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Capítulo 4 - Encontro

Cassandra

Olhei para Noah Abrantes jantando com seu então melhor amigo, que também era seu advogado, me fez pensar no fato de que a audiência de conciliação para o acordo de divórcio da minha melhor amiga seria amanhã.

E enquanto ela estava em casa se sentindo infeliz por ter que encarar ao homem que ela amava e com que ela esperava construir uma família em um processo para o fim do casamento entre os dois, o seu ex-marido estava prestigiando a inauguração de um restaurante chique e conversando de maneira bastante tranquila com seus amigos ricos e poderosos.

Cheguei a bufar de raiva pelo absurdo da situação e o quanto aquilo era injusto, pois ele não parecia nenhum pouco incomodado de que estaria em sua audiência de divórcio no dia seguinte.

Apesar disso, não poderia dizer que estava de todo surpresa, pois eu não estava. Quando não se tinha nenhuma expectativa em alguém, como era o caso, não causava espanto quando as atitudes daquela pessoa eram insensíveis ou algo do tipo.

O fato é que Noah Abrantes havia casado com a minha amiga e, menos de um ano depois, ele já a estava traindo com todas as mulheres com quem ele sentia vontade e não se deveria esperar nada de bom partindo de alguém desse tipo.

Estar ali jantando e confraternizando com os seus amigos só confirmava o quanto ele era um cafajeste da pior espécie e não seria um pedido de divórcio que o faria deixar de aproveitar as coisas boas da vida e isso era algo irrefutável.

— Algo a aborrece? - O homem à minha frente perguntou, me trazendo para o momento atual.

Eu estava agora jantando com o Carlos Brito, um dos sócios do escritório do qual eu trabalhava desde que terminei a minha especialização e que costumava me fazer convites para o acompanhar a todos os tipos de lugares, desde jantares a eventos de grande prestígio, algo que havia aceitado após muita insistência de sua parte e apenas para tentar me distrair um pouco dos pensamentos indesejáveis que estavam me atormentando nos últimos dias.

Carlos era um homem tranquilo, mas eu sempre o considerei muito calado e dificilmente nós conseguimos saber sobre o quê ele estava pensando e eu não gostava de lidar com pessoas difíceis de ler.

— É impressão sua, Carlos. — Neguei qualquer desconforto, pois não diria a ele o que estava se passando. — O ambiente é bastante agradável e o cardápio excelente. — Desconversei.

— Aquele não seria Noah Abrantes, marido daquela modelo com a qual você tem se encontrado bastante nos últimos dias? Como é mesmo o nome dela… ?

— Tiffany Andrade. — Respondi a contra-gosto. — Ex-marido, na verdade. Eles estão em processo de divorcio agora.

Eu não costumava comentar sobre os meus casos com ninguém, mas tinha certeza que o Carlos já sabia sobre aquela informação, uma vez que estava circulando em todos os sites de fofoca e até a assessoria de imprensa do Noah Abrantes também havia liberado uma nota confirmando a separação do casal.

Eu entendia, no entanto, que tudo o que o Carlos queria era apenas ter algum assunto para conversar, uma vez que eu havia me mantido todo o tempo em um silêncio resoluto, tendo em vista a falta de assunto entre nós, desde que chegamos ao restaurante.

A verdade é que eu me arrependi bastante por ter aceitado o convite dele para jantar, pois além de não termos nada em comum além da profissão, todos assuntos que ele tentou iniciar, era sobre temas que me desagradaram e em que nós discordamos muito.

Também não tinha funcionado de forma alguma para tirar os pensamentos inoportunos da minha cabeça, pois eles continuavam aqui, me atormentando e me fazendo sentir culpa apenas por os ter.

— Não estava sabendo. - Ele estava mentindo, era óbvio, e aquilo tornou a me desagradar, pois era totalmente desnecessário de sua parte, fingir que não sabia de algo assim.

— Sério? - Perguntei em tom de ironia.

— Você parece chateada. — Ele parece ter optado por outro caminho, mas insistiu em algo que eu já havia descartado. - Não gostou do restaurante? Ou tem outro motivo.

Senti vontade de falar a verdade, que eu não estava gostando era da companhia, mas aquilo não seria nada sábio, tendo em vista que trabalhávamos juntos e ele era um dos sócios do escritório. Além de ser totalmente desnecessário e ofensivo.

— Gostei sim. Só estou cansada. — Não neguei sobre ter outro motivo.

Tentei manter minha atenção no Carlos, mas algo como um imã me levava a estar olhando durante a maior parte do tempo para a mesa ao lado e percebi que o Noah também estava olhando em minha direção, algo que me deixou bastante desconfortável.

Diferentemente da noite em que o vi pela primeira vez, agora ele parecia ter me notado e imaginei que devido eu estar representando a Tiffany no processo de divórcio, pois estava bastante nítido o seu aborrecimento dirigido especificamente a mim.

Ele me olhava com uma expressão de raiva e eu o motivo daquilo era que amanhã eu estaria representando a sua esposa em uma ação que visava arrancar alguns milhões de sua conta bancária.

