Capítulo 5 Ajuda
Phoenixville ― Pensilvânia, 2029
Havia vários caminhões seguindo para Filadélfia naquela noite, dentre eles, apenas um era diferente dos outros: uma menina dormia numa carga de feno. Apenas um casaco a protegia do frio. Ela teria conseguido essa carona no início da manhã, fugindo dos homens que a caçavam. Eles queriam o seu mal, era apenas o que ela sabia. A menina não entendia o motivo de ter a Filadélfia como objetivo, mas misteriosamente, sentia que deveria ir para lá. Desde que seu caminho foi cruzado com o daqueles adolescentes, não lembrava-se de muita coisa. Sabia apenas que precisava de um lugar seguro e acreditava que ele existia. Ela descansava o que seu corpo pedia. Estava exausta. Não dormiu muito bem as noites passadas e era uma garota de sono pesado, quando tinha uma casa segura, é claro, porque agora até um mosquito conseguia acordá-la. Uma freada brusca fez Callia despertar e levantar-se num salto.
— Que merda foi essa? — procurou por sua mochila e a jogou nas costas. A menina observou o caminhoneiro descer, batendo a porta fortemente. Ele havia a visto.
— O que faz na minha carga? — Perguntou duramente. — Se uma blitz me parar eu vou preso, sabia? Podem achar que sequestrei você. Desça!
— Ou o quê? O que vai fazer comigo? — O homem careca e bigodudo franziu o cenho, confuso. — Ótimo, que bom que é inteligente.
Ela desceu da carga com a mochila em suas costas. Por uma fração de segundos o homem sentiu pena.
— Pra onde vai?
— Vai fazer diferença?
— Eu quero ajudar você — um fio de esperança acendeu em seu coração. — Deveria ter me pedido antes de se enfiar aí.
— Estou indo para a Filadélfia.
— Ótimo! Nós chegaremos em uma hora — a menina abriu um sorriso pequeno, antes de correr e jogar a mochila na parte de trás do caminhão. — Não! Vai ficar mais frio. Venha na cabine.
Ela apenas assentiu, pegando a mochila novamente. Não demorou muito para o caminhão voltar a se movimentar. Uma música country tocava ao fundo enquanto ela encostava a cabeça no banco.
— Posso lhe fazer uma pergunta? — ele quebrou o silêncio. A menina o olhou seriamente.
— Acabou de fazer.
— Outra então — ela o encarou por alguns segundos antes de assentir. — Você está fugindo de alguém?
— Estou.
— Por quê?
— Achei que fosse apenas mais uma pergunta.
— Estou te dando carona e o mínimo que poderia fazer é me responder — ela respirou fundo.
— O que quer saber?
— Por que está fugindo?
— Existem pessoas que querem me fazer mal, mas não sei o motivo.
— E onde estão seus pais?
— Eles foram mortos por essas pessoas que estão me perseguindo — os olhos do homem arregalaram-se e ele engoliu seco. Estava com medo por ela e também com pena.
— Por que você está indo à Filadélfia? Tem parente lá?
— Isso eu também não sei. Tudo o que sei é que preciso ir.
Ele desviou o olhar da estrada para olhar a menina que agora mexia na alça da mochila em seu colo.
— Tudo bem. Estamos indo. Você deve tá com fome, não é?
— Muita.
— Tem um isopor atrás do seu banco com alguns sanduíches. Eu mesmo preparei antes de sair de Phoenix. Pegue-os e coma o quanto quiser, senhorita...?
— Callia. Sou Callia.
Ela soltou o cinto para virar-se e alcançar o isopor atrás de seu banco. Logo começou a devorar os sanduíches com fervor. Estava faminta.
— Parece com fome.
— Faz dias que não como algo.
— Posso imaginar.
Ele continuou dirigindo enquanto a menina definhava os sanduíches. Ele estava sentindo-se bem por poder ajudá-la, mesmo sabendo do risco que corria por levar alguém que estava sendo procurada por pessoas perigosas. Depois de encher a barriga, Callia colocou o isopor no lugar. Ela olhava a paisagem passando pela janela e tentava imaginar quando iria comer bem de novo. Estava difícil, mas ela acreditava no melhor. Havia se passado algum tempo e sem notar já jogava conversa fora com o seu novo amigo chamado George. Depois de conhecer um pouco sobre a vida daquele humilde homem, ela tranquilizou-se. E foi conversando que o caminho se encurtou. Ficou tão pequeno que apenas se deram conta que estavam na Filadélfia quando viram a placa com o nome da cidade. O destino de Callia estava ali, naquele lugar. O favor de George estava sendo cumprido. Deixaria a menina no posto, cinco quilômetros à frente de onde estavam agora. A cada minuto que passava a noite caía mais. A penumbra banhava a cidade da Filadélfia. A paisagem dos prédios em ruínas, localizados depois da floresta, agora era quase invisível. Apenas o escuro estava ali, o escuro que trouxe uma visão para Callia. Os olhos da menina ficaram vidrados numa direção, seus pulmões travaram, ela estava totalmente paralisada. Nos seus olhos a imagem de carros surgiu, parados no meio da pista, bem ao lado do posto. Callia sabia que era uma emboscada. Quando ela finalmente soltou o ar de seus pulmões e gritou, já estava em cima da hora. A mais ou menos cem metros à sua frente estavam os veículos que previu.
