Eu me Renderia a Você
Naquela manhã, Mel acordou mais disposta que todos os outros dias. As coisas estavam começando a dar certo na sua vida… Ao menos em algumas formas, uma vez que já tinha um emprego, mesmo que demorasse a ganhar tudo o que fosse precisar, mas já tinha uma ideia.
Saiu do apartamento com um riso no rosto, passou na padaria que Maurício gostava levando para ele seu salgado preferido. Ele poderia comer alguma coisa. Passou um tempo com o garoto que sorria e se animava todas as vezes que via a irmã, e assim que ela partia, o sorriso diminuía, mas ainda era bonito como tal.
Quando deu horário, saiu do quarto encontrando a enfermeira de sempre.
— Oi… Como ele passou a noite? Ele está indo bem? - Queria saber de tudo, está ciente de tudo.
— Ele está bem, Mel. Reage aos remédios perfeitamente bem, mas sabe que ele não pode viver assim para sempre, certo? A cirurgia ainda é a melhor opção. – Ela concordou com a cabeça — Escutei que você conseguiu um emprego. – Apontou para o uniforme mal escondido pelo casaco preto.
— Sim consegui. Mas não sei quando vou reunir todo o dinheiro que devo e o da cirurgia, não ganho tanto assim. – Expirou. — Porque a vida não ajuda muito?
— As coisas são complicadas. E até entendo muito seu lado, mas entenda também que desafios vêm pra gente passar por cima, trate de procurar oportunidades, elas sempre estão na porta.
Mel se lembrou de Levi e daquilo tudo, o que ele queria que ela fizesse por dinheiro, não era uma coisa maravilhosa. Primeiro achou que tinha conseguido um trabalho de empregada e do nada, o chefe a manda tirar a roupa? E daí ele aparece de novo e diz que quer ela? Claro que não seria pra limpar o chão do seu quarto com a língua, e sim outra coisa, e usaria a língua da mesma forma.
— Mas essas oportunidades muitas vezes são indecentes. – reclamou de novo abaixando a cabeça. — Posso conseguir um empréstimo com alguém.
— Seria como dever o hospital novamente, mas se não tiver outra opção, faça como puder. – riu com carinho e foi embora.
Mel foi até a porta do quarto do seu irmão, o mesmo estava brincando com duas médicas lá dentro, todos sorriam e ele respondia alguma coisa do livro. Estava sorrindo como todas as vezes que iam brincar. Não sentia ciúmes do seu irmão, queria sempre o ver sorrindo com pessoas ao redor, mas não dentro de um hospital.
Maurício tinha que sair daquele lugar e ela daria um jeito. Sem ter o que fazer por ali, decidiu passar na sua madrinha antes de ir ao trabalho, tinha um tempinho sobrando.
— Bom dia Mel, como você está? – Perguntou trazendo um copo de suco para a sobrinha.
— Estou bem. Obrigada pelo suco. E as coisas estão indo bem, consegui um emprego.
— Ah, então você decidiu ficar com o chefe da Larissa? - Mel se engasgou na mesma hora. Não conseguia sequer ouvir o nome daquele ser humano que todo seu corpo morria por dentro.
— O quê? – Ela ficou olhando pra sua madrinha sem entender. — Não estou falando dele.
— Como não? Você saiu daqui a uns dias com Mirela, não iam pra casa dele? – Mel lembrou de novo do que aconteceu naquela tarde, abaixou a cabeça — Ele não gostou de você, foi isso?
— É foi isso. – Não iria falar a sua madrinha sobre o que aconteceu naquela casa e nem no que aquele babaca estava tentando fazer. Pegou o suco e se despediu rapidamente, precisava ir embora. — Eu ligo assim que puder, prometo aparecer mais vezes. – Saiu da lanchonete lamuriando ainda mais aquele homem, ele era um grande babaca… Onde já se viu? Dobrou para sair no mesmo momento em que viu Mirela saltar do carro fechando a porta, estressada como sempre. — Mirela.
— Mel? – Houve um momento de silêncio antes de Mirela correr para abraçar a ruiva que não se mexeu. — Por onde você andou? Eu vim aqui todos esses dias pra conversar com você, mas não te encontrava.
— Conversar sobre o quê? – Ficou curiosa, embora soubesse o teor da conversa.
— Sobre o Sr. Levi querer que você volte – ela rolou os olhos — Sei que ele é estranho, mandão e complicado, mas pode pagar muito bem. Sua tia me falou sobre o estado do seu irmão, você está precisando de dinheiro e ele de uma empregada particular, só isso.
