Capítulo 4 Treinamento
Filadélfia — Solum, 2029
A sirene das 8h soou. Não era nada sobre uma invasão ou um incêndio, mas um despertador. Tocava todos os dias na mesma hora de sempre, avisando que precisavam acordar e se organizar para o treinamento. O grupo que havia viajado para o resgate de Nadora, chegou na madrugada. Ravi havia conhecido a nova integrante e dispensado todos para dormir, avisou sobre o quarto em que a garota dividiria com a menina da força. Nadora ficou muito feliz. Os mutantes que foram para a missão em Nova Iorque não tiveram tanto tempo para descansar como os outros, mas Ravi não queria moleza de ninguém. Não os deixaria sem treino aquela manhã. Alison, como uma boa anfitriã, já estava a caminho do quarto de Nadora. Deveria mostrá-la toda a Solum e deixá-la no refeitório. A menina da telepatia havia colocado sua roupa de treino e já seguia para a ala D. Quando finalmente chegou lá, Alison tratou de anunciar a sua presença e nem precisou bater na porta.
— Podem abrir? Sou eu — não demorou muito para ela ser aberta.
— Oi! — Nadora cumprimentou — Entre. Eu estava me arrumando — a menina da agilidade abriu espaço para Alison passar.
— Bom dia! Diana ainda está... — ela não se permitiu concluir. Havia encontrado a resposta.
A menina da força estava completamente esparramada em sua cama. Os cobertores já não a cobriam mais, estavam espalhados no chão. Os braços estavam abertos, passando pelo limite do colchão e a boca emitia um ronco estrondoso.
— É sempre assim?
— São raras as vezes que ela consegue ser pontual pela manhã.
— Meu Deus! — Nadora expressou, impressionada. — Olha esse ronco, parece mais um carro velho — Alison gargalhou — veja se não é!
— Você vai ter problemas pra dormir.
— Vou? Tenha certeza que comecei por essa madrugada — Nadora respondeu, sentando-se na ponta de sua cama. — Você vai acordá-la?
— Com certeza.
Alison aproximou-se de Diana e bateu palmas perto de seu ouvido.
— Diana James, hora de acordar! — A menina maior remexeu-se na cama e virou-se para o outro lado, resmungando. — Vamos, Diana, ou farei questão de esquentar os seus miolos — outra vez sem sucesso.
Nadora levantou-se rapidamente e segurou firme com ambas as mãos no colchão de Diana. Ela não usou da força, foi necessário apenas sua agilidade. Nadora puxou o colchão tão rápido que gerou força suficiente para fazê-la cair da cama. As duas gargalharam, vendo a mais forte levantar-se possessa de ódio.
— Quem fez isso? — A expressão de Diana era tão assustadora que Nadora se escondeu atrás da telepata.
— Fui eu, espero que não se importe — sabendo do medo que Diana sentia de sua presença, Alison mentiu. Automaticamente a superforte parou de respirar fundo e encolheu-se com os olhos arregalados.
— Cla-claro que não. Eu já estava levantando mesmo — a menina da força ergueu-se do chão num solavanco e correu para o banheiro. Apenas quando a porta fechou-se, as outras duas soltaram o riso preso.
— Isso foi engraçado — Alison disse entre gargalhadas.
— Queria saber como faz ela sentir tanto medo de você.
— Acho que não é medo, é respeito, mas é melhor deixar assim. Você não tem noção do quanto ela apronta.
— Eu ouvi algo sobre isso ontem à noite.
E saíram do quarto em meio a gargalhadas e conversas. Alison levou Nadora para conhecer toda a instalação da Solum. Foram de todas as alas até as saídas de emergência. De todos os setores até as garagens automotivas e aéreas. Depois que a menina da agilidade conheceu todo o lugar, foi levada ao refeitório para fazer seu primeiro café da manhã. Assim que adentraram, Diana — que já estava por lá — acenou para Nadora que, prontamente, sentou-se em sua mesa. Ela cumprimentou Bea e Lanna que a responderam com um aceno de cabeça. Mais ao lado direito, Ariana estava sentada com as gêmeas Carly e Rose, numa conversa aparentemente divertida. Assim que notou a presença de Nadora, a menina da empatia despediu-se educadamente das garotas e foi sentar-se na companhia das outras. Ela pegou sua bandeja e passou na frente da mesa de Bea e Lanna, mostrando a língua para a menina das sombras, assim como fez na van na noite anterior.