— FREAAAAAAA! — Gritou desesperada, fazendo George frear o caminhão. — Vá embora agora, eles armaram uma emboscada pra mim — ela retirou o cinto rapidamente e colocou a mochila nas costas, abrindo a porta do veículo.
Os homens já se movimentavam em sua direção.
— Eles vão pegar você.
— Vá agora!
Ela pulou do caminhão, batendo a porta fortemente. Callia ultrapassou a mureta do acostamento para entrar na floresta. A menina ouviu George saindo em alta velocidade e agradeceu mentalmente por seu novo amigo escapar. Ela não podia dizer o mesmo sobre si, afinal, eram soldados caçando-a agora. Callia começou a correr, parou apenas quando achou uma pequena cratera no tronco de uma árvore grande, coberto por raízes. Foi ali mesmo que encontrou refúgio. Ficou agachada, tapando a própria boca para que nenhum ruído pudesse escapar.
— Onde está você, aberração?
— Não adianta se esconder, nós vamos te achar.
A menina retirou a mochila das costas silenciosamente, abrindo o zíper com a maior cautela. Ela procurava por seu canivete. Quando o encontrou, tornou a fechar sua mochila, colocando-a sobre os ombros de novo. Ela conseguia ouvir os passos cada vez mais perto e mais perto.
— Se eu ficar aqui, vão me achar logo — pensava.
Pegou uma pedra ao lado de seu pé e respirou o mais fundo que podia. Então, quando surgiu a coragem, ela arremessou, fazendo com que a pedra batesse no tronco de outra árvore distante e chamasse atenção daqueles homens que correram na direção do ruído. Saindo devagar do pequeno esconderijo, ela correu ainda mais rápido. Mas dessa vez, os galhos secos chamaram atenção por suas pisadas fortes. A menina olhou pra trás somente para enxergar um dos soldados, até que a agonia terminou por fazê-la esbarrar em um tronco. Callia caiu para trás com toda a força.
— Se acha esperta, não é? — a raiva e o medo no corpo de Callia eram aparentes. Ela estava deitada no chão da floresta com os cotovelos apoiando o seu corpo que queria se erguer e voltar a correr. O homem abaixou-se e levou a mão até o rosto de Callia — você é até que é bonita para ser um deles — ele disse, recebendo um tapa em seu braço — não seja tão teimosa ou terei que lhe torturar.
Ele voltou a mão ao rosto dela e acariciou sua bochecha. Callia então, não perdeu tempo em puxar seu canivete e perfurar a mão do mesmo, que gritou estrondosamente de dor. O homem caiu sentado para trás, segurando sua mão rasgada. Ela levantou-se rapidamente.
— Acaricie a bunda da sua mãe — disse satisfeita, chutando a lateral do corpo do homem.
Callia iria voltar a correr, mas a mão boa do soldado agarrou seu tornozelo, derrubando-a. Seu canivete voou para longe.
— Você acha que vai se livrar assim? — ele puxou a menina até que pudesse segurar seu pescoço. Ele sentou-se sobre o quadril de Callia — você não pode mais do que eu, desgraçada.
— Me solte, seu merda!
Ela grunhiu, levando um tapa muito forte em seu rosto.
— Repita!
— Você é só um otário que recebe ordens de outros otários. O típico cara que não serve nem para controlar a própria vida e depende das escolhas de outras pessoas.
Outro tapa mais forte foi aplicado no rosto da menina. Aquilo só a motivou ainda mais.
— Você é um puta de um merda que não vale nem a roupa que veste.
Dessa vez ela foi surpreendida com um soco em seu nariz que fez o sangue escorrer na mesma hora. Uma lágrima de dor desceu pelo seu rosto.
— A princesinha tá chorando.
— De ódio. Quem vai chorar de dor é você — Callia lutou para alcançar uma pedra pontiaguda e tratou de transformar sua raiva em força, acertando com tudo o que podia a têmpora do homem. Ele desmaiou no mesmo momento — Agora chore, seu bosta!
