Capítulo 7 - Isabella
Eu gostaria de pensar que tudo estava em paz, que Lorenzo tinha aprendido a conter suas atitudes para evitar escândalos e que Travis havia se lembrado onde era seu lugar.
Mas as coisas não eram assim.
Lorenzo estava tentando se conter, mas não hesitou em mandar um jornalista tomar naquele lugar. Isso tudo porque Travis fez questão de colocar a foto em uma revista impressa, dessas de fofoca que vendem como água em bancas de jornais ao redor da cidade.
Eu sei bem que ele fez de tudo para que fosse publicada porque fui atrás da editora da revista, tivemos uma longa conversa sobre possíveis futuros contratos. Ela soube que eu era secretária dele e assistente pessoal, claro que tentou me arrancar qualquer coisa que pudesse vender. Mas se tratando da maior companhia de engenharia do país foi fácil convencê-la a publicar outro escândalo ainda maior.
— Me diz de novo por que você xingou aquele jornalista, Bianchi? — Massageei minha testa tentando aliviar a dor de cabeça que não passava, já estava assim desde que ele entrou aqui. — Eu estou aqui tentando limpar a sua imagem há três dias!
— Já te disse pra não me chamar de Bianchi ou de senhor, me faz parecer meu pai — ele resmungou na minha frente e eu franzi o cenho ignorando suas conversas fiadas, se ele soubesse dos nomes que eu quero chamá-lo ficaria quieto. — E o jornalista fez um comentário indecente.
Bufei irritada e me curvei sobre a mesa não querendo ter que olhar para a cara dele. Parecia até que o tinha colocado ali para me testar. Eu só esperava que ganhasse um milhão de dólares no fim deste teste.
Senti mãos tocarem meus ombros e pulei na cadeira. Assustada virei o pescoço e encarei o próprio parado atrás de mim, segurando meus ombros com força impedindo que eu saísse do lugar.
— O que pensa que está fazendo? — questionei ainda mais nervosa.
Eu sentia que até mesmo minha voz estivesse começando a falhar de tanto estresse que ele tinha me feito passar em três dias de presidência.
— Você está muito tensa. — Seus dedos massagearam um nó em meus ombros e eu me segurei para não amolecer. — Só estou te ajudando a relaxar.
Ele era descarado, eu já tinha visto isso no vídeo. Mas eu não entendia como ele conseguia ser cara de pau assim sóbrio e ainda mais comigo, que não abri os dentes para ele nem uma vez sequer.
Mas não podia negar que ter suas mãos em mim, massageando meus ombros com precisão, era deliciosamente errado.
— Vai apenas me deixar ainda mais irritada, Bianchi! — Tentei estapear sua mão, já que o aperto ferrenho não me deixava levantar. — O que as pessoas vão pensar se nos virem assim?
— Deveria se preocupar menos com o que as pessoas vão pensar ou irão falar. — Revirei os olhos com o conselho ridículo. — Sempre vai ter alguém para falar, se você fizer o bem ou o mal.
— Você pode se dar a esse luxo, porque tem a mim para limpar sua bagunça e manter sua imagem intacta.
Ele continuou a massagem me fazendo ficar ali na base do ódio, mas eu cheguei a fechar os olhos quando ele apertou no lugar certo. Não sei onde ele tinha aprendido aquilo, mas se não desse certo como CEO ele poderia virar massagista.
Aquele pensamento quase me fez sorrir ao imaginar chegando para uma massagem no SPA e acabar dando de cara com um homem daquele tamanho, usando um uniforme.
Minha imaginação foi longe e quase pude sentir o óleo escorrendo em meus ombros, enquanto seus dedos deslizavam apertando cada ponto de tensão.
— Aí é que você se engana — Lorenzo sussurrou próximo demais, tão perto que eu consegui sentir seu hálito quente contra minha nuca. Mas abri meus olhos rapidamente, voltando à realidade. — Aprontei bem mais quando não trabalhava aqui e posso dizer que me virei bem mesmo sem você.
Ele poderia até ter uma certa razão sobre isso, as promiscuidades e brigas da sua vida poderiam até ter ficado ocultas no passado, mas eu não duvidaria se tivesse alguém por trás limpando sua barra.
