Até achar a Certa
Olhando para o seu irmão, Mel temia alguma coisa a mais de ruim acontecer. Não queria vê-lo morrer ou muito menos sofrer ainda mais. A doença o atacava cada vez mais, e ela precisava pagar uma cirurgia que iria ajudá-lo muito, mas como fazer se não tinha o dinheiro?
Duas semanas atrás tinha fugido da casa de um maluco, e desde então, não deixou de procurar por um emprego que não precisasse tirar a roupa, mas nada estava aberto no mercado. A faculdade de medicina tinha sido trancada, e fora ela, a única experiência de trabalho que tinha era como garçonete, e nem assim, conseguiu encontrar alguma coisa.
Respirou fundo quando a porta do quarto abriu, uma médica apareceu revelando um sorriso de conforto chegou perto do garoto deitado na cama e puxou o remédio diário injetando no tubo que estava diretamente ligado a veia de Maurício, aplicou vendo Mel querer chorar com a cena. Quando terminou, jogou a seringa e retirou as luvas, deu a volta na cama e parou diante de Mel que olhou para o lado.
— Você está bem? – Ela perguntou. Mel só confirmou com a cabeça e suspirou. — Não minta.
— Não sei o que fazer – disse por fim, a médica olhou para o menino deitado na cama. — Ele é a minha única família. Não quero perder ele de jeito nenhum. Não é por falta de esforço, eu estou a meses procurando um emprego, e mesmo que eu achasse, demoraria bastante para levantar a quantia necessária pra pagar a cirurgia.
— Maurício está resistindo muito bem, mas não posso mentir, ele não irá aguentar muito tempo. Ele precisa da cirurgia com urgência. Já entrei com um pedido para seu irmão, mas até lá precisa conseguir dinheiro para pagar, sem contar com os remédios do hospital.
— Eu sei perfeitamente – disse lacrimejando. — Preciso ir agora. – levantou sorrindo com uma dor dentro do peito.
Atravessou as portas do hospital caminhando direto para a parada de ônibus, procuraria por mais emprego, não podia ficar de braços cruzados, mas antes, iria em casa, tomar um banho e se arrumar melhor, comer alguma coisa e voltar a deixar mais currículos.
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O olhar indignado do homem assustava qualquer pessoa, a cada dia que passava desde a mulher ir embora, seu humor piorava, sua raiva crescia e ele estava maluco. Queria sex0, e podia encontrar outra sim, mas não colocaria seu p4u em qualquer lugar.
Mirela não tinha encontrado outra, e seu anseio por aquela mulher de olhos verdes e cabelos ruivos, cresceu com o ódio de vê-la dar as costas sem obedecê-lo. E foi só por isso, que ele mandou Mirela atrás dela.
A menina ia se curvar diante dele de uma forma ou de outra. Enquanto mexia em seus documentos em cima da mesa do escritório, encontrou o dossiê que Mirela tinha trazido falando de Mel e sua vida pobre. Intrigado ele começou a ler.
Ela tinha vinte e cinco anos, solteira, e órfã de pai e mãe. Morava no cubículo pelo que ele leu no endereço e tinha um irmão de doze anos doente. Era só o que dizia. Nada mais especifico e só isso deixou Levi intrigado. Ela queria um emprego, ele tinha dado, e ela foi embora.
Olhando para a paisagem da janela do seu quarto ele botou a mão direta na cintura enquanto a esquerda massageava a barba por fazer. Alguma coisa naquele rosto doce o fez imaginar coisas obscenas e quando ela virou as costas indo embora, se negando a tirar a roupa e servir Levi Santiago, ele ficou puto.
— Sr. Santiago… – o homem olhou para trás, fixou o olhar na loira de peitos grandes e virou botando as mãos nos bolsos. — Encontrei uma nova mulher. – Ele estreitou os olhos.
Uma mulher de cabelo ruivo apareceu na sala, vestida no pedaço de vestido. O cabelo exageradamente vermelho, deixando o homem com dor de cabeça. O rosto cheio de maquiagem e um batom vermelho demais. Não, não era aquilo que ele desejava.
Negou dando as costas.
— Ah… Você pode me dar um minuto? – Resmungou para a ruiva bufou cruzando os braços e Mirela bateu o pé, chamando atenção do seu chefe. — Pode esperar lá fora? - Pediu à garota que logo atendeu ao pedido.
