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Capítulo 5 - Casa de Praia

¤ Por Lili James | Brooklyn, Nova Iorque ¤

   A semana se passou voando, rápido demais na minha humilde opinião. As aulas da faculdade são incríveis, nada menos esperado da Columbia, me encontrava extremamente apaixonada pelo curso. Estava simplesmente nas nuvens, mas Henry parecia estressado ao meu lado, enquanto eu estava tranquila. Tentei distraí-lo com algum assunto bobo, quando ele estacionou na praça, mas ele não fez menção de sair do carro, então fiquei parada no banco, pensando no que dizer, quando ele suspirou e começou a falar finalmente.

— Vivian teve a brilhante ideia de todos irem para a casa da praia nesse fim de semana. — Eu franzi o cenho, não entendendo o que havia de errado com a informação.

— Não entendi.

— Você e eu, ela e Peter, meus pais, e mais um casal de amigos. — Meu coração se descontrola. — Todos numa casa só.

— Eu pensei que ela estava sendo apenas educada em sugerir um programa de casais...

— Nós vamos no sábado à noite, e voltamos no domingo à noite. — Eu olhei espantada para ele.

— Nós não podemos ir! — ele passou a mão no cabelo, nervoso. Seu olhar se apertou para mim.

— Nós não temos escolha. — Decido sair do carro, por sentir-me sufocada, sem ar. O frio da noite me atinge, e me encolho encostada na porta fechada do carona. Ele também sai do carro, vindo até mim. — Lili...

— Isso vai dar em merda — ele acena negativo.

— Confia em mim, vai dar tudo certo. — Ele alisa meu braço, e um arrepio sobe pela minha coluna.

— Pela sua cara, nem você acredita nisso! — ele suspira mais uma vez.

— Não vou negar que também fui pego de surpresa. Eu imaginei que Vivian nos chamaria para um jantar, apenas. Sim, todos vão estar lá, mas não vamos nos precipitar esperando o pior.

— Você não tem medo de eles perceberem essa mentira? É basicamente 'um elefante na sala'! — eu estava tremendo. Passar trinta minutos num evento ao seu lado já me parecia muito, mas um dia inteiro é demais. — Vão sacar a gente na hora...

— O elefante na sala só existe na nossa cabeça, para eles nós somos um casal comum. Pense dessa forma, e aja naturalmente. — Seus olhos azuis brilharam, e ele sorriu minimamente. Ele estava tão arrumado, num belo terno preto. Ele trabalhava todo dia vestido assim? — O que foi?

— Nada, só estou preocupada. — Dei de ombros, olhando a praça quase que vazia.

— Estamos melhorando nisso, vai dar tudo certo — ele não parecia acreditar cem porcento no que disse, mas saber que ele compartilhava de um pedaço que fosse do que eu estava sentido, já me deixava menos desconfortável. Passar o dia todo com seus pais? Com seu irmão? Era estranho demais para engolir.

— No caso iremos amanhã à noite? — ele assentiu. — É muito longe?

— Menos de três horas de carro, você vai adorar a vista — ele sorriu. — Vivian e Peter foram essa tarde. Os outros eu não sei informar.

— Entendi. — Respirei fundo.

— Eu comprei uns biquínis pra você — arregalei os olhos em sua direção. — Estão no banco de trás.

— Você está brincando?

— Não, e eles são bem comportados, não se preocupe — eu o empurrei pra trás, e ele mal saiu do lugar, rindo feito bobo. Me senti tão quente e envergonhada, só de imaginar usar algo assim perto dele, ou de sua família e amigos.

— Por que você só me mete em roubada? — suspiro, cobrindo o rosto com as mãos. Eu sinto ele puxar o meu corpo, e me abraçar. Eu pausei minha respiração, tentando absorver tudo, e também àquele momento. Ele me soltou devagar, e eu voltei a respirar dramaticamente. — Pode me levar pra casa? Caso não tenha mais nenhuma bomba como essa para me contar.

— Não tenho — me afasto abrindo a porta, ele dá a volta também entrando no carro. Ele segue na direção do meu prédio, e não demora quase nada para chegarmos. Assim que estacionamos outra vez, ele busca algo no banco de trás, e deposita uma sacola em meu colo. — Espero que o tamanho esteja de acordo com o que você usa.