— Mas você não era o CEO de uma multinacional antes. — Ele intensificou a massagem e eu não consegui evitar de tombar a cabeça para o lado. — Agora você precisa de mim como precisa do ar para respirar.
Aquelas palavras soaram na casualidade da conversa enquanto ele continuava a massagear meus pontos de estresse.
Mas eu acabei pensando em Luke, eu costumava dizer isso para ele e tudo na minha vida mudou quando ele parou de respirar.
Me peguei pensando em seu sorriso e em seu olhar sério de advogado. Eu era o romance, a emoção da relação, enquanto ele ficava com o lado da seriedade e praticidade.
— Tenho certeza que estou fazendo isso certo, mas você parece ainda mais tensa. — Lorenzo falou se ajoelhando ao lado da minha cadeira, ele tocou meu queixo me surpreendendo e virando meu rosto em sua direção. — Quer conversar?
Bati rapidamente os cílios tentando afastar as lembranças e a dor do vazio que se formava sempre que eu pensava em Luke. Mas uma lágrima solitária escorreu quando pisquei pela última vez.
O italiano foi rápido em capturá-la no indicador e o estendeu para mim.
— Faça um desejo! — ele exclamou me olhando sério, desviei o olhar para o dedo esticado, a ponta ainda úmida com minha lágrima.
Encarei as íris marrons, quase como o caríssimo whisky que ele gosta de beber, procurei ali qualquer indício de brincadeira ou deboche, mas ele estava sério, não como no dia da reunião que estava com raiva, nem sério como ficava quando ouvia minhas reclamações.
Pela primeira vez Lorenzo Bianchi parecia se importar com o que eu tinha a falar e aquilo me atingiu de um jeito que eu não esperava. Abri minha boca estarrecida, aquele pequeno gesto dele sacudiu algo dentro de mim. Para outras pessoas podia parecer algo bobo, mas não era todo dia que um homem que você despreza demonstra tanta sensibilidade com sua dor.
Estava prestes a falar quando ouvi alguém pigarrear. Me levantei da cadeira tão rápido que quase cai, me afastei da mesa e esperei que Lorenzo fizesse o mesmo enquanto eu alinhava meu terninho, mesmo sabendo que estava totalmente impecável.
— Isa, humm... — Deb e Alice olhavam de mim para meu chefe e eu me recriminei por aquele momento de paralisia, sabendo que graças a isso viraria a fofoca do dia.
— Bom dia, senhoritas. — Lorenzo cumprimentou se erguendo do chão sem sequer disfarçar. O descarado fez questão de fingir que limpava os joelhos da calça, mesmo que não tivesse nem uma poeira ali.
— Bom dia, senhor!
— Bom dia, chefinho. — Revirei os olhos com a última palavra, eu sabia que a garota não respeitava ninguém daquela empresa. Menos Travis, esse ela morria de medo. — Viemos buscar a mocinha aqui pra almoçar.
Peguei minha bolsa, depois eu deveria agradecer a elas pela intromissão, não tinha ideia do que eu teria dito caso elas não aparecessem bem na hora.
— Na verdade, Isabella vai almoçar comigo hoje. — Lorenzo respondeu com calma e eu quis saber em que momento tinha combinado aquilo.
Alice e Deb pareciam ainda mais interessadas no assunto, eu não duvidaria que elas pudessem estar até mesmo gravando aquela conversa.
— O quê?...
— Meus pais pediram que eu a levasse ao almoço hoje, então ela já tem um compromisso.
— Tudo bem, então deixa pra próxima. — Alice respondeu primeiro, me tranquilizando por eu saber que ela era compreensiva.
— Vamos indo, não queremos que percam a diversão por nossa causa! — Deb não tinha jeito mesmo, só um milagre a essa altura.
Esperei as duas irem embora, não estavam tagarelando, mas os dedos digitavam com rapidez e já sabia o motivo.
— E verdade sobre o almoço? — Aquela situação toda já estava bem estranha, para adicionar mais: invadindo o almoço em família do meu ex chefe.
— Sim, meu pai foi enfático em dizer: traga a Evans com você, preciso falar com ela! — Lorenzo fez uma voz mais grossa tentando imitar o pai e eu relaxei um pouco mais.
O que ele poderia ser tão importante para ele querer conversar pessoalmente? Ou será que era apenas um truquezinho de Lorenzo para me fazer almoçar com ele?