06
Mia Miller
Dentre todas as situações possíveis,eu nunca imaginei ver meu pai saindo morto da nossa casa. Eu não tinha cabeça para nada, enquanto meu filho estava sequestrado, eu ainda tinha de lidar com o luto da morte do meu pai.
Eu me perguntava, ali sozinha fitando o teto, o que eu fiz de errado para merecer tantas coisas ruins?
Realmente eu não sabia.
Sentei-me no chão da sala, os meus braços envolviam minhas pernas enquanto o vazio e a dor consumiam meu peito. A casa estava silenciosa, fria, refletindo o estado do meu coração. Meu pai se foi, e meu filho, meu pequeno Lorenzo, estava nas mãos de alguém que eu nem conhecia. O peso de tudo isso era insuportável, e eu não sabia mais o que fazer.
Comecei a pensar em todas as escolhas que fiz até agora, questionando cada uma delas. Como cheguei a esse ponto? Como permiti que minha vida desmoronasse assim? Se eu tivesse contado a Ethan sobre Lorenzo antes... Talvez nada disso estivesse acontecendo. Mas eu não sabia quem ele era. Eu mal sabia o que esperar daquela noite, e muito menos que a consequência seria tão devastadora.
Então comecei a chorar. Eu sabia que aquilo não resolveria nada,mas ao menos seria um alívio momentâneo.
Foi então que o telefone tocou.
Na tela apareceu o nome de Charlotte. Atendi prontamente.
"Amiga." ela disse já sabendo do que houve." Me desculpe por não atender, eu estava no hospital."
"Tudo bem." falei limpando as lágrimas com a camisa."
"Eu vou para aí urgentemente."
"Não precisa, Char, não há nada que possamos fazer.Eu quero ficar um pouco sozinha. Eu só vou focar em achar meu filho."
Ela me disse algumas palavras de conforto, mas nada parecia ser suficiente. Eu havia perdido a única pessoa que eu tinha, e o mundo parecia não ter mais cores.
E fora isso, eu ainda tinha um milhão de problemas, como meu filho sequestrado, uma hipoteca para pagar, e sem emprego.
Meus pensamentos voltaram para meu pai ao olhar o quadro em nossa sala. Nós dois abraçados, sorrindo em minha formatura. Flashbacks de momentos felizes surgiram na minha mente como se estivessem tentando me confortar. Seu olhar de orgulho…
Lembrava-me das noites em que ele ficava acordado até tarde, ajudando a estudar para as provas. Ele sempre foi meu porto seguro, a rocha em que eu me apoiava, e agora essa rocha estava destruída.
Flashback:
"Pai, eu não sei se posso fazer isso", disse eu, quando estava prestes a começar a faculdade.
Ele sorriu, aquele sorriso que sempre me acalmava. "Você pode fazer qualquer coisa, Mia. E eu estarei aqui para te apoiar em cada passo do caminho."
Eu não sabia que aquele apoio custaria tanto a ele. Ele adquiriu uma dívida enorme para pagar meus estudos. Ele nunca me disse, nunca quis que eu soubesse. Agora ele se foi, e a culpa me sufocava. Não consegui protegê-lo, assim como não consegui proteger meu filho.
Tudo isso era a minha culpa.
De repente, ouvi o som de um carro parando na frente da casa. Levantei-me, o coração batendo acelerado, quando a porta se abriu e Ethan entrou. Ele estava diferente, mais controlado, mas seus olhos carregavam uma intensidade que me fez recuar instintivamente. Ele olhou ao redor da sala, seus olhos caindo sobre as caixas com os pertences do meu pai, antes de voltar seu olhar para mim.
Era nítido o quanto ele me odiava por ter escondido que ele tinha um filho.
"Ethan..." minha voz saiu fraca, quase um sussurro.
Ele avançou, parando à minha frente, a presença dele era avassaladora. Eu me sentia pequena diante dele, a dor e a ansiedade misturadas com uma sensação crescente de medo. Ele parecia ter o controle de tudo, e isso me aterrorizava.
"Me explique o que aconteceu," ele ordenou com a voz firme e sem qualquer traço de emoção. Ele se aproximou mais invadindo meu espaço pessoal.
Tentei manter a compostura, mas minha voz tremeu enquanto eu falava. "Meu pai... ele se foi. E meu filho... Ethan. Eu não sei o que fazer."
Ele olhou para mim por um longo momento, avaliando minhas palavras. "E você está me dizendo que só agora decidiu envolver-me nisso? Quando já perdeu o controle da situação?"
"Eu não sabia a quem recorrer," respondi, minhas mãos tremendo. "Eu pensei que... talvez..
Ele bufou, um som quase animalesco que me fez estremecer. "Eu já disse que vou ajudar a encontrar o menino. Mas ouça bem, Mia. Quando o encontrarmos, ele será meu."
Senti o chão desabar sob meus pés. "O que você quer dizer com 'seu'? Ele é meu filho, Ethan. Não pode simplesmente tirar ele de mim! Eu acabei de perder meu pai, você é um monstro" gritei."
"Posso e vou," ele disse friamente, seus olhos fixos nos meus, sem ceder um milímetro. "Você não tem ideia do que estamos lidando aqui. Lorenzo é mais do que apenas seu filho, Mia. Ele faz parte de algo maior, algo que você nunca entenderia."
"Isso não faz sentido!" Eu estava à beira das lágrimas, a angústia crescendo dentro de mim. "Você não pode simplesmente tomar essa decisão por mim!"
Ethan se inclinou para mais perto, e eu pude sentir o calor de sua respiração contra minha pele. "Você entrou em um mundo que não conhece. Quando o encontrarmos, ele estará sob a minha proteção. Se isso significar tirá-lo de você, então é o que farei."
As palavras dele me atingiram como um soco no estômago. Eu não entendia completamente o que ele queria dizer, eu estava totalmente confusa, mas a seriedade em sua voz e a intensidade em seus olhos me diziam que ele não estava brincando.
"Eu nunca vou deixar você levar meu filho de mim," sussurrei, mas mesmo assim eu pude ouvir o medo na minha voz.
Ele endireitou-se, a expressão dura. "Vamos ver sobre isso. Agora, se quiser seu filho de volta, faça o que eu digo. Amanhã cedo, meu motorista estará aqui. Já acionei que for possível para achar o meu filhote. E sobre o seu pai, irei arcar com todos os custos do velório e o que mais você necessitar."
Ele virou-se para sair, deixando-me sozinha no silêncio opressor da casa. Sentei-me de volta no chão, sentindo-me mais perdida do que nunca. Meu pai estava morto, e agora parecia que estava prestes a perder meu filho também.
Eu precisava de um plano. E, de alguma forma, precisava descobrir quem realmente era Ethan e o que ele estava escondendo.