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Capítulo 07

Respirei fundo, estralei os dedos e encarei a tela do computador, o aplicativo Word estava aberto há horas, esperando que qualquer palavra fosse digitada, mas nem me espremendo conseguiria sair algo bom.

Passei as mãos no rosto.

Tento recordar do que pensei quando escrevi aquele primeiro artigo, lembro de estar com os olhos cheios de lágrimas e o peito em ódio puro, odiando minha irmã mais que qualquer outra pessoa no universo.

Ódio era o melhor combustível, mas tudo o que eu sentia eram as borboletas no meu estômago, o calafrio na espinha e as mãos do Nial em mim.

Massageio minhas têmporas com um pouco de força.

Já passou dois dias, porém a minha memória parecia mais vivida que nunca.

Olhei para o computador novamente, o ponto de início piscando, implorando para eu escrever algo.

Fecho o notebook com força, apertando meu pescoço.

— Quer comer pizza hoje? — Aysha invade meu quarto. — Ficou o dia inteiro aí?

Assenti batendo a cabeça na mesa.

Aysha senta na minha perna, agarro sua cintura murmurando enquanto ela passa suas mãos no meu cabelo.

— Por que diabos ele não sai da minha cabeça? Acho que estou ficando maluca.

Ela segura meu rosto com às duas mãos.

— Você só está apaixonada.

Faço bico.

— Às vezes eu penso que foi coisa da minha cabeça, já nem sei mais o que é real. — Choramingo.

— Já procurei ele em todas as redes sociais, nenhum perfil tem as descrições que você me deu. — Ela franze os lábios.

— Ele foi super misterioso.

— Quem ele pensa que é? O Edward Cullen?

Estalo os dedos.

— Acorda, era óbvio que ele só queria uma transa bem dada.

Aysha assentiu.

— Você também, mas resolveu se apaixonar!

Empurro ela do meu colo, levanto da cadeira e me jogo na cama, frustrada.

— Tive uma ideia brilhante!

Olho para ela.

— Que tal nos irmos à mansão dele?

— Claro, nós vamos lá implorar que ele se case comigo. — Bufo. — Invasão de propriedade também é crime, sabia?

Aysha senta na borda da cama ao meu lado.

— Tenho certeza que a sua vergonha na cara não é maior que o desejo de vê-lo novamente. — Enfio meu rosto no travesseiro. Ela me cutuca — vamos logo, aproveita que ainda tenho gasolina no tanque.

— E se de nada adiantar?

— Pelo menos você vai ter mais inspiração, vamos... — ela faz beicinho.

Olho ao redor do meu quarto, estava trancada aqui desde aquele dia pensando no que poderia ser sido se pedisse o número dele.

— Certo. — Aysha bate palmas. — Mas não vamos fazer nada absurdo pra conseguir!

Ela pisca para mim.

— Sou discreta igual a um glitter.

Encaro-a pelo rabo do olho.

Aysha pegou a chave do carro e nós saímos, seu carro era um Ford antigo na cor azul, com certeza seríamos muito discretas.

Tinha alguns lapsos de memória, lembrei do caminho pouco a pouco enquanto Aysha dirigia. Minhas mãos começam a suar quando percebo ser o caminho certo para a casa dele, meu coração palpitava no peito.

— Que droga, estamos perto. — Resmungo.

— Esse caminho é perigoso, não ficou com medo daquele homem? — Aysha pergunta olhando para a estrada deserta.

Dei de ombros.

— Eu estava bêbada.

— Nunca mais te deixo sozinha, Cassie.

Quase perdi o fôlego, o mesmo portão preto da propriedade brilhando sob o sol, não tinha mais como voltar. Aysha estacionou o carro em frente, saí do carro com as pernas bambas.

Avistamos o interfone, nenhuma de nós tinha coragem para apertar.

— Você é uma frouxa! — Ela aperta o botão diversas vezes, aperto os olhos virando para trás. — Ele não está em casa ou é surdo.

Aysha anda ao redor do portão procurando alguma brecha, então ela para por alguns instantes.

— Uau — exclamou —, que casona. Ele não está, na verdade, está tudo vazio.

Alívio percorreu meu corpo, mas confesso ter ficado chateada por não ter sequer visto ele mais uma vez.

— Vamos embora. — Abro a porta do carona, mas Aysha permanece parada em frente ao portão. — Aysha?

— Quero ver como é lá dentro, não quer ver pela última vez?

Balanço a cabeça freneticamente.

— Pois eu quero. — Ela corre até um arbusto.

— Aysha! — Grito desesperada.

Olho para os lados, completamente deserto, então vou atrás dela. A mesma espreitava a casa por cima do muro através de um pequeno relevo.

— Você sabe que tem alarme de segurança, não é?

— Está desativado, se tivesse ligado já teria sido acionado. Caramba, deve ser um sonho morar aí. — Ela olha para o chão do lado de dentro. — Acho que consigo pular.

— Aysha! Por favor, para de ser maluca, você é viciada em adrenalina ou o quê?

Ela sorrir.

— Deixa de ser chata, vamos logo, ninguém vai nos pegar.

Antes que eu pudesse protestar Aysha já havia pulado, acenou para eu pular também. Respirei fundo. Subi no muro e pulei toda desajeitada, caí no chão desmantelada.

Aysha gargalhou enquanto me ajudava a levantar.

— Não tem graça.

— Vamos logo!

Fomos em direção à porta principal, não pude evitar olhar para a piscina com borda infinita, agora ela estava vazia com as luzes apagadas, mas não impediu que minha cabeça me levasse até aquele dia.

Aysha me puxa para dentro pelo pulso, a casa estava completamente vazia, não tinha mais nem as caixas.

Ela me lança um olhar penoso.

— Ele disse que iria se mudar em alguns dias, já teve de ter acontecido.

— Sinto muito, amiga.

Pisco algumas vezes mostrando um sorriso amarelo.

— Tudo bem, pelo menos eu não me apaixono e me machuco de novo. — Minha voz saiu estranha.

Aysha caminha pelo salão olhando as paredes e a varanda, eu a sigo, não queria que ela fizesse alguma besteira.

— Vamos embora, Aysha.

Der repente ela para, se agacha e pega algo do chão.

— Agora acredito na sua história. — Me aproximo dela, em suas mãos havia uma foto de Nial onde ele estava com mais dois homens, porém seu sorriso desfocava todos os outros. — Que homem, amiga.

Umedeço os lábios observando a fotografia, segurando como se fosse um tesouro.

— É, eu sei.

Aysha me entrega a foto e continua andando pelos cômodos, dobro a foto ao meio cortando os outros homens, deixando apenas ele. Nial era real, lindo. Os olhos cinza, sorriso com dentes perfeitos... aquele homem não era um simples sonho.

— Quer que eu te deixe a sós com a sua fotografia ou podemos ir? — Ela me tira dos meus devaneios.

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