5-Vincent o novo Don?
Logo todos estávamos reunidos na biblioteca. Antony explicou novamente a situação. Vitor, pensativo, perguntou para nós:
— Onde está papai?
— Ele deixou tudo nas mãos de Vincent.
Vitor me encarou por um momento, sério, e depois saiu da biblioteca.
Ele estava aborrecido com seu pai. Era sabido de todos que ele almejava estar à frente da família. Mesmo que soubesse esse tempo todo que Vincent ficaria com o posto. Mas aquele resquício de esperança ele sempre guardava no peito: que seu pai mudasse de ideia.
Mas agora, com a atitude de Don Salvatore, a contrariedade gritou mais alto. Além de achar muito cedo que Vincent assumisse tudo sozinho.
Ele considerava isso um fracasso nos negócios. Especialmente quando tudo indicava que a carga fora roubada. Esperava agora que tais erros fossem corrigidos naquela reunião por seu pai.
Ao ver Vitor sair da casa carrancudo, Don Salvatore se levantou e foi ao seu encontro. No meio do caminho o alcançou.
— Perdoe-me, papai. Mas acho que é muito prematuro Vincent assumir os negócios. Como podemos ter êxito se o senhor não está lá para apoiar as decisões? E os soldados se sentirão seguros com a resolução de Vincent? O senhor sabe que precisamos de sua autoridade, as duas coisas andam de braços dados. Nossa família deve dar um passo com base em sua força.
— A partir de hoje, Vincent assumirá os negócios. Quero que ele tenha força. Se eu interferir com minhas opiniões, ele perderá isso. Ele tem habilidade suficiente para agir e recuperar o carregamento. Todos viram como ele teve muita facilidade em aprender toda a complexidade do negócio da Família.
Vitor acenou com a cabeça.
— O senhor está dando a ele um voto de confiança?
— Vitor, ele há muito tempo já o tem. Só você que não enxergou ainda.
Ele permaneceu calado por muito tempo e depois suspirou. Finalmente, falou:
— Tudo bem, pai. A verdade é que sempre almejei ser o novo Don. Vincent sempre desprezou isso. Não sei por que insiste com ele?
— Há certos deveres que o homem certo deve assumir. Seu irmão tem o perfil.
— Pai, o que meu irmão tem que eu não tenho?
Don pegou o ombro do filho.
— Frieza, lógica, mas muito mais que isso, instinto. Seu irmão vê longe.
O rosto de Vitor ficou vermelho, mas ele aceitou a opinião de seu pai humildemente.
— Muito bem — respondeu.
Enquanto isso, na sala da biblioteca, eles esperavam a presença de Vitor na reunião. Antony, sentado num grande sofá. Vincent em frente à janela, observando seu irmão e seu pai conversarem. Os soldados num outro canto, já impacientes.
Quando Vitor finalmente entrou na sala, avistou Vincent, habitualmente sombrio, com sua cara de granito, encará-lo.
— Perdoe-me, Vincent. Podemos continuar a nossa reunião.
O mais novo Don estudou os rostos dos homens à sua frente, os homens mais poderosos da sociedade ilegal.
Vincent
— Bem sei que o tempo começa a escassear. Precisamos agir logo. A minha proposta é a seguinte: Rubens espalhará a notícia que a família que encontrar o carregamento, além de receber 1% da mercadoria, se tornará um associado nosso.
Vitor se moveu em minha direção.
— Não acho uma decisão sábia. Associado? Você está louco, Vincent!
Eu encarei meu irmão.
— Eu ainda não terminei meu raciocínio, Vitor!
Meu irmão assentiu com a cara amarrada.
— Faremos também um trabalho investigativo. Rastrearemos o trajeto da nossa carga, e cada ponto em que ela parou até sumir. Enzo, você será responsável por isso. Rubens, você ficará responsável em observar a venda de drogas nas ruas. Coloque um dos nossos homens para se infiltrar como usuário. A família que for responsável pelo roubo da carga logo começará a vendê-la.
— Isso é outra coisa que não entendo! — Vitor disse, cruzando os braços. — Como saberemos que a droga é nossa?
Eu encarei Vitor.
— Nossa droga não é igual às outras.
— Como assim?
— Eu pedi para colocar microbolinhas de colorante. É só misturar com água e a coca fica vermelha.
Vitor direcionou seus olhos para Rubens, que sorria.
— Rubens, você sabia disso?
— Sim. Achei uma ideia genial.
— Por que você não me contou, Vincent?
— Não achei necessidade de te falar. — Eu me virei para todos. — Nós tomamos muitas ações desde a morte de nosso irmão. E isso foi entendido por todos como um ato de retaliação aos Sebastians pelo que fizeram. Essa mensagem foi enviada a todas as famílias, os Sabatinis, os Solomons e Berrines. Desde então essas famílias nos respeitam e desejam se associar a nós. A oportunidade que estaremos oferecendo às famílias para acharem o carregamento, demonstra claramente que estamos abertos para uma nova associação.
— Papai nunca permitiu associação nenhuma com outras famílias no tráfico e nem na comercialização das drogas. Por que isso agora? — Vitor questionou.
Um silêncio se formou, cheio de tensão. Eu respondi com serenidade:
— Eu tive uma conversa com papai — repliquei para Vitor, que me encarava com frieza. — Esse foi o último carregamento de droga que fizemos. Estamos saindo do ilícito. Usaremos uma das famílias para isso. Passaremos os nossos contatos, tudo. Eles farão esse serviço sujo, em troca teremos uma porcentagem de tudo que eles venderem. Estaremos nesse negócio indiretamente.
Silêncio novamente, desta vez mais hostil do que o último, e eu percebi que tinha tocado em um ponto crucial.
— Por que me deixaram de fora disso? — Vitor gritou.
— Vitor, é um absurdo achar que te deixei de fora! — respondi, me sentindo ofendido.
Antony pegou o braço de Vitor.
— Vitor, você está agindo como se Vincent fosse um estranho. Não percebe?
— Deixe-o! — eu disse para Antony, me afastando da janela e indo em direção a Vitor.
A poucos metros dele, eu parei.
— Você estava com seu filho no hospital, lembra? Nesse dia tivemos essa reunião. Ninguém está te tirando dos negócios. Tudo que faremos é para o bem da família. Você entende isso?
Vitor não respondeu.
— A reunião acabou. Saiam todos. Vitor, fique!
Quando todos saíram da sala, eu encarei Vitor.
— Sei que está chateado. Sei que sempre desejou estar à frente dos negócios. Não lhe tiro a razão. Eu fiquei afastado por dois anos enquanto você deu duro ao lado de papai. Eu não pedi para estar aqui. Você bem sabe disso! Se eu tomei à frente dos negócios, foi apenas para deixar nosso pai feliz. Eu preciso de você! Quero você como um aliado. Temos o mesmo sangue. Eu gostaria de saber se posso contar com você?
Vitor contorceu o rosto, franziu os lábios, e disse, resignado:
— Vincent, eu não quis passar essa impressão. Sei que papai escolheu bem. Esqueça o que eu disse.
Eu acenei com a cabeça.
— Ótimo.