Capítulo 3 A casa do lago
Forest Hills — New York, 2029
Nadora não estava com uma boa sensação. Na verdade, depois do desaparecimento de seus tios, ela nunca mais esteve. Tornou-se órfã aos doze anos, quando mudou-se para morar com eles. Nadora não sabia nada sobre a morte de sua mãe, muito menos sobre o passado de seu pai, homem ao qual ela nem chegou a conhecer. Era muito nova quando tudo aconteceu. Tudo foi muito rápido. Em pouco tempo havia visto sua vida mudar completamente. Casa nova, escola nova, cidade nova, vida nova. Não deixando-se abalar, teve uma adaptação muito fácil, fez novas amizades e ganhou um lugar de destaque por causa do seu talento para o esporte. Nadora impressionava não só por sua linda pele negra e beleza encantadora, mas por ser uma menina muito bem educada e gentil. Inteligente também. Foi num final de tarde, enquanto voltava de um treino, que descobriu capacidades sobre-humanas. Havia sido surpreendida por um carro em alta velocidade que parecia ter Nadora como seu alvo certo. Ele quase a matou. Ela havia desviado tão rapidamente que mal soube explicar para si mesma, saiu tão assustada para contar aos seus tios sobre o que havia ocorrido, que mal notou o quão rápido estava correndo. A surpresa da menina terminou por ser ainda maior ao deparar-se com o que era para ser o seu lar. Apenas cinzas. Os corpos de seus tios não foram encontrados no que sobrou daquele lugar. Sem querer ir para um orfanato, Nadora tomou a única decisão que lhe cabia: fugiu das leis para aprender a viver sozinha. Lembrou-se da casa no lago que pertencia à sua família, onde geralmente passavam as férias de verão e, não hesitou em abrigar-se no lugar. Local ao qual ela não poderia chamar de lar por muito tempo. As dificuldades estavam chegando. Ela sabia que estavam.
Nadora olhava para a despensa naquele momento. A quantidade de comida havia reduzido drasticamente desde que chegou.
— Vou ter que arrumar mais comida dentro de alguns dias — avaliou a situação consigo mesma, soltando um suspiro de cansaço. Sim, estava cansada; da monotonia, da solidão... Já estava lá há dois meses. Nadora sentia falta de uma companhia, ela sentia falta de conversar, socializar, de ter amigos. A menina pegou um suco na geladeira, sentou-se no balcão da cozinha e deu seu primeiro gole. A mente de Nadora começaria a vagar, mas foi interrompida por uma sombra que achou ter visto pelo vidro empoeirado da janela. — O vento está forte hoje, — tentou se acalmar — as árvores estão balançando muito.
A menina deveria ter muito medo, mas não tinha tanto. Correu alguns perigos desde sua chegada, mas não fugiu. Por algumas vezes escondeu-se no sótão somente por não saber quem estava à sua procura. Nadora tomou mais dois goles de seu suco de manga e levantou-se, tendo o sofá como destino. Tratou de se esparramar e esticou-se com muita facilidade para alcançar o controle da televisão. Nadora aconchegou-se mais, ficando deitada de barriga pra cima. A única coisa agora em seu campo de visão era o teto e tudo o que escutava era o barulho de um canal aleatório da televisão. Começou a imaginar como seria sua vida se nada de ruim tivesse acontecido. Ela pensou que talvez tivesse ganhado o campeonato de ginástica, que talvez estaria saindo com o capitão do time de basquete, pensou que talvez estaria com algumas amigas se divertindo ou apenas treinando. E foi desse jeito que a menina acabou adormecendo. Exatamente duas horas depois Nadora abriu os olhos.
— Que droga!
A menina praguejou-se por ter dormido tanto, levantando rapidamente do sofá. Sua barriga já roncava, então acendeu as luzes pela casa e avistou o relógio que marcava 22h13. Andou até a cozinha num segundo e pegou a macarronada que ela havia preparado mais cedo. Depositou a comida em um recipiente colocou no micro-ondas. Nadora procurou por um grafo e voltou ao micro-ondas para pegar sua comida pronta para forrar seu estômago. Ela arrastou o banco do balcão e, dessa vez, ela teve a certeza de que alguém havia passado correndo pela janela. Aquilo a deixou em alerta. A menina sacudiu a cabeça, tentando afastar os pensamentos ruins e voltou sua concentração na macarronada. Ela enrolou o garfo na massa e levou a boca, somente para cuspir segundos depois, quando escutou um barulho no lado de fora. Nadora correu para apagar a luz. A garota com agilidade agachou-se e foi rapidamente até a janela mais próxima para tentar enxergar o invasor. O coração de Nadora quase pulou de seu peito ao ver que não era apenas um, mas quase uma dezena deles. Homens de preto, fardados, segurando armas de variados tipos e tamanhos, cercando a sua casa sem que ela soubesse o motivo.
