A VOLTA PARA CASA
Uma hora depois me soltaram e fui informado que meu carro havia chegado e que me levariam para o aeroporto mais próximo. Catei minhas coisas e entrei no veículo com a certeza que toda minha perda foi em vão! Minha irmã, Lis e a Morgan poderiam estar aqui se eu não tivesse ido fazer a merda da prova para nesse exato momento vivenciar uma dispensa com desonra! O mais doloroso é que não consideraram tudo que desempenhei para chegar até aqui! E como Coronel fui muito além do que esse idiota que é um assassino de animais, contudo tem mais benefícios simplesmente por ter umas estrelas a mais em seu uniforme.
Solto minha respiração exageradamente pegando meu celular decidido a ligar para o Oliver e contar o que fizeram com meu cachorro preciso desabafar com meu melhor amigo ou irei surtar de vez. Chamou e no segundo toque atendeu pacífico como sempre. Como gostaria de ser assim, mas infelizmente em nossa família esse dom somente ele tem.
— Benja? — soltei o ar contido em meus pulmões de modo a tomar coragem para dizer em voz alta os últimos acontecimentos — O que aconteceu?
— Mataram meu cachorro Oli, neste momento estou indo para casa porque fui dispensado por desonra por tentar arremessar o General que fez a crueldade com meu cachorro na fogueira. Providencie um advogado para mim por favor, provavelmente ficarei preso por tentativa de homicídio. — Peço ajuda com intenção de ter alguém à minha espera e não ser levado diretamente para a prisão.
— Fica tranquilo Benja, ligarei para a Bell assim que terminar de falar contigo mesmo sabendo que você virá diretamente para casa. Hm, que horas é seu voo? Quero estar lá na base quando chegar. — Sereno me questiona.
— Chego em Zurique duas da manhã. — declaro descendo do carro — Preciso subir na aeronave Oli, até mais!
Desligo e caminho em direção ao avião. Assinei uns papeis antes de embarcar e com minha dispensa confirmada subi no mesmo sabendo que meu tempo como Coronel tinha se encerrado e agora terei que me afundar na solidão do meu lar mais uma vez... mesmo após anos minhas escolhas vão me assombrar e sei que meu subconsciente não pegará leve comigo.
Sentado na poltrona passei a viagem inteira tendo a certeza que se há 16 anos não tivesse perdido meu tempo com essa besteira de sonho de ser um portador da paz minha família ainda estaria bem e minha maninha aqui comigo! — Se arrependimento matasse neste momento meu corpo estaria estirado no chão. Merda!
Sete horas se passaram quando fui informado que em trinta minutos estaria pousando na base de Zurique estava conformado e com uma grande convicção que seria enquadrado no Art. 160 do Código Penal Militar posso não ficar detido, contudo, isso para mim, é horrível, como se a morte delas perdesse o sentido e agora em que vou me agarrar? Como viverei com essa culpa? Já que houve uma escolha e ela teve consequências e para aliviar meu ego fodido me tornei o melhor porque isso me dava a certeza que não foi em vão que tudo aquilo tinha um sentido ou um fundamento, sei lá. — Serei consumido por isso até os últimos dias da minha vida.
Desci e segui até o superior do nosso regimento para lhe entregar meus papeis e para minha surpresa o próprio estava a minha espera.
— Bom dia! Coronel Tomps, me chamo Marechal Massini e infelizmente nosso sistema é muito falho e somente por esse motivo você será dispensado com desonra queria ter feito mais, porém quando cheguei a essa patente as leis já estavam escritas sinto muito, não será preso, só dispensado e como o papel timbrado veio de Luanda não pude fazer nada quanto a isso. — interessado em sair dali o mais rápido possível apenas concordo — Seus amigos já estão aí a sua espera. Meus sinceros sentimentos por sua perda Coronel Tomps.
Aperta minha mão e me entrega um envelope com todas as minhas documentações assinadas e segui para o estacionamento assim que avistei o carro do Baby, Oliver foi o primeiro a pular do mesmo e vir ao meu encontro.
