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05

Meu coração está apertado. Estou sendo levada a um lugar que não conheço.

Estou chorando em silêncio para ele não ver. O que será de mim agora? Serei serva dele?

Chegamos a sua enorme mansão. Ele mora no centro da cidade, na única mansão que tem aqui em Hurries, e parece que ele prefere usar a moda antiga: carroça e cavalos, em vez de automóveis. Mas, como nossa cidade é pequena e mais pobre, ninguém tem condição de comprar carros, somente cavalos, mas pelo que vejo quando chegamos em sua linda mansão, Jones tem varias carroças lindas, cavalos e ele tem um carro também, mas ele deve gostar mesmo da moda antiga.

Ele desce e me ajuda, eu estava tão nervosa que nem lembro se agradeci, mas ele também não fez questão. Por alguns segundos ficamos os dois ali, se encarando, um sem saber o que dizer ao outro, e então, ele desistiu primeiro de dizer algo e se afastou.

O homem negro carrega algumas malas que ele pegou no meu quarto, sem permissão, nós andamos em direção à mansão.

Jones se aproxima de mim novamente e me estende o braço e por alguns segundos não sei se devo aceita-lo. Uma parte de mim quer fugir dali, escapar daquela situação, mas engulo em seco e aceito ser guiada por ele para dentro da casa. Não sei porque faço isso, porque aceito ser levada, mas minha mente está muito confusa naquele momento.

Entramos na mansão e fico boquiaberta.

Admito que é um lugar lindo.

Ele é rico, e tem tudo o que quer. Mas por que? Por que se interessou em me comprar? Por que meu pai me vendeu?

Fico mais triste pensando sobre isso.

Ele me conduz até sua luxuosa sala e diz após se sentar.

— Deseja algo?

— Ir embora.

Respondo como uma garota mimada e ele ri da minha resposta.

Me sento no sofá, mas bem longe dele.

Ele suspira um pouco e se refere a mim.

— Bem, Lúcia. Você pertence a mim agora, ele ficará de olho em você quando eu não estiver aqui.

Ele aponta para o grandão que atacou meu pai. E começa a falar novamente:

— Você vai ajudar nos afazeres da casa. Minha governanta irá te orientar, caso tenha dúvidas. Não se preocupe, eu lhe pagarei um salário por isso.

Então eu seria uma faxineira na casa? Tudo bem, eu poderia lidar com isso. Em casa eu era responsável pela limpeza e eu gostava de fazer tal serviço.

Ele disse que me pagaria um salário. Uma parte de mim quis perguntar quantos, mas não tive coragem naquele momento, mesmo assim, a ideia de ter algum dinheiro me animou, pois poderia enviar o dinheiro pra casa.

Eu não confiava que meu pai se lembraria de comprar comida, roupas ou outras coisas para meu irmão.

— Eu... eu não preciso do dinheiro, prefiro enviá-lo todo ao meu irmão. — Disse ao Sr. Jones, gaguejando um pouco no começo devido ao meu nervosismo.

— Você tem certeza disso? — Ele me questionou e eu acenei que sim com a cabeça. — Tudo bem... Continuando: você também irá me acompanhar em minhas viagens e afins. — Ele continuou a falar. — Terá seu quarto, mas caso me desobedecer será punida.

O modo que ele diz a sentença final, sobre ser punida, parece ser carregado de uma atmosfera sexual e eu fico sem saber como reagir naquele momento, além de engolir seco.

— Punida...de que forma serei... serei punida? — Pergunto, gaguejando pela tensão no ar.

— Você saberá de que forma será punida... e vai gostar.

Ele ri após terminar a frase e aquele riso desperta em mim sensações estranhas. Não quero nem imaginar que punições eu terei se o desobedecer. O que ele poderia fazer comigo? Olha só onde fui me meter.

Ele se levanta vem até mim, pede para levantar. Eu obedeci com certo medo da punição que ele recém comentou.

Ele me encara e diz:

— Muito bem, continue assim. Vou dar uma volta. Daqui duas horas esteja no meu escritório. Até lá, a governanta te mostrará a mansão.

Ele chega mais perto e cheira meus cabelos. Mas que… Inapropriado…

Eu fico parada o olhando. Ele alisa meus cabelos e se afasta. Me olha pela última vez e sai da mansão.

Ufa, até que enfim. Ele sabe como me deixar desconfortável. Nenhum homem chegou tão perto de mim assim, ainda mais que ele é bem mais velho que eu, e isso me assusta um pouco.

Após ele sair a governanta aparece ao lado da porta, ela me chama e me mostra a mansão. Tem três andares.

A casa é linda, toda limpa e organizada. É impecável.