— O que eles querem aqui? — pensou, vendo-os movimentar-se rapidamente, tomando totalmente a área ao redor de toda casa do lago. Um homem que parecia estar no controle, tomou a frente. Ele segurava uma metralhadora e ficou a uns quatro metros da mesma janela ao qual ela estava agachada.
— Nadora Foster, estamos aqui perante a lei. Sabemos que está aí — Nadora assustou-se quando ouviu seu nome. Eles sabiam quem ela era e vieram à sua procura — temos ordens para tirá-la à força se não quiser facilitar.
— A força? — perguntou-se em pensamento. — Mas qual crime cometi?
O corpo da menina estremeceu. Ela não iria entregar-se. Nadora nem sabia quem eram ou porquê de estarem ali.
— Vamos, Nadora, não temos todo o tempo do mundo — falava, mantendo a calma na voz. — Nós sabemos quem você é, sabemos o que pode fazer. Se não sair agora vamos invadir.
Ao terminar de ouvir aquilo, sem querer saber das respostas sobre quem eram, ela moveu-se rapidamente e trancou-se no sótão no quarto do primeiro andar. Eles não a encontrariam ali, achava Nadora. O barulho da porta sendo arrombada foi ouvido somente para fazê-la arrastar algumas das caixas pesadas e reforçar a porta da única entrada. O sótão era um compartimento localizado na parte superior da casa. Uma pequena entrada quadrada no teto que disponibiliza uma escada quando puxada para baixo, a mesma que subia quando a tampa era fechada.
— Não vão me achar aqui. Não vão me achar aqui — ela repetia mentalmente. Estava encolhida no canto esquerdo do lugar. O queixo apoiado em seus joelhos e seus braços em torno de suas pernas. Dessa vez ela sentia medo — não vão me achar aqui.
— Se você não ajudar, nós também não vamos — uma voz surgiu em sua cabeça e ela quase caiu para trás com o susto. — Antes que comece a pensar que está louca, devo dizer que você não está. E sim, alguém está falando com você. — Ela levou as mãos à cabeça. — Por favor, Nadora, diga-me onde está, não consigo saber porque está escuro. O que é ótimo, já que tenho uma amiga que se alimenta disso.
— Por que eu não te vejo? — As perguntas voavam na sua mente. — Quem é você?
— Meu nome é Alison e não temos muito tempo. Eles vão matar você.
— Como é possível... — seu pensamento foi interrompido pela mesma voz.
— Apenas me diga onde está. Eu vou ajudá-la. — A voz na mente de Nadora era aguçada, continha uma certa autoridade. Nadora pensou que estaria ferrada de qualquer maneira e naquele momento não tinha nada a perder. — Me diga onde está!
— Estou no sótão, segundo quarto do corredor no primeiro andar.
— Vou mandar alguém aí. Não se assuste.
Um vento frio bateu forte ao lado de Nadora e uma menina de preto surgiu, fazendo-a quase ter um ataque do coração. A garota retirou o capuz de sua cabeça e levantou o rosto.
— Shhh — pediu, aplicando o indicador nos lábios.
— Essa é a Bea. Ela vai tirar você daí. Confie nela.
E foi a última vez que a voz falou em sua mente. Nadora estava assustada, confusa, não fazia ideia de como aquela estranha havia conseguido entrar sem nem passar pela porta. Beatrice ajudou a outra menina a levantar.
— Preciso que confie em mim — Bea sussurrou.
— Tenho escolha?
— Se quiser morrer então pode ficar — a menina das sombras disse rude, assustando Nadora. Bea sentiu-se mal por falar isso. — Eu não vim até aqui para deixá-la morrer, idiota.
Nadora havia acabado de assentir quando um enorme estrondo tomou todo o lugar e o piso do sótão rompeu, derrubando as duas meninas no quarto abaixo. Uma granada.
— Merda! — Bea grunhiu. Algumas paredes foram abaixo, havia fumaça por todos os lados... Como Bea iria encontrar uma sombra para se locomover? Tudo estava com muita luz e ela ainda não poderia trazer a sua umbracinese, ainda não era poderosa assim.