— Devo concordar com você de que a semana está sendo bastante cansativa. — Carlos chamou a minha atenção de volta. — Nós poderíamos dispensar a sobremesa e ir para o meu apartamento. Conversar um pouco… trocar algumas ideias.

Olhei para o Carlos tentando conter uma risada de escárnio. Eu alegava estar cansada e ele vinha com aquele papo furado de ir até o seu apartamento? Como os homens poderiam ser tão sem noção dessa forma?

— Obrigada pelo convite, mas amanhã tenho uma audiência logo pela manhã e pretendo estar bem descansada. — Falei, mas queria mesmo era mandar ele pastar, aquele grande imbecil.

— Claro, você está certa. — Ele concordou rapidamente, acredito que na tentativa de me agradar. — Marcamos um outro dia, então.

— Quem sabe, não é mesmo?

Mal sabia ele que não existia nenhuma possibilidade de isso vir a acontecer novamente, eu não seria tão idiota assim e eu preferi então, não me comprometer com mais uma noite como aquela

Olhei novamente para o lado e uma mulher havia chegado à mesa do Noah, algo que me deixou extremamente chateada. Claro que a minha raiva era devido a Tiffany e não por qualquer outro motivo.

A mulher parecia ter acabado de chegar ao restaurante e ter parado para falar com os dois homens, mas sua atenção estava concentrada apenas em um deles, o que me fazia ferver de raiva, pois mesmo estando em processo de divórcio, a audiência marcada para amanhã, ele ainda estava aproveitando bastante a situação.

— Cretino. — Resmunguei, sem conseguir me controlar.

— Ele não está retribuindo o interesse dela. — Carlos apontou.

Me espantei com a sua colocação e olhei de imediato para o Carlos, sentindo um ardor na face, pois pelo visto ele havia ouvido o que eu falei e entendido a quem eu estava me referindo, o que era ainda pior.

— Não importa se ele não está devorando-a com os olhos como ela está fazendo com ele. — Optei então por defender meu ponto, uma vez que já tinha passado a vergonha mesmo, irei em frente com o que eu acreditava. — A fama dele o precede.

— Não concordo. Mas, sem querer bater de frente com você, ele agora é um homem solteiro e, caso deseje, pode ficar com ela ou qualquer outra mulher.

— Ele ainda não é um homem solteiro.

Disse aquilo apenas para ser chata, visto que eu concordava totalmente com o Carlos. E aquilo tanto se aplicava ao Noah, quanto a Tiffany e ela deveria começar aproveitar mais a sua vida e não ficar em casa se lamentando por alguém como o seu ex-marido.

Aquele jantar já tinha absorvido todo o meu estoque de gentilezas e ver o marido da Tiffany ali naquele restaurante não estava ajudando em nada.

— Com licença, Carlos. Volto logo.

Levantei da mesa e sai em direção ao banheiro feminino e Carlos me olhou com desaprovação, algo que não me importei nenhum pouco.

Eu estava me sentindo bastante inquieta há dias e aquilo tinha tido início desde que a Tiffany havia me mostrado aquele vídeo repugnante do Noah, com uma loira também repugnante, em uma piscina mais repugnante ainda.

Caminhei apressadamente para o corredor pelo qual eu deveria seguir e entrei no banheiro, fechando a porta com um estalo firme, mas não a bati. Apenas empurrei mais forte que o necessário, pensei comigo mesma.

Parei em frente ao espelho, analisando meu reflexo com bastante atenção.

Eu me considerava uma mulher bonita, com meu um metro e setenta de altura, cabelos pretos e lisos em um corte moderno até os ombros, olhos redondos e castanhos como o mel e um rosto afilado, com nariz que parecia estar sempre empinado, mas que na verdade era mais natural do que qualquer pessoa poderia acreditar.

Eu era morena e gostava da minha aparência. Não tinha problemas de auto estima ou qualquer coisa do tipo. Eu sabia muito bem o que tinha de melhor e quando estava interessada em um homem, eu mesma tomava a iniciativa, se aquele fosse o caso.

Contudo, faz quase dois anos que eu não conseguia me interessar por ninguém e aquilo não tinha me preocupado nenhum pouco, até hoje.

Eu não desejei estar com nenhum homem durante todo esse tempo e agora percebi que estava sentindo falta de uma noite agradável ao lado de alguém que me despertasse daquele torpor que eu havia mergulhado, sem ao menos saber como aquilo tinha acontecido.

Mas Noah Abrantes estava conseguindo mexer comigo e ele seria o último homem com quem eu poderia ter uma “noite agradável”.

— Eu estou precisando de sexo, esta é a verdade. - Falei para o meu reflexo e caí em uma gargalhada. — Já estou até falando sozinha, então, o meu estado é grave. A que ponto eu cheguei.

Balancei a cabeça em descrédito de mim mesma, por estar falando sozinha enquanto estava parada em frente a um espelho do banheiro de um restaurante e quando qualquer pessoa poderia chegar e me presenciar fazer aquilo e acreditar que eu tinha algum tipo de distúrbio psicológico.

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