Capítulo 02
Tomei um longo banho, na tentativa de tirar o fracasso de mim. Aysha me ajudou na maquiagem, passou uma sombra que ressaltou meus olhos castanhos redondos, um batom vermelho sangue e fez alguns cachos no meu cabelo escuro. O vestido escolhido foi um vermelho e uma jaqueta de couro opaca e um coturno. Já me sentia melhor, apesar de não esquecer do André e que minha vida profissional dependia da minha escrita medíocre.
Olhei para meu reflexo, baguncei os cachos para me deixar ainda selvagem, não procurava sexo essa noite, mas se algum homem com o mínimo de intelecto se aproximasse não negaria transar no banheiro do bar.
Aysha estava linda com um vestido curto que ressaltaram suas curvas, o cabelo cacheado e as argolas a deixavam ainda mais bela, fora a pele negra bem iluminada, ela era linda da cabeça aos pés.
A mesma chamou um táxi para o bar que costumava ir e nós fomos.
— Estou louca para dançar — Aysha diz passando o gloss em seus lábios volumosos — e transar!
— Quero encher a cara.
Ela vira-se para mim e passa o gloss nos meus lábios também.
— Tudo bem, eu cuido de você.
Vejo o taxista olhando para nós pelo retrovisor.
— O que foi? Nunca ouviu falar sobre sexo? — O homem resmunga da audácia de Aysha. — Eu hein.
Chegamos no bar, do lado de fora uma fila de pessoas esperava para entrar, Aysha me puxou pelo pulso até o segurança com cara amarrada.
— Aysha, oi gata. — Ele a abraçou.
— A gente pode entrar? Minha amiga aqui não está muito bem hoje — ela me empurra para frente —, precisa se animar.
Sorrio desconcertada para ele e aceno.
— Claro, podem entrar.
Aysha me puxou para dentro.
A música tocava alto, pessoas dançavam próximas às outras e um barman servia bebida. Olhei ao redor, pessoas dançando juntas, música estridente e luzes no teto. Era disso que eu precisava.
— Vamos beber algo! — Ela falou no meu ouvido.
— Claro.
Fomos até o bar, Aysha parecia conhecer todos os funcionários, inclusive o barman bonito que nos serviu duas cervejas. Sentei em um banco de frente para o balcão no bar, ela em outro.
Virei a cerveja gelada em um gole grande.
— Se quiser ficar doida não se preocupe.
— Vamos ver.
— Lembra quando íamos às festas da fraternidade? Teve uma vez que você fumou tanta maconha que ficou com o Maicon Jacobs pensando que ele fosse o André. — Ela sorrir enquanto relembra.
Levo a mão até a testa.
— Nem me lembre disso, ele falou pra todo mundo no dia seguinte. — Viro mais uma vez a cerveja. — Mais tarde você ficou com ele também.
— Ele tinha um pau gigante, apesar de cheirar a óleo diesel. — Ela faz careta.
Estendo minha caneca na sua direção.
— Ao pau monstruoso do Maicon Jacobs!
Brindamos em seguida caímos na gargalhada.
Aysha me puxa e eu deixo a cerveja em cima da mesa.
— Vamos dançar.
A música frenética que tocava me animou, dançamos próximas uma da outra, flertando com alguns caras, mas todos sempre olhavam para as belas curvas da Aysha, sua confiança inabalável lhe ajudava, além da beleza. Rebolei próximo a ela, jogando o cabelo para o lado, me sentindo a mulher mais sexy de todas, quando na verdade, o álcool e o enérgico que tomei mais cedo já fazia efeito.
Com as pernas cansadas voltei para o bar, sentei no banco com a respiração descompassada. Eu já estava com quase trinta. Pedi mais uma cerveja.
Olhei ao redor, várias pessoas se beijando e se esfregando. Porém, algo chamou minha atenção entre a multidão, minha pele formigava sempre que sentia um olhar sobre mim. Tinha um homem de quase dois metros de altura olhando para mim do outro lado do bar, ele estava com um copo em uma mão e a outra no bolso. Era grande, robusto, parecia um muro de tão alto, não pude ver seu rosto, mas o vi sorrindo para mim.
