FINALMENTE EM CASA
"Solidão: um lugar bom de visitar uma vez ou outra, mas ruim de adotar como morada."
— Josh Billings.
• 11:00 AM•
Desperto com a Zé me chamando e ainda atônito olho para a idosa a minha frente sorrindo com o que sobrou dos guerreiros ou quase todos os seguranças da sua língua faltando, os famosos "dentes" como são conhecidos isso me leva a crer que alguém pode roubar sua boca murcha a qualquer momento.
— Filho acorda telefone para você. — Ainda com sono reparo que estou sozinho, porque Baby e Oli saíram que nem vi a hora.
— Benjamins. — Me apresento.
— Bom dia, bela adormecida! Hm, quer ocupar um pouco sua cabeça? — Oliver sempre com sua voz mansa me questiona.
— Prossiga! — Já imagino o motivo dessa ligação conheço meu amigo melhor do que imagina então resolvo permitir que me convença a trabalhar porque acredito ser exatamente isso que fará caso contrário não perderia seu precioso tempo ligando a essa hora.
— Vem trabalhar! Tira seu terno do armário imediatamente, estamos na merda e quero outro fodido ao meu lado para que o trabalho não pese somente nos meus ombros e a carga empresarial não estresse só a mim, posso afirmar que Baby encontra-se dormindo na sala dele enquanto estamos conversando, e olha que pago muito bem aquele gnomo que executa com maestria suas funções quando quer! Desabafa não dando a mínima para o vagabundo do seu funcionário. — Baby sendo Baby.
— Estou indo Oli, me dá uma hora no máximo. — trocamos mais algumas informações e finalizo a ligação — Suzete tem comida aí? — Beijando sua cabeça, percebo a idosa em cima de um degrau improvisado para alcançar o fogão e suponho que Baby também utiliza o mesmo.
— Tem sim, filho quer um leite morno? — por um momento fico pensando se está zombando da minha cara — Preparo rapidinho, você quer?
— ... hm! Não, obrigado Zé. — Será que anda tentando me zuar só para contar ao Baby? Certas horas essa mulher é igualzinha ao meliante do "garotão" dela. Obviamente que esse título foi o mesmo que se deu porque esse "ão" existe somente nos pensamentos dele e convenhamos que "garotinho" combina mais com aquele anão.
— Senta aí meu menino, que vou preparar um leite com açúcar queimado para você que expulsará esse álcool do seu organismo rapidamente. — Carinhosa como sempre me convence.
Após vinte minutos estou me sentindo outra pessoa, levantei e fui até a mulher com 99% dos seus cabelos brancos e lhe beijei a cabeça como forma de agradecimento por seus cuidados, em seguida avancei para casa com um medo imenso como se a mesma fosse me engolir assim que abrisse a porta e o pavor que sentia causava uma impressão devastadora dentro de mim, era como se fosse atravessar um portal para o passado onde encontraria a Iza chorando em minha sala pela perda da Dora. Por muito tempo acreditei que a solidão iria me invadir e fiquei preocupado quando esse dia chegasse, porém, assim que entrei me surpreendi porque aquele sentimento simplesmente desapareceu. Reconheço ser ridículo ou sem sentido o meu raciocínio uma vez que afirmei o obvio, entretanto, nesse momento a sensação é agradável e por um segundo me fez esquecer que essa mansão era verdadeiramente o meu lar e outra vez me sinto em casa mesmo depois de tudo que aconteceu. — O medo consegue nos abalar de tal forma que as coisas até perdem o significado. — Enfim, subi e observei que tudo estava limpo e bem arejado. — Certamente a Zé esteve aqui, pois o cheiro de eucalipto que amo emana por toda casa.
— Se não lhe faltasse boa parte dos dentes até lhe beijava a boca... — a hipótese me faz franzir o nariz — pensando bem tenho certeza que isso não aconteceria.
Sigo para meu quarto e me lanço embaixo da água gelada de modo a espantar qualquer cansaço. Abro meu armário puxo um dos meus ternos pretos e rapidamente me acomodo dentro dele, me arrumo com uma certa euforia porque sou de exatas e gosto de lidar com contabilidade empresarial tanto que me formei nisso em virtude da nossa família ser composta por meninos prodígios que sem perceber cada um se graduou em algo que juntos, formamos os quatro pilares necessários para reger uma grande empresa. — Enfim, destino talvez? ... hm, foda-se!
Dei uma boa verificada no visual ao contemplar a minha imagem no espelho e decidi que não faria minha barba, resolvi deixá-la crescer com meus cabelos, coisa que tive sempre vontade, mas o exército não permitia, pois, o corte americano é obrigatório.
Desci e segui para a garagem, aí me dou conta que meu carro não estava no espaço reservado para ele. — Baby deve ter levado para sua oficina devido o mesmo não ser utilizado há meses — Ligo imediatamente para comunicar minha situação ao Oliver e o próprio informou que Leônidas quem viria me buscar e como imaginei meu carro veio com ele.
