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Capítulo 06

... Isabella ...

Acordo, olho em volta e percebo que não estou no meu quarto. Meu corpo está um pouco dolorido, e só então me lembro o que aconteceu noite passada. Foi a noite mais louca e deliciosa da minha vida. Matheus realmente não se segurou. Fizemos sexo em praticamente todos os cômodos do apartamento. Ele estava insaciável. Eu me surpreendi demais, de um jeito bom. Olho no relógio e são oito da manhã. Faltam duas horas para o restaurante abrir.

Matheus ainda está dormindo. Fico um tempo o admirando. Ele é tão lindo.

Com um suspiro, me levanto e vou para o banheiro. Pego uma escova de dentes nova, que ele disse que estaria na gaveta, e quando termino de me escovar, entro no chuveiro e tomo um banho rápido. Coloco um roupão e vou para a cozinha preparar o café da manhã. E então me deparo com uma senhora organizado tudo. Eu tinha me esquecido completamente que Matheus tem empregada. Só agradeço por ter levado minhas roupas para o quarto. Não sei como reagiria sabendo que ela as viu jogadas pela sala.

— Bom dia — falo, me aproximando com cautela. A senhora se vira e abre um sorriso. — Eu sou Isabella.

— Bom dia, querida. Eu sou Fátima, a governanta da casa. É um prazer conhecer você. É muito bonita.

Dona Fátima é realmente um amor de pessoa. E uma ideia vem à minha cabeça. Posso tentar conseguir algumas informações a mais sobre Matheus.

— Obrigada. A senhora já trabalha aqui há muito tempo?

Me sento na cadeira que há em frente ao balcão da cozinha.

— Desde que ele perdeu a esposa e comprou esse apartamento. Não conseguiu ficar na antiga casa, que morava com ela. Ele trabalha demais, não tira tempo pra aproveitar a vida. Você é a primeira mulher que ele traz aqui.

Não posso deixar de sorrir. Ele realmente estava sendo sincero.

— Eu posso fazer o café da manhã pra ele hoje? — pergunto.

Dona Fátima sorri com minha empolgação.

— Claro. Sinta-se à vontade. Enquanto isso, vou cuidar de outros afazeres.

Quando dona Fátima se retira, vou até a geladeira e começo a separar tudo que vou precisar: iogurte, bolacha, pão, fruta e frios. Passo a mão sobre a enorme bancada branca. Os eletrodomésticos de inox se destacam nessa cozinha. Ela com certeza é a mais linda em que já estive. Não há nada fora do lugar. Começo a arrumar a mesa. E assim que termino, fico admirada. Espero que Matheus goste.

Sinto braços envolverem minha cintura.

— Bom dia, Bella! — Matheus beija minha bochecha e isso faz meu coração dar um pulinho.

— Bom dia, Matheus! — Me viro para ele e lhe dou um selinho.

Está tão lindo com uma calça de moletom cinza e camiseta regata branca. Ele deve ter acabado de sair do banho, pois seus cabelos estão molhados. E seus olhos verdes brilham de um jeito diferente.

— Eu pensei que depois de ontem a noite você iria demorar pra acordar — fala, se sentando à mesa.

— Matheus! — o repreendo. — E se dona Fátima entrar aqui e ouvir você falar isso?

Ele ri.

— Obrigado por preparar nosso café da manhã.

— Não precisa agradecer. Fiz com muito carinho.

Começamos a comer enquanto conversamos, e me sinto tão leve em sua companhia. Sei muito bem que tudo foi rápido demais, mas sinto uma ligação tão forte com ele. Vai além do que já senti por qualquer outro homem na vida.

Já satisfeitos, nos levantamos. Pego minhas coisas que estão na sala e subimos para o quarto. Matheus começa a se arrumar, colocando um terno preto que lhe cai muito bem, parecendo ter sido desenhado em seu corpo. E eu me visto e arrumo meus cabelos.

— Preciso ir em casa trocar de roupa. E trocar o uniforme que está na mochila.

Matheus assente.

— Eu te levo. Pode ficar tranquila.