Ela levantou-se, agarrou a sua mochila e passou a revista-lo, procurando por algo que pudesse ajudá-la. Pegou a pistola que estava presa no coldre do homem e refez seu caminho com passos mais largos. Ela torcia para os outros não estarem por perto. Um eco de tiros foi ouvido por Callia, assustando-a. Ela enxergou lasers vermelhos procurando-a, famintos para derrubá-la. A menina não pensou duas vezes em jogar-se no chão, levando as mãos à cabeça para tentar se proteger. Era realmente uma situação complicada. Callia não tinha certeza de que iria escapar. Dois soldados então, aparecem, fazendo-a puxar a pistola e apertar o gatilho. Nenhum tiro.
— Do que adianta ter uma arma e não saber atirar? — Avançou e tomou a pistola de Callia — imbecil, não sabe que está travada?
Callia praguejou-se por tamanho vacilo. Mas que culpa poderia ter? Nunca havia tocado em uma arma na vida.
— Você vem com a gente — disse o outro. O soldado sequer deu uma chance para Callia levantar-se, enrolou os cabelos dela em sua mão e a arrastou rudemente.
— Eu não fiz nada. Me deixe ir.
Ela implorava. Tamanha dor sentia. Seu corpo se definhava pelo caminho espinhento e pedregoso.
— Você nasceu com o gene defeituoso. Você e todos os outros que vamos encontrar e matar. Isso foi o que você fez.
Callia estava entregue, não havia mais escapatória. Não até o que aconteceu em seguida: o soldado que a arrastava foi empurrado bruscamente por outro que apareceu. Ele terminou por soltar os cabelos de Callia, levando consigo um tufo.
— Você tem que ser sempre idiota? Já não basta ela estar sendo levada pra aquela prisão sem cometer crime algum? — Disse o homem que ajudou Callia a levantar-se. — Ela não é um animal!
Levantando-se, o soldado avançou para cima do outro que ajudou Callia. Eles começaram a se empurrar, até que o mais calado os separou.
— Você não nasceu pra ser soldado. O pai sempre esteve certo. Você nunca vai conseguir nada na vida, Thomas. Você é um fracote.
— Eu não me importo. Estou nessa vida de merda, fazendo esse trabalho que eu odeio só para honrar o nome de uma família de merda.
— Não fale assim da nossa família! Você é covarde — bastou essas palavras para Thomas acertar-lhe um murro. O outro soldado os separou mais uma vez.
— Parem, idiotas! Estamos em missão e essa menina apagou um dos nossos.
Os três olharam para Callia que ainda estava assustada.
— Foi mais que bem feito por tratar essa coitada como um animal.
— Tanto faz. Agora levem ela logo. Temos mais coisas para fazer hoje.
— Podem ir que eu a levo — recebendo um olhar duvidoso de seu irmão mais velho, Thomas o viu se afastar. O outro soldado foi junto — você está bem?
— Por favor, não me mate.
— Eu não vou.
— Por que não me deixa ir, então? Eu sei que você não quer fazer isso e você sabe que eles vão me matar.
— Se eu não levar você, estarei ferrado.
— Nós podemos dar um jeito, Thomas, me ajude a escapar dessa. Me deixe buscar uma vida melhor já que você não tem coragem pra isso.
— Você também não teria se conhecesse o meu pai.
— Você não precisa dele para ter valor, Thomas. Você já tem o seu valor. Você é um homem bom e não pode deixar seu pai e seu irmão mudarem isso.
Thomas, que segurava Callia pelo braço, a forçando andar pela trilha, arrastou-a para fora do caminho. O rapaz parou e segurou o ombro de Callia, fazendo-a gemer de dor.
— Desculpa! — pediu ele. — Desculpa por esse caos e por meu pai e meu irmão serem parte disso.
— Eu não sei por qual motivo você apareceu, mas se você não estivesse aqui, eu não teria chance. Você é um homem bom.
— Pegue — ele soltou algo de seu equipamento e puxou à mão esquerda de Callia para lhe entregar um objeto — você não é boa com armas, então leve essa granada com você. Puxe este pino quando realmente precisar.
— O que você vai fazer?
— Apenas corra, ok? — Ela assentiu — agora! — E assim ela fez. Usou de suas últimas forças para correr. Callia olhou para trás somente para enxergar o soldado atirando em sua própria perna. — MALDITA! — foi o grito que ela escutou da garganta dele.