— Boa tarde! Chefe, vim te buscar, mas o possante terá que voltar comigo porque ainda tem uns ajustes para fazer. — Esclarece e logo estamos nas ruas de Zurique, entretanto agora movimentadas. Levei quarenta minutos até a grande empresa dos Williams. Assim que cheguei na cobertura avistei a Cloe que estava linda em um vestido mostarda e saltos azul-marinho que dão ao seu corpo farto o poder de uma falsa magra devido estar acima do seu peso, mas é tudo bem distribuído do jeito certo para deixar um certo homem babando por ela há anos. — olha aí o amor da vida do Oli! — Balbuciei.
— Boa tarde! Benjamins, Oliver se encontra em uma reunião e pediu que fosse direto para lá assim que chegasse... hm, se prepara porque ele anda muito estressado. — Concordo já caminhando em direção a sala onde estou sendo aguardado.
Assim que entro no recinto o encontro em pé sozinho explicando a lucratividade de algum projeto que até este momento não tenho conhecimento do que seja, vou para a frente de todos, pego um dos arquivos para me familiarizar um pouco do assunto que estava sendo abordado nessa reunião de última hora e sem aviso prévio por parte do chefe que comandava a mesma. — Puta merda! Se ele fechar esse contrato vai tomar no cu com isso, e no seco!
— Como você ainda tenta nos convencer ser o melhor para nossa empresa se as pessoas da sua própria equipe são as primeiras a chegar uma hora atrasado? — um senhor de idade com ar de superioridade tenta me atacar com besteiras, contudo farei minha própria apresentação não que ele mereça, mas para deixar claro quem somos — Com isso fica difícil senhor Bovederes!
— Bom dia! Sou o Benjamins Tomps e senhor, pelo que vejo aqui sua empresa está falida! Dessa forma só temos duas opções para você, ok? Primeiramente deve permanecer com sua boca fechada para que eu e o meu patrão, possamos verificar a melhor forma de te ajudar já que pela estrutura tenho evidência que será lucrativo o negócio, ou levanta sua bunda da minha cadeira e vai embora. — falo sem sequer olhar para ele, visto que estou fazendo cálculos em minha cabeça — Você é quem decide e aí, precisa de tempo para pensar? — Finalizo.
— Benja! — Oliver me cutuca forçando a encará-lo — Calma.
— Ok, então darei minha opinião... se me permitir é claro, posso? — perguntei ao Oli em razão de ter me achado rude demais e fico feliz por concordar — Sua empresa fechou seis meses seguidos no vermelho o que me remete a acreditar que tem usando o fundo de emergência, hm... podemos conduzir da seguinte forma. — levanto tranquilamente caminhando até o quadro para fazer eu mesmo a mão os gráficos de lucratividade — Injetaremos o dinheiro bruto de uma só vez e o retorno será totalmente límpido e lapidado, melhor dizendo, milionário. — termino meu gráfico e volto a atenção para os seis homens na minha frente — E como possuímos muitas empresas que fornecem o material que a sua necessita, podemos lhes dar um pequeno desconto.
Acesso o arquivo com a senha do Oliver que tinha certeza que seria Elise e para minha surpresa estava enganado... hm, digitei Cloe e abriu — safadinho —, dei uma olhada nas questões das empresas automobilísticas observando que a porcentagem de desconto que poderíamos oferecer para eles era de 2%. — Assim o prejuízo é mínimo.
Analiso minuciosamente nossa grade com essa possibilidade e tenho seis a minha disposição para o que desejo fazer... então posso conferir com Oli em qual ele pode cair no retorno mensal lucrativo para nós, e chegar talvez em até 0.9% ou na pior das hipóteses 1,4% no período de seis meses, porém, oito seria o ideal com margem de erro mínima e se desse errado essa negociação não perderíamos nem um milhão.
— Então senhor... — leio o sobrenome do mesmo para explicar como a nossa empresa funciona — Antunes, queria saber se está mesmo disposto a nos permitir ajudá-lo. — Questiono de uma vez porque não sou de perder meu tempo.
— Continue! — Olhei para o Oliver apontando a tela para verificar nossa melhor opção.
— Disponibilizamos de algumas empresas que podem te ajudar com relação ao seu declínio e Oliver irá te informar os nomes das que achar viável perder de 0,9% a 1,4% mensal para te ajudar e, veja bem! Estamos falando de muito dinheiro, no entanto, para lhe tirar do chão tem um custo, como tudo em nossa vida e acredito que saiba disso. Tem mais uma coisa, somos profissionais a ponto de não aceitarmos que coloquem valores no nosso trabalho, porque o melhor e extraordinário demanda tempo e muito sacrifício, no entanto, posso afirmar que somos os melhores dessa área, fique ciente que cobraremos uma fortuna para te ajudar! — Oliver me olha com uma cara de espanto — Se ainda assim tiver interesse em continuar com essa conversa posso compartilhar com você os valores favoráveis tanto para sua empresa quanto para nós.