— Posso sentar com vocês? Sei que eu posso, então eu vou — Ariana sorriu graciosamente e sentou-se.
— Você sabe ser bem folgada, mas eu não me importo porque você é uma fofa — Diana comentou. Ariana apenas sorriu e mordeu um pedaço de sua maçã.
— Você não vai comer nada? Nós vamos treinar daqui a pouco e você precisa de nutrientes — comentou a menina da empatia.
— Eu realmente estou com fome — Nadora assumiu — espera, aqui tem treinamento?
— Sim, mas não se preocupe, cada um treina de acordo com seus limites — a menina da agilidade ficou muito feliz com a notícia. Há quanto tempo não se exercitava mesmo? — Ah, sobre a comida, você pode começar na mesa onde tem as bandejas — Diana explicou, apontando. — Naquela ao lado você tem as massas, seguida pelas frutas. A última mesa de lá é comida mais pesada. Só os muito famintos necessitam dela, tipo eu.
— Tipo a Diana. Ela come muitíssimo. Na semana passada ela acabou com os pães da despensa.
— Ei, não conte sobre meus segredos obscuros, Ari!
— Desculpa — pediu ela, arregalando os olhos e tapando a boca.
Nadora riu e levantou-se, logo seguiu para onde a superforte havia ensinado. Nesse mesmo momento Polaris acentuou sua presença no refeitório. Diana não havia notado, estava concentrada demais devorando sua comida. A menina da eletricidade fez questão de passar entre a mesa onde sua arquirrival de dormitórios estava. O jogo de provocação entre ambas não iria cessar tão cedo.
— Bom dia, filhote de urso! Bom dia, Ari! — A superforte não era de perder a concentração em comida, mas naquele momento ela esqueceu completamente o que era comer.
— Ai meu santinho! — expressou Ariana, sabendo do que estava por vir.
— Eu não sabia que enguias falavam. Quantos volts você já disparou por aí hoje?
— Nenhum até agora, mas pra você eu posso abrir uma exceção. Não vai ser a primeira vez mesmo — Diana semicerrou os olhos e trincou o maxilar.
— Polizinha, por favor, vá pra sua mesinha.
— Já estou indo, Ari, não se preocupe. Eu não tenho problema com raiva — Polaris gargalhou, piscando o olho para Diana que, por pouco, não levantou-se para enchê-la de pancada. Ela virou em seus calcanhares e foi fazer seu desjejum.
— Eu ainda acabo com ela.
— Pra que agredir? Paz e amor é o segredo para uma vida linda — Ariana quem disse, com medo de uma futura briga entre duas de suas amigas. Diana tentou, mas não foi o suficiente para que segurasse o riso. Ariana sempre vencia.
— Perdi alguma coisa?— Nadora aproximou-se outra vez, aplicando sua bandeja na mesa e sentando-se na cadeira vazia ao lado de Ariana.
— Foi só o de sempre.
— O quê de sempre? Gente, eu cheguei aqui de madrugada.
— A enguia me provocando — Diana quem respondeu dessa vez.
— Você também não foi muito legal, Diana.
— Diana James nunca deixa barato — Alison disse quando se aproximou sem ser notada — mais dez minutos para o treino. Não esqueçam — a líder dos superdotados ia saindo, mas parecia ter esquecido algo: — Nadora, quando terminar me encontre na ala central.
— Ok.
O resto dos minutos se passaram. Todo mundo havia terminado sua refeição e foram para os seus treinos respectivos, com a exceção da mais ágil que agora procurava o lugar onde deveria encontrar a telepata. Nadora caminhou pelas alas, guiando-se pelas placas. Terminou por encontrar a instrução para onde precisava ir. Quando chegou na parte central do lugar, avistou Daven e Alison conversando animadamente.
— Oi, eu sei que demorei um pouco. Me desculpe. Eu realmente me perdi — ela estava um tanto quanto envergonhada pelo pequeno atraso.
— Vo-você se acostuma — Daven a tranquilizou — Vamos? Está em cima da ho-hora.
O menino virou nos calcanhares e seguiu o caminho. Alison, por sua vez, apoiou a mão nas costas de Nadora a induzindo a andar.
— Onde vamos?
— Treinar. Daven tem algo legal para você.
