Capítulo 6 - Casamento Fracassado
Noah
— E você achou mesmo que a Tiffany iria querer procriar, Noah!? — Minha mãe perguntou com incredulidade. — Meu amor, não se faça de bobo para a sua mãe. A única coisa que você pensou quando decidiu se casar com aquela mulher mesquinha e fútil, foi o quanto ela poderia te satisfazer sexualmente.
— Mamãe!
— Ah? Não me venha também com falsos moralismos. Nem combina com você, querido. A história verdadeira é essa e nenhuma outra.
A minha mãe era uma mulher que falava sempre aquilo que desejava e não pesava palavras para fazer isso. No entanto, era uma pessoa especialmente carinhosa e gentil com todos, sem distinção de pessoas e jamais poderia ser considerada má.
Ela costumava gostar de todo mundo, mas também sabia reconhecer uma pessoa maldosa apenas de olhar e eu deveria ter confiado em seu julgamento quando apresentei a Tiffany para ela. Como ela mesma apontou, a cabeça de baixo escolheu e a de cima aceitou, simples assim.
— Mas, voltando ao assunto. Convide o Afonso para passar o fim de semana conosco, em Angra. — Mamãe falou, começando a caminhar em direção ao seu quarto, no final do extenso corredor.
— Vamos viajar neste final de semana?
Minha mãe tinha por hábito decidir a programação e todos nós tínhamos que aceitar as suas “sugestões” de lazer, pois ela sabia muito bem como conseguir que fizéssemos o que ela queria e não ousamos contrariar.
— Claro, querido. — Confirmou o que eu já havia deduzido. — Você está precisando se distrair. Tenho notado que você anda muito tenso nos últimos dias.
— Não tinha percebido ainda, mamãe. Será que é porque eu perdi minha cobertura, estou em processo de divórcio e a minha ex é uma megera? — Sugeri em tom sarcástico.
— Tudo bobagem, Noah. — Ela falou sem ao menos se virar para me olhar e entrou no seu quarto. — Tenha uma boa noite de sono, querido — Ainda falou antes de fechar a porta.
Eu conhecia a minha própria mãe o suficiente para saber que ela estava sendo realmente sincera ao me desejar uma boa noite de sono, ainda mais quando eu não estava conseguindo atingir aquele feito há dias.
Mas Eugenia sempre falava em um tom de voz que deixaria algumas dúvidas àqueles que não a conheciam tão bem quanto nós, que éramos da família e aquele acabou sendo mais um dos problemas que eu tive, enquanto estava casado com a Tiffany.
A minha ex-esposa detestava a minha mãe e não fazia segredo daquilo, algo que me deixava bastante chateado, pois jamais iria aceitar que qualquer pessoa nesse mundo ousasse falar mal dela, muito menos alguém que estava ao meu lado na vida.
As queixas de Tiffany sobre a mamãe rendeu muitas discussões acaloradas entre nós dois, durante todo o tempo em que convivemos. Não sentia falta alguma dos meses que passei casado com aquela criatura mesquinha.
Afastei os pensamentos do passado e segui para o meu quarto. Após fechar a porta com força e tirar a gravata do meu colarinho, me joguei sobre a enorme e confortável cama de casal que havia no centro do cômodo, suspirando de insatisfação.
Precisava tomar um banho, mas estava me sentindo exausto nos últimos dias e imaginei que aquilo se devia a indignação constante que sentia por constatar o quanto errei ao entrar em um casamento com a Tiffany e ainda mais por não ter pedido o divórcio assim que percebi que aquilo não era o que eu desejava.
Pensar na Tiffany me levava a pensar também na sua advogada e a raiva aumentou, se é que aquilo era possível. A Cassandra não parecia uma mulher boba, mas estava defendendo o lado errado daquela história e eu sentia que ela não tinha conhecimento de todos os fatos sobre a amiga, caso contrário, não o estaria fazendo.
Tiffany havia me dito que se eu insistisse em divórcio, ela faria da minha vida um verdadeiro inferno e eu já estava sentindo os indícios do quanto a sua ameaça era real, pois naquela tarde, antes do Afonso chegar ao escritório, eu vi algumas matérias em sites de fofoca que poderiam me descredibilizar como um homem de negócios, tendo em vista o quanto os grandes empresários do país ainda eram, em sua maioria, conservadores.
E a pior parte dessa história é que a maioria das informações era forjada, pois, eu jamais havia tido envolvimento algum com orgias em que estariam garotas menores de idade e a minha equipe jurídica e de marketing já estavam tentando conter a onda de notícias falsas que estavam circulando sobre mim na mídia.
Só me restava tentar dormir e torcer para que amanhã a Tiffany e eu entrássemos em um acordo justo, em que eu não precisasse me desfazer dos meus bens e ela ficasse satisfeita com o que eu estava disposto a ceder.
Depois disso resolvido, eu não queria pensar em casamento nunca mais em minha vida e os meus pais que tentassem convencer a Bianca, minha irmã, alguns anos mais nova que eu, a casar de ter os tão sonhados netos que eles desejavam.