— Estão aqui! — a voz de um deles soou. Estava parado no que, antes, era a soleira da porta do quarto. Ele havia as visto.
Sem nem pensar duas vezes e agindo por instinto, Nadora correu rapidamente e pegou um pedaço de madeira dos escombros. A garota mais ágil bateu nos braços do homem, derrubando sua arma e chutando-a pelo buraco no piso. Tudo havia sido muito rápido, Bea mal havia piscado.
— Você é boa demais pra morrer assim.
Ele falou se aproximando de Nadora, tentando acertá-la com uma sequência de golpes que ela desviou genuinamente. A super ágil girou seu corpo tão rápido, terminando por aparecer atrás do soldado para segurar seus braços. Nadora fez um sinal para Bea que correu e jogou-se num impulso para acertar um forte chute na têmpora do homem, o desmaiando no chão.
— Precisamos de uma sombra, mas a merda desse helicóptero está clareando a casa inteira.
— Então vamos por aqui.
O barulho de tiros começou a ser ouvido. Gritos, estrondosos ruídos, até então desconhecidos por Nadora. Elas correram ao longo do corredor, descendo as escadas rapidamente somente para notar que uma verdadeira guerra estava acontecendo lá embaixo. Os barulhos desconhecidos ganharam definição quando Nadora conseguiu ver uma mulher controlando correntes elétricas com os fios que saíam de uma parede destruída.
— Para onde, Poli? — Bea perguntou, observando-a eletrocutar três caras com um chicote de eletricidade — Polaris, onde?
— O OUTRO LADO DO LAGO! — ela gritou. As luzes estavam piscando, as sombras não permaneciam tempo suficiente para que Bea pudesse usá-las. — TEM MAIS DELES NO LADO DE FORA, CUIDADO! — Ela avisou, jogando mais um raio em outro homem que surgia da cozinha.
— Vem!— A menina das sombras segurou Nadora pelo antebraço. Ela queria poder sumir em qualquer rastro de escuridão naquela hora, mas não era treinada o bastante para aquilo.
Atravessaram a sala e correram para a varanda, na entrada da casa e terminaram sendo surpreendidas por mais um soldado que havia aparecido pelo lado esquerdo. Em velocidade ele acertou um murro em Beatrice que caiu segurando seu queixo. Nadora não sabia mais o que fazer, estava tudo uma loucura e ela nem sequer sabia como ajudar. De repente uma menina alta, ruiva e aparentemente forte subiu os dois degraus da varanda. Era o ódio personificado em forma de gente.
— Você está muito ferrado, meu anjo — ela disse, antes de acertar um murro que o fez ultrapassar as vidraças casa à dentro. Nadora nunca tinha visto algo assim em toda sua vida. Não alguém tão forte. — Me espere, querido, estou chegando para esmagar você — a superforte falou, pulando pelo buraco que o corpo do soldado havia feito.
Nadora ajudou Bea a levantar-se. Desceram juntas os mesmos dois degraus que a outra menina havia subido, e correram. Para onde? Nadora não sabia, mas havia uma sombra mais à frente e ela poderia deduzir. A menina da agilidade sentiu algo vindo em sua direção e descobriu que eram tiros por culpa de sua percepção aguçada. Ela sabia que eles iriam atingir Bea e a garota precisava ser salva. Sem pensar duas vezes, Nadora jogou seu corpo por cima da menina, fazendo-a cair no chão, desviando Beatrice do que poderia ser sua morte.
— O que foi isso?
— Tiros que iriam atingir você — falou, levantando-se, trazendo Bea para cima também.
— De onde vieram?
— Daquela direção — apontou para metros à sua frente.
Mais uma vez voltaram a correr, tentando chegar na sombra da única árvore na frente do lago. Estava a leste, a uns quarenta metros de onde se encontravam agora. Corriam, ficando mais perto a cada passo, porém, o surgimento de mais um carro as fizeram parar no lugar. Não foram um ou dois, mas quatro homens armados que desceram do veículo. Suas armas já estavam apontadas para as duas que procuravam uma saída.
— Uma vem grátis? — o único de terno perguntou. Os outros estavam bem equipados com coletes e coisas do tipo.
— A única coisa que vai grátis pra você é a morte, seu cuzão! — A menina das sombras quase rugiu. Estava furiosa.