Minhas bochechas formigaram, virei para o bar sentindo meu coração acelerado.
Quem era aquele homem?
— Vadia, você me espera? — Aysha indaga próxima de mim.
— Que susto, Aysha! — Dou um tapa no seu braço. — Para onde você vai?
Ela aponta com o queixo para os banheiros, um homem lhe esperava com um sorriso malicioso nos lábios.
— Entendi. — Volto minha atenção para ela — espero, não tenho para aonde ir mesmo.
— Te amo! — Ela me dá um beijo desajeitado na bochecha e sai em direção ao homem.
— Se eu sumir é porque morri. — Grito, mas ela não ouviu.
Olho mais uma vez para o homem, mas ele não estava mais lá.
Reviro a cerveja na caneca, Aysha já cheirava a álcool, eu teria que parar de beber para levá-la para casa. Empurro a caneca para longe.
Levo a mão até o pescoço, buscando acalmar meus nervos, até agora os olhos do homem alto ainda pareciam estar em mim, e eu não olharia para trás de novo para me certificar disso.
— Posso te pagar uma bebida? — Uma voz ressoa atrás de mim.
— Aysha para de me assustar e vai transar! — Viro bruscamente para trás, não era a Aysha, era o homem alto. Engulo a seco.
— Aysha? — Ele pergunta com um sorriso divertido nos lábios.
Fecho os olhos com força e abro.
— Desculpa, pensei que fosse minha amiga.
— Pareço com sua amiga?
Olho para ele de cima a baixo, usava uma calça social e uma camisa branca social enrolada até o antebraço, Aysha estava com um vertido beira-bunda cheio de recortes.
— Nem um pouco.
Ele olha para o bar.
— Aceita a bebida? — Seus olhos desviam para os meus, eram claros, podia vê-los mesmo com a pouca luz.
Olho para a cerveja na minha caneca.
— Essa é a sua tática super original para chegar em alguém?
Ele arqueia as sobrancelhas, surpreso.
— Puxa, pensei que iria funcionar. — Ele tira a mão do bolso e estende para mim — me chamo Nial.
— Cassie. — Aperto sua mão. Uma onda de eletricidade atravessa meu corpo.
Ele se senta no banco ao meu lado, seu perfume embriagou-me. O observo.
— Por que se sentou? Eu poderia estar esperando alguém. — Provoco.
— Não estava.
— Como sabe? — Arqueio uma sobrancelha.
Nial olhou para mim com uma expressão óbvia.
— Porque eu te observei a noite inteira. — Sua voz era firme, o sotaque ajudava bastante. — Não tinha ninguém aqui além da sua amiga.
Fiquei boquiaberta por alguns instantes. Virei a caneca nos lábios, pouco me importava se eu e Aysha iríamos voltar bêbadas para casa, só queria fugir daquela situação mesmo que fosse embriagada.
— Fiquei me perguntando por que ninguém chegou em você até agora. — Ele quebra o silêncio.
— Uau — exclamo —, isso realmente ajuda muito minha confiança.
Ele sorrir, que sorriso perfeito.
— Como alguém pode não notar uma garota linda? Fiquei aliviado, na verdade. Assim a concorrência diminui.
Olhei para ele umedecendo os lábios, aquele homem alto e lindo estava mesmo dando em cima de mim?
— Isso é uma aposta? Tá apostando com seus amigos, é?
Suas sobrancelhas se juntam.
— Estou sozinho, e por que faria isso?
Olho ao redor.
— Porque tem muitas outras garotas lindas por aí, e você resolveu vir a mim, a única com estranha que não sabe dançar.
Nial olha para mim de maneira convincente, estava começando a acreditar que aqueles vídeos de atração amorosa que vi funcionavam.
— Te vi dançando com a sua amiga, posso afirmar que você manda muito bem. — Ele inclina sua cabeça para o lado — aceita a bebida?
O garçom serviu dois martínis, a cada gole me sentia mais zonza, mas sabia que era por estar tão perto de um homem como este.
— Você não é daqui, certo?
