Capítulo 2
Elaine passava a gilete fria na beirada da virilha roçando o lábio vaginal, era o último filete de pelinhos curtos que ela tirava. Bateu no piso da duxa, deixou a sujeira cair com a força da água e assistiu seus pelinhos seguir o caminho direto para a morte. O ralo fúnebre engoliu seus restos, finalizando assim um ciclo de seca em sua vida. Sua xereca jamais fora tão solitária quanto a vida que tinha em terra, mas Elaine cometeu a loucura de sanar essa solidão de outra forma. Foi imatura e ansiosa, foi triste até, mas sim, Elaine foi a primeira mulher que estendeu os braços — e as pernas — para servir a causa alien.
Elaine é uma criatura minúscula, um pouco magricela, usava óculos fundo de garrafa e tinha uma inteligência digna de se fazer parte do estudo científico, com contato na linha direta do processo alienígena. Seu mundo havia se modernizado, mas havia uma troca para que a outra vida os ajudasse em sua evolução, mulheres. Havia muitos motivos para uma raça como a dos Starianos entrar em contato com os humanos, mas nunca imaginou que eles poderiam estar à beira da extinção. E os humanos, por incrível que pareça, era a raíz de sua salvação.
A baixinha não conseguia muitos encontros, não tinha curvas chamativas, tagarelava sobre coisas que os homens não se interessavam e, por incrível que pareça, seu melhor amigo era um alien. Dionísio, um projeto semelhante a ossada de um cachorro, com rabo de lagarto , patas rastejantes e que faz um barulho esquisito; se parecia muito com ela. Deslocado e feio. Foram feitos muitos estudos, mas o mundo não estava preparado para simplesmente sair aceitando uma vida diferente. Ainda estão desenvolvendo muitas coisas e o projeto fertilização, que alimentava de forma positiva ambos os lados, precisava ser iniciado. Os humanos teriam tecnologia e os Starianos mulheres, mas qual mulher iria primeiro?
Elaine se enrolou na toalha recordando-se do dia em que aceitou esta loucura e a feia estudiosa que tinha como companhia um goma alien e um bioscópio, tornou-se o centro das atenções. Não para os humanos, claro, eles a acham louca, mas os Starianos a endeusavam. O futuro de Starian estava no dever da sua xereca. Era o emprego dos sonhos, ela só tinha que dar! E naquela ansiedade gostosa, a última quinzena de adaptação no planeta rosado, onde sempre é noite de um lado e dia do outro, acabou e ela estava preparada para o seu futuro.
— Oi, querido… — ela fez uma pose nada sexy em frente ao espelho embaçado do banheiro, colocou a ponta do chanel atrás da orelha e vestiu os óculos que aumentavam os olhos para permitir que ela enxergasse direito — Não, tá muito artificial. — ela alisou a toalha, deu dois passos para trás e abriu o pano de uma única vez, mostrando as tetinhas bicudas, a xereca lisa e o corpo nu. Ela deu uma virada nada sexy e tentou de novo. — Oi, querido!
Elaine tinha muitas formas de ensaiar seu futuro ritual de acasalamento, vinha planejando a um bom tempo, mas achava que podia melhorar. Justo hoje, o dia em que sairia do confinamento de quarentena, estava ansiosa demais e não gerava bons resultados. Estava nervosa, teria um namorado, alienígena, mas teria e estava sentindo que faria cocô te tanto nervoso, ou será que estava para ter uma má digestão exatamente hoje?
A jovem se preparou para tentar mais uma vez, dessa vez jogou a toalha no chão e balançou os peitinhos, fez um olhar assassino para o espelho e quando abriu a boca, sentiu o calor da onda quente empurrar o seu corpo, e seu peso fora lançado contra a parede oposta, fazendo-a estourar para fora do alojamento. Ela gritou de susto, saiu rolando pelada dentre os estilhaços e sentiu dores, muitas dores. Quando menos se deu conta, estava entortada e as vistas de alguns humanos e alienígenas.
