Capitulo 3
Jack
Permaneço em silêncio ao saber que as duas crianças ficaram órfãs. Aquilo era muito triste. Com um nó na garganta, comento:
— Nossa, que dó. Sinto pena daquele homem, que ficou viúvo novo e tem dois filhos pequenos para cuidar.
Rafa continua a falar:
— Sim. Mas no ramo em que ele trabalha acontece muita concorrência, a empresa dele é a umas das melhores e isso causa muita inveja.
— E esse é o motivo das ameaças? Nossa, que bom para ele e por que ele anda sofrendo tanta ameaça?
— Então, ele tem uma agência, nem sempre os concorrentes veem com bons olhos. Sim, é aquela velha história, quando uma empresa faz muito mais sucesso, as outras se sentem ameaçadas. E então ele começou a receber e-mails de ameaças, avisando que iriam destruir seu negócio se ele não se retratasse.
— Não se retratasse? Por quê? — pergunto, curiosa.
— Jack, você deve conhecer a agência dele da TV. Sarah Model’s — ele diz e eu fico sem entender nada, o que uma TV tem a ver com o caso que ele está querendo me passar.
— Você sabe que mal tenho tempo para respirar— resmungo pra ele.
— Vou começar tudo de novo, ok? — Rafa diz e fico ali esperando que ele comece a me esclarecer as coisas.
— Beleza, estou ouvindo. — respondo curiosa.
— Vamos lá, Alex tem uma agência de modelos chamada de Sarah.— Ele começa.
— Sim, conheço essa agência, ela tem o mesmo nome da esposa falecida?
— Sim, Sarah era uma modelo belíssima e adorada por todos. O próprio Alex a venerava.
— Nossa, essa Sarah deveria ser bem especial! — digo essa frase sentindo até um pouco de inveja da mulher morta. E que Deus me perdoe.
— Sim, era. Até que ela descobriu que tinha uma doença incurável, no começo, foi um choque, afinal, Sarah era a alegria de todos.
— E o Alex, como reagiu? — pergunto curiosa com a história.
— Muito mal, quando descobriu, quebrou todo o escritório e foi amparado por ela.
— Que horror, Rafa.— Senti-me compadecida pela história da moça que viveu pouco, nem pôde ter a chance de viver com seu marido, o tal do Alex, que deveria amá-la muito. Coitado! — Rafael continua a me contar a história:
— Sim, Sarah tinha problemas cardíacos muito graves. Ela não poderia nunca ter engravidado, se quisesse permanecer viva.
— Deixa ver se eu entendi, Sarah era cardíaca, mas morreu depois de muitos anos que tinha concebido as crianças.
— Sim, vou lhe contar a história de Sarah. Ela nasceu com sopro no coração, mas não sabia que tinha a doença. Seus pais sempre esconderam a verdade dela, deixando-a viver conforme ela queria. Sarah diversas vezes passava mal, e uma vez, em uma conversa comigo, ela disse que foi ao no médico e através de exames, descobriu que era cardíaca. Ela deve ter ficado arrasada com os pais — fala isso com muita empatia.
— Como reagiram quando ela descobriu a verdade? — pergunto curiosa.
— Bem, eles concordaram com tudo o que o médico disse. Ela ficou muito chateada com eles por terem lhe escondido a verdade, mas, depois tudo, ficou bem entre eles.
— E o marido dela? — pergunto curiosa.
— Então, como já lhe disse, ele reagiu mal quando ela lhe contou. Quando a doença veio à tona, ela já estava grávida dos gêmeos. Foi uma gravidez complicada e por pouco Sarah não morreu no parto. Foi feita uma cesariana e as crianças ficaram bem. Sarah entrou em choque e ficou alguns dias na UTI. Foi um milagre ela ter saído de lá. Ela foi melhorando, só o que não sabia era que sua condição de saúde tinha piorado muito. Depois da gravidez, ela começava a ficar cansada por qualquer coisa boba, até que um dia foi encontrada caída no quarto.
— Tive tanto dó do Alex, a esposa enferma e ele cuidando dos bebês! —Após esse acontecimento, Sarah foi mandada direto para o hospital. Seu coração estava falhando e, depois de uma semana internada, não aguentou e faleceu... Alex resolveu se refugiar no trabalho. Mudou o nome da agência de “Belíssima” para “Sarah Model’s” em homenagem à esposa. E hoje se dedica exclusivamente aos seus filhos nas horas vagas.
Rafael, com muito pesar, termina a história. Eu fico comovida com tudo que escuto.
— Meu Deus, quanto sofrimento — respondo penalizada com a situação.
— Sim, é verdade! Sarah não durou muito e acabou falecendo uma semana depois de ter sido internada. Seu coração não aguentou — diz com pesar.
— Nossa... — É a única coisa que consigo falar ainda chocada pelo que ouvi. — Que triste que ela tenha morrido. — respondo sentindo pena de um homem que perdeu seu grande amor e pelos seus filhos que perderam uma mãe.
— Verdade! — concorda e continua: — O Alex quase não sai de casa por causa das crianças e eu entendo isso.
— Bom, e as ameaças vêm de onde? E por que ele tem que se retratar?
— Estou chegando lá. Em uma noite de eventos para levantar donativos para o hospital do coração, tinha um agente de talentos e, como era normal a gente tratar desse assunto, a tal Verônica foi apresentada pelo seu agente a Alex, dizendo que ela era o tipo certo de modelo para a agência.
— Qual a reação do seu amigo e o que aconteceu depois? — pergunto curiosa.
— Bom, Alex pediu para que a moça passasse na agência e levasse seu book, para que o pessoal da agência pudesse avaliar. E foi o que ela fez e eu admito que as fotos eram realmente muito boas.
— Pelo amor de Deus, Rafa, você não perde uma... — Ele prossegue:
— Verônica começou a trabalhar, rendendo muito dinheiro para a agência. Até que em uma noite, ela ficou esperando Alex, que estava saindo para pegar o carro no estacionamento. Verônica estava esperando por ele no estacionamento e disse que lhe precisava falar em particular e assim foi a conversa, ela falou um monte de besteira e, chegando mais perto, o beijou.
— Puta merda! Que louca. Cara, isso foi foda!— respondo chocada.
— Foi mesmo. Alex a empurrou e pediu-lhe que nunca mais fizesse isso. Porque senão teria que demiti-la da agência.
— Aposto que a vadia não entendeu e voltou a fazer novamente.
— Isso. Voltou, sei lá, era como se fosse uma espécie de desafio ela fazer isso com o Alex. Numa noite, ela entrou no escritório dele, tirou a roupa e ficou nua. Você acredita?
— Puta, merda! É surreal. E o que Alex fez nessa situação? ─ pergunto incrédula, chocada e também com nojo dessa mulher.
— Sim, aí ele pediu que ela se vestisse e avisou que estava demitida, porque aquilo havia passado dos limites. Verônica ficou louca e disse que ia denunciá-lo por assédio.
— Sinceramente, não sei o que dizer sobre essa história. — respondo.
— Nem eu mesmo sabia o que dizer quando Alex me contou, tive a mesma reação. O pior aconteceu. Logo que ela foi embora, ele me ligou. No dia seguinte, ela procurou a mídia, fez a acusação e a notícia se espalhou. Declarando que ela era um anjo, uma santa, e ele, o próprio demônio. É claro que a mídia caiu em cima dele, atacando por tudo que é lado. E a situação acabou colocando em risco os gêmeos.
— Você está de brincadeira — comento.