— Vou me despedir de dona Fátima, tudo bem?

— Tudo bem. Vou te esperar na sala. — Matheus vem em minha direção e beija minha testa.

Acho que ele não percebeu que havia feito isso, para ter agido com tanta naturalidade. Mas para mim, teve um significado especial. Vejo que será difícil manter nosso combinado. E isso me assusta. Saio do quarto e procuro Fátima pelos cômodos. Esse apartamento de Matheus mais parece uma casa; e é tudo tão luxuoso e refinado. Os móveis são todos em tons claros, assim como as paredes e o piso. Sem dúvida caberia uma família bem grande.

Enfim a encontro na lavanderia.

— Vim me despedir da senhora. — Adentro o local com um sorriso no rosto.

— Muito obrigada pela consideração, minha querida. Eu realmente espero que esse namoro dê certo. — Desvio o olhar e ela segura minha mão. — Falei algo errado? — questiona, preocupada.

— Matheus não quer um relacionamento. E eu aceitei ficar com ele sem envolver sentimentos. Mas posso ser sincera com a senhora? — Ela balança a cabeça confirmando. — Vai ser bem difícil não me apaixonar por ele.

— Eu entendo. Dê um tempo a ele, querida. Matheus é um homem bom, só está na defensiva por medo de se machucar de novo. Foi muito difícil pra ele perder a mulher tão jovem. Ele se culpa pelo que aconteceu com ela. — A olho confusa, mas ela apenas balança a cabeça. — Isso é uma coisa que você e ele vão ter que conversar um dia.

Nos despedimos e vou até a sala encontrar Matheus.

— Vamos. No caminho você me passa seu endereço — diz ele, segurando minha mão.

Vejo que ele já está com minha bolsa, fazendo questão de carregá-la. Estou meio desconfortável em levar Matheus ao meu apartamento, tão pequeno e humilde em comparação ao dele. Assim que chagamos, subimos as escadas até o quarto andar, pois não há elevador, e eu abro a porta para entrarmos. Felizmente fiz uma faxina recentemente.

— Desculpa pela... simplicidade. Imagino que não deve estar acostumado a lugares assim.

Ele, mais uma vez, segura a minha mão.

— Não precisa se desculpar, Bella. Eu não sou um playboy riquinho filhinho de papai. Te falei que comecei de baixo e cresci na vida com o esforço do meu trabalho. Você tem que ter orgulho do que já conquistou — diz, com os olhos sinceros e contemplativos, e eu acabo sorrindo. — Sabia que adoro seu sorriso de covinhas?

Eu envolvo meus braços em seu pescoço e Matheus aperta a minha cintura e sorri.

— O que mais você adora em mim? — pergunto, arqueando as sobrancelhas.

Sem vergonha, ele me dá aquele sorriso malicioso que estou começando a amar.

— O jeito que você geme meu nome — sussurra em meu ouvido. — E como me beija enquanto se derrete em meus braços. — Ele toca meus lábios com os seus e, relutantemente, se afasta, voltando a sorrir quando vê a minha expressão carente da sua ausência. — Agora vai lá se trocar. Vou ficar aqui no sofá esperando.

Eu suspiro.

— Ok. Não vou demorar. — Pego minha bolsa e vou para o quarto.

Faço tudo o mais rápido possível. Troco a roupa íntima, visto uma calça jeans justa, camiseta preta e um all star azul-claro. Prendo meu cabelo com um coque e deixo alguns fios soltos. Troco o uniforme que está na bolsa, passo um perfume e volto para a sala.

— Você está perfeita, Bella. — Sorrimos um para o outro. — Agora vamos, senão chegaremos atrasados.

O caminho até o restaurante é rápido e bem agradável, e o passamos conversando e nos conhecendo melhor. Já adoro escutar o som de sua voz, e quando ele sorri, meu peito se enche de felicidade.

— Matheus, você acha que o pessoal vai ficar comentando sobre termos chegados juntos? — pergunto, com certo receio.