— Humf — Abri a porta, saindo do carro. — Obrigada, e boa noite.

— Boa noite, James. — Ele piscou um olho pra mim, e eu não pude segurar o riso. Pulei os degraus do prédio, e corri para o elevador. Samantha iria pirar com a história dos biquínis, ela vai rir muito de mim, nunca usei nada como isso. E por falar nela, a mesma estava jogada no sofá, com seu pijama.

— Boa noite, como foi seu dia? — ela questionou, se ajeitando no sofá e desligando a TV. Seus olhos notaram a sacola que eu segurava.

— Boa noite, eu tenho biquínis e uma casa de praia para o fim de semana, e você? — ela gargalhou.

— Eu tenho banheiros para lavar. Como assim biquíni e praia? — Joguei a sacola em seu colo, e sentei-me, exausta e com sono.

— A cunhada de Henry e seus pais nos convidou para um domingo na casa de praia. — Ela franziu o cenho.

— A casa é deles, ou vão alugar? — ela catucou o conteúdo da sacola.

— Eu não perguntei sobre isso.

— Ai meu Deus, olha isso — ela puxou pra fora a parte de baixo de um biquíni vermelho. Como vou usar algo assim perto dele? — Prova pra mim!

— Não mesmo — puxei a sacola, tirando outro tecido. Era um maiô.

— Boa sorte, estou impressionada com a nova 'Lili', namoradeira e estilosa — eu jogo uma almofada que estava perto de mim em sua direção, e ela gargalha. Henry vai me pagar!

   O dia de sábado se passou num piscar de olhos, o tempo tem se passado rápido demais na minha opinião. Não parava de pensar nos malditos biquínis, e também sobre sua família e amigos num ambiente só. Como fingiremos tão bem uma intimidade? Tudo estava indo tão bem, e agora isso. Me sentia desconfortável, a mentira se tornava mais séria cada vez mais, me sentia culpada e deslocada. Não estava me reconhecendo.

   Quando deu a hora de fechar, Hershel me deu um boa noite sonolento, e eu marchei até minha bolsa, quando notei o carro de Henry estacionar enfrente ao estabelecimento. Entrei dentro do carro suspirando fundo, antes de lhe dirigir o olhar.

— Tudo bem? — eu assenti que sim.

— Boa noite.

— Boa noite, Lili. Você jantou? — eu afirmei que sim num aceno, e me encostei melhor no banco, colocando o cinto de segurança. — Pegou suas roupas?

— Peguei tudo.

— Está nervosa? — ele iniciou o trajeto.

— Claro que sim. — Eu olhei para o corpo dele, e percebi as roupas diferentes que ele usava naquela noite. Uma camisa polo, com uma calça jeans preta. Mesmo simples, ele transparecia elegância. Enquanto eu estava suada e com os cabelos bagunçados.

— Não tem porquê.

— Quer alguns motivos? Eu pensei em uma lista de motivos o dia inteiro. — Quando respirei fundo, pronta para falar os motivos, ele me interrompe.

— A essa altura do campeonato, você poderia me enxergar como um amigo, amigos são legais e confiam um no outro. Você é muito tensa, Lili — ele olhou pra mim com deboche, enquanto trocava de marcha.

— Você é muito bobo, a bola de neve de mentiras só está aumentando. A sua família está acreditando nessa novela mexicana que você inventou, e você não parece se sentir nem um pouco mal por isso! — cruzo os braços, decidindo aproveitar a vista.

— Eu não sou bobo, eu entendo o que você está dizendo, mas ficar se martirizando não ajuda em nada. — Ele suspira, e eu decido ficar em silêncio.

   Eu poderia aproveitar o tempo de viagem para descansar, seria muito merecido. Essa semana foi muito cansativa, trabalhar e estudar exige muito esforço, físico e mental. Eu fechei os olhos e relaxei o corpo, a temperatura ambiente estava perfeita, aconchegante. O estofado do banco era bastante confortável, o carro nem parecia estar em movimento.