Ao lado de quarentena, um grupo de soldados se colocava à postos, enquanto uma patrulha tentava alcançar a fêmea do experimento. Elaine começou a se mexer devagar, mas quando levantou os olhos viu duas criaturas grandes vir ao seu alcance. Alguma coisa foi lançada à distância e os jogaram para longe, impedindo-os de ajudar. A miúda sentia a brisa Stariana tocar sua bunda, o banho que tomou foi para “as picas” e alguém estava tentando matar a peladona.
— Por Starian! — gritou uma voz altiva, grave e estrondosamente aterrorizante. Elaine se virou de um modo cego, os fundos de garrafa estavam tortos, então um olho via uma mancha embaçada o outro via um ser prateado levantando o que parecia um martelo gigante.
Ela arregalou os olhos, achou que ia virar uma amassado naquele momento, abriu a boca e berrou a todos os pulmões. Quando o martelo desceu, ele bateu contra um tronco duro e corpulento, uma massa azul musculosa que quase esmagou a miniatura humana e impediu que a nanica recebesse o golpe. Elaine parou de gritar, olhou para o rosto que recebeu a pancada e imediatamente a música de Lionel Richie começou a tocar, ao menos na sua cabeça.
“Say you, say me.
Say it for always
That's the way it should be”
Pela vista do seu olho bom, Elaine via um gigante azulado de dentes afiados, músculos grossos e feições duras, como o herói da vez. E quando colocou a mão na cara para arrumar a lente no rumo do olho certo, viu a criatura cerrar os dentes ao receber uma segunda pancada, mas nesta ele foi rápido. O azulado gigantes se virou com força o suficiente para segurar os cabos do martelo, puxou o objeto preto ao pulso do Stariano prateado, mantendo-se de pé e chutou o inimigo. A criatura cambaleou levemente para trás e rosnou para o azulado. Tudo aconteceu em câmera lenta, ao menos aos olhos de Elaine, onde a pelada no chão admirava o ato heróico aos fundo de uma música romântica em sua cabeça, esquecendo-se da sua nudez, do perigo e da noção.
— O Capitão Paladimus é um traidor quando decidiu manchar nossa raça com o sangue inferior! — o inimigo rosnou altivo — Morra em nome dessa vergonha!
O azulado mate-vê impassível, quando o prateado simplesmente se lançou diante o gigante azul. Ele segurou o inimigo sem muito esforço, pegou o machado de corte duplo acoplado no uniforme a suas costas e transpassou o corte na linha do pescoço do adversário. A cabeça do prateado minou o caldo roxo, o sangue Stariano e o tronco do corpo cedeu, enquanto o azulado segurava a cabeça mórbida em seus dedos.
Elaine estava a visão da desgraça, dolorida sobre o entulho, enquanto uma equipe de alienígenas desistiu de ajudá-la para assistir ao feito heróico de Volkon. Ela só não contava com seu olhar pesado para si, como se este tivesse nojo, ou raiva, e de um modo meio sem graça, ajustou os óculos engolindo com dificuldade no meio de sorriu fraco.
— Oi… querido… — sua voz era um traço fino, indecisa sobre como reagir.
— Paladimus, recolha sua fêmea. Ela está nua! — o capitão desviou os olhos para quem deu a ordem, rodopiou o machado com graça em uma única mão e o prendeu com força ao chão fincando o corte no concreto, abandonou a cabeça morta e desceu as vistas para o corpo miúdo da mulher — O que está esperando, quer que um de nós a toque? — insistiu a voz firme.
O azulado rosnou com desgosto, tocou nas abotoaduras do uniforme e expôs o tronco forte, livrando-se da roupa e o esticando para a mulher caída nos escombros. Elaine que planejava tanto seu primeiro encontro não esperava por esta situação. Envergonhada, ela tentou se mover, sentiu dor e deixou escapar um gemido fraco e como quem absorvia paciência de muito longe, o gigante Paladimus estendeu a blusa grande sobre o corpo da miúda, nada falou e coletou o alvo de seu experimento em seus braços.
