa dê, vou ajudar você a se arrumar.
Ela falou tudo isso seca, apesar das lágrimas, não me deu um abraço , e sequer olhou para mim, não sei o que aconteceu para ela ficar assim. Mas não vou reclamar, está melhor do que era.
Ela olhou o meu cabelo, cortou umas pontas com a tesoura. Espanou meus ombros e me ajudou a vestir a roupa. A blusa tinha alças que se cruzavam nas costas e deixavam meus ombros descobertos, mas tampava os calombos.
Havia também, um par de sapatilhas verdes. Ficaram perfeitas, meus cabelos já estão abaixo dos ombros, cacheados naturais, vermelho claro, quase rosa.
Minha mãe me olhou e não falou nada, saiu pela porta e não voltou.
Já era noite e a lua já estava linda, azul, dando um colorido especial para a noite.
Derick
Tudo pronto, a lua está linda, bem grande, bem azul, com um brilho todo especial.
Estou pronto também, parado, de pé ao lado do palco que construímos no centro da Alcateia. Estou todo de preto, como meu lobo e meu cabelo ganhou um trato especial, está mais curto e comportado.
Ele é muito liso e preto e fica caindo nos olhos, se não for aparado. Meus olhos são cinzentos, mas ficam negros quando Thomas assume. Estamos ansiosos. Os betas já chegaram, a maioria do povo também. Só faltam os anciões, assim que chegarem, começarão a cerimônia. Passo a mão na cabeça e sinto a elevação, ainda dolorida, da última pedrada. Porque será que não cura logo?
Lizandra
Já cheguei, não sei porquê estou nervosa, Rose também está agitada.
Me escondi atrás de uma árvore, bem distante do palco.
"Não adianta se esconder, nosso companheiro vai nos achar pelo cheiro."
Não perturba Rose, duvido que vamos encontrar nosso companheiro hoje.
Olha, os anciões estão chegando. Acho que um deles é o mestre Túlio.
"Eu não acho, tenho certeza, aquele velho é velho."
Sossega Rose!!!!
"Então vai mais para a frente."
Tá boooommmm. Fui para uma das últimas mesas com cadeira e sentei, esperando que ninguém me notasse.
Derick
Chegou a hora, já vai dar meia noite e quero caçar. Finalmente os anciãos chegaram e subiram ao palco, agora sou eu e depois os betas jovens a recebermos a consagração da Lua Azul.
Um dos anciãos me puxa pela mão até o centro do palco, os outros se juntam a ele e ficam ao meu redor.
Eles usam uma capa fechada, cobrindo todo o corpo, com um capuz que cobre a cabeça e o rosto até abaixo do nariz, não dá pra saber quem é quem.
Eles estendem o braço direito e esticam suas mãos na minha direção, começam a recitar um mantra em uma língua dos povos antigos. Uma luz começa a irradiar de suas mãos, luz cor de rosa, fica cada vez mais forte, até me envolver por completo. Conforme continuam a recitar, a luz vai ficando esverdeada, depois azulada, até que sou todo envolvido pela luz azul.
Então, desce um raio de luz azul muito forte, vindo da Lua. É tão forte que fecho os olhos e sinto como se algo fosse arrebentar dentro de mim, cada vez mais forte, mais forte... Até que explode, dói, soltei um urro alto, que estremeceu as folhas das árvores...
Lizandra
Olho para o que está acontecendo no palco e estremeço. Começou com uma luz cor de rosa igual da minha magia, depois verde como as mechas de Rose e depois azul como a Lua. Incrível, lindo, forte, cada vez mais forte, cobre todo ele, escondendo-o dentro do raio de luz da Lua azul, parece que vai explodir, fecho os olhos, não aguento olhar, só ouço aquele urro terrível e sinto tudo ao meu redor, estremecer.
Será que as cores de minha loba e de minha magia, têm alguma coisa a ver com essa magia que está agindo no Alfa Derick? Isso tudo é muito estranho.
Caio no chão, de joelhos, respiro fundo e abro os olhos, olhando para o chão. Percebo que a luz diminuiu, olhei para o palco e havia sumido, só ficou o alfa Derick de joelhos, os anciões, já com as mãos abaixadas, se retiram um atrás do outro. Está feito. Os betas também receberam poder, pois estavam todos de joelhos no canto direito do palco.
Todos se levantam, o povo espera para saber quem é a companheira do alfa.
Eu também estou curiosa, mas volto para trás da árvore, com receio não sei do quê. Vejo quando ele e os betas mais novos, puxam o ar, tentando identificar algum aroma apreciável e diferente.
Derick
Fiquei um tempo ainda de joelhos, esperando meu coração se acalmar e a dor passar, me sinto mais forte, minha audição aumentou, assim como a visão e o olfato, graças a isso, sinto um cheiro adocicado e fresco, parece bala de caramelo com hortelã, levanto meu rosto, farejando.
Pulo do palco, procurando de onde vinha aquele cheiro, vou seguindo, passando pelas jovens que estão lindas, todas muito elegantes e perfumadas, mas não é nenhuma delas, continuo seguindo, até ver parte de um rosto, rodeado de cachos (rosas? Deve ser efeito da lua), atrás de uma árvore...
Minha...
Meu…
Lizandra
Olho para ele com olhos arregalados e surpresa e ele me olha do mesmo jeito.
E agora? É ele, o alfa, como pode ser que seja nosso companheiro?
Me escondi mais atrás da árvore, mas ele me pega pelo braço e me puxa para a frente, a vista de todos e diz bem alto:
- Eu, Derick Barnes, alfa da alcateia Lua Azul, aceito a esqui… - me curvo e pergunto baixinho - Como é seu nome?
- Meu nome é Lizandra, senhor.
- ...aceito Lizandra, como minha companheira destinada e luna da Alcateia Lua Azul.
Todos ficam em silêncio, chocados, sem saber o que pensar, mas logo iniciam um burburinho de desaprovação, então ele fala, bem baixo, próximo ao meu ouvido:
- Não gosto de você, mesmo arrumadinha, continua sendo esquisita, mas vou aceitar o que a mãe lua me deu. Não pense que será fácil, pois creio que não és digna de ser minha Luna, mas sou obediente e não vou te rejeitar. Já são meia noite, vou te dar cinco minutos.
COOOORRRREEE!!!
Lizandra
Não esperei ele repetir, saí correndo, chamando minha loba, mas ela não respondeu, corri entrando na floresta, tropecei, caí, levantei e continuei correndo. Percebi que as jovens e algumas mulheres também corriam e de repente ouvimos um uivo alto e forte, seguido de vários outros.
Começou a caçada! E cadê Rose? Que hora errada para desaparecer.