    Uma voz ao longe chamou minha atenção, senti um carinho suave em meus cabelos. Abri os olhos, com dificuldade, um sono pesado queria me convencer a ficar como estava. Os olhos brilhantes de Henry estavam pertos demais do meu rosto, ele estava me chamando?

— Lili — ele falou suave.

— Hum? — eu estava sentanda, ainda no banco de seu carro, mas ele estava de pé ao meu lado.

— Chegamos. — Então eu lembrei da viajem, da praia, do carro, em sequência. Levantei-me do banco com o corpo pesado, e ele mal me deu espaço para me mover. — Eu te levo, não quero que caia de sono no meio da casa. — Ele pôs a mão em minha cintura.

— Engraçadinho, eu estou bem — me virei rapidamente para pegar minha bolsa, e ele a toma da minha mão.

— Deixa de ser teimosa, você deve estar cansada.

— Que calor — resolvi tirar minha jaqueta.

— É aqui faz calor — ele sorriu gentil. Ele fecha a porta do carro, e me conduz até a calçada. Respiro fundo olhando ao redor, e noto uma linda casa branca, com a areia da praia ao redor. Parecia casa de boneca!

— E aqui é onde mesmo? — Nós subimos quatro degraus, havia flores, a sensação de marisia, e um relaxante som de ondas do mar. Ele tirou uma chave do bolso, e rapidamente abriu a porta.

— Hamptons.

— Ah — ele deu espaço para que eu entrasse, e a casa estava silenciosa.

— De dia te levo pra conhecer o lugar, não dá pra ver nada a noite. — Ele fecha a porta e olha ao redor. Ninguém parecia acordado. A luz da sala estava apagada e o silêncio predominava, a única coisa que iluminava os cômodos era a luz da lua.

— A única coisa que quero conhecer no momento é a cama — ele ri. Ele faz menção para acompanhá-lo, e com cuidado o faço, subi devagar a escada que dava para o andar de cima. Ele abre uma porta e me dá espaço para entrar primeiro, procuro o interruptor e ligo. Era um quarto, com uma cama enorme de casal. Tinha um banheiro e guarda-roupa. — Perfeito! — Sorri em sua direção.

— Então, você acabou dormindo antes que eu pudesse explicar. — Ele entrou e fechou a porta, deixando nossas coisas em cima da cama.

— Explicar o quê? — faço um coque em meu cabelo, e me aproximo, para falarmos baixo. Não queria nenhum parente seu no meu pé a essa hora.

— Também vou ficar nesse quarto. — Franzi o cenho.

— Por quê?! — quase que a voz não sai.

— Porque casais dormem no mesmo quarto — ele responde, como se fosse óbvio. Por que não pensei nisso? Nem me passou pela cabeça.

— Tá... — congelo minha feição, e vou em direção do banheiro.

— E você não vai me deixar dormir no chão, não é? — eu o encarei por cima do ombro, com o olhar apertado.

— Espero que não seja sonâmbulo. — Ele riu, volto rapidamente até a cama buscando minha bolsa, e vou até o banheiro.

    Assim que fecho a porta, procuro por um espelho. Encaro meu reflexo, meu rosto vermelho. Por que, meu Deus? Por que preciso passar por isso?

Tomo um banho rápido e refrescante, os Hamptons era mesmo muito quente. E isso ainda iria piorar. Vesti uma camiseta confortável, com um short, e voltei para o quarto com minha bolsa. Henry estava deitado, sem camisa, com uma calça moletom cinza. Mexia no celular, e então ele me notou parada ao lado da cama. Ele vai dormir sem camisa, filho da mãe, maldito!

— Cansada? — ele dá espaço, abrindo as cobertas para que eu me aconchegasse. Pesco meu celular da bolsa, sentando na cama.

— Sim, e você? — mando rapidamente uma mensagem de texto para Samy, avisando que já havia chegado, e que estava bem. Devolvo o celular para a bolsa, e então me acomodo melhor na cama.

— Um pouco. — Ele sorre. Nós ficamos encarando um ao outro, eu não sabia o que dizer. Minha vida estava uma loucura.

— Enfim, boa noite — me viro ficando de costas para ele, abraço o travesseiro fortemente, desejando dormir.