Elaine sentia vontade de chorar. Sentia os braços do Stariano lhe tocar, encostar seu corpo miúdo ao dele enquanto ela era a cara da desgraça. Havia tomado banho, mas estava suja e empoeirada, com os cabelos parecendo penas de galinha desnorteada, os óculos estavam quebrados e tudo o que tinha era uma roupa Stariana tampando suas partes. Quando menos esperou, deixou uma lágrima escapar e escondeu o rosto no peito azul e quentinho. Estava com vergonha… Sonhara tanto com este dia, mas agora estava morta de vergonha.
Volkon olhou para baixo, estava estourando ódio por suas narinas por ser chamado de traidor e não era a primeira vez. Desde que fora designado ao projeto fertilização andava tendo de lidar com a raça que insistia em dizer que matar os humanos era a solução. Volkon achava desnecessário se submeter a espécie na qual ele não tinha muita paciência em lidar, não concordava com os termos em que estava, mas acima de tudo, era leal. Ele foi e é um Capitão, ir contra o projeto era ir contra Starian, Galak deixou isso bem claro. E não estava em suas intenções se tornar um rebelde, não depois de alavancar seu nome como já o tinha feito.
O caminho foi aberto, uma equipe se juntou ao seu lado guiando-o para onde ir enquanto Galak, o general e Savage, o soldado arroxeado, se aproximaram, ainda com sinais de alerta.
— Pegamos mais um deles. — anunciou Savage, com marcas de sangue roxo sobre suas cicatrizes.
— Chegou a tempo. — Galak anunciou olhando a fêmea encolhida e chorona, com o rosto escondido nos braços de Volkon, vendo parte de sua nudez exposta — Vejo que conseguiu protegê-la.
Volkon notou o olhar curioso de Galak, sentiu que devia arrancar seus olhos, mas não ia dar o gosto de agir como um macho territorialista para os seus colegas. Já bastava ser chamado de traidor e por ele, daria a humana para um voluntário e passaria essa responsabilidade a outro, sem nenhum problema. Seus instintos mandavam marcar o que seria seu, mas sua razão ainda falava bem mais alto. Era ótimo em controlar sua natureza interna, então não cederia a um olhar ganancioso por uma raça ridícula como esta.
— Precisamos juntar o conselho, a informação de que o processo inicia hoje foi vazada, temos um informante e traidor entre nós. — contou Savage, sério, olhando para frente e acompanhando a caminhada.
Ao chegar diante a porta de acesso para a ala que daria suporte a fêmea, Galak deu um tapa no ombro do amigo, tentou conter os olhos e procurou manter seu interesse em Volkon.
— Fez um ótimo trabalho, agora faça a segurança de sua humana. Savage está com com Áries e Darius e vou lhe trazer informações assim que resolvermos isto. Fique atento, mesmo em processo de experimento, ainda é o capitão Paladimus.
Volkon apenas concordou, já que a esta altura já não tinha mais o que fazer. A porta foi aberta e ele entrou na ala de ajuda humano-alienígena, onde foi imediatamente recebido por uma equipe. Em pouco tempo depositava o corpo miúdo de sua humana sobre uma maca de atendimento, viu-a receber alguns panos para o seu socorro e a levaram enquanto seus olhos molhados não paravam de olhá-lo.
Ele tinha que admitir que fora um pouco difícil se concentrar nas palavras de Savage durante o caminho, sua humana tinha um cheiro bom. Mas era apenas isso, Volkon era um bom espécime e sabia apreciar o cheiro de uma fêmea. Nem sabe quando foi que o pensamento intrusivo tomou-lhe a mente, apenas observava o tamanho da humana se distanciando tendo certeza de que ele não caberia em nenhum lugar daquela criatura. De um modo geral humanos eram esquisitos e feios, podiam pelo menos lhe arrumar uma que ele coubesse dentro. Com certeza ele levaria a reclamação para o conselho e pediria uma troca. Já que deram um monstrinho para se enfiar, que pelo menos fosse do tipo que o cabe.