Ela me mostra os quartos, que são muitos, me mostra a cozinha e as três salas que tem aqui, vejo onde fica o escritório de Jones, devo encontrá-lo daqui umas horas.

Conheço uma sala de jogos, tem sinuca e outras coisas que desconheço.

A governanta disse que alguns amigos de Jones frequenta sua mansão e eles jogam esses jogos.

Conheço todos os lugares, fico até exausta. Por fim ela me mostra meu quarto. Não é tão grande como o do Senhor Jones, mas é maior do que o meu antigo. Não tenho que reclamar, mas não quero ficar aqui. Como vou fugir e voltar para minha vida?

Não sei como. Estou me mostrando uma garota forte para minha idade, eu chorei na carroça mas foi de desespero por meu pai ter sido golpeado. Mas agora que estou só. Desabo no travesseiro em silêncio.

Papai, como o senhor está? Meu irmão… Não me despedi…

Como eles devem estar? Eu os verei?

São tantas perguntas que talvez nunca serão respondidas. Me sinto tão estranha. Fui vendida, meu pai me vendeu. Como pode tal coisa?

Desabafo em lágrimas, mas me lembro das frases da minha mãe. Vou fazer de tudo para sair daqui. Eu não pertenço a esse homem.

Ele não parece ser um homem muito bom, eu sinto isso.

****

Depois de ter tomado um banho eu vou até minha mala e visto uma calça e uma blusa larga. Nunca tive condições de ter boas roupas. Aquele cara que fez minhas malas colocou apenas quatro pares de roupas. Eu tinha dez, o resto ficou lá, mas eu irei voltar para minha casa, custe o que custar.

Chega a hora de me encontrar com Sr. Jones, vou até seu escritório, é no mesma andar que meu quarto, segundo andar.

A porta está aberta, eu entro e vejo o tamanho da sua biblioteca, é linda demais.

Fico babando nos livros e de repente eu pulo, o Sr. Jones entrou na sala. Céus que susto.

Ele sorri do meu susto e diz.

— Pontual, gosto disso. Se sente.

Ele ordena e olha para o sofá de couro que há ali. Eu me sento sem graça e ele avança e senta do meu lado. O ar está estranho, o que ele vai fazer?

Sr. Jones fica me olhando, de um jeito estranho. Por que ele está fazendo isso?

Eu deveria odiá-lo, então por que meu coração bateu tão acelerado naquele momento? Isso é tão estranho, eu não entendo.

— No que está pensando?

Ele me tira dos meus pensamentos e digo o fitando.

— Nada, você está me olhando estranho.

Ele ri e espreguiça no sofá e volta a me olhar de mais perto.

— Estava te admirando, mesmo que ainda tenha dezessete anos você está mais linda do que da primeira vez que a vi.

Eu fecho o semblante e viro meu rosto, mas ele pega meu rosto com sua mão firme e quente, ele está me mostrando quem manda, é ele. Nossos olhares se cruzam naquele momento, e eu posso sentir minhas mãos começarem a ficarem suadas, uma parte de mim quer desviar o rosto, eu me sinto estranha com ele me encarando tão fixamente, quase como se pudesse ler minha alma… E talvez, ele realmente pudesse.

— NÃO vire o rosto quando estou falando com você. Me entendeu?

Eu aceno com a cabeça e ele sorri e diz.

— Enfim. — Ele olha para minha roupa e continua. — Vou providenciar roupas para você, porque francamente, esses trajes são horríveis.

Ele debocha de mim e vê que fiquei mais furiosa, então ele fala:

— Não fique assim, só estou sendo sincero, oras. Enfim, amanhã virá alguns amigos e eu quero que você esteja comigo, fui claro?

Eu aceno e ele diz bravo:

— Quero escutar sua voz.

— Sim, eu entendi.

Eu respondo claramente e ele fala contente:

— Boa menina.

Ele acaricia meus cabelos e começo a recuar. Ele fica nervoso por ser rejeitado e diz alto e claro fixando seus olhos verdes sobre mim:

— Eu gosto de obediência. Não estou fazendo nada demais com você, Lúcia. Se você não me respeitar eu fico nervoso então por favor seja obediente. Eu gosto de disciplina, eu fui claro?

Ele me encara esperando minha resposta.

— Sim, foi. Me desculpe.

Digo com a voz baixa e com certo medo do seu tom de voz para comigo. Ele se afasta e diz após se acalmar:

— Vá ajudar com o jantar. Vá, suma daqui.

Ele diz alto e dou um pulo e me levanto e vou em direção à porta. Passo por ela e caminho até a cozinha.

Esse homem e seu par de olhos verdes não me deixará em paz nunca. Sei que vou enlouquecer, Senhor Jones me deixa confusa e não sei como reagir a isso.

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