— Levi eu não estou mais aguentando tanta pressão em cima de mim. Qualquer mulher dessa droga de cidade dormiria com você por menos que um sorriso chique. Então porque você escolhe tanto?
— Acha que eu gostaria de ficar com qualquer mulher? Não é toda mulher que… - Respirou fundo sem saber como se explicar de verdade e sendo sincero, não tinha que explicar nada. — Vai, por favor, e procura por uma mulher descente. Melhor, me traga a garota daquele dia.
— Ainda está falando da Mel? - Ele assentiu — Ela foi embora. - tocou na ferida e ele apenas riu — Não posso trazer à garota a força.
— Então o que ainda faz aqui? - Mirela revirou os olhos — Vai.
Pediu calmo, embora estivesse explodindo.
Levi esperou alguns minutos para Mirela sumir com aquele projeto de puta da sua frente. Voltou para a mesa e pegou o papel, era um currículo da menina. Mel Costa de Albuquerque estava bem no topo. Não tinha experiência em quase nada, e tinha trancado da faculdade. Havia somente uma foto 3X4 na ponta da folha. Os olhos estavam sem maquiagem, e mesmo assim eram bonitos. O rosto perfeito sem maquiagem era essa mulher que ele queria.
— Entre – mandou depois de ouvir duas batidas. — o que quer Felipe?
— Encontrei a senhorita – Levi o olhou na mesma hora, Mirela não era sua única fonte de encontrar pessoas. — Lamento muito, mas não acho que queira ir onde a menina mora – Levi deixou o papel na mesa andando até o homem — É lamentável.
— Ainda bem que não quero saber da sua opinião – vestiu o terno e ajeitou a camisa vermelha que vestia. Pegou a carteira e o celular e saiu da sala esperando o motorista acompanhá-lo.
Como seu motorista tinha dito, o lugar onde a mulher morava era uma desgraça total, as ruas cheias de buraco e o tal prédio pequeno e com vazamentos era muito pior. Pararam em frente do tal prédio de apartamentos, chamando atenção das pessoas porque o carro era um luxo só, e parado no bairro daqueles chamava atenção mesmo.
— Deveríamos ter vindo com um menos chamativo – o motorista falou, o outro ignorou olhando diretamente para a porta do prédio, ela iria sair, ou entrar em qualquer momento e ele esperaria, porque a arrastaria para dentro daquele carro e saciaria sua vontade, com ou sem Felipe.
— Fica calado – mandou.
Passou exatamente quarenta e dois minutos quando uma mulher de cabelos ruivos saiu do prédio, ele se agitou, mas não foi o suficiente para sair do carro. Com um sorriso no rosto, ela atravessou a rua e passou perto do carro escuro sem nem olhar para ele. Parou no ponto de ônibus do lado do carro e olhou na direção oposta. Levi foi pro outro lado do banco traseiro e admirou a menina de perto. Podia muito bem puxá-la para dentro do carro e levá-la a qualquer lugar, mas não se mexeu.
O sorriso era grande, estava animada e ele nem entendia por que. Quando o ônibus parou atrás do carro ela entrou nele sem olhar pra trás.
— Siga esse transporte – nunca diria a palavra ônibus em sua vida, acreditava que era coisa de pobre e não era mentira.
O motorista ligou o carro e começou a seguir o ônibus. A cada parada Levi ficava ansioso esperando pela saída da sua ruiva, e quase meia hora depois ela desceu o ônibus ainda com o sorriso no rosto. Atravessou a rua e entrou numa cafeteria. Felipe estacionou o carro do outro lado e Levi ficou olhando de novo.
— Acho que a menina conseguiu um emprego – Levi riu de lado, não era possível que ela tinha trocado sua luxuria por uma cafeteria barata e mal estruturada.
— Dê a volta. Vamos entrar lá.
Felipe fez o que foi ordenado e parou o carro diante da grande cafeteria, olhou em volta e desceu do carro batendo a porta rapidamente. Andou pela calçada parando em frente e a avistou pelo vidro, estava bonita como naquele dia, mas o sorriso lindo em seu rosto era novo, cheia de energia, pulando e gritando, era uma garota linda demais para cair em suas garras. Será?
