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Continua Capítulo Um

Parte 3...

Não pode ser qualquer uma, afinal tem que ser uma mulher bonita, diferente e o mais importante, que agrade minha mãe para que ela me deixe em paz por um bom tempo.

Levanto. Preciso pensar nisso com muito cuidado e atenção. Aviso minha secretária que vou voltar depois que comer, mas não sei o horário e que não marque nada para mim sem me consultar antes.

Quem sabe eu tinha tido a grande ideia que iria me dar liberdade para curtir minha vida? É isso. Uma namorada de mentira, uma pessoa que agradasse minha mãe e pronto. Caminho livre.

 

Cristina

 

Na sala das enfermeiras conversei um pouco com duas colegas sobre o dia de trabalho. Estávamos cansadas de ficar a manhã toda de pé, de um lado para outro, dando atenção aos que precisavam.

Olhei meu relógio de pulso novamente. Já tinha passado mais de vinte minutos de meu horário final e tudo o que quero é ir para casa.

As meninas são muito boas comigo. Foi muito bom conseguir esse emprego antes mesmo de terminar meu curso. Na verdade eu quero ser médica ou nutricionista, apesar de gostar de minha função de enfermeira.

Minha vontade maior é de ser médica direcionada aos idosos, mas nutrição também é uma área que me atrai muito.

O salário até me ajuda a pagar as contas de casa e ainda dá pra guardar todo mês um pouco, para minha faculdade de medicina. Sei que isso é mais difícil, mas não é impossível.

Pode ser que demore mais devido minhas circunstâncias de vida, mas eu chego lá. E por esse motivo também queria conseguir uma vaga aqui. Eu iria economizar tendo minha mãe morando na casa de repouso.

Eu poderia alugar uma casa pequena mais perto daqui, me poupando o tempo de viagem e também dinheiro. Ficaria mais tranquila sabendo que minha mãe estava bem, sendo atendida por pessoas de confiança e não teria que me preocupar tanto com o horário quando saio tarde da faculdade.

E como aqui tem um alojamento para funcionários, vez ou outra eu poderia dormir aqui também. Seria muito bom juntar tudo.

O que eu quero é continuar nessa área porque sempre gostei muito disso desde que era mais nova. Acho muito bonito.

Passo pela recepção e dou um tchau para minhas colegas que ainda vão ficar por mais algumas horas. Sigo direto para o ponto de ônibus, que ainda bem é até perto do hospital.

Não tem ninguém, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. É bom porque às vezes tem tanta gente que eu ainda tenho que ficar de pé, esperando o ônibus. E é ruim porque fico nervosa de ficar sozinha nessa hora em um local tão aberto onde tudo pode acontecer.

Sempre depois do horário de almoço as ruas ali pelo bairro ficam mais vazias, quase desertas e isso propicia assaltos, como já ocorreram antes e eu morro de medo de passar por isso.

Infelizmente, não tenho escolha. Gostaria de ter meu próprio carro, mas enquanto isso não acontece, tenho que pegar dois ônibus para voltar para casa. Todos os dias.

Talvez se eu arranjar um parceiro, a gente possa comprar um carro juntos e isso facilitaria minha vida. Não vou mentir que eu gostaria de ter alguém para conversar, para rir, para dividir as coisas da vida.

Onde moro fica longe da área onde está localizado o hospital. Aqui é perto da praia, tem muitos condomínios de luxo e alguns são recentes ainda. Conseguir a vaga foi ótimo porque devido ao local, o salário é mais alto do que em outras casas de repouso.

E hoje vai ser mais complicado. Eu vou ter que ir antes na casa de Pauline e só depois vou pegar mais outro ônibus para chegar em casa.

A tarde está quente, abafada. Eu até consigo passar de boa no calor seco, mas quando fica úmido como essa semana, me sinto dentro de uma sauna, me sufocando. Começo a grudar o corpo e vai me dando uma agonia a mais.

Creio que isso quer dizer que em breve teremos chuva pesada caindo. O tempo está assim há uns três dias. E quando cai chuva pesada por aqui é complicado.

A cidade não é toda plana, onde moro até que tem uma parte plana e poucas ladeiras, mas ainda assim, algumas ruas ficam inundadas e causam problemas aos moradores.

Tenho uma amiga que se cansou de retirar água de casa e se mudou para o Rio de Janeiro. Só que dois meses depois, aconteceu o mesmo com ela e também perdeu quase tudo. Não dá para fugir de certas coisas.

Alguns têm mais sorte, outros nem tanto. Coisas da vida.

Vejo o ônibus se aproximar e dou graças a Deus que hoje ele veio antes da hora. Vou poder ganhar alguns minutos a mais. Seria tão bom que tivesse ar-condicionado, assim ia aliviando um pouco o calor até poder chegar na casa de Pauline e depois correr para meu canto e tomar um banho.

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