— Viu, te falei que Bell ia te ajudar... hm, a própria já está vindo de uma missão e Anúbis vem para ficar com você, estou te comunicando aqui porque Baby já me bateu só de falar o nome dela... sabe como aquele anão é quando fica na tpm e não podemos contrariá-lo quando o boy dele fica tanto tempo longe a saudade o deixa agressivo.
— Ok, e pare de falar ele vem vindo aí. — Analisar o Baby após onze meses me dá a impressão que ele encolheu um pouco mais.
— Benja vem cá com seu Baby vem... — todo carinhoso me dá um abraço — Vamos, e agora que estamos reunidos tenho uma ótima notícia para dar! — Anuncia me deixando curioso.
Já no carro do Baby o mesmo se vira para me encarar.
— Mons é papai! Sou dindo porra! — animado se vira ligando o carro —, jurava que ele ia morrer titio, mas meteu um gol! Se chama Samir, não disponho de muitas informações só sei que sou o dindo.
— Isso significa que ele finalmente esqueceu a Riere né? — Pergunto vendo o carro ganhar velocidade nas ruas vazias de Zurique.
— Sei lá, nem sabia que ele transava. — Baby fala sério, mas eu e Oli não aguentamos e caímos na gargalhada — Sério! Para mim, ele era virgem já que teve uma adolescência bem difícil.
Como já esperava e só para me atormentar o assunto do passado vem à tona. — Respiro devagar para não surtar e acredito que perceberam porque ambos se calaram. O resto da viagem foi um verdadeiro silêncio ao entrar no condomínio já fiquei apavorado em lembrar que ia dormir sozinho.
— Ei! Dorme lá em casa. — Baby parece que leu meus pensamentos — Pode dormir na minha cama comigo, eu deixo.
— Baby você é estranho porra! — Oliver zomba e paramos na frente da casa dele — Temos que beber em homenagem ao Pituxo! — Oli propõe e de imediato aceitei.
Nós três concordamos. Entrei na mansão do pequeno homem e percebo a Zé dormindo no sofá com o que restou de um seio pulando para fora.
— Zé minha delícia, pega esses peitinhos de uvas-passas lindos que estão saindo por cima do sutiã mulher e vai se deitar. — Baby a chama com seu jeito besta e totalmente cuidadoso —, vem com seu garotão que vou te ajudar e guarda isso aí que estou ficando animado.
Oliver cobre a boca para não rir, contudo eu não tive tempo e fiquei fodidamente sem graça com ela me olhando.
— Só queria ver meu menino. — A idosa já bem enrugada me abraça, retribuo o gesto e Baby segue com ela. Suponho que nesse mundo a Suzete é a única pessoa menor que ele.
Assim que volta resolvo mencionar sobre seu tamanho só para irritá-lo um pouco... claro que uma revolta boba já que ele realmente raivoso se torna outra pessoa.
— Baby você diminuiu! — Comento fazendo Oliver se engasgar com sua saliva e começar a sorrir.
— E o cu? — Encaro sem entender o que quis dizer e mesmo com receio resolvi matar minha curiosidade ainda com medo do resto da frase, pois dele podemos esperar qualquer coisa.
— Em perfeito estado, mas o que tem ele? — Questiono de uma vez.
— Vai tomar nele palhaço! — Oliver cai na gargalhada— Oli vai se ferrar e nem começa que hoje mato um! — Ameaça lhe dando um soco no braço.
— Não fiz nada! — levanta as mãos se justificando — Foi ele quem falou do seu tamanho minúsculo Baby que bater? Vai até ele caramba! Soca a cara dele! Só tome um pouco mais de cuidado porque se fosse você arrumaria um banquinho e uma armadura de ferro para permanecer inteiro já que sua altura permite alcançar apenas os joelhos do Benja.
E nesse clima de brincadeiras seguiram matando a saudade até amanhecer e de tão bêbados acabaram dormindo na sala cada um em um canto da mesma.