Callia não estava cem por cento. Seu rosto ainda estava bastante machucado e seu corpo estava retalhado por cortes. Ela mancava um pouco, mas corria como uma maratonista. A vontade de sobreviver era maior e iria demorar alguns minutos para que pudesse se curar. Callia não sabia para onde, mas ela corria mesmo assim, na direção que achava mais viável. Uma fraca luz mais a frente indicava que ela estava saindo da mata. Havia uma chance.
— Apenas continue, Callia. Você consegue — ela repetia como um mantra. O cansaço e a dor estavam quase vencendo — falta só um pouco.
Ela puxou ar suficiente para carregar seus pulmões, os deixando guiá-la nessa última carga de força. Metros depois saiu na avenida, no outro lado daquela floresta que foi seu pesadelo minutos atrás. Callia ajoelhou-se vencida pelo cansaço e, aproveitou o tempo que tinha para agradecer em silêncio pela bondade de Thomas. A felicidade que a tomava por ter conseguido sobreviver era enorme, não podia negar, mas ela ainda precisava sair de lá. Callia levantou-se, agradecendo por não ter perdido sua mochila, muito menos sua vida. Olhou para as várias direções antes de escolher qual seguir, somente para sentir algo a derrubar antes mesmo de dar o primeiro passo. Um tiro pelas costas. Caída ao chão e com a visão embaçada, Callia conseguiu observar o irmão de Thomas sorrindo satisfeito com mais três soldados ao seu lado. Thomas não estava lá, mas Callia ouviu sua voz em suas lembranças.
— "Isso é uma granada, puxe o pino quando realmente precisar."
Com o último fio de força que atravessou seu corpo, ela fez. Puxou o pino e pediu para o universo que seu arremesso pudesse levar chegar onde eles estavam.
— GRANADA!
Um deles gritou, tentando correr antes da grande explosão. O corpo de Callia foi parar um pouco mais longe devido ao impacto da explosão. Ela arrastou-se pelo chão, deixando uma trilha de sangue e começou a desesperar-se por notar sua visão ficando turva, ainda pior do que antes estava. Callia não merecia morrer daquela maneira.
— Por favor, alguém m-me... ajuda — ela tentava — por fa-favor, alguém me a-ajuda — Callia estava parando gradativamente. O projétil dentro de sua carne a impedia de curar-se, fazendo o sangue escapar pelo furo, deixando-a ainda mais fraca do que já estava — Alguém por f-favor...
Callia sentiu braços lhe erguerem. E a última coisa que conseguiu ver foi seu corpo sendo sugado por uma sombra. Lá embaixo, na Solum, Lanna estava sentada em sua cama, lendo um dos livros que tanto gostava. O aparecimento de Bea a assustou, fazendo-a levantar-se num pulo.
— Rápido, Lanna, chame alguém. Ela está perdendo sangue — a menina das sombras falou, aplicando o corpo ferido e ensanguentado de Callia sobre sua cama — agora, Lanna!
Lanna soltou o livro no chão e ergueu-se rapidamente. Abrindo a porta do quarto e correndo em desespero pelos corredores.
— ALISON! — Ela gritava, chamando atenção dos outros mutantes que saíam de seus quartos para ver o que se passava — ALISON!
A menina da telepatia apareceu ofegante, havia corrido muito já sabendo do acontecido. O grito mental de Lanna e Bea sendo mais potente do que a própria voz da menina de olhos verdes.
— Onde estão? — Alison perguntou, segurando uma maleta de primeiros socorros.
— Quarto — Lanna respondeu, voltando a correr para onde a menina ferida estava.
Chegando lá, ela empurrou a porta tão forte a ponto de quase derrubá-la. Alison veio logo atrás.
— Rasga a blusa dela, Bea.
A mais velha ordenou para a menina das sombras. Bea a obedeceu. Alison colocou a maleta ao lado do corpo de Callia e a abriu, colando as luvas e pegando os instrumentos necessários.
— Preciso que chame o Ravi e o Daven. Temos que saber quem ela é — rapidamente Bea lançou-se nas sombras.
— Lanna, toalhas limpas — a criadora de ilusões parecia paralisada, olhando fixamente para o rosto ensanguentado da menina. Os olhos verdes ardiam. — Lanna, toalhas limpas! — Quando finalmente ouviu, ela foi até o banheiro do quarto e pegou toalhas limpas no pequeno armário da pia. A menina correu de volta e entregou tudo a telepata.
— Sangue.
— Eu sei, ela está perdendo muito sangue — a menina de olhos verdes assentiu. Ela sentia um aperto tão grande no peito que a deixava sem ar. Era sempre triste para Lanna presenciar algo como aquilo — só preciso retirar a bala e rezar para que ela esteja inconsciente porque essa vai doer, está bem fundo, mas não saiu pelo outro lado — Alison limpava o sangramento com álcool e um pedaço de toalha — vou precisar da Ariana. Ela pode evitar que coisas piores aconteçam.