— Não, sou da Dinamarca. O que me entregou?
— O sotaque.
Ele faz careta.
— Puts — exclamou fingindo estar indignado —, o sotaque.
Subo meus olhos pelo seu corpo, ele era alto e não tão robusto, mas a camisa marcava seu peito, sendo assim, ele devia malhar com frequência.
— Os dinamarqueses costumam ser bronzeados assim?
— Passei os últimos meses viajando por países tropicais, uma experiência e tanto. — Seus lábios sugam a bebida. — E você?
Pensei em dizer que sou de Nashville, uma bela caipira, mas queria ser tão impressionante quanto ele.
— Moro aqui desde sempre com minha amiga, que agora deve estar transando loucamente.
Ele gargalhou jogando a cabeça para trás, agindo como se fosse realmente engraçado. Olhei para aquele homem, deveria ser uma miragem.
— Por que veio sozinho?
Nial suspirou e olhou para sua bebida.
— Precisava espairecer.
— Dia difícil?
Ele assentiu olhando para mim.
— Somos dois, então.
— Me diz, o que aconteceu? — Largou a bebida na mesa do bar e virou-se completamente para mim.
— Não consegui a promoção que queria e descobri que meu ex noivo que disse não para mim no altar — faço aspas — "porque não estava preparado", vai se casar.
Nial estalou a ponta da língua no céu da boca.
— Certo, você ganhou.
— Isso era uma competição para sabermos quem é o mais fodido?
Ele olha para a minha boca ligeiramente, sorrindo.
— Pode ser, então. — Ele pensou por alguns instantes — no ensino médio eu era tão feio que nenhuma menina me queria, ainda me chamavam de esquisito.
Não segurei, ri, ele me acompanhou. Duvido que um homem daquele tivesse uma fase ruim.
Olho para seus lábios perfeitamente desenhados mais uma vez.
— Que pena — faço bico. — Ninguém me escolhia na educação física.
— Meu amigo beijou a garota que eu gostava na faculdade, tudo na minha frente. — Rebateu.
Viro o resto do martíni nos lábios e pigarreio me ajeitando no acento, quando se tratava disso eu era especialista, tinha a irmã mais fura olho do mundo.
— Minha irmã transou com o garoto que eu gostava na minha cama, eles namoram por três anos depois disso.
O queixo dele caiu.
— Sua irmã é uma megera, deve ser horrível!
Assenti.
Amanda era sim.
— É, ela é. — Suspiro. — Graças aos céus não nos vemos há anos.
— Talvez tenha mudado.
Balanço a cabeça.
— Não, tenho certeza que não.
Nial olha para sua taça vazia, mal percebi estarmos viramos completamente um para o outro, era a minha conversa mais longa com um homem há anos.
— Minha última carta na manga. — Avisou ele. — A garota que eu tô afim de beijar é muito difícil, ela mal me deixou pagar uma bebida. Suponho que agora eu ganhe.
Ele coloca sua perna entre a minha, a sua calça roçando na parte de dentro da minha coxa quase me fez arfar. Olhei para seus lábios corados em seguida para seus olhos cinza, sim, eles tinha uma tonalidade cinza.
Mordo o lábio inferior observando sua expressão de malícia, meu corpo já estava leve o suficiente para começarmos esse joguinho.
Arrumei minhas pernas de maneira que se ele inclinasse a sua mais para frente, era possível tocar minha intimidade.
— Talvez ela não queira te beijar.
Seus olhos estavam secando minhas coxas sem piedade alguma.
— Duvido muito.
Olho de relance para sua boca semiaberta.
— Por quê? Não seja presunçoso.
— Porque toda vez que ela olha para meu rosto, seus olhos caem para a minha boca. — Ele inclina-se para frente.
Um calor tomou conta da minha intimidade, por deus, nunca havia sentido tanta tensão sexual com alguém antes.
— Sua amiga ficaria chateada se você saísse? — Ele aprofunda seu joelho cada vez mais entre as minhas pernas.
Um murmuro despercebido sai das minhas narinas.
Sua boca se curvou num sorriso.
— Não, acho que não. — Afirmo.
— Ótimo.