— O que te faz achar isso? Somos quatro, bem armados e protegidos. Vocês são duas meninas indefesas e nojentas — ele disse convencido, fazendo Bea avançar um passo, sendo travada pelo braço de Nadora.
— Agora somos três — falou a que estava lançando raios no meio da sala de estar de Nadora, anteriormente.
— Quatro. — Foi a vez da superforte.
— Nós temos armas, idiotas, não pensem que podem escapar — um deles disse, fazendo questão de mostrar sua metralhadora.
— Cinco — mais uma voz surgiu, fazendo-as procurar de onde veio.
Foi então que a criadora de ilusões apareceu ao lado delas, e mesmo que Nadora não conhecesse Lanna, sabia que eles estavam ferrados.
— Agora é tarde, meus amores, vocês deveriam ter fugido — Diana debochou, tentando não deixar o riso tomar conta. — Eu tô com pena de vocês. É sério. Vai ser tão fácil que eu não vou precisar nem me mexer.
As armas foram apontadas. O helicóptero soltou mais daqueles soldados. Elas estavam completamente cercadas. A verdade é que eles só queriam Nadora e pelo que haviam percebido, a queriam viva ou teriam a matado na primeira oportunidade. Aquele era o trunfo para a vitória.
— Eu vou levá-la primeiro e volto para buscar vocês — Bea avisou — mas preciso de uma distração.
Elas encostaram-se uma na outra, queriam ficar completamente de olho nos inimigos. Todas estavam com os braços erguidos e as mãos fechadas em punhos.
— Qual o plano?— Diana perguntou sem desviar o olhar.
— Eu vou eletrocutá-los — Poli sussurrou — estou com energia suficiente para derrubar pelo menos a metade deles.
— Ilusão — Lanna disse, contribuindo para o plano.
— Eu vou cobrir as duas para usarem o poder e vocês precisam aproveitar e correr — Bea e Nadora assentiram devagar.
Polaris foi abaixando-se lentamente, levando a atenção da grande maioria que a olharam confusos. Ela tocou ambas as mãos no chão e as esfregou na areia, apanhando uma pedra. Poli levantou-se e a jogou para cima. O olhar de alguns seguiu a pedra, fazendo-a se aproveitar do instante para sair disparando raios para todos os lados, atingindo um tanto deles.
Foi nesse momento que Bea e Nadora correram, alcançando a sombra e sumindo. Nadora estava a salvo agora.
— Lanna! — Polaris chamou, avisando-a que estava na hora de agir. Lanna, então, deu um passo à frente e deixou seus olhos mudarem para o roxo, paralisando seus alvos instantaneamente.
Eles estavam em um quarto escuro. Um quarto quente como o inferno e olhavam ao seu redor, tentando enxergar alguma coisa. Uma voz surgiu, fazendo-os procurar desesperadamente por alguma presença.
Parada ao lado de Lanna, a menina da força prendia um riso, estava se divertindo com a reação dos soldados.
— Vocês são muitos agora, mas eu quero apenas um.
A voz disse, acompanhada de uma risada grotesca e assustadora que apenas eles ouviam. Enquanto isso, a menina das sombras reapareceu.
— Poli ou Diana?
— ELA VAI! — Diana gritou para Beatrice — Lanna está concentrada e se mais alguém aparecer pode acertá-la.
A superforte falou e Bea concordou. Ela sabia que Lanna precisava entrar naquele outro mundo para poder brincar com seus fantoches, e Lanna já havia se machucado demais na última viagem. Polaris correu até Beatrice e segurou em sua mão, sumindo logo depois. Tiros começaram a soar e Diana não sabia o motivo, mas estava vendo os quatro homens tentando se matar. Deduziu ser coisa da criadora de ilusões. Ela andou para mais perto de Lanna somente para protegê-la caso algum tiro viesse em sua direção. A pele e os músculos de Diana eram mais rígidos que os de qualquer pessoa, mais difíceis de se penetrar e mais rápidos de regenerarem.
— Eu estou por todos os lados.
A voz no quarto escuro voltou a surgir. Um dos homens foi ao chão. Os três soldados que restaram, procuravam e não obtinham sucesso. Eles estavam com medo, pois não sabiam o que era aquilo. Um deles começou a girar, atirando por todos os lados, espalhando as balas que seguiram na direção das duas. Diana entrou na frente e sentiu cinco tiros tocarem sua pele. Por dom, apenas as pontas dos projéteis conseguira entrar. Eles estavam saindo automaticamente e terminando por cair ao chão. Sua pele se regenerou rapidamente.