— Boa noite, Lili — ele responde baixo.

    Meus olhos lutavam para permanecer fechados, quando a claridade no quarto me despertou. Meus pés estavam gelados, o que me lembra a coberta que chutei longe por estar sentindo muito calor durante a madrugada. A janela estava aberta, e um vento fresco entrava pela a mesma, junto com os raios fortes de sol. Eu levantei a cabeça, ainda meio zonza, para observar o cômodo. O quarto estranho me fez recordar do porquê que estava ali e onde era 'ali'.

Henry não estava na cama, e nem pelo o quarto, o que me deixou mais a vontade para suspirar. Puxei meu celular da minha bolsa aberta no chão no meio de uma bagunça, havia uma mensagem de Samy em resposta da minha de ontem a noite. “Divirta-se”, eu respondi “Vou me divertir muito nos Hamptons!”. Um bairro chique como esse precisa ser aproveitado.

               Era pouco mais de sete horas da manhã, minha curiosidade falou mais alto, e pulei para o chuveiro. Com os cabelos molhados e com um vestido solto branco de renda, desci a escada que dava para a sala com cuidado, buscando alguém pelo o olhar, e acabo encontrando Vivian.

— Lili! — ela solta a colher com cereais no prato, e se levanta vindo até mim, vestida num lindo vestido verde. — Estava ansiosa pra te ver.

— Você está bem? — ela me abraça carinhosamente. Ela faz menção para sentar ao seu lado no sofá.

— Estou um pouco enjoada do passeio de carro, mas tudo bem. — Assenti com um sorriso. — Nossos companheiros estão na praia já faz um tempo, pensei de irmos juntas até eles pegar uma onda, o que acha? — e o maldito biquíni veio à mente. Merda!

— Só vou comer alguma coisa... — me levantei sutilmente, procurando a cozinha.

— Claro, vem, a cozinha é depois do corredor — ela me puxa pelo o braço, me levando. — Quero te apresentar a Ana! — Ana?!

— Bom dia! — cumprimento as duas mulheres sentadas na mesa da cozinha. Era um belo cômodo, janelas enormes davam a vista da praia. Tinha uma porta de acesso para sair por ali, e uma enorme churrasqueira. A praia ficava basicamente no quintal da casa. Que vida boa!

— Bom dia, minha querida! — a sra. Montanari se levantou junto de uma moça jovem. A mãe de Henry me trás um abraço gentil, e Vivian, aponta para a garota.

— Essa é a Ana, noiva do Tom, amigo de Henry que também veio para o fim de semana.

— Bom te conhecer, Ana — eu sorri, e ela retribue abertamente. Eu tive a sorte de todos serem sempre bem hospitaleiros comigo.

— Igualmente, Lili, ouvi falar muito de você! — minha barriga gelou.

— O que, por exemplo? — eu ri, preocupada. Ela achou graça.

— Só coisas boas, não se preocupe.

— Café da manhã para Lili! — Vivian anunciou, apontando para tudo o que tinha na mesa, e de fato, estava repleta de variedades.

— Sente-se, minha querida, do que você gosta? — a sra. Marian pegou um prato na mesa, e fez menção de fazê-lo para mim. Eu peguei da mão dela, com muita vergonha.

— Pode deixar que me viro, senhora Marian, obrigada — ela sorriu.

— Então sinta-se à vontade para pegar o que quiser — eu assenti, pegando apenas algumas torradas, uma banana e suco. Vivian se junta a nós na mesa, ainda com sua tigela de cereais. Eu me senti uma intrusa, e tentei pensar em algo que pudesse dizer.

— Vocês todos chegaram na sexta?

— Sim, Peter e Vivian me trouxeram, já que meu marido teve outro compromisso. — A sra. Marian se remexeu na cadeira, eu imaginei que pudesse estar desconfortável com a informação.

— Eu e Tom chegamos ontem pela tarde, eu estava presa no trabalho. — Eu assenti, apesar de ainda não conhecer o 'Tom'. Ana tinha uma voz tão doce, muito bem combinada de sua aparência. Os traços delicados do seu rosto a deixavam naturalmente com uma aparência feliz.