— Ninguém tem que falar nada, Bella. Somos livres e eu só estou te dando uma carona — responde, aparentemente sem ver nada errado nisso, e acabo rindo.

— Uma carona depois de passar quase a noite toda transando por todo o apartamento, né?

Ele dá de ombros, rindo.

— Ninguém precisa saber dessa parte.

Assim que chegamos, alguns funcionários que já estão esperando ficam olhando para nós de boca aberta e cochichando. E é impossível não me sentir incomodada. Deveria ter vindo de ônibus.

— Aconteceu alguma coisa? — questiona Matheus, olhando para eles.

— Não, senhor! — respondem em conjunto.

— Foi o que imaginei — ele diz, sem espaço para conversa.

Vou diretamente para o vestiário, sem dar uma palavra. Me arrependo de ter vindo com Matheus. O olhar das pessoas sobre nós me incomodou demais. Me troco e tento não pensar mais nisso. Começo a guardar minhas coisas no armário.

— Vai usar seu corpo pra garantir seu emprego, é? — Me viro para encarar a infeliz que falou isso, e me deparo com três funcionárias; Bianca no meio, como se as liderasse. — Você é mais esperta do que pensei. Essa carinha de santa engana mesmo.

— Desculpa, não sabia que minha vida pessoal era da sua conta. — Dou um sorriso forçado e ela bufa.

— Se você está se envolvendo com Matheus, o nosso chefe, então é sim. — Ela me olha com desdém.

— Você é mãe dele agora? Porque namorada e esposa sei que não é. — Seu olhar é puro ódio, e suas duas amigas acabam rindo. — Mas respondendo a sua pergunta, vou manter esse trabalho por ser uma excelente chef de cozinha. Nada mais. E nem sei por que estou aqui me explicando pra você. — Tento passar, mas elas me impedem. — Sério isso? Vocês estão parecendo adolescentes arrumando briga na escola.

— Matheus é sempre fechado na dele, nunca deu chance pra mulher alguma se aproximar, e agora vocês chegam juntos. Você deu uma chave de coxa nele, certeza — fala com sarcasmo.

Nessa hora meu sangue ferve. Tenho que respirar fundo para não dar na cara dela. Lutei muito para conseguir estar aqui e não vou deixar uma qualquer estragar tudo. É isso que ela quer.

— Querida, eu não preciso fazer esse tipo de coisa pra manter um emprego, nem pra conquistar um homem. Agora, se me der licença, preciso começar a trabalhar. — Saio do vestiário esbarrando nelas e vou para a cozinha.

Assim que dá o horário, as portas do restaurante são abertas e os pedidos começam a chegar. Começamos nossa corrida diária. Ser chef não é fácil, mas é a profissão que amo. Não trocaria por nada. Próximo ao horário de fechar, escuto aquela voz irritante me chamar. Eu devo ter jogado pedra na cruz!

— Por favor, Isabella, um cliente quer falar com o chef sobre o prato. — A olho confusa. — Não só com você, mas com Matheus também.

Acho que ela pode ver o medo que está estampado em meu rosto, pois abre um grande sorriso. O que pode haver de errado? Eu não posso perder esse emprego.

— Calma, Isabella, não deve ser nada de mais — Paulo diz, tentando me tranquilizar, e eu concordo.

— Eu vou chamar Matheus no escritório — Bianca avisa, ainda sorrindo. — Se quiser esperar lá, é a mesa oito.

Respiro fundo e tento me recompor. Coloco um sorriso no rosto e vou para o salão. Assim que avisto a mesa, meu coração erra uma batida. Não se trata de um cliente qualquer, mas sim do crítico gastronômico mais renomado e temido da cidade. JB — Julio Bernardo. Minhas pernas parecem gelatina. Nunca tive um prato provado por um crítico gastronômico, e essa será a primeira vez. Sempre faço meu trabalho da melhor forma possível, mas quem não ficaria nervoso nessa hora?

— Boa noite. Eu sou Isabella Silva, a chef. Poderia ajudá-lo em algo? — tento soar tranquila, diferente de como realmente me sinto, e ele me olha com seriedade.