— Lanna, meu anjo, você só tomou três tiros por mim e eu já vou em cinco. Pode terminar logo com isso?
Bea surgiu outra vez.
— Traz ela para cá!
Disse a Diana porque Lanna simplesmente não podia ouvir, não enquanto usava seus poderes. A menina da força sabia que se Lanna fosse interrompida, obviamente os homens ficariam sãos e o perigo iria surgir outra vez. Então, aproveitando da situação, ela correu até eles, tendo cuidado para não ser baleada de novo. A superforte esmurrou dois, que caíram desacordados, e deixou apenas o que teria acertado-a.
— Pode chamá-la, Bea.
Bea não entendeu, mas foi até Lanna e fez o que foi pedido. Diana tomou a arma da mão do homem e jogou a alguns bons metros de distância.
— Agora você vai ver como é bom atirar nos outros.
A menina da força falou cheia de raiva. Pegou uma algema que estava presa no uniforme do homem e puxou os braços do mesmo para trás, colocou as algemas e apertou o metal apenas com uma mão, amassando e deixando apertado o suficiente para que chegasse a ferir os pulsos do mesmo.
— Diana, o que você está fazendo? Vamos. — A menina das sombras havia tirado Lanna de seu estado hipnótico.
— É só uma coisinha — ela pegou o homem com apenas um braço e depositou o corpo dele em um de seus ombros.
— O que você vai fazer comigo, sua louca? Me solte! — Ele ordenava, debatendo-se. Os pés, que eram a única coisa livre, acertavam o corpo de Diana.
— Nem tente, seu bostinha.
Diana aproximou-se da beira do lago e jogou o homem para a parte mais funda. Bea e Lanna a observava.
— Sabe que ele vai se afogar e morrer, não sabe? — Bea perguntou. Estava incrédula com a ação da maior, mas não sentia pena. Pelo contrário,
Bea possuía todo e qualquer motivo para odiar qualquer pessoa do governo.
— Esse é o objetivo.
Depois de observar o soldado morrer afogado, elas finalmente foram até a sombra para serem sugadas. Quando todas, finalmente, chegaram no bosque do outro lado do lago, ainda podiam avistar a casa do lago que chamava a atenção por estar em chamas. Aquele foi o fim da última e única lembrança física da família de Nadora.
— O começo é um pouco difícil, mas você vai se adaptar — uma voz soou pelas costas da mais ágil e ela conseguiu observar a superforte apressar o passo para caminhar ao seu lado. Elas andavam para chegar até o veículo que estava à espera. — Você vai ficar bem.
— Você é nova entre eles?
— Alguns dias a mais que um mês, — ela respondeu — a primeira semana foi a mais complicada. Principalmente porque eu tenho um leve problema com a raiva. Me meti em muita confusão.
— Você deve ter quebrado todo mundo.
— Queria muito, mas isso não vem ao caso — a menina maior mudou o rumo da conversa, dando de ombros, causando uma pequena risada anasalada em Nadora. — Vamos, pergunte o que quer e mate sua curiosidade. Eu sei que está chovendo perguntas na sua mente, foi assim comigo também.
E era mesmo verdade. Diana sabia porque já havia passado por aquilo também.
— Para onde estão me levando?
— Para um lugar seguro de toda essa loucura, acredite. Sei que é um pouco assustador porque você nem nos conhece, mas são todos boas pessoas. Somos especiais assim como você.
A menina mais forte falava, arrancando algumas dezenas de galhos, abrindo caminho pelo bosque.
— Tem uma van lá na frente, depois dessas árvores todas. O Daven está esperando por nós. Vamos para Solum, fica na Filadélfia. Apenas lá estaremos seguras.
— Quem é Daven? E o que é a Solum?
— Daven é tipo o nosso Einstein, o superdotado da inteligência. Ainda não vi existir algo que ele não saiba sobre. Ele é um dos braços do Ravi, o dono da Solum, que é a nossa casa. Alison, a garota que falou na sua mente mais cedo, aquela que está andando mais a frente, é a líder das missões de resgate e também é um dos braços do homem.
— O que esse Ravi faz?
— Ele quem planeja todas as missões e que cuida da Solum assim como de todos nós. Ele quem resgatou os primeiros, os primeiros nos resgataram e agora resgatamos você.
— Entendi. — Foi o que saiu da boca de Nadora. Ela notou mais duas presenças metros atrás. — Quem são essas duas mais atrás? Uma delas me ajudou muito.