— Eu me pergunto se a roupa de banho ainda irá caber — Vivian afasta a tijela vazia. A sra. Marian riu, e Ana acenou negativo.

— Isso não tem importância — Marian corrigiu rapidamente.

  Vivian levou seus olhos para mim muito rápido, e eu entendi sua pressa. Ana se ergueu da cadeira, alegando ir se trocar, e a sra. Marian a acompanhou. Vivian ficou para me apressar, e então se enfiou no meu quarto junto a mim, com sua peça de roupa em mão.

Eu busquei minha bolsa e escapei para o banheiro, dando a mínima privacidade a nós duas, eu poderia surtar livremente. Eu tirei para fora a roupa de banho maior que julguei ser, um maiô vermelho, e fiquei aterrorizada por não me sentir tão coberta quanto deveria. Para minha tão pequena sorte, eu notei que ele se preocupou em também me fornecer uma 'saída de praia', um vestido de tricô que continha furos, o comprimento ia até minhas coxas.

   Eu me dei conta de que minha mão tremia quando a ergui para abrir a maçaneta. Vivian estava linda num biquíni rosa, mas aparentemente ela estava se autocriticando enquanto olhava para o espelho. Eu me senti desconfortável por observar seu ventre volumoso por tempo demais, e ela sorriu para mim.

— Mas você está tão coberta! — eu sorri timida, e ela fez menção para que eu me aproximasse. — Eu estou parecendo uma baleia.

— É claro que não está, seu corpo está lindo! — ela gargalhou.

— Você é muito fofa, Lili, mas eu queria o segredo daquelas famosas — eu suspirei, sem pensar em algo melhor pra dizer. Ela me puxou pelo o braço, alegando que tinha protetor solar o suficiente pra todos.

Nos encontramos com as outras na sala, eu estava andando quase que pisamos nos meus pés, de tão envergonhada que estava por usar aquele maiô. Eu não estava acostumada com isso, nunca visitei uma piscina, e meus poucos passaios à praia com Samy era apenas para observar. De repente, Vivian parou quando íamos passar pela porta, ela deu meia volta para dentro.

— Vocês se importam de me dar cinco minutos? Vou vomitar — a sra. Marian fez uma expressão mostrando empatia, e Ana correu para acompanhar Vivian. Eu tentei me manter equilibrada perto de minha sogra, já que ela se virou para mim parecendo ter o que dizer.

— Vocês chegaram muito tarde ontem a noite? — ela sorriu.

— Por volta da meia noite, estávamos exaustos.

— Eu imagino, o Henry tem praticamente morado na empresa, e ele me contou que você também anda na correria. Espero que aproveite o dia para relaxar com ele, você está entre família, minha querida — ela sorriu ainda mais, com seus dentes brilhantemente bem cuidados. Meu estômago gelou, ela é tão gentil.

— Muito obrigada pela gentileza, aliás todos vocês são muito gentis. — Ela acenou positivamente.

— Eu espero que Henry esteja se comportando bem com você, é o primeiro relacionamento sério que ele tem, e se ele não estiver, me avise, que eu faço questão de lhe dar puxões de orelha! — ela me fez gargalhar.

— Ele me dislumbra, e a senhora o educou muito bem, devo dizer. — Ela sorriu ainda mais. Eu constatei que era muito fácil de agradá-la.

— Henry constumava ser o mais carinhoso e o mais sensível dos seus irmãos, e então ele começou a andar muito com seu pai. Ele mostra não se importar com nada, muito menos em medir as consequências. — Ela me olhou preocupada. — Mas não que ele vá magoá-la, querida. Eu só costumava saber o que se passava naquela cabecinha, mas eu acho que preciso relaxar um pouco agora, já que ele não está mais sozinho. — Suas palavras me atingiram tão profundamente, que me senti tonta. Ela segurou em meu braço gentilmente, e então quando Vivian voltou com Ana, nós caminhamos juntas.

    A linda visão do oceano tomou todo o meu ar, o divino azul do céu com poucas nuvens, o sol escaldante que instantaneamente me fez querer arrancar minhas roupas. O mar estava calmo, o som das águas era tão relaxante que me senti flutuar quando escolhi ficar descalça, a areia estava morna.