— Ariana, estou no quarto de Lanna e Beatrice. Preciso que venha aqui, agora — ela falou em voz alta, mas Lanna sabia que a menor se comunicava mentalmente — Lanna, segure os braços dela. A mantenha imóvel.
Engolindo seco, Lanna assentiu, ajoelhando-se na cama. Levou ambas as mãos para segurar os braços da menina com a força que podia. O vento frio anunciou a chegada da menina das sombras.
— Eles estão vindo.
— Ótimo. Bea, ajude Lanna. Eu vou puxar a bala agora.
Bea rapidamente posicionou-se, segurando fortemente o braço esquerdo de Callia enquanto Lanna prendia o direito.
— Logo.
A menina de olhos verdes disse. Alison pegou o que parecia ser uma pinça e a enfiou no furo, fazendo pela primeira vez depois do desmaio, Callia dar um sinal de que ainda estava viva. Um grunhido saiu da boca da mesma que arqueou as costas em tamanha dor.
— Dor — Lanna disse, expressando uma careta de preocupação. Enxugou a lágrima que caiu sem seu consentimento.
— Eu sei, Lanna — Alison murmurou, finalmente retirando o projétil das costas de Callia — o processo de cura começará. O que importa é que ela vai parar de perder sangue.
O corpo de todo mundo relaxou. O de Lanna ainda mais. Nem mesmo quando havia tomado os tiros havia perdido tanto sangue quanto aquele único. O lençol da cama de Bea havia mudado para vermelho. Então a porta do quarto foi aberta novamente, dessa vez por Ariana que observou a situação e ficou pasma.
— Ai meu santinho, quanto sangue — ela cobriu os olhos com ambas as mãos e sentiu o estômago revirar.
— Quem chamou ela aqui?
— Fui eu, Bea, ela controla emoções e sentimentos, lembra?
— E como isso vai ajudar? Vai fazer a garota ter uma crise de riso?
— Vai ajudar fazendo-a não sentir dor e isso termina motivando o corpo dela a se curar mais rápido. Ela vai acordar daqui a alguns minutos e tenho certeza que a Ariana sabe o que fazer, não é?
— Sim — respondeu num tom baixo, balançando a cabeça em positivo. Estava intimidada por Beatrice ter sido tão rude.
— Ela vai precisar de um banho e a Ariana vai ajudá-la.
— Ela mal consegue olhar o sangue, Alison, quanto mais limpá-lo.
— Eu posso fazer isso — ariana ponderou com a menina das sombras — posso fazer melhor do que você faria.
— Esse é o meu quarto. Não quero você aqui.
— Bea! — Lanna repreendeu.
— É uma causa maior, Bea — disse a telepata — você não tem escolha, mas prometo que assim que ela acordar, todas iremos deixá-la em paz.
— Ótimo.
Batidas na porta foram ouvidas e Alison ordenou a entrada. Daven e Ravi passaram pela porta. Ravi aproximou-se e olhou bem para o rosto da menina.
— É realmente ela. Trouxe a descrição, Daven?
— Com to-toda certeza.
— Onde você a encontrou, Bea?
— Na verdade, fui eu — Alison tomou a frente para não deixar a menina das sombras encrencar-se em suas fugidinhas da Solum — eu senti a presença mental dela e pedi para Bea ir conferir se havia mesmo alguém lá em cima — Beatrice agradeceu mentalmente. Se para ela era tão importante ter um tempo sozinha, Alison não deixaria ninguém estragar isso.
— É. Eu estava andando pelas ruínas e então ouvi uma grande explosão. Corri até onde o barulho tinha surgido e encontrei ela agonizando, tentando pedir por ajuda.
— O senhor ainda não nos disse quem ela é — Alison avisou.
Lanna estava ansiosa. Tentou tirar sua concentração na menina desmaiada para observar o gênio ajeitar os óculos e passar o dedo na tela de seu tablet, procurando alguma coisa.
— Seu nome é Callia Temple. Nascida em 14 de março, Miami, Flórida. Aqui diz que ela possui clarividência e se chegou até o outro lado do país não foi porque lhe trouxeram. Já deveria estar fugindo e como veio diretamente para cá, havia previsto a Solum.
O coração de Lanna disparou, assim como o dos outros. Se aquela garota desconhecida havia previsto aquela base, alguma enorme importância teria.
— Realmente é ela — saiu da boca de Ravi, antes de deixar o quarto de Lanna e Beatrice com o gênio em seu encalço — realmente é.