— Ele não quer uma empregada. - Ressaltou mais alto deixando claro que tudo que viveram.
— Mel, eu sinto muito pelo que aconteceu naquele dia, eu poderia ter contado tudo, mas preferi que ele contasse o que queria, não tenho nada haver com o que se passa dentro daquele quarto - Mel revirou os olhos. — Hm, eu entendo o quanto o Sr é meio maluco. Que tem problemas é organizado, e na cabeça dele parece que nunca comete erros. Quer uma pessoa pra atender seus pedidos pessoais porque não quer as outras empregadas sabendo de sua vida.
— Mirela, com todo respeito, mas eu já tenho um novo emprego, e estou feliz com ele, meu irmão vai melhorar, e vou conseguir seguir em frente. Também sei que o Sr Santiago achará uma mulher perfeita para ser a “empregada” dele, nem eu mesmo me encaixo naquela casa.
— Então o problema é esse? Você acha que não se encaixa? – perguntou, olhando para Mel que nem sabia o que dizer. — Eu vou abrir sua cabeça rapidamente. Vou contar uma coisa séria, mas que fique entre nós duas. – Mel ajeitou a bolsa no ombro, se passasse mais tempo ali, perderia o horário, mas ficou por educação. — Levi é um homem problemático com certeza, mas não é porque ele quer.
— Então é por quê? – perguntou nem um pouco curiosa, estava sendo irônica, tinha que ir embora logo, nem queria mais saber da historia desse homem que a mandou tirar a roupa do nada. Ele era bonito, rico e muito charmoso, era louco com certeza, mas isso não o impedia de arrumar alguém que gostasse de estar com ele, que amasse deitar-se com ele. Afinal, uma mulher cheia de desejos se deitaria sem pestanejar com um homem bonito e milionário como o dito cujo.
— As pessoas dizem que ter dinheiro resolve todos os problemas do mundo, mas como você pode ver, nem tento a conta bancária cheia, eles conseguem o que desejam. - Mel a encarou. Sério que iria começar a falar de dinheiro? — Mas achei que isso faria algum sentido para você, der a ele o que ele quer, e você terá todo o dinheiro que quiser para seu irmão para uma casa, o hospital, tudo.
— Eu não vou me vender por causa disso - Foi mais rígida, e voltou a respirar calmamente, não iria se estressar com aquele tipo de conversa — Eu não quero conversar, ou falar desse homem, já dei a minha resposta. - Passou por ela, precisava ir embora.
— Eu sei sobre o seu irmão. - Todo mundo sabia sobre o Maurício, não iria se surpreender com aquilo. — Sei quase tudo sobre o estado dele e você querendo aceitar isso ou não, Levi pode te ajudar. Ajudar o seu irmão! - Mel respirou fundo, era verdade. Parou onde estava — E cá entre nós duas o que você recebe em um mês, ele daria em poucas horas. Está deixando as oportunidades passar e quando pensar em salvar seu irmão pode ser tarde.
— Isso é um problema meu. - Murmurou. Suas pernas ainda tremiam, e a vontade que tinha de dizer sim era grande, mas não venderia sua dignidade a aquele crápula, escroto, psicopata.
— Tudo bem. Eu já deixei claro tudo que pode conseguir trabalhando para aquele idiota… Quer dizer, trabalhando para o Levi. Mas tudo bem, todo mundo tem suas escolhas - Avisou e entrou na lanchonete.
Mel voltou a caminhar, não, não podia de forma alguma pensar naquele idiota. Não importava o quanto de dinheiro que ele poderia dar, não valeria a pena dormir com ele, né? Alguém concorda? Tem que concordar sim. Tinha um bom trabalho e podia demorar, mas conseguiria todo o dinheiro que necessitava.
— Cheguei – falou para o homem atrás do balcão, não estava atrasada, mas o homem olhava para ela com pena, ou era tristeza? — aconteceu alguma coisa?
— Sim, sim aconteceu – ele disse cabisbaixo e Mel percebeu que não tinha ninguém no café ainda estranhou — Nós vamos fechar.
— Como é? – deu um passo pra trás sem acreditar. — Mas ontem estava tudo bem.
— A gente aluga esse espaço, e o dono vendeu. Lógico, o novo dono nos quer fora, soubemos hoje de manhã quando chegamos – Avisou com um peso no coração. — O café é nosso único sustento, e sem ele, não sei o que será de nós. – lamentou ele, Mel chegou perto dele, abraçando o homem.