Notei uma pequena mesa perto do mar, Henry estava sentado perto de outro rapaz, aparentemente o 'Tom', que ainda não conheci. Ele notou a motivamentação, e me encarou. Ele sorriu gentilmente.

— Aí está você — ele disse, se levantando. A sra. Marian me soltou, e então me aproximei do meu companheiro. Ele me olhou estranho, quando alcançou minha cintura, parecia que ele queria falar algo em particular, ou tivesse notado algo errado em mim. Ele desviou o olhar para seu amigo, e eu decidi cumprimentá-lo. — Está é a Lili, Lili este é Tom, um grande amigo.

— É um prazer conhecê-lo — eu dei o meu melhor sorriso.

— Você existe mesmo! — ele gargalhou, se levantando e estendendo sua mão para me cumprimentar. — O prazer é meu, Lili.

— Idiota — Henry o acusou, e Ana chegou para perto de Tom.

— Peter! — Vivian gritou distante, eu notei Peter enquanto ele mergulhava nas águas. A sra. Marian sentou-se numa das cadeiras.

— Crianças, vão para a água, está tão quente! — Henry olhou para mim de novo, com um sorriso questionável. Tom e Ana seguiram o conselho de minha sogra, e Henry me puxou para mais perto dele.

— Vamos? — ele me soltou rapidamente, apenas para desabotoar uma camisa branca que usava. Eu fiquei nervosa instantaneamente.

— Eu não sei nadar, Henry — ele sorriu ainda mais.

— Eu tomo conta de você — algo em seu olhar me alertou, eu não consegui sorrir.

   Automaticamente eu segurei o fôlego, meu maior medo era morrer afogada, sem dúvidas. Mesmo rígida, eu apanhei meu vestido, e puxei ele para fora do meu corpo devagar demais, insegura se devia seguir com isso. Eu não olhei para seu rosto, apenas suspirei encarando o enorme oceano cheio de água. Água demais. Por que tudo acontecia para me deixar ansiosa? Sua mãe na espreita, a roupa de banho, e os planos mirabolantes do meu 'namorado'.

Seu toque em minha cintura fora tão sutil que quase não percebi, eu olhei para ele preocupada.

— Não me deixe morrer — eu sussurrei para ele, quando ele me guiou. Ele gargalhou exageravelmente, me deixando irritada.

— Eu posso te ensinar a nadar, se você quiser — ele me puxou para mais perto, quando as águas tocaram nossos pés.

— Não, e não ouse me soltar! — ele assentiu, ainda sorrindo. — Sua mãe é um doce.

— Ela conversou com você sobre mim? — ele me puxou para frente, enquanto íamos adentrando cada vez mais. Ele pareceu preocupado com o fato. Meu coração saltou quando senti seus dedos ralarem na minha coxa desnuda.

— Ela quis saber se você está se comportando direitinho comigo — eu senti seu rosto se aproximar da minha orelha, pois seus lábios tocaram-na, me arrepiando por completo.

— E eu estou me comportando? — eu suspirei, observando Ana pular uma onda e abraçar Tom, enquanto que Vivian estava mais a frente, flutuando com a barriga pra cima sob a guarda de Peter.

— Eu te respondo isso quando me levar viva pra casa. — Ele sorriu, empurrando meu corpo com o seu, me segurando pela cintura. Quando a água chegou ao nível dos meus seios eu aguarrei seu braço. — Para, me leva de volta!

— Calma, não vai acontecer nada — ele me virou para si, colocando meus braços em volta do seu pescoço, ainda me segurando pela cintura. — Deixa seu corpo relaxar e flutuar.

— Sabia que tem tubarões no oceano? — eu questionei irritada, sustentei meu rosto em seu ombro, observando a sra. Marian de longe. Ela parecia assistir especialmente a nós dois.

— Não tem tubarões nessa praia, Lili — ele riu ainda mais. A quintura em mim combinada ao sol parecia que iria me derreter. — Se segure firme, e respire fundo.

— Por quê? — eu tremi, apertando meus dedos em sua pele.

