Viktor

Abro os olhos quando o sol forte adentra pelo meu quarto, me fazendo resmungar.

-Acorda meu filho ! Você está dormindo há mais de dez horas.

-Yelena por favor... Fecha isso ! Respondo cobrindo meu rosto com o travesseiro.

-O que foi que você aprontou ? Tem um pouco de roupa nesse monte de sangue.

-Não seria ao contrário ?

-Não... Porque para eu conseguir ver um pouco de tecido aqui estou tendo bastante dificuldade. Disse ela me mostrando minhas roupas repletas de sangue.

-Esquece isso nyanya... Você não vai querer detalhes, eu te garanto.

Acho melhor mesmo, para mim você é apenas meu menino.

-Então deixa o seu menino dormir enquanto eu posso.

-Sua mãe está te ligando desde cedo.

-Mais um motivo para eu não levantar. Eu disse fazendo careta e ela sorriu.

-Viktor, você precisa parar de tratar sua mãe assim.

-Minha mãe é você, eu só fui gerado na barriga dela.

-Ouvir isso muito me alegra, mas de qualquer forma ela vem tentando.

-Tá bom... Vou pensar no caso.

Yelena apenas balançou a cabeça em sinal negativo e saiu do quarto levando as roupas lotadas de sangue de um informante da FSB que estava infiltrado no meu pessoal e eu descobri... Coitado !

Enfim... Na verdade ela sabe que eu não vou me dar ao trabalho de pensar em nada que venha da Olga, pois desde que ela teve a coragem de me entregar aos treinamentos da máfia que eu tenho ódio dela.

Do meu pai eu não esperava nada mesmo, dentro daquele homem nunca existiu nem sombra de qualquer sentimento, mas de uma mulher que se diz mãe, ser conivente com o que fizeram comigo eu não consigo aceitar.

Tenho um meio irmão, filho do meu pai com a primeira esposa que morreu, ele se chama Ivan e sempre quis ser o sucessor do meu pai, porém o don Rurik me escolheu, a Olga também não admitiu ter o filho "bastardo" do meu pai no poder e preferiu me entregar aos lobos.

Assim desde que eu era ainda um adolescente fui submetido a treinamentos terriveis, eles fizeram eu me tornar sem querer a cópia piorada do meu velho, eu aprendi na marra a não ter sequer um pingo de compaixão e piedade.

Porém algo que eu tenho, mas meu pai nunca teve é senso de justiça... Costumo dizer que não sou mau ou bom, sou justo dentro das possíveis possibilidades.

A única pessoa no mundo que eu amo de verdade é a Yelena, minha nyanya (babá) desde que nasci e que está comigo até hoje ! Prometi a ela que vamos ficar juntos até o ultimo dia da sua vida, e quando esse momento chegar essa parte boa em mim vai morrer também.

Porém existe uma outra pessoa por quem eu tive sentimentos no passado e que pretendo encontrá-la novamente, pois esses sentimentos ainda existem.

Emília Morales!

Eu era pequeno e ela ainda menor, mas lembro que era linda, lembro de segurar nas suas pequenas mãozinhas nas festas que nossos pais faziam e também de que ela era minha prometida em casamento.

Sim, desde criança ela é minha !

Sempre quando penso nela me vem a cabeça a voz do seu pai dizendo: Cuida bem da Emília, ela vai ser sua esposa um dia...

Então eu pegava sua mão e saíamos brincar juntos naquela mansão imensa onde ela morava na Colômbia.

A Yelena me contou tudo sobre como os seus pais foram assassinados e que ela sumiu na mesma noite que a família toda morreu... Quem também sumiu foi o braço direito do pai dela, Jorge Rodriguez !

Ele provavelmente fugiu levando a pequena, que era sua sobrinha e afilhada.

Nunca mais se soube nada dos dois... Eles desapareceram no mapa e eu acabei ficando sem a minha bonequinha.

Nunca esqueci daquela garotinha, mas o tempo passou e ela foi ficando apenas na lembrança, até que uns meses antes de morrer meu pai veio me dizer que estava na hora de eu me casar.

Naquele instante pensei na Emília, mas don Rurik já tinha planos... Queria que eu me casasse com a Kate Vasiliev que é filha de outro aliado seu, minha sorte foi que ele infartou antes de me obrigar a ficar com essa criatura arrogante e sem graça.

Quando a história de casamento veio a tona, resolvi procurar a minha noiva verdadeira e coloquei meus homens a sua procura.

O Jorge foi inteligente, trocou os sobrenomes, as datas de aniversário, limpou seus rastros o máximo que pôde, mas eu vasculhei até no inferno para achar as pontas soltas que ele deixou, levou tempo mas descobri para qual nomes eles mudaram e em qual país, estado e cidade foram morar quando saíram da Colômbia.

Porém não descobri se ainda estão no mesmo local, mas está faltando muito pouco... A Emília está quase ao meu alcance, acredito que até o final do dia eu já tenha essas informações.

....

-Patrão... Licença !

-Pode entrar Yerik. Respondo parando de organizar uma lista de desafetos que preciso resolver em breve.

-Eu achei o que o senhor pediu.

-Eu te pedi diversas coisas essa semana... Do que está falando exatamente ?

-Da moça que o senhor procura...

-Emília !

-Sim... Ela ainda mora no Brasil e na mesma cidade de vinte anos atrás, achamos o pai primeiro e depois achar ela foi fácil.

-Vou para o Brasil amanhã !

-Então... Mas tem um problema...

-Qual problema ?

-Ela namora um membro do PCC.

-E eu lá tenho medo de bandido ?

-Ele é primo do dono de um morro lá, na verdade é mais que um membro.

-E eu sou o dono da máfia russa... Pelo menos para algo de bom esse titúlo tem que me servir !

-O senhor não acha que vai dar confusão ?

-Acho que vai sim, mas pode preparar tudo, pois nós vamos viajar amanhã...

-Quem vai ? 

-Eu, você o Niko e mais quatro dos nossos melhores seguranças.

-E o Mikhael ?

-Ele fica... Precisa manter tudo funcionando na minha ausência junto com o Ivan.

-Ok patrão... Vou providenciar tudo. Falou saindo da minha sala.

Já sozinho, eu suspirei fundo... 

-A minha bonequinha está muito perto agora ! Falei lembrando dos seus grandes e lindos olhos.