— Obrigada pelo que fez, capitão Paladimus. — uma humana sorriu ao se aproximar, uma médica que muito viu quando teve que vir apresentar seu corpo para uso da ciência — O primeiro contato necessitava ser mais amigável, mas vamos garantir que ela fique bem. — ela o olhava com um sorriso largo demais— Capitão, está me ouvindo? — a fêmea depositou sua mão no braço cruzado do azulado, ele sentiu o toque, desceu os olhos e rosnou.
— Guarde suas mãos. — a mulher recuou com a tonalidade hostil, viu o azulado dar meia volta e o mesmo foi atrás do seu machado.
Voltando a cena onde já recolhiam o corpo do invasor, puxou o machado pelo cabo longo, apoiou o peso do metal no ombro e procurou algo para entender como o inimigo pode ter chegado tão perto da zona restrita, a ponto de invadir a quarentena humana.
— Não devia estar com sua humana? — Áries, um capitão de guerra da mesma altura que Volkon cruzou os braços, enquanto mantinha o rabo escamoso em alerta. O espécime representava Braikor, sua raça e tinha uma trajetória tão poderosa e longa, quanto a de Volkon.
De todas as criaturas de Starian ele era a única raça que possuía chifres e rabo. Era horrível, mas forte. Havia raças somente de chifres, outra somente com rabos, mas com os dois, somente os Braikor’s de sangue puro. Volkon tinha boas lutas com o espécime, o vendo ceder uma única vez para Galak e claro, Áries era extremamente irritante. Talvez por isso, fosse o seu colega de trabalho mais chegado.
— Você não fica sem os teus chifres, eu não fico sem o meu machado. — Paladimus olhou ao redor e Áries sabia o que ele estava procurando.
— Fizemos uma checagem, não tem mais ninguém. — ele bateu no ombro do combatente e lhe lançou um sorriso brincalhão — Sinto muito por isso. Seria seu primeiro encontro, primeiro relatório, cara que má sorte! Estamos todos loucos para ter uma fêmea só para nós, você é o primeiro com testes positivos e justos hoje, um ataque dos rebeldes.
— Ficarei mais que honrado em lhe dar a graça do primeiro lugar. — resmungou com a brincadeira.
— Tudo bem, eu vou lá foder sua humana. — Áries arriscou, expandiu a arcada dentária e atiçou o instinto Stariano — Senti o cheiro dela de longe. — Volkon rosnou, involuntariamente e o vermelho sentiu-se satisfeito — Olha, você também sentiu? Não era bom? Não te deu vontade de sugar tudo?
Volkon mal se deu conta quanto atiçou o machado contra o combatente, que segurou o corte com uma única mão, envolto pelo instinto territorial que lhe acometeu. Áries segurou o braço grosso do azulado que escancarava os dentes com as presas, e o vermelho se divertia com o resultado.
— É o instinto, meu nobre irmão. Estamos escassos de fêmeas. Marque a humana o quanto antes ou vamos nos matar de brigar. — Volkon simplesmente se achou um idiota e recolheu o machado sob o olhar cuidadoso dos demais — Ela ficou em isolamente por um bom motivo. Vê se não faz merda e salve Starian.
— Eu odeio esta missão. — resmungou o grandão azul..
— Que se dane. Não nos tornamos capitão para opinar, foi para servir. A opinião é uma honra que só o General Galak tem. — Volkon recolheu o machado e deu as costas para o amigo, irritado com a droga do sermão — Boa sorte, estaremos assistindo seus relatórios na primeira classe.
E Volkon respirou fundo, impaciente. Áries ainda o alcançou, tinha mais uma piada irritante para fazer, se não fosse pela presença de uma humana desastrosa e de traseiro nú, sair correndo em frente aos dois.
— Dionísio! Dionísio! — ela se quer os viu, gritando por alguém que Volkon não fazia ideia de quem se tratava.