— Bea e Lanna.
— Acho que sim...
— Bom, a Bea como você viu, é a menina das sombras. Ela pode se locomover através delas. Sei que é sinistro e bem dark, mas a força dela vem do escuro. E a Lanna... bem, quando os olhos dela mudarem para roxo você só tem que ter certeza que os inimigos estarão ferrados — Diana admirava Lanna. — Elas são como irmãs. Bea é mais nova, tem apenas quinze anos e Lanna tem dezoito. Elas não são muito de falar, mal conversam ou são vistas fora de seus quartos, mas não quer dizer que sejam meninas ruins. Elas não negam ajuda nunca, para ninguém.
— Quem é aquela magrinha? Eu não a vi do outro lado do lago.
— A de rosa? Toda fofinha? — a menina da força viu Nadora assentir várias vezes — É a Ariana, ela quem controla a minha raiva. Esse é o poder dela. Ela controla emoções e tem me ajudado bastante.
— Emoções, tipo, sentimentos também?
— Sim, tipo isso. Ela é tão fofa! Acredito que não exista alguém que não consiga gostar dela.
— Você acha que ela faz todos gostarem dela por causa do poder ou...?
— Não tem como. Ela realmente é um amor.
— Você esqueceu de me contar quem é a que solta raios — Nadora comentou e viu a outra revirar os olhos — tem problemas com ela?
— Alguns, no começo. Agora estou mais controlada.
— Você acha que eu vou ter problemas com ela também?
— Se você não dormir no mesmo quarto que ela numa noite em que ela estiver tendo um pesadelo, acho que não vai ter problema algum.
A verdadeira confusão entre as duas foi tudo porque, alguns dias depois da chegada de Diana na Solum, depois de ter sido colocada no mesmo quarto de Polaris, a menina da eletricidade acertou um tanto de raios na mais forte. Como foi isso? Polaris estava em meio a um pesadelo e terminou atingindo a superforte como consequência. Diana, que acordou em fúria e em uma de suas crises raivosas, precisou ser interferida por Alison e Ariana ou teria matado a outra menina na mesma madrugada. Agora tudo estava mais calmo pois a menina da eletricidade foi trocada de quarto, ficando isolada dos demais somente para prevenir outro incidente como aquele.
— Olha a van ali — Diana avisou, depois de terem atravessado o bosque por completo.
— Esse é o Daven? — Nadora perguntou, ouvindo uma resposta positiva da mais forte.
— Entrem logo e vamos embora enquanto é tempo.
Alison deu a ordem. Lanna e Bea foram as primeiras, sentando-se lá trás, seguidas por Polaris que ocupou o terceiro assento do fundo. Nadora, Diana e Ariana sentaram-se pelo meio. Na frente, Alison sentou-se no banco carona para acompanhar Daven que iria dirigir as próximas duas horas.
— Oi! — a voz fina soou no interior da van — Acho que você não me conhece. Meu nome é Ariana, eu sou a menina da empatia. Nadora, não é? Seja bem vinda! Nós somos legais.
Ela soltou de uma única vez, parando apenas para recuperar o fôlego. Diana fez uma careta mas logo sorriu. Dificilmente alguém não achava engraçado o jeito tagarela de Ariana.
— Sim, eu sou Nadora. Eu sei que você é a Ariana — respondeu, abrindo um sorriso. Ariana arregalou os olhos em surpresa.
— Como sabe? Alguém fofocou sobre mim? Você me conhecia? — Bea apareceu de repente, inclinando-se sobre a poltrona, apoiando o queixo nas costas de onde Ariana estava escorada. Seu rosto ficou ao lado da cabeça da menina.
— Você pode calar essa boca? Eu quero descansar e sua voz me irrita.
— Des-desculpa! — ela pediu, gaguejando. Bea desencostou e voltou à posição normal.
Nadora achava que tudo havia ficado em paz. Viu rapidamente que se enganou porque segundos depois Ariana inclinou-se e passou pelo colo de Diana somente para trocar de lugar.
— Aqui eu posso sussurrar e ninguém vai reclamar — a menina da empatia virou o rosto para mostrar a língua a Bea.
A garota com umbracinese revirou os olhos para aquele ato tão infantil, mas nada falou. Ariana era mesmo fofa, uma adolescente que não perdeu parte de sua inocência. Uma menina de ótimo coração e que passava uma sensação maravilhosa. Nadora agora não pensava diferente dos outros.