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Capítulo 4-Como eu o conheci...

Meus pensamentos me levam àquele dia:

O choque foi violento, ouço o baque de algo caindo no chão. Então vejo as muletas. Quando ergo meu rosto dou com um homem lindíssimo pálido se segurando na parede gemendo de dor. Seu pé está enfaixado. Fico totalmente sem reação olhando para ele. Reparo no seu relógio de ouro e nas roupas finas dele.

Que droga! Penso na hora que vejo o quanto esse gringo parece ser importante.

—kahretsin! (Mas que merda!) Você quase me derruba no chão! —Ele diz abafado ainda se segurando na parede.

Ele é árabe? Penso o encarando sem saber o que fazer e confesso que mais baqueada pela beleza desse homem do que por qualquer outra coisa.

—Perdoe-me senhor, foi sem querer. Está doendo muito?

Ele ergue o rosto e eu prendo o ar quando dou com seus lindos e expressivos olhos negros que combinam muito com ele...

Um dos homens que o acompanha lhe entrega as muletas, ele as pega sem olhar para ele, seus olhos fixos nos meus. Se amparando nelas diz para todos se retirarem e nem por um minuto desvia seus olhos dos meus.

—Nos reunimos amanhã no mesmo horário—diz para eles ainda olhando para mim.

Os homens se afastam.

—Precisa de ajuda? —Um dos homens bem vestidos que o acompanha pergunta.

—Não. —Ele diz os olhos fixos em mim.

Eu engulo em seco. Por que ele me olha desse jeito?

Não sei! Só sei que me sinto uma presa diante de uma fera.

Eles se afastam imediatamente me deixando em frente ao cara mais atraente que eu já vi na vida. Ele me avalia com seu olhar negro, intenso. Há nele uma firmeza perturbadora, uma segurança que me deixa pouco à vontade com ele. Meus nervos estão à flor da pele.

—Pelas suas roupas você trabalha aqui?

Eu aliso meu uniforme.

—Sim, na recepção.

—Não te vi na recepção.

—Eu faltei alguns dias.

Ele avalia meu rosto.

—Entendo.

—Bem, então perdoe-me e bom dia para o senhor.

Eu me afasto um pouco dele e dou com Henry, o carregador de malas, vindo em minha direção. Ele pega o meu braço e me leva para um canto.

— Laura está como louca perguntando por você. Onde diabos você se meteu? Se já não bastasse que você faltou três dias seguido. Fora sua falta quando seu irmão morreu. O que está querendo? Perder o emprego?

—Diga a Laura que ela estava me auxiliando. —O homem diz surgindo ao meu lado.

Henry me larga imediatamente e se afastando de mim o encara sem graça, então ele apruma mais seus ombros e se inclina.

—Ah, perdoe-me senhor. Eu não sabia. Sendo assim, depois você leva as coisas para ela.

Eu aceno com a cabeça e quando Henry se afasta, eu o encaro o lindo desconhecido:

—Obrigada. —Digo e sentindo uma certa fraqueza e me seguro às cegas na parede.

—Você não me parece bem. Acompanhe-me, acho que precisa de uma bebida.

Eu engulo em seco.

— Como?

—Vem comigo! —Ele diz autoritário.

—Aonde?

—No meu quarto.

—No seu quarto? —Eu ofego.

—Sim, é o mínimo que pode fazer depois de ter me atropelado.

—O que farei no seu quarto?

Seus olhos ardem nos meus. Percebo sua testa com uma leve camada de suor.

— Ajuda. Você entenderá quando chegarmos lá.

Eu pisco aturdida. Minha mente de repente entorpece com apreensão. Enfeitiçada por seus olhos negros, sinto como se estivesse à beira de um precipício, desligada da realidade. Por um momento esqueço as mágoas, a tristeza que carrego pela morte do meu irmão. Até me pessimismo quanto aos homens que agora estão atrás de mim me cobrando o que ele deve.

Extraordinário essa reação que esse homem me provoca...

—E então? —Ele questiona ante minha mudez.

—Tudo bem.

—Ótimo. Então vamos.

Caminhamos juntos pelo largo corredor do hotel sentido aos elevadores. Eu estou lutando para manter calma, mas não está fácil. Relanceio os olhos para ele e vejo uma espécie de sorriso em seus lábios, isso só piora as coisas, mas estou muito cansada para raciocinar, ou tentar entender tudo isso.

O elevador está com as portas abertas. Entramos nele. Ele aperta o décimo andar. A música ambiente é romântica e piora muito as coisas. Olho para baixo, constrangida.

—Não nos apresentamos.

Relutantemente eu ergo meu rosto e o encaro.

—Ester Marshal. —Digo.

—Murat. —Ele diz estendendo a mão para mim. Percebi que ele não me disse seu sobrenome.

Pego sua mão e sinto seu aperto firme. Meus batimentos já rápidos, aceleram. O calor de suas mãos e a intensidade de seus olhos provocam reações no meu corpo que estremece. De repente sinto como se tivesse entrando num campo magnético que me puxa para ele.

