Capítulo 5- Carente
Murat me abraça apertado, sentindo que preciso muito desse abraço. Ficamos um tempo assim. O nó na minha garganta vai se desmanchando numa mistura conflituosa de sentimentos: o conforto dos braços de Murat, a grande atração que sinto por esse estranho e o medo. E esse último que começa a falar mais alto. Ofegante, tomo consciência do absurdo que é estar no quarto desse homem chorando no ombro dele, e me afasto dele dizendo:
—Olha, obrigada por tudo. Melhor eu ir.
—Não vá, por favor. —Ele diz rouco. —Fique.
Ele fala tão enfático, tão sentido que eu estremeço e um êxtase que jamais experimentei toma conta de meu corpo com seu convite.
A mão grande desliza pelo meu braço enquanto seus olhos negros mantém os meus cativos nos dele. Solto um suspiro sem saber o que responder, confusa por querer ficar e ao mesmo tempo achar tão errado tudo isso.
Murat parece entender meu dilema e me puxa para ele, mas não de um jeito bruto, mas forte, sua mão circula minhas costas carinhosamente enquanto ele olha para mim. Seu rosto desce e ele esfrega seu nariz na pele do meu rosto e então sobe e mordisca com seus lábios a ponta da minha orelha. Fecho os olhos sentindo prazer no seu carinho. Seus lábios escorregam até a minha nuca, quentes e úmidos me fazendo estremecer, depois correm por até meu pescoço me enchendo de prazer.
—Fica? —ele me pergunta rouco.
Eu espalmo o peito dele.
—Não, melhor não.
—Então depois do seu expediente venha até meu quarto. Podemos conversar. Relaxar. Estou sozinho nessa região e não conheço ninguém. Os homens que me acompanhavam até me chamaram para sair, mas assim —ele aponta sua condição—fica difícil.
Encantada por seu magnetismo o olho com a respiração agitada e atraída pela proposta de espairecer um pouco ao lado de um homem tão interessante, digo:
—Tudo...bem, eu venho. Mas teremos apenas uma conversa.
—Claro. —Ele garante baixinho e surge um sorriso torto em seus lábios. —Espero-te então aqui. Hoje não vou sair do quarto.
—Está certo. —Digo e aceno com a cabeça sem querer sair de lá tão cedo.
Deus! Mas preciso!
Eu me afasto dele e quando estou saindo do quarto ouço ele dizer:
—Até mais tarde.
Giro minha cabeça para ele e sorrio.
—Até.
Os minutos que se passaram na recepção trabalhei como se tivesse no piloto automático. Pela primeira vez deixe de pensar em tudo de ruim que estava vivendo.
Por que não conhecer Murat melhor?
Eu não quero recusar! Aquele breve momento com ele me fez tão bem, foi como um bálsamo. Senti-me tão bem, tão esquecida dos meus problemas. Sei que minha ida no quarto dele não tem nada a ver com amizade. É algo íntimo estar no quarto de um homem solteiro, mesmo que minha imposição tenha sido jogar conversa fora.
Eu realmente preciso relaxar....
Quando meu expediente acabou passo no banheiro e dou uma ajeitada nos meus cabelos sob o coque, retoco a leve maquiagem que uso e lavo as axilas. Aplico um perfume caro que há tempos comprei. Um luxo que fiz questão de ter quando meu irmão era vivo e estava tudo bem. Soltei o ar e me enchendo de coragem vou até os elevadores e aperto o andar de Murat.
Em frente a porta dele fico parada olhando para ela com relutância. A coragem querendo ir embora, no entanto antes que eu bata nela, ela se abre e Murat surge. Lindo de bermuda branca e camiseta da mesma cor. As muletas apoiadas nos braços
Fico sem ar com o sorriso que ele me dá. Sem conseguir me conter reparo em suas pernas poderosas. Meu coração parece a ponto de sair pela boca. Todo meu corpo reagindo a ele.
Alto, musculoso, ombros largos. Esse homem é perfeito!
Levo a mão ao coração, muito nervosa e excitada.
—Como sabia que eu estava aqui?
—Eu liguei na recepção perguntando por você e eles me disseram que seu expediente já tinha terminado. Então vi a sombra na porta. Foi fácil saber que era você.
Ele afasta o corpo.
—Entre. Estava te esperando para pedir nosso jantar.
Eu sorrio para ele como se fosse a coisa mais natural do mundo jantar com ele.
—Está com fome? —Ele me pergunta.
Estou com o estômago embrulhado, isso sim. Ele me deixa nervosa.
—Ainda não—digo.
Ele sorri para mim.
— Eu também não—confessa. —Quer alguma coisa para relaxar? Tem vinho no frigobar e no bar temos scotch, Martine?