— Faça isso! — ele praticamente ordenou. Eu o fiz rapidamente, tomando o maior fôlego que pude, e apertando o abraço.

Ele se agachou me puxando para baixo d'água, para meu desespero. Minhas pernas o prenderam em mim sem precisar dos meus comandos, e com uma mão petulante em minha coxa ele garantiu meu aperto. Meus olhos arderam levemente, e então após alguns segundos, ele nos levantou. Eu respirei fundo, desejando chingá-lo com palavras profanas, mas eu me recompus.

— Eu te odeio! — eu comentei, alto e claro, afrouchando meu aperto, tirando minhas pernas entrelaçadas dele. Eu estava para derreter de vergonha a qualquer momento.

— Não seja boba — ele riu, nos levando para mais perto da areia. Eu sentia meu cabelo pingar em minha bunda, e lembrar do fato que ela estava à mostra, me deixou ainda mais nervosa. — E então, o que vocês conversaram mais?

— Sua mãe e eu? — ele assentiu, parando no caminho. Eu me separei dele, sentindo a água na altura dos joelhos agora, me sentindo segura para apenas segurá-lo no braço. — Ela diz que se preocupa com você, mas acha que precisa relaxar, agora que você não está mais sozinho.

— Entendo — ele olhou para os outros, e acenou para nos juntarmos a eles. — Por isso você está com essa cara?

— Que cara? — ele riu.

— Você parece preocupada.

— Não mesmo, estou cem por centro dentro da personagem.

— Humf — ele fez, me puxando para perto novamente, quando o nível da água voltou a subir. Vivian estava tão tranquila que parecia estar dormindo, flutuando na água. Eu ignorei Ana e Tom que estavam no meio de um beijo ardente de cinema, e cumprimei Peter, que fez uma piada idiota para Henry.

  Enquanto a turma conversava, minha mente viajou com o que estava acontecendo na minha vida, era instâneo procrastinar, eu não fazia de propósito, eu não queria me sentir mal pelo o que estava fazendo.

Seu toque em minha barriga me alertou, Henry gargalhava com algo que eu não estava prestando atenção, e eu não me importei de lhe assistir descaradamente. As palavras de sua mãe rodeavam a minha cabeça, me deixando nervosa automaticamente. Eu também estava curiosa com seu mistério, sobre o que disse em relação a Henry.

  Como ele realmente era? E por que havia mudado? Ele se sentia pressionado sobre seu pai? Ele mesmo se pressionava? E o quanto isso subtraiu sua essência?

   Eu gostaria de lhe afogar em perguntas, se eu soubesse que isso não fosse o aborrecer, mas não era da minha conta.

— Você está bem? Ainda está com medo? — ele cochichou no meu ouvido, provavelmente para eu não me sentir envergonhada com os outros. Eu acenei que 'não' rapidamente, e ele assentiu.

— E você, está confortável? — ele me encarou sem dizer nada por alguns segundos, me deixando preocupada. Peter o chamou, e ele arrastou sua atenção para o irmão, me deixando sem resposta.

— O quê?

— Vamos preparar o churrasco? — ele repetiu a pergunta, e Henry concordou, me guiando para fora das águas, seus amigos estavam na frente. Ana me dirigiu uma piscadela, e eu sorri sem muita vontade. Henry deixou uma maldita pulga atrás da minha orelha com algo tão bobo.

  Eu vesti minha saída de praia, assim que chegamos na mesa onde a sra. Marian nos esperava, ela sorriu contente para todos nós e reclamou que estava faminta. Eu mal percebi o tempo passar enquanto estava nas águas com Henry e os outros.

   Quando voltamos pra casa, se passava das onze, e os meninos se apressaram na cozinha. Henry ficou responsável pela churrasqueira, Peter temperava toda a carne espalhada no balcão, e Tom preparava algo que não identifiquei o que era. O almoço foi tão demorado quanto as conversas durante, Henry e eu não viramos um tópico como eu esperava que acontecesse, talvez a novidade do nosso namoro já fosse página virada e isso me reconfortou.

   Nós não faziamos mais que olhar um pro outro e sorrir, nada mais que isso, a não ser pelo os toques, sua mão na minha, ou no meu cabelo.

