CAPÍTULO 1
LUIZ OTÁVIO
O meu 1,90 m de altura é herança do meu avô Frank, um alemão militar que se aposentou nas forças armadas. Ele era o espécime perfeito de uma figura alemã masculina, e, certamente, foi isso que encantou a minha avó brasileira, ávida por viver um romance diferente do que lhe era esperado. Em uma visita ao Brasil, o senhor Frank conheceu a doce senhorita Laura, que trabalhava no restaurante da sua família, na cidade do Rio de Janeiro. Minha avó Laura era, desde muito jovem, uma cozinheira de mão-cheia. E foi isso que aproximou os dois.
Ao longo de oito meses eles criaram um laço sentimental muito forte. Segundo a minha avó, ele sempre foi, principalmente, bastante respeitoso. Trocavam beijos e carinhos inocentes. Guardaram as relações mais quentes para a noite de núpcias, por instruções do pastor da igreja que ela frequentava. E isso resultou em um casamento feliz e quente.
Vovó repete incansavelmente essa história todas as vezes que eu a visito. E eu a ouço sem reclamar. Entendo que essa é uma forma que ela encontrou de se sentir perto dele. Depois que ele faleceu, aos 80 anos, há dez anos, todos nós, familiares, pensamos que ela fosse partir logo em seguida, por não suportar viver longe dele. Entretanto, contrariando todos nós, ela se mostrou guerreira e forte, capaz de ser feliz e de não demonstrar tristeza.
Minha avó sempre se lembra dele com orgulho e com um sorriso no rosto. É visível o amor puro que sente por ele. Quero encontrar alguém assim.
— O senhor precisa de algo? — a lindíssima aeromoça loira, vestindo uma minissaia preta justa, questiona, interrompendo os meus pensamentos.
Esse uniforme dela me abre a imaginação para as coisas mais sujas que alguém poderia pensar. Se eu fosse sincero, diria algo do tipo: “Você é muito linda, moça. Uma conversa com você que durasse mais que 30 segundos seria agradável”.
— Não. Obrigado, moça. Não preciso de nada — respondo com a cabeça baixa, evitando olhar nos olhos verdes dela.
Não sei se ela sorriu para mim, porque não olhei para ela por tempo o suficiente para descobrir. Fecho os olhos e encosto a cabeça para trás, voltando a pensar em minha avó. Se tem algo que eu nunca me esqueço é da promessa que lhe fiz há aproximadamente dez anos. Algumas semanas depois que o meu avô faleceu, eu conversei com ela na varanda da sua casa sobre ele e o quanto ela o amava. E foi naquela conversa que vovó me fez prometer a coisa mais antiquada dos nossos tempos.
— Meu filho, promete para a sua velha avó que você vai permanecer virgem até a sua noite de núpcias.
Ela pediu isso segurando as minhas mãos.
Eu era um jovem de 16 anos louco para ter a primeira relação sexual. Desde que eu era adolescente e descobri as mulheres, sonhava em apertar um par de peitos e enfiar o meu membro em uma garota. Claro que, infelizmente, eu não era um jovem normal. E não falo pelo meu desejo sexual, mas pela extrema timidez causada pelo bullying constante que eu sofria desde a infância por ser o maior nerd espinhento da escola. Acredito que da cidade. Eu sempre fui uma criança tímida, e isso me isolava. Com o tempo e com os bullyings, só foi piorando. Em relação às meninas, a timidez e o nervosismo triplicavam.
Lembro-me de quando Guilherme, o machão da sala, roubou o meu caderno e leu em voz alta a cartinha de amor que eu tinha escrito para Isabela, a menina que eu gostava. Eu estava tentando encontrar coragem para lhe entregar a cartinha. Todos o ouviram lê-la e riram de mim, inclusive Isabela. Fiquei traumatizado. Por isso, aos 16 anos, eu ainda não tinha transado, diferente de todos os outros adolescentes.
— Claro, vó. Eu prometo.