Parado na frente da cafeteria, Levi se negou a entrar naquele lugar horrível. Parou no espelho que tinha na parte da frente e olhou para dentro. Viu a menina conversar com um homem alto, ela estava feliz dando pulinhos de alegria. Sorria feito uma boba. Desistindo, ele voltou para a beira da calçada, tinha que sair dali antes que seu estomago começasse a virar de cabeça para baixo.
— Para onde vamos agora? - Perguntou o motorista, se reposicionando no volante.
— Vamos para a empresa. – mandou, arrumando sua roupa cara. — Não posso mais perder tempo com esse tipo de gente.
— Sim senhor – Felipe seguiu a diante, diretamente para a empresa.
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— Eu estou muito feliz, e prometo que farei tudo certinho – agradeceu de novo ao dono do estabelecimento, sua felicidade estava contagiando a todos. — Só Deus sabe o quanto eu precisava desesperadamente desse emprego, você vai salvar minha vida, e a vida do meu irmão.
— Como disse Mel, não é? – ela disse sim. — Eu não pagarei tão bem, mas é tudo que tenho.
— Não se preocupe com isso, isso já um começo.
— Ótimo, pode começar amanhã, pela manhã? – ela confirmou animada, pegou suas coisas e saiu da cafeteria.
O coração praticamente pulava dentro do peito, a alegria era imensa. Correu para o ponto de ônibus mais próximo e fincou seus pés ali. Respirou fundo e se beliscou de novo, não queria que fosse um sonho. Achou um emprego, que pagava mal, mas já seria um começo para os remédios e a cirurgia de Maurício.
Pegou o ônibus direto para o hospital, sentou em um banco perto da janela e respirou fundo, querendo manter a calma. Quando chegou ao hospital atravessou o corredor distribuindo sorriso e uma alegria intensa demais para ser vista como qualquer coisa. Entrou no quarto em que seu irmão dormia e viu duas enfermeiras ao redor do menino.
O coração acelerado quase para.
— Maurício? – as enfermeiras olharam para trás, mas apenas uma se aproximou de Mel.
— Se acalme Mel – a mulher estava rindo — Ele acordou, mas não o faça falar, ou fazer esforço, seu corpo está fraco, ele acabou de acordar, mas é bom deixa-lo quieto.
— Claro que sim, eu vou poder ver meu irmão de olhos abertos. – lágrimas começaram a cair — Quero falar com ele.
— Hoje ele poderá apenas dar sorrisos, não quero que comece a falar já. – saiu da frente de Mel, ela deu um sorriso muito bonito e foi para o lado da cama.
A agitação de Maurício fez Mel se animar mais. Ela mordeu o lábio e passou a mão no rosto no menino, sua única e amada família.
— Estou do seu lado, para sempre – falou, ele sorriu animado, tão pequeno e sofrido. O coração de Mel bateu forte, as lágrimas começaram a aparecer e Mauricio também chorava. — Sei que quer sair para voltar a brincar comigo no jardim do nosso prédio, mas aguarde mais um pouco, está bom? - Ele tentou falar e Mel sorriu, ainda que desesperada.
— Não fale – a médica pediu. — Entendo que queira brincar com sua irmã e falar sobre tudo, mas em um momento desses, não podes tá bom? Amanhã, poderá falar o quanto quiser. – Ele aceitou isso e olhou para Mel de novo que sorria feito boba apaixonada.
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— Levi? - Marlon encarou o filho adentrar sua sala e caminhar devagar até o pai. — Não estava te esperando.
— Ando sem muita coisa para fazer. - Avisou para o outro que assentiu voltando a se sentar.
— A empresa está bem, não mandei muito porque tudo o que precisava ser feito, você fez em um mês e meio, está tudo bem? – Levi desviou o olhar ajeitando o terno caro.
— Sim! – olhou para o pai.
— Sei que tem alguma coisa errada, mas não é da minha conta – Levi apenas o olhava, sem animo, ou motivação — Precisa de quê, de uma put4 para mudar sua cara?
— Estou bem.
— Não parece – Marlon levantou andando pela sala. — Conheço o filho que tenho, está diferente e isso é porque a moça saiu de sua casa?
— Não está falando sério? – Levantou também. — Sou adulto, não preciso que fique me vigiando.
— Não sou eu. É sua madrasta. – contou e Levi bufou. — Sabe que eu não me importo com o que você faz, apenas com o trabalho que entrego em suas mãos. Você é adulto e sabe das suas decisões. Mas me avise sempre que estiver pensando em casar ou assumir uma garota, eu quero deixar claro que quero participar da sua escolha. Um dia, você vai precisar casar.
