MEU CACHORO
"Sendo eu, um aprendiz a vida já me ensinou que besta é quem vive triste lembrando o que faltou..."
— Bráulio Bessa
• 2019 - ÁFRICA - ANGOLA / LUANDA•
Digamos que me rotularam como um homem intimidante pelo simples fato de ter 1,90 de altura, porte atlético em forma e minha aparência séria indicar que não sou tão fácil de fazer amizades, sem falar nas diversas tatuagens que tenho pelo corpo realmente meu perfil deve assustar quem não conhece a minha personalidade forte — com toda certeza isso me torna formidável — ou pelo menos é o que acho —, enfim! Obviamente que conquistar uma patente de Coronel aos 29 anos me dava ainda mais o tal título inibitivo, penso que o método dessa classificação ter sido alcançada foi simplesmente por executar todas as missões que confiavam a mim, com muita precisão e profissionalismo mesmo sem intenção alguma fiquei visado, na verdade, admirado por uns e consideravelmente invejado por outros. Infelizmente! Típico comportamento das pessoas incapazes de alcançar seus objetivos porque perdem tempo desejando os feitos do semelhante quando na verdade, poderiam se esforçar um pouco mais e chegar onde quiser por merecimento se orgulhando sempre de suas realizações.
Lembro da minha adolescência em que tinha o sonho de servir as forças armadas europeia e fiz de tudo para entrar para a OTAN em prol da paz é claro, pois sou um homem pacífico sendo obvio que não acompanhava o Monspie em nenhum combate e sim, em pequenas missões pelo mundo com um único objetivo de manter a ordem, erradicar o caos e até hoje nunca falhei, entretanto, isso me fez arrumar alguns fãs revoltados que queriam de certa forma ser o que sou por natureza, no entanto não faço nada mirabolante só penso antes de colocar minha vida em risco... hm, tenho a mania de criar antecipadamente uma versão em minha mente onde tudo ficará bem caótico antes de seguir em defesa da paz o que tem me ajudado bastante.
Confesso que aprendi esse método com minha tia Brienna, a mulher por ser uma excelente advogada sempre nos relatou viver pensado previamente no lado ruim de cada caso antes de focar em algo bem positivo, agindo dessa forma nos dar a sensação de que realmente possamos errar e tal ato nos obriga a nos esforçarmos mais para obtermos êxito e digamos que a mulher pequena de mão pesada tem razão porque desde que coloquei em prática essa sua teoria minha vida tem dado muito certo. Poucas foram as vezes em que fui ferido e com isso me tornei um homem bem requisitado.
Como estudei muito para fazer a prova já ingressei nas forças armadas com uma certa patente bastando apenas continuar me dedicando que rapidamente fui subindo nas graduações e hoje estou aqui há quase um ano focado em um perímetro situado em Luanda onde rebeldes avessos ao comunismo tem causado algumas barbaridades. Enfim, saí de missão e fiz a idiotice de deixar Pituxo no acampamento, visto que o local era muito quente e nunca maltrataria meu cachorro em um solo tão seco, fui bem cedo no intuito de voltar brevemente o deixando na base, e como já era esperado, não levei nem quatro horas naquela comunidade violenta resolvendo o tal problema e obtendo grande sucesso na missão.
Voltei com minha equipe e notei que já era quase meio-dia quando estava me aproximando do nosso alojamento improvisado senti um cheiro de carne queimada. Estremeci com a hipótese de ser um humano e segui em direção ao dormitório, assim que coloquei meus pés dentro dele chamei por meu cachorro que não veio de imediato ao meu encontro como de costume e isso me deixou preocupado sendo que o meu bichinho sempre me esperava na entrada da base.
— Pituxo! — Gritei com mais voracidade quando observo Dilan, um cabo recém-chegado vir ao meu encontro apressado.
— Coronel Tomps sinto em lhe informar, mas o General Fox mandou executar... — como estava a menos de um metro de distância tapei sua boca, porque era obvio o que me falaria —, sinto muito! — Murmurou com dificuldade.
— Meu cachorro, é isso porra? Você está tentando me dizer que esse cheiro de queimado é do meu cachorro? — Ainda assustado, pelo motivo de estar apertando sua cara com firmeza me diz que sim.
Pode me matar, cortar minha cabeça só não mexe com meu cachorro! Segui às pressas para a tenda do General e ao me aproximar pude ouvi-lo se vangloriar pelo que fez com meu cachorro e sem pensar duas vezes o segurei pela camisa e saí arrastando para fora diretamente para a fogueira onde jogou meu bichinho, meu cachorro, meu companheiro!
— Me solta! — berra desesperado — Estou mandando, não me escutou Cabo?
— Primeiro sou Coronel, e segundo desgraçado, merda do caralho! Vou te matar! — ia jogá-lo no meio do fogo quando braços me seguraram tirando o infeliz do meu alcance — Me solta! — intimei os três que me mantinham longe do crápula — Ele pode matar cachorros indefesos e eu não posso extinguir esse animal estúpido da face da terra? Há, há, há... ele morre hoje! — Descontrolado e tomado pela fúria arrastei os três comigo até alcançar seu pescoço e sem perder tempo o enforquei decidido a dar um fim a sua vida miserável, estava convicto, iria matá-lo!