Eu lhe prometi, um pouco sem graça por estar falando desse assunto com ela. Eu não tinha vergonha da minha avó e falava sobre tudo com ela, inclusive sobre possíveis namoradas, entretanto, quando o assunto era sexo, eu me sentia um fracasso total e já mudava de assunto.
— Promete prometido? Você sabe que eu te amo muito. Você é o netinho preferido da sua avó, por isso quero, mais que tudo neste mundo, que seja tão feliz quanto eu e o seu avô Frank fomos.
— Prometo prometido, vó. Eu não vou ter relação sexual com ninguém. Só perderei a minha virgindade na noite de núpcias.
A promessa estava feita, e vovó satisfeita.
Fiquei feliz por ter a certeza de que não seria muito difícil para mim manter esse combinado. Obviamente, eu percebia que algumas meninas me davam indiretas. Se eu fosse corajoso, teria tido elas em minha cama. Mas claro que o que eu prometi para a minha avó não permitia que eu sequer as olhasse pela segunda vez. Bom... Foi essa a desculpa que eu sempre me dei.
Com o tempo, eu fui crescendo e me tornando um homem aparentemente bastante parecido com o meu avô Frank, principalmente pela altura e olhos azuis. Formado em sistemas de informação, trabalhando com o marketing digital, eu me considero alguém de sucesso na área financeira. Passei os últimos cinco anos me especializando no exterior, criei produtos digitais e me tornei um produtor e mentor. Óbvio que trabalho só com homens. Mas eu não deixo isso esclarecido para os possíveis clientes, pois é algo que poderia ser considerado um ato de “machismo”. Por Deus! Não é um ato de machismo.
Agora, voltando definitivamente para casa, depois de apenas breves visitas, eu planejo participar do programa cristão “Encontre a sua varoa”, no qual eu me cadastrei, deixei todos os meus dados e esclareci o tipo de esposa que procuro. Meus irmãos da fé vão encontrar uma esposa para mim. É isso, eu não conseguiria sozinho. Posso me assegurar de que tentei. Do meu jeito, mas tentei.
Estou ansioso para rever o meu amigo Elias. Eu o conheci no exterior e nos tornamos grandes amigos inseparáveis. Dividimos o apartamento. Somos bem diferentes um do outro. Ele é o típico popular, atleta e pegador. A única coisa que nos aproximou foi o nosso gosto pelo marketing digital. Mesmo que em áreas diferentes, nós dois trabalhamos na internet.
Ele sentia pena de mim devido à minha falta de jeito com as mulheres e já tentou me arrumar, várias vezes, uma garota para eu ter relação sexual. Tentou de todas as formas, até que desistiu quando eu lhe garanti que iria me casar virgem. Claro que eu não falei sobre a promessa que fiz à vovó. Não quis parecer fraco e manipulável, quis demonstrar que era uma escolha minha.
Eu fingia não me importar com as garotas americanas que desfilavam seminuas pela nossa casa, mas sempre corria para o banheiro e batia uma. Posso ser tímido, porém ainda tenho um membro louco para ser livre e poder entrar em alguém do sexo oposto.
Elias voltou para o Brasil há três meses, e, desde então, trocamos algumas mensagens de voz, e nada mais. Os últimos meses foram muito corridos, tanto para mim, quanto para ele, no entanto já deixamos combinado que ele vai à minha casa conhecer a minha família pessoalmente assim que eu me estabelecer. Ele, bastante simpático e de fácil conversa, sempre se intrometia nas chamadas de vídeo que eu fazia com os meus irmãos e com a minha avó. Já eu sempre dei privacidade para ele conversar com os familiares dele. Conheço a aparência dos rostos dos seus pais e da sua irmã, todos por fotos, mas confesso que não dei muita atenção para a irmã dele. Não quis parecer interessado demais.
Enfim, é bom estar retornando ao Brasil. Não vejo a hora de abraçar de novo a minha avó. Faz aproximadamente oito meses que a visitei pela última vez. Que bom que agora ficarei perto dela. Ela é bastante velha, então eu sinto medo de não estar próximo dela quando ela partir. Amo meus pais, mas com vovó tenho uma conexão mais profunda. Eu faria de tudo por ela.