As portas se abrem me trazendo para a realidade. Só então ele solta a minha mão. Saímos do elevador e seguimos pelo corredor até seu quarto. Tento segurar meu sorriso nervoso conforme caminhamos lado a lado.

Deus! Estou acostumada a ver homens bonitos e bem vestidos, mas esse sobrepuja todos eles.

Ele me estende o cartão magnético e eu abro a porta para ele.

Entramos na suíte luxuosa. Quando fecho a porta dou com ele caminhando até a cama. Ele se senta nela e coloca as muletas ao lado da cama.

—Que tipo de ajuda o senhor precisa?

Ele retira o paletó e tenta jogá-lo sobre uma poltrona, mas erra o alvo. Eu imediatamente vou até a peça e a pego do chão e coloco-a sobre o móvel.

Quando me volto para ele dou com seus olhos fixos em mim. Dou um sorriso sem graça e ajeito uma mecha do meu cabelo que soltou do coque e a coloco atrás da orelha.

—Eu não entendi bem a ajuda que o senhor precisa.

—Você poderia me preparar um Scott sem gelo e aproveita faz um para você também, você está abatida, não me parece nada bem.

—Para mim?

Ele continua me estudando.

—Sim, por que não?

Solto o ar. Eu bem que estou precisando de uma bebida. Esses últimos dias não tem sido fáceis. Primeiro a perda do meu irmão, a ignorância e prepotência da mulher que é minha mãe. Tantas coisas para administrar como a falta dele, a falta de dinheiro por causa da morte dele, pois nós dividíamos as despesas juntos. Além disso os traficantes me cobrando a dívida que ele tem com eles.

—Tudo bem-digo com resignação.

Murat a ponta o bar para mim. Aceno com a cabeça e silenciosamente caminho até lá e faço as duas bebidas conforme sua sugestão.

Entrego para ele e tomo a minha num gole só. Eu tusso quando sinto a garganta ardendo.

—Esse malte é puro. Você não deveria beber desse jeito e ele sobe rápido.

Sorrio com o rosto em chamas, Murat alarga mais seu sorriso e toma o restante de sua bebida. Ele estende o copo para mim e eu levo os dois até o bar.

A bebida tem um efeito desejado no meu sistema nervoso, sinto-me mais relaxada. Quando me volto para ele o encaro mais leve.

—O senhor disse que precisava de ajuda. Mas eu não entendo o que posso ajudá-lo?

—Na verdade percebi que estava em apuros lá embaixo e tensa demais. Você não me pareceu bem. Não pensei em mim quando te chamei aqui no quarto.

As palavras dele me fazem perder as falas. Então pisco evitando minhas lágrimas, emocionada pela sinceridade dele e por ele ter se importado comigo. Faz tempo que ninguém se importa. Ultimamente me sinto invisível, só lembram de mim para me dar bronca.

—Sim, as coisas não têm sido fáceis para mim.

Murat assente me avaliando pensativo.

—Eu percebi.

Aceno um sim com a cabeça, ainda tocada com a sensibilidade dele.

Aqui todos só sabem me cobrar. Eles não estão nem aí para o que eu estou vivendo. Nunca ninguém parou para perguntar o que estou sentindo.

—Bem, se não precisa mais de ajuda.... —digo enxugando algumas lágrimas furtivas. Achando incrível estar chorando na frente desse estranho.

Então me calo quando vejo Murat ficar em pé. Ele vem na minha direção sem as muletas, mancando muito, mas parece não se importar com a dor. Para poucos centímetros de mim.

—Qual é sua história, cabelos de fogo? —Diz elevando sua mão e tocando meu rosto. Meu coração dispara com seu gesto. —Quem são os vilões? O que eles fizeram com você para você está assim, tão fragilizada?

Eu limpo minha garganta mal conseguindo raciocinar direito com seu perfume maravilhoso no meu nariz, seus olhos negros nos meus. Sinto uma de suas mãos pegando a minha, seu polegar alisando minha mão. Eu não digo nada fico apenas olhando para ele.

Faz tanto tempo que ninguém se preocupa comigo. Minha história tem sido de tragédia e mais tragédias. A voz serena de Murat querendo me entender surge como um balsamo. Ele, então, me puxa mais para ele. Meu coração começa a bater no meu ouvido abafando o som da minha respiração tão agitada.

Encantada fico a olhar esse homem à minha frente, tão seguro de si, tão maduro, tão majestoso.

Um tremor percorre o meu corpo. Fecho os olhos, pois me sinto tão frágil, tão fraca e indefesa. Murat me abraça, seu cheiro agridoce— uma mistura de colônia pós barba com seu perfume masculino almiscarado e seu suor— me passam tanta força que de repente não me sinto mais dentro da minha vida solitária e o bem-estar que ele me proporciona me faz buscar refúgio no ombro dele.

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