Os três seguiram por um corredor localizado na ala central. O mesmo que daria em uma grande arena. Ela conseguiu ver variadas portas com placas numeradas em cima. O que eram? Ela ainda não sabia.
— Isso é...
— Impressionante, não? — Alison completou, vendo-a assentir freneticamente ainda boquiaberta — tudo planejado e construído por ele — a telepata abraçou o superinteligente, fazendo-o corar.
— O que são todas essas portas?
— Você quer ver?— a telepata perguntou e Nadora assentiu — Venha conosco.
Os três começaram a caminhar pelo enorme lugar. Logo, aproximaram-se da primeira sala. Eram como cubos, não tão grandes e não tão pequenos. Cada um continha uma única porta sem janela alguma. Apenas um pequeno aparelho tecnológico ao lado. E foi neste exato aparelho que Daven digitou alguma coisa, fazendo o revestimento branco daquela parede subir e apenas uma divisão transparente os separavam da parte de dentro. Nadora abriu sua boca ao ver quem estava por lá. Era Polaris e ela parecia gritar. Suas mãos estavam acesas por suas correntes elétricas.
— O que ela está fazendo?
— Treinando, Nadora. Aqui buscamos o melhor de cada um.
— E como vai fazer isso com ela? — Tornou a perguntar, a mais ágil.
— Usando de seu ponto fraco. Veja, Nadora, as paredes dessa sala estão revestidas por borracha e aquelas pedras no chão completam o que chamamos de isolamento elétrico. Uma vez aí dentro, Poli perde o controle sobre as cargas elétricas — o gênio explicava. Seu grau de inteligência sendo tão presente que a gagueira terminava por ser esquecida — Você está vendo as mãos dela? Então, antes elas nem acendiam quando ela entrava nesta sala. É uma enorme evolução. Ela está ficando mais forte, como todos os outros.
— Vamos, tem mais — Alison avisou.
Seguiram para a próxima sala. Mais uma vez Daven aplicou o que Nadora achava ser uma senha. O ato fez o outro revestimento subir.
— É a Diana! — Nadora expressou animação, acenando para sua nova amiga.
— Ela não pode ver você. Só nós podemos vê-la. Assim são feitas as avaliações. Acreditamos que ninguém se concentraria vendo o que se passa aqui fora.
— O Daven está completamente certo. Como sempre.
— Como a dela funciona?
— São colocados pesos extremamente exagerados e ela tem que pegá-los para jogá-los longe. Ao mesmo tempo, ela precisa desviar de perigos e acertar inimigos — o gênio explicava.
— Que inimigos? Não vejo nenhum.
Nadora franziu o cenho em confusão, Daven e Alison sorriram em harmonia.
— O Daven projetou toda essa sala justamente para ela. Existem compartimentos no teto que se abrem e derrubam variados pesos, tipo sacos de pancadas, é assim que vemos daqui de fora porque lá dentro, nos quatro cantos desta sala, existem projetores capazes de criar respectivos lugares e fazer com que a Diana aviste adversários. É como se ela entrasse em um vídeo game.
— Isso tá ficando cada vez melhor. Me deixe ver o treino das outras.
Quase não soou como um pedido. Daven e Alison sorriram satisfeitos e andaram para a próxima sala e mais uma vez ficou por conta de Daven liberar o revestimento. Quem estava lá agora era Lanna, sentada numa cadeira que prendia seus pulsos e tornozelos. Alguns fios estavam colados nas têmporas da criadora de ilusões.
— Como isso funciona? Como uma cadeira, que parece que vai eletrocutá-la, pode ajudar?
— Nós achamos que a Lanna não é só isso — Nadora olhou para Alison com a interrogação estampada em sua face — o que quero dizer é que achamos que ela é mais forte do que aparenta ser, mas existe algo que a bloqueia. Não sabemos o que é. Pode ser qualquer coisa, algum trauma, emoções ou apenas o fato de que ela é muito fechada e insegura.
— E como isso a ajuda?
— Aqueles fios presos em suas têmporas estão a todo tempo analisando suas ondas cerebrais. Existe uma maior energia concentrada na parte do cérebro que usa da imaginação. Todo esse cenário que podemos ver dentro daquela sala, vem do cérebro dela. São as ilusões, passadas pelos fios e projetadas pelo mesmo tipo de equipamento da sala de Diana. Essas ilustrações são as mesmas que ela usa para paralisar e brincar com a mente dos inimigos — Daven tentava ser o mais claro possível.
