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E Andress? (II)

Eu tinha tantas perguntas, mas nenhuma resposta.

— Eu... Vou tentar lhe explicar o que houve... — Ela pareceu hesitante. — Mas quero que se mantenha calma, ok?

— Ok... — Senti o coração acelerar, amedrontada por ter acontecido algo com Andress.

— Você chegou aqui no hospital vítima de um afogamento.

— Afogamento? — Respirei fundo, sentindo o corpo estremecer levemente. — Eu... Não sei nadar.

A doutora foi até um armário de duas portas que havia num canto e retirou de lá um pequeno plástico com algo dentro. Entregou-me e observei a aliança, retirando-a enquanto tocava o metal dourado e largo. Dentro estava escrito o meu nome: “Maria Eduarda Montez Deocca”. Pus no dedo e era muito larga para se minha. Certamente era de Andress.

— Quando chegou ao hospital, estava em estado de hipóxia, com severa redução de oxigênio no cérebro. Encontramos esta aliança dentro da sua, que estava fechada.

— Por que... Não entregaram para Andress?

— Porque Andress só veio naquele dia. — A voz dela ficou terna. — Ele nunca voltou.

— Nunca voltou? Como assim?

— O hospital seguiu sendo pago pelo senhor Montez Deocca por seis meses. Passado este tempo ele alegou falta de recursos financeiros... Pedindo inclusive que... — A doutora saiu para perto da porta e fez uma ligação, interrompendo o que iria contar.

— Por favor, continue... — pedi.

— Aguarde alguns minutos, senhora Montez Deocca.

— Pare de me chamar de senhora — vociferei. — Você ficou um ano ao meu lado... Me trouxe de volta à vida... Não pode me chamar de Maria Eduarda?

— Sim, eu posso. — Sorriu e voltou para o meu lado.

— Continue...

Ouvimos uma leve batida na porta e duas mulheres entraram. Uma usava um jaleco branco e óculos. Era loira e jovem. A outra tinha uma roupa azul, como a da doutora Verbena e era mais velha e morena.

— Estas são a Psicóloga e a Psiquiatra que estão acompanhando seu caso — Verbena explicou.

Fiquei olhando-as, não entendendo muito bem o que faziam ali.

A Psicóloga pegou minha mão, de forma carinhosa enquanto a outra médica disse para Verbena:

— Siga com a conversa, por favor.

Verbena pegou minha outra mão:

— Seu marido sugeriu que desligássemos os aparelhos por conta da sua falta de dinheiro.

Olhei para o nada, confusa. O que teria acontecido para Andress tomar aquela atitude? Afinal, éramos ricos.

— Será que... Andress faliu? Mas... A empresa sempre foi tão sólida... E... Como eu lembro que tínhamos dinheiro e que a empresa ia bem? — Olhei para a psiquiatra.

— É normal sua confusão mental, senhora Montez Deocca. Irá lembrando de tudo aos poucos, quando menos esperar. E pode haver partes que não consiga se recordar. Mas estamos aqui para lhe falar sobre o que houve no tempo que esteve em coma. Fora disto, não temos como ajuda-la.

— E vocês não desligaram os aparelhos. Isso significa que ele voltou atrás e pagou, não é mesmo? — perguntei.

— Não... Ele não pagou. A doutora Adams pagou por todo o seu tratamento na Terapia Intensiva durante o coma. — A psicóloga olhou para Verbena.

— Por... Quê? — Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto enquanto olhava a médica.

— Você estava sob a minha responsabilidade. E embora não tivesse apresentado melhora, também não teve piora. Sempre acreditei que acordaria, Maria Eduarda. — Apertou minha mão.

Respirei fundo:

— Certamente aconteceu alguma coisa. Andress não faria isso.

A Psicóloga me encarou:

— O senhor Montez Deocca veio trazê-la ao hospital no dia em que a senhora se afogou. Ele estava junto no momento do acontecido, embora não tenha sofrido nenhum dano. Ele a salvou. Quando soube do coma, não veio mais visita-la. Sequer ligou para saber seu estado de saúde.

— Isso não faz sentido... — Balancei a cabeça, atordoada.

— Em breve receberá alta, Maria Eduarda — disse Verbena. — Então poderá saber tudo que houve de fato no tempo em que esteve internada em coma no hospital depois de um afogamento.

— E meu avô? — Lembrei-me de imediato de Alexis Hauser, do nada, como se estivesse na minha mente o tempo todo sem que tivesse me dado em conta.

Me veio à cabeça a imagem de Alexis Hauser, pai do meu pai, meu avô. Um homem não muito alto, com cabelos escuros penteados para trás, algumas mechas levemente grisalhas. Os olhos eram verdes e tinha uma barba esbranquiçada, sempre muito bem-feita. Era corpulento e tinha cheiro refrescante, assim como o local onde morávamos. A menta e o eucalipto pareciam brigar entre si para destacarem-se em seu aroma, trazendo sempre uma sensação de limpeza e vitalidade.

Eu amava meu avô. E as lembranças com ele eram boas.

— Não sabemos sobre seu avô — a psicóloga esclareceu.

— Alexis Hauser. Já devem ter ouvido falar dele — tentei.

— Não sabemos. — Foi enfática.

— Mais alguma coisa que eu deva saber? — indaguei.

— É isso — psiquiatra concluiu.

— Por que vieram vocês três me falar isso? — Fiquei confusa.

— Porque nos preocupamos com seu estado emocional — A psicóloga explicou.

— Estou bem... Confusa, mas bem. Tentarei entender o que está acontecendo com meu marido e meu avô.

— Iremos ligar para o seu marido, o senhor Montez Deocca, e avisar que acordou do coma — a Psiquiatra avisou.

— Não... Por favor! — pedi. — Não liguem para Andress. Quero... Fazer uma surpresa.

— Não podemos fazer isto. O senhor Montez Deocca é o responsável pela senhora e precisamos informá-lo que saiu do coma e precisará busca-la.

— Não... Eu gostaria muito de surpreendê-lo. Andress certamente achou que eu não acordaria... E para evitar sofrer não veio sequer me ver.

— Pode ser... Mas ainda assim, precisamos comunicá-lo. — Ela deu um suspiro. — Seguiremos acompanhando-a enquanto estiver internada. Quando receber alta precisará por um tempo continuar o acompanhamento.

Assenti.

As duas saíram e fiquei novamente sozinha com Verbena:

— Não precisava chamar as duas para me dar as notícias — falei.

— Segui os protocolos.

— E cuidar de mim por um ano assim como deixar de ir para casa quando acordei do coma também são protocolos? Sem contar o fato de ter pago para eu permanecer neste hospital.

— Não.

— Por que fez tudo isto, doutora?

— Porque... De alguma forma me afeiçoei a você, Maria Eduarda.

— Fui sua primeira paciente em coma ou algo do tipo?

— Não, não foi.

Balancei a cabeça, confusa:

— Então me ajude e não deixe que elas comuniquem Andress. Realmente quero surpreendê-lo. Meu marido ama surpresas... — Sorri ao lembrar dele.

— Sobre seu avô... — Ela abaixou a cabeça.

— O que tem meu avô? — Meu coração acelerou imediatamente.

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