— Calma Coronel, não faça besteira! — pede Dilan e mais três que ainda estavam me segurando essa atitude conseguiu me enfurecer tanto que não tive outra alternativa, sem pensar muito derrubei todos eles — Segura o coronel porra! Somos três e temos a obrigação de dominar esse homem. — O cabo grita desesperado.
Ele ainda não sabia, mas nada nesse mundo conseguiria me parar até alcançar meu objetivo!
— Você tem conhecimento do nosso dever desgraçado? Sabe o nosso propósito filho da puta? — perguntei lhe acertando precisamente — Proteger... cuidar... e manter a porra da paz! — Cada pausa era um soco desferido em sua cara até apagar esse miserável por completo.
Na tentativa sem êxito de me segurar tiveram que me apagar também, de outra forma ia matar aquele verme assassino, quem joga um animal dócil na fogueira? A última coisa que vi foi Dilan me imobilizando com um mata-leão.
(...)
Acordei sentindo minha clavícula e isso me deixou bastante agitado. Levantei bruscamente me dando conta de estar algemado. Olhei a minha volta constatando a presença do assassino do meu cachorro, enfurecido desloquei meu dedão para me soltar das algemas que me mantinha preso a cama e fui para cima dele dominado por minha fúria acertei vários socos em sua cara até me apagarem novamente, dessa vez com sedativo, cambaleei e meu corpo fez igual aos filmes de lutadores de MMA, indo à lona com a cara colidindo contra o chão.
• 24 HORAS DEPOIS•
Despertei em uma camisa de força improvisada ainda sob o efeito da droga que me aplicaram sentindo como se a minha cabeça pesasse 50 kg. Fechei meus olhos e deixei o sono me dominar.
(...)
• 5 HORAS MAIS TARDE•
Torno a abrir meus olhos percebendo minha melhora, porém ainda continuo preso. Pedi água a enfermeira e não demorou um copo encostou em minha boca.
— Por favor... pode me soltar, já estou mais calmo. — me observa com um olhar incrédulo e lhe dei meu melhor sorriso, percebi que estava vindo me soltar quando avistei o filho da puta com boa parte da cara com um roxo berinjela bem evidente levando a reconsiderar meu pedido, pois ia matar esse desgraçado — , não me solte moça! — me encara confusa — Se você fizer isso aquele merda ali oh, será morto! — Apontei com a cabeça na direção dele a forçando olhar para trás.
Vendo de quem se tratava rapidamente se afasta permitindo que o desgraçado se aproximasse. Será que gostou de levar porrada e quer repetir a dose? Se for assim não vejo nenhum impedimento em realizar seu desejo, resolvo irritá-lo um pouco mais antes de fazer o que tenho vontade.
— Ficou lindo com essa cara de cu roxa seu miserável! — ofendi sem me preocupar com a porra da cadeia de comando... foda-se! Ele matou meu cachorro! — Só para deixar claro que ainda não terminamos nossa conversinha quero te matar como você fez com meu cachorro, igualzinho... fazer uma bela fogueira e lançar esse monte de merda que você considera como corpo no meio das chamas e te admirar torrar seu infeliz. — Em poucas palavras descrevo minha vontade com todo o ódio que domina meus sentidos neste momento pela morte cruel que esse desprezível deu ao meu cachorro.
— Nessa base comigo aqui você não fica mais! Está dispensado por abuso ao seu superior! — ouvir as palavras saindo dessa boca de cu sujo me deixou com mais raiva ainda, me levantei de modo a lhe dar uma cabeçada e terminar de foder com seu nariz já que não precisará dele mesmo — Segura ele! — Berrou para dois Cabos que tentaram me conter.
— Me manda logo embora desse lugar ou vou te matar e isso, hm! Com certeza é um fato! — informei caminhando até ele arrastando comigo os dois que estavam formando um escudo para protegê-lo — SAI! SOME DA MINHA FRENTE DESGRAÇADO!
Por um momento o observei enquanto corria feito uma gazela e voltei a me sentar. — meu cachorro! — As lágrimas caiam sem ter como segurar... desgraçado filho da puta. Fiquei ali sofrendo por imaginar se foram capazes de jogar meu Pituxo vivo naquela fogueira. — Isso não se faz, é por essas coisas que prefiro os bichos do que os seres humanos. Maus-tratos aos animais é crime, mas deveria ser considerado pena de morte para quem comete esse tipo de atrocidade contra seres tão indefesos.
"Meu cachorro partiu e com ele levou um pedaço da alegria que aquecia meu coração. Sentirei sua falta a vida toda. Você foi o meu fiel companheiro que me acompanhou por muito tempo com sua presença sempre animada. Nessa hora de dor só posso agradecer por tudo que me deu sem nunca reclamar. Vou guardar sua recordação para sempre. Adeus Pituxo meu amigo!"