—Vinho. E você?
Ele sorri.
—Eu te acompanho no vinho. Você pode nos servir?
—Está certo.
Eu me afasto dele e vou até o frigobar e pego o vinho gelado, então me dirijo ao bar e o abro com uma abridor sem dificuldade. Encho duas taças e vou até Murat.
—Venha, vamos até o terraço! Há uma linda vista do parque.
Sim, o Rowntree é um dos parques mais bonitos da região.
Seguimos a passos lentos até lá e eu me sentei na cadeira que ele indicou. Murat sentou-se ao meu lado em outra e colocou as muletas ao lado. Eu lhe entrego a taça.
—O que aconteceu com sua perna?
Murat olha para o pé e diz:
—Luxei quando corria no parque.
—Nesse parque?
Ele sorri.
—Sim, inventei de correr a noite num terreno estranho.
Eu desvio meus olhos dos dele e olho o parque iluminado agora. Cheio de árvores magníficas, mais ao longe dele um lingo lago brilhante.
—Também é linda a vista. Ele deve ter te chamado para uma corrida.
Eu o encaro.
—Sim, foi isso mesmo. — Ele então se vira para mim. — Da mesma forma que eu senti quando vi você, que é uma garota muito bonita e me levou a fazer esse convite para termos esses momentos de descontração.
—Obrigada —digo desviando meus olhos dos dele. Tomo um gole do meu vinho tentando me acalmar.
—Fale-me de você.
Eu o encaro. Se eu começar a falar de mim eu vou chorar. Eu costumo represar tudo, então se eu me abrir será como abrir as comportas da tristeza e águas vão jorrar com as lembranças da minha vida sofrida. Um homem como ele não está querendo ouvir minha história triste, embora eu tenha sentido nas suas falas que ele realmente quer me conhecer melhor.
Timidamente começo apenas do meu gosto inusitado por músicas exóticas, como as flamencas, os tangos e que adoro músicas clássicas, principalmente as que dão ênfase ao som do piano.
—Sério isso? Você gosta das flamencas?
Eu o encaro e aceno um sim, ele se vira mais para mim.
—Música flamenca e tango é minha paixão. Já fui a Buenos Aires para conhecer de perto essa dança linda e exótica, mas ainda não tive oportunidade de ir a Espanha.
— Verdade? —Meus olhos brilham. —Você sabe dançar tango?
—Não —sinto uma leve tristeza no seu "não". —Mas gostaria muito. E você? Sabe dançar?
Aceno um sim.
—Fiz aulas de dança.
—Verdade? Você é tão jovem...quantos anos têm?
—Vinte anos. E você?
—Trinta e seis. Eu me sinto um velho ao seu lado.
—Imagina, velho... —digo com um sorriso.
Ele sorri.
—Vamos jantar?
—Sim, agora estou com fome.
Eu me levanto e o ajudo com as muletas, as pegando e entregando a ele quando ele se colocou em pé.
As horas voaram, passamos momentos descontraídos, agradáveis. Murat pediu salmão grelhado ao molho de maracujá, arroz branco para acompanhar.
Quando finalizamos o jantar, deixamos a mesa e eu parei no meio da sala para me despedir. Louca para ele me convidar para estar com ele amanhã.
Há então um silêncio entre nós e ele me puxou para mais perto dele. Suas muletas caem no chão, o barulho que fez foi pequeno, abafado pelo carpete. Eu fecho os olhos, de repente me sentindo bem nos braços dele. Estava sendo tudo muito agradável, agradável até demais.
Uma excitação diferente de tudo que vivi começa a correr pelo meu corpo quando Murat aspira meu cheiro e me beija no pescoço.
—Adoro seu cheiro, cabelos de fogo...
As palavras dele enviam sinais de prazer para todo o meu corpo. E o pior de tudo que eu nem o conheço direito, ele ainda é um estranho para mim e mesmo assim não consigo afastá-lo.
Quando ele tentou me beijar na boca, eu senti que seria meu fim, por isso eu desvio os lábios dos dele, mas ele segura a minha cabeça e sua boca toma a minha impedindo qualquer protesto. Poderosa ele me força abrir os lábios, eu ainda luto, mantendo-os apertados, me sentindo confusa com tudo isso. Mas ele me ganha no momento que ele começa a saborear os cantos deles com doçura. E ofego. Murat então cola sua boca na minha e me beija com paixão desenfreada. Eu começo a corresponder, sentindo uma missão impossível parar. Meu coração parece que irá sair do peito pela excitação que isso me provoca.
Quando finalmente nos afastamos eu o olho com as pupilas dilatadas de desejo.
—Fique —ele me pede com rouquidão na voz.