— Eu sinto muito. Você sabe quem é o novo dono?
— Tem uma carta ali – apontou para cima do balcão. — Ele disse que tudo que eu precisava saber estava lá dentro, mas não pude nem ler.
— Eu posso ir ler? – perguntou, o homem assentiu.
Mel deixou a bolsa em cima da mesa e pegou a carta no balcão, sentou no banco ali na frente e abriu. Leu bem devagar, dizia que eles tinham que sair e deixar o café o mais breve possível porque o dono queria demolir o prédio e construir algo de respeito. Mel sentiu pelo homem. Quando chegou ao final, seus olhos se arregalaram como nunca antes, ela amassou o papel e abaixou devagar.
— Tudo bem, Mel? – o dono perguntou, ela assentiu andando até ele e pegou a bolsa. — Pra onde vai?
— Vou resolver um problema – deu as costas indo embora, não olhou pra trás. — Levi Santiago. – Repetiu o nome que tinha no final da carta.
Seus olhos se encheram de lágrimas, mas de puro ódio. Mexendo com aquele lugar, ela perderia o emprego, e se perdesse o emprego, não tinha como cuidar do seu irmão. E se mexeu com o irmão dela, ela virava uma onça. E era isso que ele veria assim que chagasse na casa dele.
Quarenta minutos depois de ônibus, ela desceu alguns quilômetros da casa dele e depois de passar por toda aquela segurança do condomínio andou rápido, porque queria chegar o mais depressa possível. Quem ele pensava que era? Ela só conseguia pensar nisso. Chegou ao jardim grande e até achou bonito ele morar no condomínio aberto, cheio de glamour, pessoas importantes talvez, as casas eram afastadas uma da outra, e tinha paz, mas a paz dele morreria.
Apertou a campainha e seus olhos verdes estavam fervendo de raiva, pura raiva, só raiva. Quando a porta foi aberta ela entrou sem ser convidada ou se apresentar. Não deixou o luxo da sala a parar e subiu as escadas sem olhar pra trás, ainda lembrava-se do caminho que tinha ido com Mirela.
Chegou ao corredor que conhecia e foi indo de porta em porta até achar a que precisava. Abriu de uma vez, e o que encontrou deixou seu coração um pouco abalado.
Levi estava trás de sua mesa como sempre, o cenário pareceria o mesmo, se não fosse por uma linda mulher com os olhos bonitos, sentada em cima da mesa exibindo seu corpo desnudo como se fosse algo normal. Levi ergueu os olhos para a porta depois de um tempo, ele não precisava de muito para saber de quem se tratava.
— Mel Albuquerque, você aqui tão cedo? Quem foi deixou você entrar? - Questionou, e o tom de deboche em sua voz era tão perceptível deixando-a ainda mais zangada.
— Você sabia que eu viria, não é mesmo? - Atravessou o quarto inteiro jogando a carta em cima da mesa, ignorando a garota sentada, não estava interessada em começar uma briga com ela, de fato. — Mas qual é o seu problema?
— Do que está falando? - Quis saber, Mel bufou se afastando para cruzar os braços, aquilo só podia ser uma brincadeira. Sim, era uma brincadeira de mau gosto. Olhou de Levi para a garota e voltou para ele querendo resposta — Se vista, e saia. - Ordenou para a mulher que o encarou na mesma hora, podia reclamar, mas não iria. Desceu da mesa e pegou suas coisas para sair. Esperou a mulher desaparecer enquanto encarava os olhos verdes de Mel, fulminando de ódio.
— Porque está fazendo isso? Eu preciso do emprego. E as pessoas que serão prejudicadas por causa da sua arrogância? - Levi sorriu de lado.
— E você se importa com isso?
— Claro que me importo. Você não tem o direito de fazer isso.
— Comprei um imóvel e quero construir algo ali naquele lugar, é meu investimento, eu posso fazer o que quiser, quem você acha que é pra dizer alguma coisa?
— Uma pessoa, um ser humano que precisa do emprego porque eu também preciso do dinheiro. – ele riu e levantou.
— Aqui tem uma vaga pra você.
— EU NÃO VOU TRANS4R COM VOCÊ – gritou e ele fez de tudo pra ficar calmo. — Isso é ridículo, e aquelas pessoas ficaram sem emprego também?
— Claro. – Ele deu a volta na mesa olhando pra ela. — Mas você pode salvar todos, sabia?
— Isso é golpe baixo.