   Depois que cada um lavou seu prato, o grupo foi se dividindo em outros afazeres. Tom e Ana subiram para o quarto, alegando precisarem de um banho. Vivian reclamou de sono, e também subiu para dormir um pouco, Peter a acompanhou. A sra. Marian sentou-se na sala, puxando conversa com Henry. Eu fiz menção para Henry de que iria subir também, pretendia tomar um banho, e ele apenas assentiu.

  Eu não me sentia menos preocupada por tudo estar seguindo tranquilo, pelo simples fato de não ficar contente pela mentira que estamos dando vida, principalmente para sua família, que era tão receptiva e carinhosa.

Após um banho rápido, enquanto enxugava meu cabelo, minha mente dava voltas nos momentos desse fim de semana. Henry transmitiu uma personalidade tão acolhedora e amorosa, que de certa forma me deixou nublada. Eu não havia reparado tanto nele como antes, nas suas feições ou aparência, que me agradou de imediato quando nos conhecemos.

Ficar dislumbrada com ele era fácil demais para mim, qualquer atitude atenciosa sua me deixava encantada. Ele é muito educado, um cavalheiro com certeza, apesar do ego – que imagino ter sido uma consequência de passar muito tempo com seu pai. Ele transpira confiança e carisma, era totalmente reconhecido por mim, depois de conversarmos melhor.

Todos os seus toques me deixava trêmula, seu olhar me intimida. Eu não sei se isso tinha a ver com o fato de não ter experiência alguma com homens, e a nossa situação desencadeia essas sensações apenas por esse motivo.

Então, eu resolvi que seria melhor ter uma estratégia individual, apenas para mim, e para minha própria proteção. Isso que estávamos fazendo já tem sua parcela de perigo grande o suficiente para um estrago dramático, mas eu não tinha pensado antes na parte emocionalmente profunda do caso. E se eu, no meio dessa situação, acabasse me apaixonando por ele? Com toda essa encenação, é uma possibilidade. Eu me conheço.

— Lilian Melinda James, eu te proíbo de se apaixonar por ele! — aponto para minha imagem no espelho com a escova de cabelo. Minha feição não parecia tão convincente, mas essa promessa precisava ser.

Me apressei pela escada, notando que apenas Henry estava na sala de estar agora. Ouço a voz da sra. Marian vinda da cozinha, parecia estar falando no celular. Ele me nota, e seu sorriso alcança seus olhos. Ele acena para que eu me sente ao seu lado no sofá, eu suspiro e o faço.

— Tudo bem? — eu aceno que sim.

— Por que não toma um banho pra relaxar? Você parece cansado — ele ri.

— Estou fedendo, e você está sendo gentil e sutil? — eu acabo gargalhando.

— Não! — ele puxa minha mão para segurá-la, instintivamente observo se sua mãe se aproximava, mas não. Um frio na barriga tenta criar um significado que não existe para a simples atitude.

— Não estou acostumado a não ter nada para fazer... — ele carrega seu olhar para além de uma grande janela que havia, que nos dava a vista de uma parte da praia.

— Você costuma tirar férias? — ele enruga a testa, e acena que não. — Mas é saudável!

— Qual a graça de fazer isso sozinho? — ele dá de ombros. — Mas vou tentar aproveitar, agora que tenho você — ele ri, e por um momento fico sem jeito. Minha mente fantasiava sem minha permissão, como isso é possível?

Seu smartphone toca, ele rapidamente leva o aparelho a orelha. Eu ouvi claramente uma voz melodiosa e feminina ecoar sutilmente, por pouco não dava para ouvir. Ele enrijece o corpo no mesmo segundo. Ele me encara rapidamente, soltando minha mão.

— Preciso atender, é o meu irmão. — Fiquei sem reação, apenas assenti. Ele se afastou indo para um outro cômodo.

Por que dizer que era seu irmão, quando claramente deu para perceber que era uma mulher na chamada? Poderia ser sua secretária? Ou a namorada ou esposa de seu irmão? E por que merda eu estava pensando nisso? Não é da minha conta. Talvez nós mentimos tão bem que até eu estava acreditando nesse namoro.

E que Deus me ajude.

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