— E achamos que ela pode mais. Estamos a todo tempo buscando o melhor. Se encontrarmos alguma movimentação de ondas cerebrais concentradas em alguma outra parte do cérebro de Lanna, talvez possamos descobrir quais são suas outras especialidades.
— Ainda q-quer ver o resto? — O superinteligente perguntou e viu a menina assentir.
Então, seguiram para a próxima. Quem se encontrava nela era Beatrice. Os revestimentos subiram e Nadora conseguiu ver apenas a sala branca com a menina das sombras parada ao centro, como se esperasse algo. Alguns segundos depois as luzes se apagaram. Foi em um curto tempo, mas o suficiente para Bea alimentar seu corpo de escuridão. Logo, algumas das várias luzes naquela sala piscaram, criando um pouco de sombra. Sombras que não duravam mais que dois segundos. Sombras grandes, pequenas e minúsculas. Bea precisava ser rápida e usar de seus reflexos para conseguir uma. Nadora havia lembrado da noite anterior, quando a casa havia ficado clara demais, incapacitando Bea de locomover-se. Lembrou-se de quando as luzes piscaram e as sombras não duraram tempo suficiente para serem usadas. Lembrou-se do quanto precisou correr para encontrar uma que fosse útil. Os três seguiram para outras salas. Nadora também havia visto o treinamento de Ariana que era baseado no controle das próprias emoções, já que aquela era sua dificuldade. Seguiram andando pelo lugar até chegarem quase no limite do local onde havia mais algumas salas, sem revestimentos e vazias.
— Chegamos na sua — disse o gênio.
— Primeiro vai precisar trocar a roupa. Ninguém consegue treinar com short jeans. Tem uma roupa especializada para seu dom. Está lá dentro. Troque-a e se posicione no centro da sala — Alison agora.
O menino gênio abriu a porta e ofereceu passagem a Nadora como meio de sua educação.
— Eu não sei o que fazer lá.
— Saberá logo — Alison avisou.
Nadora entrou em um pequeno compartimento que ficava no canto da sala, algo como o provador. A menina trocou-se tão rápido quanto um espirro. Daven aproximou-se do pequeno aparelho ao lado da porta e pressionou um pequeno botão, autorizando a transmissão de sua voz para dentro da sala.
— Vamos lá, Nadora, mantenha a calma e saberá o que fazer — Nadora apenas assentiu, sua expressão era de apreensão.
Daven então deu início ao treino. O cenário havia mudado. A paisagem passava rápido, induzindo a menina da agilidade a correr sem sair do lugar, como se estivesse em uma esteira. A cada momento que a paisagem acelerava mais, a menina aumentava a velocidade. Após algum tempo correndo em alta velocidade tudo foi acalmando. O cenário havia se transformado no que parecia ser uma zona de guerra. O problema é que não havia soldados por lá e isso estava mexendo com a mente esperta de Nadora. Então, de repente, um som de tiros e bombas soaram muito alto por toda a sala, cápsulas projetadas vinham na direção da menina, que por instinto, desviou de todas. Tudo piorou com o aparecimento de soldados, todos armados, atirando na direção da menina.
— Você só precisa desviar, Nadora, use sua percepção. Eu sei que pode fazer isso — Daven deu apoio, falando através do aparelho.
Nadora concentrou-se enquanto a chuva de balas cessou, não por muito tempo, é claro. Três apitos foram ouvidos, anunciando a próxima fase. Dessa vez ela estava pronta. Tiros começaram a jorrar por todos os lados, mas a menina da agilidade havia se concentrado o suficiente para ver tudo passar em câmera lenta. Seu corpo dançava, parecendo não sentir a gravidade. Aquele treino demoraria a acabar. Com as atividades alheias encerradas, outros que já haviam finalizado seus respectivos treinos, observavam o primeiro da menina super ágil. Como Lanna e Ariana, por exemplo. Elas estavam próximas a Alison e Daven.
— É a Nadora?— Ariana perguntou. Estava impressionada.
— Sim, é ela — respondeu o menino, sem desviar a atenção da sala. Era realmente impressionante o controle corporal da garota.
— Incrível! — Foi a vez de Lanna expressar sua surpresa numa única palavra.