— Pense nelas, se eu demolir aquilo tudo, ninguém terá onde trabalhar. E a culpa será sua.
— Será sua, é você que está fazendo isso.
— A culpa é sua. Porque eu quero você – foi direto. — Eu vou atrás do que eu quero, não importa que problemas apareçam.
— Não importa os problemas que me apareçam - Repetiu o outro achando até graça — O que você tem comigo? Aquela mulher que acabou e sair daqui, tão bonita e esbelta. Tenho certeza que ficou mal por ter sido interrompida. - Suspirou em desespero, será que teria que se ajoelhar e implorar para ele não tomar o seu emprego? Não, ela não faria isso nunca. — Ela deve ter feito um trabalho e como vê, não sou nada parecido com ela.
— E é justamente por cauda disso, que eu quero você. Eu busquei nela alguma coisa que me lembrasse de você, e não o contrario - Avisou enquanto parada em frente a Mel. Aquele homem era de fato, uma pessoa que não entendia ao mesmo tempo em que queria correr dele, queria ficar e ouvir mais de sua proposta. Será que a errada nessa historia toda, era ela? — Você é linda e, e embora não tenha sorriso para mim, sei que tem um sorriso bonito. Eu quero você.
Como que ele poderia a achar bonita a esse ponto? Não, calma. Calma, não podia ceder.
— E será mesmo que você quer passar o resto da vida pulando de cafeteria em cafeteria como uma mera garçonete tentando salvar o pouco que resta da vida do seu irmão? - Ela deu um passo para trás, a garganta coçando. O coração pedia para ela ir embora, mas a razão, a sua vontade e toda sua mente a mandava ficar. — Eu posso dar a você tudo que quiser.
As palavras dele penetravam em sua mente, era tudo uma questão de aceitar ficar, ou apenas dar as costas e voltar a procurar outro emprego. Ela podia ir embora, ele a seguiria, faria o que fosse possível… Será que aguentaria correr dele enquanto buscava outro emprego.
Levi não era um homem comum, seu corpo grande, os cabelos negros tal como os olhos. Ele era charmoso, cheiroso, vicioso por assim dizer, certeza que se fosse um cantor pop, um modelo, passaria o dia todo olhando para cada gominho daquela barriga sem se cansar nenhuma vez. Mas tudo que saia da boca dele era como uma faça cortando sua consciência, sua razão, e até seu ego. Era certo fazer isso?
— Sabe que pode ter a mulher que quiser? Não é?
— Eu quero você.
— Menos eu. - Falou rápido… Eu não faço parte do seu mundo, entende? Então porque fica…?
— Eu gosto do desafio que você é. - Mel riu, aquilo soava engraçado — Eu não conheço ninguém que negue a seguir uma ordem minha e você saiu desse quarto gritando para todos conhecerem a espécie de home que eu sou. E que espécie de homem você acha que eu sou? - Ela abaixou a cabeça, estava mesmo diante de um maluco. Além de ser lindo e milionário Levi também era um mimado que não conseguia ouvir não. Será que tinha como manter sua sanidade?
Suspirou derrotada. Se o seu problema era apenas ter ir para cama com ele, podia superar uma vez que ele não era um homem feio ou qualquer coisa do gênero, ele era bonito, e não iria cansar de falar isso e se um homem como ele, via algo nela que gostava e iria pagar por isso e ajudar seu irmão, que mal teria?
Todo mundo já ouviu falar de alguém que dormiu com outro por dinheiro, mas não se lembrava das historias delas, serem como aquela que a cercava. Bom, dormir com ele lhe traria inúmeros benefícios, não é?
Manteria o emprego das pessoas na lanchonete.
Salvaria seu irmão de uma vez por todas.
E poderia até mesmo ganhar a mais para reformar seu apartamento, certo?
Depois de ele ter o que queria certamente a deixaria em paz.
Se livraria dele e teria o dinheiro para salvar Maurício. Pronto.
— Tudo bem - Disse de uma vez, Levi se surpreendeu estava formulando na sua mente o mais tinha que fazer para fazê-la aceitar. — O que eu tenho que fazer. - Abaixou a cabeça, não iria mostrar a ele que estava cedendo muito rápido, ele riu sádico.
Escutou os passos acabando com a distância entre eles, sentiu as mãos dele erguendo seu rosto para encará-lo.
— Não abaixe a cabeça, você é linda demais para isso. - Mel estreitou os olhos… que loucura era viver com aquele homem, uma montanha russa. — Agora tira a roupa... Tira.