Meu coração está tão disparado que fico com medo dele parar de funcionar a qualquer momento. Matheus se coloca ao meu lado, mas fica calado, só observando. Eu não quero envergonhá-lo. Espero que ele não pegue tão pesado comigo.

— Você provavelmente já me conhece, senhorita Isabella. — Balanço a cabeça, confirmando. — Eu tenho uma coisa pra falar sobre o prato que comi hoje. — Minhas mãos já estão suando. Ele faz uma longa pausa dramática. — Esse arroz carreteiro está simplesmente... delicioso! Queria dar os parabéns pessoalmente a chef. Você fez uma excelente contratação, Matheus.

Olho para Matheus, confusa com a situação.

— Obrigado, meu amigo. — Matheus sorri para ele.

— Quando me contou que havia contratado uma nova chef, quis vir dar uma olhada pra ver se ela realmente estava à altura do restaurante, e me surpreendi. Como você me disse, ela é nova, mas muito talentosa. — Os dois olham em minha direção e sinto minhas bochechas queimarem. — Eu não quero te atrapalhar mais. Muito obrigado por preparar essa deliciosa refeição. — Damos um aperto de mão e eu volto para a cozinha, ainda extasiada.

Matheus fica lá, conversando com o homem que, aparentemente, é um amigo íntimo.

— Como foi? — Paulo pergunta assim que retorno.

— Se eu te contar você não acredita.

— Pelo seu sorriso, vejo que foi coisa boa.

Balanço a cabeça, confirmando.

Conto tudo a ele nos mínimos detalhes, e Paulo me parabeniza. Todo o pessoal da cozinha faz o mesmo, um de cada vez. Eles sabem que agradar JB não é fácil.

Assim que nosso expediente é encerrado e tudo já está limpo na cozinha, vou me trocar e tenho a infelicidade de esbarrar com Bianca na entrada do vestiário.

— Fiquei sabendo da sua conquista de hoje. Meus parabéns! — Ela bate palma.

— Se fosse realmente de coração, eu aceitaria. Mas como sei que não é, dispenso.

Ela vem até perto do meu ouvido e fala:

— Ainda bem que você já me conhece. — Dá um sorriso irônico e se vai.

Mulherzinha insuportável!

Após me trocar e ter a certeza de que todos foram embora, vou até o escritório de Matheus me despedir.

— Oi — falo, entrando.

Ele se levanta, vem até mim e fecha a porta.

— Eu estou muito orgulhoso de você. — Matheus se senta na ponta da mesa e me puxa para um abraço.

— Obrigada. — Dou um selinho nele. — Estava pensando... Você quer sair pra comemorar? — Ele parece tenso ao ouvir minha pergunta. — Hoje é sexta. Talvez possamos sair para dançar um pouco... — Dou vários selinhos em seus lábios. — Por favor?

— Bella, faz muito tempo que não saio pra balada.

Faço biquinho e ele ri.

— Só um pouco? Não vamos demorar, Matheus. — Acaricio sua barba, que tanto gosto.

— Ok! Só vou dar minha ronda e vamos. Me espere aqui que já volto. — Ele me dá um beijo e vai.

Não demora cinco minutos e já está de volta.

— Vamos. — Ele segura minha mão.

— Você pode me deixar em casa, por favor? — pergunto.

— Claro. Deixo você lá e vou pra minha, descanso um pouco antes de me arrumar.

Quando chegamos em frente ao meu prédio, agradeço a carona, me despeço com um beijo e subo rápido para o meu apartamento. Quero me arrumar e ficar linda, deslumbrante, para deixá-lo de queixo caído. Separo um vestido de noite preto, vou até o banheiro e tomo um bom banho, passo meu hidratante favorito de baunilha e começo a me maquiar. Faço uma maquiagem completa, e depois escovo meus cabelos. Vou deixá-los soltos mesmo, pois já passam muito tempo presos no serviço. Antes de colocar a roupa, decido fazer uma surpresa para Matheus, só para começar a nossa noite com o pé direito.

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