— Casar? - Riu de lado, isso não estava nos seus planos, nunca esteve ou estaria. — Quer saber, obrigado por querer se meter na minha vida. - Não iria discutir.
— Por que a empregada foi embora? – Perguntou. Levi riu.
— Odeio incompetência.
— Assim como odeia qualquer uma do seu lado? Mirela anda estressada atrás de outra empregada. É tão importante assim você ter uma somente pra você?
— Sim – não era uma empregada somente para ele que desejava, e sim, uma mulher para servi-lo de formas mais... Intensas. Mas ninguém precisava saber disso.
— Sr Levi Santiago – o mais novo virou e levantou vendo a secretaria do seu pai desfilar até eles. — Mirela está na linha dois, e espera desesperadamente que atenda sua ligação, ela disse que é importante. – Levi olhou para a mulher, suas vestes e depois para seu pai que analisava tudo.
— Tudo bem, eu estou indo. - Murmurou dando um largo sorriso para Levi que estreitou os olhos. Era bonita, charmosa, parecia interessada, mas o olhar não era para ele. Virou para seu pai que a olhava fixamente até sumir de suas vista. — A minha madrasta pode ficar decepcionada se continuar dando em cima de todas as suas secretárias e as levando para motéis baratos para ninguém descobrir.
— Eu faço o que tenho que fazer. Mantenho nosso sobrenome muito bem em todos os sites, então não se preocupe quanto as minhas amantes, ou algo do tipo, desde que a mídia não saiba tudo bem?
— Essas mulheres não são fieis a ninguém. Estão trabalhando em lugares assim em busca de um marido. E se não querem um marido ser amantes de homens ricos é a segunda coisa que buscam.
— Pode notar que não sou mais tão novo assim, então se uma mulher como aquela quer dormir comigo e quiser apenas algumas notas de dinheiro, posso fazer isso. Não quero passar vontade então o que vier, eu posso usar, até achar a certa.
Levi estreitou os olhos, a frase parecia totalmente errado, mas poderia ele está certo, enquanto não encontrava a certa, se saciaria com outras no decorrer do tempo? Bom, estava a tanto tempo de dormir com uma mulher, com alguma submissa sua que pudesse o fazer feliz que ter uma ou duas no momento enquanto esperava a certa não iria o mat4r.
— Droga! - Depois de atender ao telefone de Mirela, Levi desceu todo o prédio encontrando seu carro no estacionamento, entrou quando Felipe abriu a porta e encontrou Mirela ainda com sua carranca, cheia de ódio, sabia que ela estava zangada, mas desde que não começasse a gritar histericamente, não se importaria. — Você disse que era importante, então espero que seja realmente importante.
— Por quê? Vai fazer alguma coisa importante - Tirou na bolsa um envelope pequeno. — Eu mandei duas mulheres para sua casa hoje assim que saiu. Acredito que ira gostar. São bonitas, atraentes, loiras de olhos claros, tem experiência no que está buscando.
Contava ela, enquanto Levi olhava as fotos das supostas mulheres, e por cima, abaixou cada uma dando um longo suspiro.
— Não é a garota ruiva de olhos verdes, aquela com a língua afiada, não é a amarga, Mel. - Mirela sorriu desviando o olhar. — É verdade, elas são bonitas e cheias de curvas, mas nenhuma parece me atrair. — Jogou de volta o envelope em Mirela que quis gritar, mas se conteve. — Felipe, para casa, agora.
— O que você tem com aquela garota? Será que não pode deixar ela em paz? Ela não quer ser encontrada e não quer te ver, aceita logo isso. Ela te olhou e disse não, e ainda saiu correndo, até eu correria.
— E é justamente por isso que ela tem que voltar. Você acertou quando a trouxe para mim, faça isso acontecer outra vez.
Murmurou zangado, fazendo cara de mau. Sua paciência estava se esvaindo cada vez mais que se lembrava de Mel e de toda sua petulância. Não sabia se sentia mais ódio ou prazer, apenas que queria tê-la. Voltou para casa ainda sem paciência alguma. O dia tinha sido longo, além de nada, nada dar realmente certo. Mas Mirela faria alguma coisa, ela teria que trazer aquela mulher a qualquer custo.