Cassandra
Cassandra
Cheguei ao local onde aconteceria a audiência de conciliação com antecedência de meia hora, mas não encontrei a Tiffany em lugar algum, como havíamos combinado na noite anterior.
Ela havia me mandado algumas mensagens, pedindo algumas orientações sobre como deveria vestir-se para a ocasião, como se portar e até mesmo o que dizer. Eu disse que ela deveria falar apenas a verdade e que nada além disso se fazia necessário, pois era suficiente dizer tudo o que realmente aconteceu.
Eu conferi o horário novamente e quando já haviam se passado mais de quinze minutos, resolvi ligar para a minha amiga, pois jamais havia me atrasado para uma audiência e não gostaria nenhum pouco, caso aquilo acontecesse hoje e ainda mais em se tratando de uma pessoa das minhas relações pessoais.
Quando insisti novamente e ainda assim a Tiffany não me atendeu, mesmo após várias tentativas, eu fiquei realmente muito contrariada e a minha amiga precisaria ter uma boa desculpa para o seu comportamento.
— Algum problema, doutora Alencar? — Uma voz carregada de malícia perguntou.
Olhei com visível desagrado para a pessoa que havia feito a pergunta, ao constatar que se tratava do advogado da outra parte interessada, mas acabei por sorrir de maneira educada, fingindo uma simpatia que eu não tinha para oferecer.
Mesmo que Afonso Dornelles fosse do mesmo meio profissional que eu, ainda assim era alguém que eu não conhecia verdadeiramente, portanto, não poderia afirmar nada sobre a sua integridade moral e preferi manter uma atitude neutra.
— Nenhum problema por aqui, Dornelles.
Afonso Dornelles sorriu em resposta as minhas palavras e acrescentou, agora parecendo menos idiota, apesar da pergunta:
— Vejo que a sua cliente ainda não chegou. — Comentou, mas seu tom não transparecia crítica. — Acredita que ela virá?
— Digo com certeza que ela virá sim. — Afirmei com segurança.
Olhei em torno da sala de espera para as audiências da vara de família e, constatei que Noah Abrantes também não estava no local.
— O seu cliente também não está aqui. — Usei o mesmo tom tranquilo do outro advogado, para apontar sobre o fato.
— Está enganada, Cassandra Alencar. — A voz grossa e, para meu desprazer, roucamente modulada, falou ao se aproximar de nós, vindo por trás de onde eu estava. — É preciso salientar que eu não estou atrasado.
Apesar da vontade de virar as costas para acompanhar a sua aproximação, eu me mantive firme e aguardei que ele ficasse a minha frente, e quando ele assim o fez, eu o encarei com imparcialidade, apesar da vontade de admirar, de maneira mais demorada, a sua figura elegantemente vestida.
Noah estava usando um terno de três peças que era claramente de alta costura, na cor azul-marinho, que eu diria modestamente que tinha um caimento perfeito em seu corpo. Ele usava também uma camisa de um azul mais claro por dentro do colete e toda essa beleza estava acompanhada por uma gravata cor de vinho e sapatos de um marrom bem escuro.
Para evitar admirar abertamente toda a beleza masculina do homem que era o protótipo de tudo aquilo que eu abominava no sexo masculino, olhei para a minha saia-lápis preta, bem menos atrativa, porém bastante confiável, bem diferente de Noah Abrantes e passei a mão na peça de roupa, não em Noah, fingindo retirar uma sujeira inexistente e aproveitando para me recompor da visão magnifica.
— De fato, ainda faltam cinco minutos para as nove horas. — Ele concluiu, ao se postar ao lado do seu advogado, que conforme Tiffany me contou, também era seu melhor amigo.
— Acredito que seremos chamados no horário previsto, visto que a audiência anterior não começou com atrasos.
— E como o senhor pode afirmar isso, se acaba de chegar, senhor Dornelles ? — Eu perguntei em tom ácido, irritada apenas por estar na presença do cafajeste do ex-marido da minha cliente.
— Na verdade, nós chegamos há quase uma hora, mas tínhamos ido tomar um café, na lanchonete aqui ao lado. — O Abrantes explicou, parecendo sentir prazer em passar isso na minha cara.
Ou seja, apenas a Tiffany parecia não se importar em chegar em cima da hora, ou até mesmo não chegar, e aquilo não me agradou de forma alguma.
Peguei novamente o aparelho celular que havia jogado de qualquer jeito dentro da minha bolsa de mão e decidi insistir mais uma vez na ligação para a minha “cliente”.
— Peço licença aos senhores, mas preciso fazer uma ligação. - Falei para os dois homens, já fazendo menção de me virar para sair.
— Se a ligação for para a sua cliente, não precisa mais. — O desagradável Noah Abrantes falou. — A Tiffany está vindo.
Olhei na direção para a qual ele apontou e suspirei de alívio.
Eu ficaria bastante decepcionada com a Tiffany se ela faltasse aquela audiência de conciliação e aquilo poderia até mesmo atrapalhar o processo.