Preciso salvar o meu lar
Livia
“Madre não podemos fechar o orfanato” Suspiro cansada repetindo mais uma vez a frase.
Como sempre ela busca dar-me conforto mesmo que o medo esteja maltratando seu coração tanto quanto o meu, enquanto varremos o pátio vazio.
“Não quero que isso aconteça filha, mas entenda que não temos dinheiro para as contas básicas e o banco está cobrando.” Ela repete mais uma vez.
Já estamos a mais de um mês e meio sem ter como pagar as contas básicas como água e luz, vivo nesse orfanato desde que fui abandonada em uma cesta com alguns panos e uma corrente de prata que hoje uso como pulseira com meu nome : Lívia.
Madre Magnólia é como uma mãe, afinal, foi ela que cuidou e ainda cuida de mim. As crianças que vivem aqui são como irmãos, apesar de nunca ter sido adotada sinto uma felicidade enorme por cada um que encontra uma família. Todos vivemos em busca de cuidar dos menores para que eles se sintam acolhidos.
“Por favor querida, vamos receber a visita do gerente do banco e o possível comprador, vamos manter a fé.” A Madre abre um sorriso e me abraça com carinho.
Derrotada faço uma pequena oração pedindo a Deus que seja quem for traga uma solução para os nossos problemas financeiros, não existe outro orfanato sem fins lucrativos em Denver.
Vivemos em uma grande cidade, na qual os orfanatos são basicamente financiados por políticos em busca de votos. Algumas das crianças são bastardos dos mesmo que usam a manobra de adoção para se eleger. Algo, que Madre jamais aceitaria vivemos com doações e após a pandemia de SARS Cov diminuíram tanto que nem ao menos conseguimos comprar comida direito. Finalizamos a limpeza e vamos para as pequenas salas de aula na qual as crianças passam parte do dia recebendo aulas, minha melhor amiga Lia abre um enorme sorriso quando apareço na porta as crianças gritam e veem abraçando as minhas pernas.
Preciso segurar a vontade de chorar diante de tanto amor, eles são o único motivo pelo qual continuo tentando mesmo com tantos problemas o meu maior sonho é finalizar a ensino médio e cursar advocacia para ter um grande escritório que possa lidar com casos de adoção assim, esses pequenos terão casas e familias.
“Oh minha amiga vamos manter a fé.” Sinto a mão quente em meu ombro e como boa noviça que é Lia reforça o que a madre falou.
“Está no caminho certo amiga, daqui a pouco estará repetindo as mesmas palavras da madre.” Respondo fazendo as crianças rirem.
Ela balança a cabeça com a minha brincadeira e nós duas conduzimos duas filas de pequeninos divididas em meninos e meninas para os dormitórios, está no horário do almoço e essas crianças precisam de um banho antes de comer.
Brincamos junto com eles e os preparamos para logo depois ficarem no refeitório junto com algumas das poucas freiras que ainda residem aqui.
“Vem Livia vamos comer, não adianta de nada você ficar com fome.”
Aceno em negativo para Lia, estou nervosa demais para conseguir comer.
“Não amiga, não consigo irei para a igreja orar.” Respondo saindo do refeitório.
Amarro meus cachos com uma fita, andando pelo jardim em direção a pequena igreja que mantemos com cuidado e dedicação. Paro admirando um passarinho numa roseira suspiro com tanta beleza.
Fecho os olhos buscando aquela paz no coração ficando mais calma e confiante de que tudo dará certo. Escuto vozes meio distantes diferentes das que conheço, curiosa vou na direção delas dando a volta pelo jardim, escuto eles se aproximando e sem nenhum lugar para ficar escondida entro dentro do banheiro masculino. Agradeço a Deus o fato de todos estarem almoçando, quando a porta se abre subo em cima de um vaso.
“Bruno você precisa entender que às familias desejam fechar o acordo o mais rápido possivel.”
“Foda-se isso Giulio não vou me casar agora.” A voz exaltada é grave.
“Tudo bem, diga-me o que pretende fazer com esse pedaço de lixo” Sinto vontade de gritar de raiva com esse homem que fala mal do meu lar.
“Vou transformar em algo rentavel.”
Coloco a mão sobre a boca completamente indignada com o que esses dois falam, a porta se abre e fecha mas escuto o som de uma torneira aberta. Não tivemos condições de reformar os banheiros então eles não tem espelho.
Apoio as mãos na porta ficando na ponta dos pés e ao ver o perfil do homem posso reconhece-lo, Bruno Lafaiete um dos playboys bilionarios da cidade apesar de ser um cafajeste mantém a fama de ser filantropico. Desço do vaso completamente revoltada abrindo a porta fazendo com que ele pare antes de sair do banheiro.
Coloco as mãos na cintura furiosa mesmo diante de tanta beleza.
“Tenho certeza de que a midia irá adorar descobrir que Bruno Lafaiete é um cretino como todos os outros.”
“E quem você pensa que é garota?” Ele avança na minha direção.
Mantenho-me firme sem perder a postura não vai ser um riquinho que irá destruir a minha casa.
“Se você não desistir de comprar o orfanato irei ligar para a midia e dizer que você não passa de um cretino, tenho certeza de que será uma otima noticia no meio da candidatura do seu pai a prefeito.”
Os olhos do homem brilham com fúria e pela primeira vez sinto medo, dou um passo para trás apesar de conferir se estou muito longe da porta para fugir.
“Você não deveria ameaçar homens que não conhece.” Sua voz se torna baixa mas o tom de ameça está lá.
A porta do banheiro se abre e o outro homem reaparece ficando calado quando me vê, seus olhos azuis fazem uma varredura completa nas minhas roupas simples sinto como se fosse um pedaço de lixo nos pés de um sapato de grife.
“Giulio, veja só papai gostaria que me casasse acabei de encontrar minha noiva.”
Sinto os olhos pulando das órbitas enquanto giro o pescoço na direção dos olhos verdes que agoram parecem faiscar.
“Que merda Bruno?”
“Você está louco” Rebato prontamente.
“Quer ou não quer salvar esse lugar?” Sua voz soa calma enquanto coloca as mãos na calça social.
Finalmente reparo bem no homem, muito mais lindo pessoalmente do que nas revistas mas são seus olhos que fazem meu coração pular.
“Não tenho nenhum motivo para acreditar em você.” Cruzo os braços buscando alguma proteção.
“Nem eu em você, entretanto, podemos fazer um negócio - Fala de modo calmo passando as mãos no cabelo desfazendo o penteado. - O orfanato por um casamento, a menos que esse lugar não seja tão estimado.”
Quase rosno com a sua audacia em tentar mensurar o quanto é importante para mim o cuidado das crianças e desse lugar.
“Tudo bem - Respondo derrotada. - Mas quero um contrato no qual você se compromete em manter o orfanato e as despesas.”
“Só isso?” Questiona
Respiro fundo procurando algo dentro da minha mente até que encontro.
“Meus estudos, você terá que arcar com a minha faculdade.”
“Prepare um documento com esses termos Giulio.”
O tal de Giulio parece estupefato com a ordem recebida porém não questiona, Bruno abre a porta do banheiro gesticulando para que saia na sua frente. Quando o faço sua voz soa rouca ao pé do meu ouvido.
“Não deveria fazer negócios com desconhecidos.”
Sinto estar entrando em uma enrascada mas engulo o medo e oro para ter tomado a decisão certa.