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Capítulo 3

Beatriz

Acordo e olho no relógio e são 3h24min da manhã.

Fico simplesmente lembrando os piores momentos da minha vida.

Hoje faz mais um ano desde o meu primeiro estupro.

Meus pais pediram que me arrumasse pois teria uma surpresa, eu - como qualquer outra menina de 13 anos que anseia o amor e carinho dos pais - fiquei eufórica, mamãe pediu que eu pusesse uma saia e um top para ficar bonita. Fiz como ela pediu.

Tinha somente 13 anos mas já tinha curvas e seios grandinhos. Me preparei, botei uma saia branca de pano e um top preto e sandálias rasteiras, deixei meus cabelos compridos soltos que na altura ainda eram loiros.

Saí do quarto pequenino que dormia com minha irmã em direção a sala, a casa estava vazia e escura, estranhei mas esperei minha surpresa. Uns 5 minutos depois um homem de aproximadamente 40 anos entrou dentro de casa me olhando escuro. Me assustei e afastei, ele começou a andar atrás de mim e corri pela casa, não demorou muito e me alcançou, me levou para um dos quartos e me amarrou na cama com uma corda que tinha por ali. E ali começou meu pesadelo.

Naquele dia eu descobri que a mais alta expressão da dor consiste essencialmente na alegria...

Quando fiz 14 anos descobri que meus pais foram os culpados por isso. Mudei desde então! Aos 15 fui estuprada novamente por mais dois homens, no mesmo dia em que aconteceu pela primeira vez. E hoje faz mais um ano desde isso.

No meu aniversário.

Como pais conseguem fazer isso com seus filhos?

As pessoas foram criadas para serem amadas e as coisas para serem usadas. O mundo está tão perdido pois as coisas estão sendo amadas e as pessoas estão sendo usadas. Como eu fui!

Me levanto de manhã feito uma zombie e vejo que já são 10h. Vou pro banheiro, tomo banho, me seco, visto uma lingerie preta, vestido preto com um cinto na cintura cheio de picos metálicos, um casaco leve de couro preto, faço um risco no meio do cabelo e o escovo para os lados. Passo delineador nos olhos, pinto sombras pretas, passo lápis e um batom preto. Coloco minhas botas de couro com picos e pego num baseado fumando todo ele em segundos.

Chego na sala e vejo que Bella e Juliana me olham com receio sem saber se me desejam feliz aniversário ou não por saberem do que aconteceu.

- Não. Estou só a espera do dia acabar! Vou sair. - digo me dirigindo a porta e saio.

Cansada de chorar pelas estradas, exausta de pisar mágoas pisadas, hoje eu carrego a cruz das minhas dores.

Sigo para o cabeleireiro e pouco tempo depois tenho o cabelo todo pintado de preto novamente. Pago e saio.

Chego a casa e fico num papo com Bella e decidimos ir ao " Bar dos Estranhos ". Dou um beijo na minha irmã e saio.

Chego lá e o clima está maneiro, tocava uma música melancólica no fundo - o mundo critica quem leva esta vida, acham que veneramos a morte, mas não, nós apenas vemos a morte como algo que nos faz perceber que a vida sim tem um fim! Encontramos poesia e beleza em coisas tristes, melancólicas ou o que para muitos é sinistro ou soturno. Triste época, onde é mais fácil desintegrar um átomo do que acabar com o preconceito.

Eu e Bella nos servimos de tequila e conversamos. Não escondo o facto de me inclinar um pouco mais para coisas obscuras e parecer tão gótica, mas no dia-a-dia sou Beatriz - a menina que adora preto - mas aqui eu posso ser quem eu sou! Beatriz a garota que adora o escuro pois é na noite mais escura e sombria que somos capazes de enxergar as estrelas.

Ficamos bebendo, conversando, fumando, quando dei por mim faltava 1 hora para o amanhecer, a noite é mais escura um pouco antes do amanhecer e eu adoro isso. Saí do bar e fiquei no beco apenas observando o céu.

Vejo um carro parar e um homem forte sair dele. Ele fala algumas coisas mas o ignoro.

- Hey moça! Tá me ouvindo? Além de viver como uma aberração é surda? - ele pergunta e me irrito profundamente!

- Se eu fosse perfeita não seria real, a verdade é que todas imperfeições são reais e por isso tem valor, mas mesmo assim se desvalorizam ao se mostrarem totalmente imperfeitas. Pelo menos eu vivo como gosto, sou livre! Você fala por eu ser diferente de você, mas eu me rio por você ser igual aos demais! - digo e me viro indo embora. Pesco meu celular e ligo para Bella avisando pra ela me encontrar em casa.

Entro em casa e tomo banho, me seco, coloco calcinha e um pijama. Me deito na cama ao lado da minha irmã e durmo.

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