08 - Última vez
-Gata... Me desculpa ! Falei entrando novamente no apartamento dela.
-Vai embora Rafael ! Você não tem noção da raiva que eu estou para ter a coragem de voltar aqui.
-Calma, vamos conversar... Eu não quero terminar assim.
-Eu quero ! Na verdade eu não tinha certeza, mas essa sua atitude e a sua insinuação ridícula me fizeram não ter mais dúvida de que do que devia fazer.
-Eu falei na hora da raiva, já te disse que tenho dificuldade para controlar... Falei besteira, mas eu não quero te perder. Me perdoa, eu gosto demais de você menina !
Ela baixou um pouco a guarda e também o tom de voz.
-Rafael, eu gosto de você, gostei desse tempo que passamos juntos, mas o que eu falei é a mais pura verdade... Nós não temos futuro nenhum juntos !
-Vamos continuar como estava, sem nenhum compromisso... Só curtir um ao outro. Falei chegando perto do sofá onde ela estava e me sentando do outro lado.
-O problema é que entre o meu pai e qualquer outra pessoa no mundo, eu sempre vou escolher ele ! Então me entende por favor... Eu não posso ficar com um membro da maior facção do Brasil sem que isso interfira na minha relação com ele e ainda o faça sofrer seu maior desgosto.
-E se eu parar ?
-Você me falou desde o primeiro dia que não dá para parar, não pode sair...
-Eu sei, mas meu primo é o chefe do morro, eu posso tentar.
-Ele é o chefe do morro, mas não é o chefe de tudo ! Isso aí que você se envolveu é uma organização criminosa gigantesta, seu primo é só uma pequena peça do quebra-cabeça.
-Eu sei perfeitamente disso... Muito melhor que você inclusive ! O PCC é a mais forte e perigosa do país.
- Então não fala bobagem... Querer sair é assinar seu atestado de óbito !
-Emília... Seu pai não precisa saber, a gente arruma outro lugar para se encontrar, eu compro um apartamento aqui perto, sei lá.
-Quais seus planos de vida ? Quer casar, ter família ?
-Não sei... As vezes eu penso que sim, mas nessa vida que eu levo é complicado envolver criança.
-Esse é o ponto que eu queria chegar... Eu quero casar, ter filhos ! Já tenho 25 anos, não posso ficar parada em uma relação que não vai me dar o que eu quero para minha vida, além disso eu não quero mais ficar escondendo as coisas do meu pai.
-Você não devia ter desenrolado essa situação comigo até chegar nesse ponto... Agora que para mim é tarde demais para voltar atrás você quer sair fora ? Você sabia desde o começo quem eu era, já sabia que nunca ficaria comigo de verdade, então devia ter parado logo no começo.
-Tarde demais por que ?
-Porque eu amo você ! Não dá para "desamar" de uma hora para a outra.
-Eu errei, te peço desculpa por isso... Eu só não imaginava que ia crescer tanto, pensei que entre nós só rolaria uma ou duas noites de prazer e pronto !
-Mas foram muitas... Muitas noites...
-E foram delisiosas... Por isso não consegui parar.
Ouvindo essas palavras dela, eu vi uma possibilidade de tentar mais uma vez, então me levantei e fui até ela.
-Então vamos ter só mais uma noite deliciosa ? Uma despedida... Falei já partindo para cima dela.
-Rafa...
-Vai ser a última vez gata... Depois eu vou embora, te prometo.
Antes que ela respondesse eu a beijei, pois pensei que se ela me retribuísse, provavelmente essa história de terminar iria por água abaixo.
Ela correspondeu o beijo e ali mesmo no sofá eu a peguei de jeito... Exatamente como ela gosta !
Eu não quero perder essa mulher... Não posso perdê-la ! Nunca gostei de ninguém como gosto dela.
Além de ser linda e muito gostosa, ela é gente boa demais ! Nunca me julgou, nunca me recriminou... Ela não é como o pai, tenho certeza de que se não fosse por ele, ela ficaria comigo numa boa.
....
Acabamos dormindo no sofá... Acordei de madrugada com um pouco de frio e vi que a porta da sacada estava aberta.
-Gatinha... Vamos para cama, aqui está frio ! Vem eu te levo.
Peguei ela no colo e fui indo para o quarto, mas ela despertou no meio do caminho.
-Que horas são ?
-Quase três da manhã... Acabamos dormindo na sala, mas esfriou um pouco, melhor vir para a cama.
-Você não pode dormir aqui ! Falou assim que entrei no quarto.
-Eu saio amanhã cedinho.
-Eu não quero correr riscos... Você tem que ir agora, por favor !
Nem falei nada... Voltei para a sala, me vesti e ela nem ao menos me disse tchau antes de eu sair.
É... Acho que para ela essa noite realmente foi a nossa despedida ! Porém eu não vou desistir.
Quando se encontra uma mulher como a Emília e tem a chance de tê-la nos braços, não se pode deixar escapar por qualquer coisa... Ela é minha e não vou deixar nada mudar isso.
Esse pai é uma pedra no meu caminho, porém eu sempre fui o tipo de pessoa que chuta pedras pequenas e quebra as grandes no chumbo... Se for preciso faço o seu Jorge "sumir" sem qualquer pista.
O único obstáculo entre a Emília e eu está sendo esse velho conservador de merda ! Porém eu não sou homem de perder.
Disse a ela que falei sobre a "forma de amor" dele na hora da raiva, mas na verdade eu realmente pensei sobre isso... Talvez ela não perceba, mas exista da parte dele algo diferente ao amor de pai.
Já vi casos assim lá no morro, pai negando a filha para o mundo, pois a queria só para ele.
A Emília não percebe que o jeito que esse homem age não é normal... Como pode controlar dessa forma uma mulher adulta ?
Porém se ele ficar no meu caminho, eu tiro !