— Como ela consegue? Eu seria atingida no primeiro tiro. Ai minha nossa senhorinha das balas perdidas.
— É por causa de sua percepção, a dela é uma de suas habilidades. Quando o corpo dela está em alto nível de adrenalina, ela pode ver tudo muito lento, como uma câmera em slowmotion — Alison dessa vez explicou.
— Controle?
— Não ainda, Lanna, ela está agindo por puro instinto. Depois de alguns bons dias de treino, ela vai começar a aprender a usar quando quiser — respondeu Daven.
— Bom, eu também preciso treinar — a telepata disse, despedindo-se das amigas antes de seguir para seu treino.
Daven e Ariana continuaram a observar Nadora treinar. Lanna, sabendo que Bea havia acabado sua atividade, retirou-se, indo de encontro a amiga.
— Como foi o treino?
A menina das sombras perguntou, notando a aproximação de Lanna.
— Bom.
— Conseguiu fazer algo diferente? — Bea perguntava enquanto ambas andavam para a ala C.
— Não— Lanna desviou o olhar para o chão e manteve-se de cabeça baixa.
— Lan, você precisa acreditar mais em si mesma — incrivelmente Bea a chamava pelo apelido. Ninguém conhecia o outro lado de Bea, somente Lanna possuía tamanha sorte — Você sabe, não é?
— Fraca.
— Não diga isso! Você tem o dom mais impressionante que já vi — Lanna permaneceu de cabeça baixa, Bea levou a mão esquerda ao ombro direito da criadora de ilusões e apertou como apoio — só acredite mais em você, está bem? Você sabe que pode acabar com qualquer cuecão do governo.
— Sim — respondeu sorrindo dessa vez, elas se davam muito bem e ninguém poderia duvidar daquilo.
Chegando na ala C, as duas meninas entraram em seus aposentos. Teriam que tomar banho para esperar a hora do almoço, e mais tarde, enfrentar as aulas. Sim, também possuía um pequeno sistema educacional. Bea, aparentemente mais cansada devido a intensidade dos exercícios, esparramou-se em sua cama. Lanna sentou-se na beira de seu colchão.
— Vou para o banho. Você quer ir primeiro?
— Você! — Lanna respondeu. Um tom baixo, demonstrando ainda a frustração.
— Ah, não, Lan, a gente acabou de conversar — Bea levantou-se e se sentou de frente para a amiga — você vai descobrir o que é isso que não te deixa melhorar. Você só precisa acreditar mais em si mesma.
Lanna levantou o olhar para a loirinha e suspirou.
— Sim.
— Se você sabe, o que te aflige?
— Medo — dessa vez o coração da garota com umbracinese doeu, fazendo-a abraçar a criadora de ilusões.
— Família ou...
— Tudo.
Beatrice respirou fundo e segurou o queixo de Lanna para que ela pudesse olhar em seus olhos. Para qualquer outro, aquele ato era de tamanha coragem. Para Bea já era rotina.
— Eu sei que dói e ainda mais porque eu também sei que você havia encontrado um porto seguro. Mas você precisa pensar positivo.
— Preciso.
— Você confia?
— Muito.
— Então não tem motivos para você ficar assim. Não sei bem, mas posso sentir que isso vai passar logo, que você vai perder o medo e encontrar o que tanto procura.
— Acha?
— Eu tenho certeza, Lan — Bea abriu um sorriso — você pode forçar um sorriso pelo menos? Sei que somos as duronas daqui, mas agora ninguém está nos vendo. Já pode mostrar os dentes.
Lanna sorriu dessa vez. Um sorriso largo e bonito. Bea ficou satisfeita. As pessoas da base não sabiam porque as duas davam-se tão bem, mas ninguém também sabia que uma era o apoio da outra sempre que a necessidade surgia. Eram apenas vistas como as duas chatas e antissociais do lugar. Mas elas não se importavam com os rótulos. Eram o que eram e nada e ninguém poderia mudar isso.
— Eu estou com você, Lan, sempre vou estar. Não somos irmãs de sangue e isso não importa. Fomos escolhidas pelo coração.
— Amo.
— Eu também te amo.
— Muito.
— Agora já chega de melação. Somos duronas. Você vai me fazer perder esse papel.
Lanna sorriu outra vez e deu um abraço rápido em Bea antes da menina levantar-se e seguir para o seu banho.